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Blogue RBE

Sex | 02.05.25

IFLA: Diretrizes para Serviços Bibliotecários Inclusivos

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Síntese

Porque o acesso à informação é um direito fundamental consagrado na legislação dos países, as bibliotecas de todos os tipos assumem um papel chave enquanto promotoras da inclusão, equidade e justiça social. 

No contexto das bibliotecas, parte importante da inclusão consiste em disponibilizar recursos e serviços para pessoas com deficiência de leitura: pessoas cegas, com deficiência visual, dislexia, autismo, esclerose múltipla, deficiências cognitivas, afasia ou com outras deficiências sensoriais ou físicas que tornem difícil a leitura de textos impressos padrão. 

Ao atender a estas necessidades, as bibliotecas combatem a "fome de livros" que afeta estas comunidades (IFLA) e abrem as suas portas a um público mais vasto e diversificado, promovendo um ambiente mais rico e inclusivo para todos os utilizadores, numa lógica de benefício mútuo (win-win). 

Diretrizes para Serviços Bibliotecários Inclusivos para Pessoas com Deficiências de Leitura da IFLA [2] não é um manual técnico, mas um apelo à ação e ao compromisso coletivo para um ideal de biblioteca universal no qual todos, sem exceção, possam ler, aprender e pertencer

Sublinham-se 6 aspetos-chave das Diretrizes para Serviços Bibliotecários Inclusivos LPD/PDL.

1. Inclusão sistémica

As Diretrizes para Serviços Bibliotecários Inclusivos para Pessoas com Deficiências de Leitura que a Secção LPD/PDL (Persons with Print Disabilities/Pessoas com Deficiências de Leitura) da IFLA consideram que todos os serviços que a biblioteca oferece devem ser, por defeito e de forma sistémica, inclusivos

Esta não é uma seção separada que resulta da adaptação pontual de serviços dirigida a um público específico, pessoas com deficiência de leitura, mas um pilar estrutural do planeamento e ação estratégica da biblioteca dirigida a todos os leitores/utilizadores, independentemente das suas necessidades ou capacidades.

2. Acessibilidade abrangente/holística

As Diretrizes expandem o conceito de acessibilidade. Para além da física (rampas, elevadores…), as bibliotecas devem também considerar a acessibilidade social, comunicacional, tecnológica e dos serviços que a biblioteca oferece, garantindo que todos os utilizadores se sintam bem-vindos, respeitados e valorizados pela sua individualidade e capacitados: “a acessibilidade deve ser considerada em todos os aspetos da biblioteca (conteúdo, estantes, atividades, espaço, website e catálogo)”. Da acessibilidade resulta a autonomia e autodeterminação, liberdade, dos utilizadores.

3. Participação - “Nada sobre nós sem nós”

No seu planeamento e ação estratégica, a equipa da biblioteca deve envolver todos os utilizadores com deficiência de leitura, que devem participar ativamente na conceção, implementação e avaliação dos serviços que a biblioteca oferece. 

Segundo este modus operandi, deve dizer-se, não que a biblioteca ‘dá’ o acesso, mas que este é co-construído com aqueles que dele beneficiam, aplicando-se o princípio, “Nada sobre nós sem nós”

Este processo colaborativo garante que os serviços atendam às necessidades reais dos utilizadores e fortalece o sentido de pertença e a confiança na biblioteca como um espaço inclusivo e acolhedor. promovendo uma cultura de cocriação e responsabilidade partilhada. 

Ao darmos voz aos alunos com deficiência de leitura, estamos a enriquecer a nossa compreensão das suas necessidades e a construir uma biblioteca que verdadeiramente os represente e sirva.

4. Formação de todos os profissionais

Porque a inclusão é um pilar essencial da biblioteca, ela deve apostar na sensibilização e formação especializada, contínua e transversal, de todos os elementos da equipa da biblioteca, incluindo o assistente de biblioteca, que devem estar minimamente preparados para apoiarem e interagirem com pessoas com deficiência de leitura (responsabilidade coletiva e não de especialistas).

Esta formação deve abranger aspetos como o Design Universal, “abordagem de design que visa criar produtos e ambientes que sejam utilizáveis por todas as pessoas, na maior medida possível, sem necessidade de adaptação ou design especializado" (Ronald Mace).

5. Atendimento empático e personalizado

O foco do atendimento ao público é a atitude, que deve ser respeitosa e empática, tendo em conta os estilos e preferências de cada leitor. Pretende-se um serviço flexível e personalizado e não a aplicação de procedimentos universais padronizados. Tradicionalmente, a atitude foi uma barreira que excluiu muitos utilizadores. 

A abordagem centrada no utilizador melhora a experiência dos utilizadores com deficiência de leitura e promove um atendimento mais atencioso e eficaz para todos os outros. 

As Diretrizes sugerem “dicas úteis”, como:

  • “Esteja atento ao interesse da pessoa em falar sobre suas dificuldades de leitura e siga a sua liderança.
  • Dê ênfase ao uso de materiais que não sejam livros impressos tradicionais, como filmes, audiolivros comerciais, livros falados, livros DAISY, ebooks, música, jogos, eventos, materiais de leitura fácil e ferramentas de leitura.
  • Informe sobre opções digitais disponíveis.
  • Ofereça uma visita guiada personalizada e oriente para as prateleiras e zonas relevantes.
  • Apresente as secções relevantes do site da biblioteca.
  • Informe sobre serviços online e demonstre como utilizá-los”.

O bibliotecário ou outro elemento da equipa deve focar-se “nas capacidades do utilizador” e não nas suas limitações e deve ser “positivo e aceitar as soluções propostas pelos próprios utilizadores”. O seu papel não é o de um professor de educação especial, terapeuta ou assistente social, mas o de “garantir [a todos sem exceção] o acesso e o prazer da leitura e da utilização da biblioteca”.

6. Todos ganham

Segundo as Diretrizes da IFLA, a inclusão não capacita apenas as pessoas com deficiência de leitura, mas toda a comunidade e a biblioteca, numa lógica win-win, em que todos ganham: “representa uma situação vantajosa para todos: as bibliotecas acolhem pessoas e prestam serviços inclusivos que permitem que membros da comunidade e pessoas com deficiência de leitura continuem a usufruir de serviços e a participar em atividades no seu bairro, usando a biblioteca como qualquer outra pessoa”. 

Por exemplo, utilizadores com dislexia ou cegos podem beneficiar de audiolivros, mas estes também são valiosos para crianças em fase de alfabetização, idosos e pessoas que têm pouco tempo. 

Ao abraçar a inclusão, as bibliotecas cumprem a sua missão de serviço público e tornam-se espaços de renovação de práticas, expansão de possibilidades e crescimento.

 

Nota
Este artigo resulta da leitura do rascunho (draft) das Diretrizes que, tendo sido discutido e comentado pela comunidade da IFLA, até 7 de março, sofrerá ajustes e aguarda a publicação final. 

Referências

  1. IFLA. (2025). Guidelines for Inclusive Library Services for Persons with Print Disabilities.
    https://www.ifla.org/news/guidelines-for-inclusive-library-services-for-persons-with-print-disabilities/ 
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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0