Hoje é Dia Internacional da Mulher! Direitos iguais. Oportunidades iguais. Poder igual.
por Júlia Martins*
Em março de 2024, o Tempo para Ler comemorou o Dia Internacional da Mulher com muitos livros sobre mulheres e deu destaque ao livro Todos Devemos Ser Feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie. Regressamos, hoje, para voltar a celebrar o Dia Internacional da Mulher com livros sobre mulheres e apelamos a que os professores bibliotecários divulguem e deem a ler para que este dia, que só foi oficializado em 1975, em assembleia da Organização das Nações Unidas, não seja esquecido.
“Quando a senhora secretária me convidou para aqui vir, disse-me que esta Sociedade se preocupa com os empregos para as mulheres e sugeriu que dissesse algumas palavras sobre as minhas próprias experiências profissionais. É verdade que sou uma mulher; e é verdade que estou empregada; mas que experiências profissionais tive eu? É difícil dizer. A minha profissão é a literatura; e nessa profissão há menos experiências para as mulheres do que noutra qualquer, excepto o palco — menos, quero eu dizer, que sejam peculiares às mulheres, porque a estrada foi aberta há muitos anos — por Fanny Burney, por Aphra Behn, por Harriet Martineau, por Jane Austen, por George Eliot. Antes de mim houve muitas mulheres famosas e muitas outras desconhecidas e esquecidas que aplanaram o caminho e me marcaram o passo. Assim, quando comecei a escrever, havia muito poucos obstáculos materiais no meu caminho. Escrever era uma ocupação respeitável e inofensiva. A paz familiar não foi quebrada pelo rabiscar de uma caneta no papel. Não foram pedidos esforços à bolsa familiar. (…) O facto de o papel ser tão barato é, obviamente, a razão por que as mulheres alcançaram êxito como escritoras antes de o terem alcançado noutras profissões."
Profissões para Mulheres, in Ensaios Escolhidos (2014), de Virgínia Woolf. Lisboa: Editora Relógio D’ Água
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“Esta obra revolucionária e fundadora do feminismo é um clássico essencial sobre o papel social das mulheres. Em 1792, inspirada pela conquista dos direitos do Homem na França revolucionária, Mary Wollstonecraft proclamava alto e bom som que cabia ao «sexo fraco» tomar as rédeas do seu destino e quebrar as cadeias da submissão e ignorância que o prendiam. Trava-se, nestas páginas, um corajoso combate com uma moral conservadora que condenava metade da humanidade ao papel decorativo de companheira dócil do homem. Em cada linha desta resposta a Émile, de Jean-Jacques Rousseau, perpassam o acesso à educação e ao trabalho, como condição da emancipação feminina, e a ideia de que, sem liberdade, não há deveres sociais a cumprir. Uma Vindicação dos Direitos da Mulher conserva toda a sua actualidade e continuará a influenciar gerações de leitores.” [sinopse da responsabilidade da editora]
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«Sendo as autoras aqui representadas nascidas entre 1831 e 1982, ou seja, separadas entre si por mais de um século e meio, e, como tal, apresentando-nos narrativas que se inserem em diversos estilos e sujeitas a diversos dogmas sócio-histórico-culturais, seria expectável que encontrássemos uma variedade temática que representasse a distância temporal entre estas. Surpreendentemente, podemos identificar dois temas constantes em todos os textos, de forma implícita ou explícita: um deles refere-se à incapacidade masculina de corresponder ao amor feminino. O segundo, de certa forma relacionado com o primeiro, aborda a violência e a subjectivação do espaço feminino, seja este físico ou cultural.» Da introdução de Deolinda M. Adão
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“26 de novembro de 1950
Fiz mal em comprar este caderno, muito mal. Mas agora é tarde para me lamentar, o estrago já está feito. Não sei sequer o que me levou a comprá-lo, foi um mero acaso. Nunca pensei em ter um diário, até porque um diário deve permanecer secreto e, por isso, seria preciso escondê-lo de Michele e dos miúdos. Não me agrada esconder coisas; de resto, em nossa casa há tão pouco espaço, que seria impossível fazê-lo. Foi assim: há quinze dias, era domingo, saí de casa bastante cedo de manhã. Ia comprar cigarros para Michele; queria que, quando ele acordasse, os encontrasse na mesinha de cabeceira: aos domingos, dorme sempre até tarde. Estava um dia bonito, quente, não obstante o outono avançado. Sentia uma alegria infantil ao caminhar pelas ruas, do lado do sol, a ver as árvores ainda verdes e as pessoas contentes como parecem sempre estar nos dias festivos. Por isso, decidi dar um breve passeio, ir até à tabacaria na praça. Ao longo do caminho, vi que muitos paravam na banca da florista, e parei também, comprei um ramo de calêndulas. «Há que ter flores na mesa, ao domingo», disse-me a florista, «os homens reparam nisso.» Eu sorri, anuindo. (…) “
Alba de Céspedes (2024). O Caderno Proibido. Lisboa: Alfaguara.
“Roma, década de 1950: Valeria Cossati vai comprar cigarros para o marido, ignorando que sairá da tabacaria com um caderno que há de mudar a sua vida. Ao transformar esse caderno num diário secreto onde regista pensamentos e desejos do dia-a-dia, Valeria transforma-o num instrumento de emancipação: liberta-se das convenções sociais, do sentido de dever para com o marido e os filhos, dos limites autoimpostos que regem o seu pequeno mundo. A partir daqui tudo é questionado. Valeria compreende que está em translação e decide conquistar o lugar que escolheu para si.
Clássico redescoberto, testemunho histórico de uma época, retrato primoroso da turbulência doméstica, O Caderno Proibido condensa a sede de liberdade de toda uma geração e das outras que se lhe seguiriam. Precursora da linhagem literária mais disruptiva da modernidade - de Virginia Woolf a Natalia Ginzburg, de Marguerite Duras a Vivian Gornick -, Alba de Céspedes celebra aqui o poder da escrita e a audácia indómita de uma mulher numa sociedade em ebulição.” [sinopse da responsabilidade da editora]
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“No ano da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, somos convidados a conhecer as histórias de 25 Mulheres, contadas pela sua voz. Esta viagem à sociedade portuguesa do início dos anos 70, espelha as contradições da condição feminina, com as quais ainda nos debatemos hoje, meio século depois. O que mudou? Como mudou? Como nos víamos na altura? Como nos vemos agora?
Isolar 25 histórias é tarefa ingrata, mas fica a esperança de que as selecionadas possam representar, de forma digna, a gloriosa diversidade da existência no feminino. Acima de tudo, fica o desejo de que este livro favoreça a curiosidade e o diálogo, quer pelo aprofundamento das raízes históricas dos relatos aqui narrados, quer pela indagação do significado contemporâneo do ser mulher. Tal como o caminho para a liberdade, este é um livro em permanente construção. “ [ sinopse da responsabilidade da editora]
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“ Nunca me foi estranho o mundo das máquinas. Sempre convivi com máquinas. É-me tudo estranho. Este é o mundo das mulheres e dos homens. Faz-me confusão é que haja mulheres que achem que as máquinas são o mundo dos homens. Ser mulher e pensar em máquinas nunca me fez confusão nenhuma. Não foi por ter começado a trabalhar desde pequena numa fábrica. Não, não foi por isso. Plasticamente, as máquinas fascinam-me, mas não é fascinação no sentido da exaltação do objecto. Inquieta-me. Inquieta-me a vida do homem através da máquina. Antigamente, o homem funcionava com a máquina. Agora já é a máquina que auxilia a máquina, o homem só está ali a carregar nos botões. Inquieta-me também pela poluição, pela transfiguração, pelo movimento. O barulho, os ruídos. Toda a maquinaria, são objectos perigosíssimos. Sinistros. Os satélites, os aviões. Pode-se estar sossegada nesta paisagem urbana? Não estou aqui para pintar Portugal alegre. O aspecto residual é muito importante. “
Aldina Costa – Artista Plástica, Máquina e maquinações. in Artistas Artesãs Pioneiras – Conversas singulares entre mulheres extraordinárias (2024). Lisboa: Ed. Edições Caixa Alta
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* Júlia Martins
Acredita no poder da leitura. Dar a ler é um desafio que gosta de abraçar. É leitora e frequenta, de forma assídua, Clubes de Leitura. Saiba mais
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