Harari: O poder das histórias
Este artigo é a continuação do artigo, Usar IA não é arte e corresponde a uma comunicação, apresentada pela Rede de Bibliotecas Escolares, na 13.ª ed. das Jornadas da Rede de Bibliotecas da Maia, Lentes e livros: diálogos infinitos entre cinema e leitura (Fórum da Maia, 25 out. 2024).
“A narrativa foi a primeira tecnologia de informação decisiva desenvolvida por humanos, lançou os alicerces da colaboração humana de grande alcance [só os humanos têm grupos em grande escala, como tribos, nações, religiões], tornando-nos o animal mais poderoso à face da Terra” (Harari, 2024, p. 79).
Segundo Harari (2024), para além de terem um papel fundador da nossa civilização, histórias ficcionais:
- Exercem fascínio/maravilhamento/espanto, prazer e bem-estar, o que faz com que sejam infinitamente recontadas;
- Intensificam o gosto por aprender e expandir o pensamento e a imaginação;
- São, segundo o livro The Science Behind the Startling Power of Story [A Ciência por Detrás do Impressionante Poder das Histórias] de Kendall Haven, um “eficientíssimo veículo para comunicar informação factual, conceptual, emocional ou tácita (…) como comprova, de maneira convincente e irrefutável, a maioria de investigação”, (p. 84);
- Permitem a implantação de relacionamentos fictícios e de memórias falsas - o seu relato insistente, leva o indivíduo a adotá-la como recordação genuína (p. 61);
- Têm valor propagandístico, de marketing e advocacia;
- São eficazes porque vivem e perduram na imaginação coletiva;
- Criam um 3.º nível de realidade, a realidade intersubjetiva (como Estados, nações, leis, religiões, dinheiro…), que passa a coexistir com a realidade subjetiva e objetiva.
“As redes baseadas em histórias permitiram que o Homo sapiens se tornasse o animal mais poderoso, com elas, passou a ter uma vantagem crucial, não apenas sobre os leões ou os mamutes, mas também sobre os hominídeos que o precederam, como o Neandertal” (p. 68), limitado às redes de comunicação um para um.
Narrativas ficcionais lançaram “os alicerces da colaboração humana de grande alcance, tornando-nos no animal mais poderoso à face da Terra” (Harari, 2024, p. 79) - isto aconteceu há cerca de 70.000 anos (Harari, 2024, p. 56).
São especificamente humanas e implicaram mudanças evolutivas, no cérebro e aptidão linguística, a capacidade de
- Contar histórias, ser afetado por elas e acreditar/confiar nelas e em quem as constrói/narra, a autoridade/líder;
- Ligar-se a outros humanos, inclusive, grandes grupos, através de histórias;
- Cooperar, comportamento resultante dos anteriores (Harari, 2024, p. 56).
A livre circulação de factos e informação – ou a verificação de factos (Fact-checking) - não gera verdade objetiva universal, nem confiança nas instituições e líderes (governo, tribunais, profissionais de saúde, cientistas, jornalistas, professores…), nem motivação para nelas participar (agência) e nem impacto na adoção de medidas/soluções para os problemas:
A “humanidade assistiu ao maior aumento de sempre tanto na quantidade de informação [e dados] produzida, como na velocidade a que acontece [e também por isso] (…) está mais perto do que nunca da autoaniquilação” (Harari, 2024, p. 19).
Perante a complexidade e dimensão dos desafios atuais, “o nosso poder humano nunca resulta da iniciativa individual [como conta a história do Aprendiz de Feiticeiro (Goethe, 1797)], mas da cooperação entre muitos” (Harari, 2024, p. 12) e, portanto, da criação e fortalecimento de redes colaborativas e coesas, como a que une os diversos parceiros aqui reunidos destas XIII Jornadas da Rede de Bibliotecas da Maia.
Para a Rede de Bibliotecas Escolares e os professores bibliotecários e bibliotecas escolares da cidade e município da Maia, é fundamental dar continuidade e reforçar a aliança com todos, particularmente, com a Biblioteca Municipal Dr. José Vieira de Carvalho da Maia e a autarquia/Câmara Municipal, porque o nosso desígnio é comum e vital na atualidade:
Proporcionar a todos as crianças e jovens e comunidade local “os recursos [inclusive, filmes e literatura de qualidade e encontros como este – temos que alargar e aprofundar o que é especificamente humano] e as aprendizagens necessários à leitura e ao acesso, ao uso e produção da informação e conhecimento” (RBE, Quadro Estratégico, p. 4) para que desenvolvam as competências necessárias à aprendizagem, ao trabalho e à vida que lhes permita realizarem-se e serem felizes.
Referências
- Harari, Y. (2024). Nexus. História breve das Redes de Informação da Idade da Pedra à inteligência artificial. Elsinore.
- Câmara Municipal da Maia. (2024). XIII Jornadas da Rede de Bibliotecas da Maia - “Lentes e livros: diálogos infinitos entre cinema e leitura”. https://www.cm-maia.pt/cmmaia/uploads/writer_file/document/10741/jornadas_2024_programacao_a4__1_.pdf
Observação
Esta comunicação foi apresentada pela Rede de Bibliotecas Escolares na 13.ª ed. das Jornadas da Rede de Bibliotecas da Maia, Lentes e livros: diálogos infinitos entre cinema e leitura (Fórum da Maia, 25 out. 2024).
📷 Harari, Y. (2024). Yuval Noah Harari introduces 'Nexus'. https://www.youtube.com/watch?v=Ze6diMt1g_s