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Blogue RBE

Ter | 22.04.25

IFLA: Novos líderes e programas de liderança 

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Enquadramento

Mais do que uma análise de programas; Aprendendo a Liderar: Uma Análise Global da Prática no Terreno das Bibliotecas evidencia o dinamismo e a resiliência do setor das bibliotecas em todo o mundo, que se apresenta como fonte de inovação, capacitação e transformação social. 

O Relatório é um marco importante na biblioteconomia porque é a primeira publicação da IFLA centrada exclusivamente em programas de liderança e porque mapeia a paisagem global do desenvolvimento de competências de liderança em bibliotecas, museus, arquivos e áreas da cultura.

Os resultados reforçam a noção de que o investimento em formação em liderança está diretamente ligado ao crescimento institucional e pessoal

Este artigo estrutura-se em 2 momentos: 

A. Programas de liderança: tendências-chave e recomendações
B. Perfil das novas lideranças 

A. Programas de liderança: tendências-chave e recomendações 

1. Abordagem pedagógica 

O modelo híbrido é o formato mais comum de formação – “híbrido (67%), presencial (21%) e online (9%)” – e prevê-se uma crescente procura para tornar a formação mais acessível e flexível, bem como mais contextualizada, adaptada às necessidades e recursos locais. 

A combinação entre sessões presenciais e atividades online amplia o alcance geográfico dos programas, e permite integrar diferentes estilos de aprendizagem e ritmos individuais, democratizando o acesso ao desenvolvimento profissional.

Recomenda “Continuar a apoiar e a expandir os modelos híbridos e online de formação, para acomodar diversas preferências de aprendizagem e localizações geográficas”.

A democratização do acesso à formação (inclusão) também se verifica no facto de a maioria ser suportada por bolsas de estudo, patrocínios ou gratuita.

2. Interdisciplinaridade 

A liderança num contexto global e digital, baseia-se na interdisciplinaridade e colaboração entre instituições e profissionais, mostrando um entendimento cada vez mais interdisciplinar da liderança, aspeto fundamental numa era em que informação e cultura estão intrinsecamente interligadas.

Recomenda “Expandir a formação em liderança para incluir profissionais fora das funções tradicionais de biblioteca, como arquivistas, profissionais de museus e especialistas em tecnologia, promovendo uma abordagem mais inclusiva e interdisciplinar à liderança”. 

Esta é uma perspetiva inovadora, que reconhece no líder o poder de construir redes colaborativas amplas e resilientes. 

3. Inovação curricular

Ao nível do currículo da oferta formativa, o Relatório evidencia a diversificação de temas: 

  • Clássicos, como “Liderança e Gestão (88%);
  • Emergentes, como Advocacia e Envolvimento Comunitário (71%), Planeamento Estratégico (64%) e Gestão da Mudança (55%), Gestão de Projetos (53%), Inovação (53%), Diversidade e Inclusão (35%), Tecnologia (32%)”, 

indicando um esforço claro para formar líderes com visão holística e competências multidimensionais

Recomenda “Integrar temas emergentes, como literacia digital, inteligência artificial nas bibliotecas e privacidade de dados, nos currículos dos programas, a par dos temas tradicionais”, antecipando, de forma crítica, os desafios que as bibliotecas enfrentam num mundo cada vez mais digital e interconectado e construindo resiliência.

4. Avaliação 

O Relatório evidencia que há um compromisso com a avaliação de impacto e com a monitorização dos resultados dos programas de formação em liderança. 

Globalmente verifica-se

  • Recolha sistemática de feedback dos participantes,
  • Medição da progressão de carreira, 
  • Análise das competências adquiridas, 

o que evidencia uma cultura de accountability, responsabilização dos responsáveis pelos resultados destes programas, garantindo transparência, avaliação e melhoria contínuas com base em objetivos claros.

Esta dimensão é fundamental para validar a eficácia dos programas e assegurar que os investimentos em formação resultam em mudanças concretas nas práticas profissionais e na cultura organizacional. 

E quais são os métodos de avaliação de aprendizagens mais usados? 

A autoavaliação é o mais comum, implementado em 56% dos programas, seguido de avaliações baseadas em projetos, 52%; avaliadores internos e externos são usados em 36% e 18% dos casos, respetivamente e exames e questionários são os menos comuns, 15%. 

Os dados revelam que a maioria dos inquiridos (59%) observou que os participantes assumiram novas responsabilidades ou funções após completarem o programa: 

“Um dos resultados mais encorajadores é o feedback positivo dos participantes, com a maioria a reportar [autoavaliação] um aumento na confiança e a melhoria de competências profissionais e capacidades de liderança mais desenvolvidas. Além disso, muitos assumiram novas funções ou responsabilidades após a conclusão da formação, refletindo os benefícios concretos destes programas na formação dos futuros líderes do setor bibliotecário” e a sua eficácia. 

A liderança apresenta-se como ferramenta de transformação do percurso profissional individual e das dinâmicas organizacionais das bibliotecas.

Os objetivos/finalidades destes programas confirmam-no, ao pretenderem desenvolver competências práticas de: 

  • Desenvolvimento de Liderança (74%),
  • Inovação (24%),
  • Colaboração e Networking (23%),
  • Envolvimento Comunitário e Advocacia (9%). 

Mostram como são centrais na transformação, inovação e adaptação das bibliotecas aos desafios de um ambiente informativo em rápida mudança.

5. Redes de networking e de mentoria

Um dos objetivos-chave dos programas de liderança, indicados pelos seus responsáveis, é a Colaboração e Networking (23%), precedido por Desenvolvimento de Liderança (74%) e Inovação (24%). 

Este é também um dos benefícios mais relatados pelos participantes (61%), precedido por Aumento da Confiança nos Seus Papéis (76%) e Melhoria de competências profissionais (73%). Desenvolvimento de Novas Competências reúne 59% das respostas. 

Recomenda “Aumentar as oportunidades de networking profissional, como programas de mentoria e projetos colaborativos, garantindo que o desenvolvimento da liderança se estenda para além da formação formal”. 

Recomenda também "Promover uma maior colaboração entre associações bibliotecárias internacionais e regionais para partilhar boas práticas, criar programas conjuntos de liderança e proporcionar oportunidades de networking transfronteiriço para líderes emergentes”.

É um aspeto inovador das novas lideranças, encará-las como um processo relacional e contínuo, de fortalecimento de laços entre líderes, a nível local e global, baseado na troca de experiências, na partilha de boas práticas e no apoio mútuo entre profissionais

Também é importante que estes programas tenham uma maior vertente prática e participativa, podendo incluir oficinas com envolvimento de todos os participantes. 

Neste contexto, apresenta a recomendação: “Dar maior ênfase a competências práticas e aplicáveis, como gestão de projetos, permitindo que os participantes apliquem de imediato os conhecimentos adquiridos nos seus contextos profissionais”.

Refere ainda programas de formação inspiradores que incluem mentoria personalizada e aprendizagem entre pares.

B. Perfil das novas lideranças 

O Relatório traça ainda o perfil das novas lideranças no setor das bibliotecas, da informação e da cultura: 

  • Orientado para a inovação e a transformação;
  • Valoriza simultaneamente várias áreas de conhecimento e dialoga com pessoas e comunidades de diferentes culturas;
  • Digitalmente competente;
  • Colabora e cria redes de apoio, mentoria e aprendizagem contínua, tirando partido da inteligência coletiva; 
  • Decide baseado na avaliação de resultados e presta contas da sua ação (accountability); 
  • Comprometido com a equidade, a inclusão e a justiça social; 
  • Foco estratégico e pensamento a longo prazo;
  • Sabe adaptar estratégias a novos contextos (resiliência). 

Concluindo

O relatório Aprendendo a Liderar decorreu da análise de 66 programas de formação em liderança, de associações da IFLA e de voluntários/indivíduos, de diferentes regiões, apresentados por inquérito (outubro e novembro de 2024). 

Apresenta a liderança como elemento estruturante da capacidade das bibliotecas se adaptarem às transformações tecnológicas e sociais do século XXI

Através de uma abordagem abrangente, revela como as bibliotecas estão a evoluir, de simples centros de informação, para instituições ativamente envolvidas na inovação, advocacy e capacitação comunitária e global.

Referência

Saleh, E. & Alsereihy, H. & Ismail, H. & Hassan R. (2024, Dec.). Learning to Lead: A Scan of Global Library Field Practice. https://repository.ifla.org/items/497fac92-7b01-42ca-a93f-0f81d0719070

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0