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Blogue RBE

Ter | 15.03.22

IPCC: Mudanças climáticas 2022

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O VI relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, Climate Change 2022: Impacts, Adaptation and Vulnerability [Mudanças Climáticas 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade], avalia a mudança climática, perspetivando impactos e riscos futuros e propondo soluções de adaptação e mitigação com base no conhecimento científico mais atual e rigoroso [1].

Resulta do trabalho colaborativo de 270 cientistas (41% mulheres e 59 % homens) e outros voluntários, provenientes de 67 países.

Reúne três Relatórios de Avaliação de três Grupos de Trabalho da equipa – The Physical Science Basis (9. ago. 2021), Impacts, Adaptation, and Vulnerability (28. fev. 2022), Mitigation of Climate Change (2022, abril) - e um Relatório de Síntese (2022, setembro) que, devendo dirigir-se a decisores de políticas, é escrito em estilo não técnico e integra materiais destes relatórios e de três Relatórios Especiais - Special Report on Global Warming of 1.5ºC (2018, 8 out.),  Climate Change and Land (2019, 8 jul.), Ocean and Cryosphere in a Changing Climate (2022, fev.).

Trata-se de uma avaliação das mudanças climáticas que se desenvolve durante 8 anos (2015 a 2023) e que é abrangente/ holística, pois perspetiva o clima em ligação sistémica aos ecossistemas naturais/ biodiversidade e às sociedades humanas/ economias, principal causa da crise climática, reconhecendo uma profunda interdependência entre, por um lado, degradação da terra e perda de variabilidade de organismos e, por outro lado, consumo insustentável de recursos naturais, urbanização rápida, crescimento demográfico, desigualdades e pandemia.

Segundo The Physical Science Basis [2], a atividade humana é a principal causa do aquecimento global e as mudanças climáticas recentes atingem uma escala sem precedentes: a temperatura média da superfície da Terra entre 2010 – 2020 é 1.1º C mais elevada do que no século XIX e, mantendo-se o atual ritmo de atividade humana, o aquecimento de 1.5º C – meta definida pelo Acordo de Paris - poderá ser alcançado em 20 anos e o de 2.º C em 2050.

Climate Change 2022 reconhece que a “extensão e magnitude dos impactos das alterações climáticas são maiores do que os estimados em avaliações anteriores” (SPM.B.1.2).

De acordo com o Sumário para Decisores Políticos deste Relatório [3] as principais causas do aquecimento global são a utilização de combustíveis fósseis, desflorestação e produção de metano decorrente sobretudo da pecuária.

As consequências da crise climática são multissectoriais e cada vez mais frequentes, intensas e graves. Exemplos:

- Temperaturas e fenómenos climáticos extremos – chuvas torrenciais, ciclones tropicais, diminuição de precipitação e seca, incêndios florestais;

- Aquecimento e acidificação dos oceanos, degelo e subida do nível do mar, inundações que afetam comunidades costeiras e que vivem em regiões de baixa altitude.

- Aumento de doenças e da mortalidade, humana (cólera, infeções gastrointestinais, respiratórias) e de outras espécies (terrestres, de água doce e oceânicas), acompanhadas de extinções irreversíveis (SPM.B.1.1.1);

- “Impactos adversos nos sistemas humanos, incluindo na segurança [e acesso] da água e produção de alimentos, saúde e bem-estar e cidades, povoações e infraestruturas” (SPM.B.1.2), incluindo de transportes, água, saneamento e sistemas energéticos e de produção (SPM.B.1.5);

- Dificuldades de adaptação na agricultura, silvicultura, pesca, energia e turismo, setores económicos mais expostos à crise climática (SPM.B.1.6);

- Crises humanitárias (SPM.B.1.7) e conflitos locais e entre países.

A crise climática abrandou o crescimento da produtividade e diversidade agrícola, bem como da aquicultura e pesca, dificultando a possibilidade de acabar com a fome e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030. Famílias de baixo rendimento e povos indígenas são os mais afetados pelo aumento da subnutrição e escassez de água que afeta cerca de metade da população mundial (SPM.B.1.3).

Não obstante as alterações se verificarem em todo o mundo, observa-se “que pessoas e sistemas mais vulneráveis são afetados de forma desproporcionada” (SPM.B.1).

O relatório demonstra que a vulnerabilidade humana e dos ecossistemas é interdependente e que é urgente a mudança de estilo de vida e proteção e restauração dos sistemas ambientais, com base na inovação e cooperação entre países porque os que são mais afetados não provocaram a situação em que se encontram.

O cenário futuro é preocupante porque estas mudanças são irreversíveis “à medida que os sistemas naturais e humanos são empurrados para além a sua capacidade de adaptação” (SPM.1).

A interação ecossistemas naturais e sociedades humanas provoca os riscos atuais, mas também constitui uma oportunidade de mudança. O clima do futuro depende das decisões atuais, pelo que é urgente estabilizar o aquecimento global, pondo em prática, em todos os setores da atividade humana, políticas sustentáveis de zero emissões de CO2. “Para que haja futuro, não basta prevê-lo, é necessário torná-lo possível” [4].

 

Referências

1. Intergovernmental Panel on Climate Change. (2022, 28 feb.). Climate Change 2022: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Berlin: IPCC. https://www.ipcc.ch/report/sixth-assessment-report-working-group-ii/

2. Intergovernmental Panel on Climate Change. (2021, 9 aug.). The Physical Science Basis. Berlin: IPCC. https://www.youtube.com/watch?v=e7xW1MfXjLA

3. Intergovernmental Panel on Climate Change. (2022, 28 feb.). Climate Change 2022: Impacts, Adaptation and Vulnerability. Berlin: IPCC. https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/

4. Saint Exupéry, A. (1948). Citadelle, 1948 in: IPCC. Special Report on Global Warming of 1.5º C. Berlin: IPCC. https://www.ipcc.ch/sr15/

5. A imagem da capa do Relatório é de Alisa Singer e intitula-se A Borrowed Planet [Um planeta emprestado].

Fonte: IPCC Sixth Assessment Report. (2022). Credits for artwork and graphics. IPCC. https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/resources/credits/

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0