Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Blogue RBE

Ter | 21.10.25

Fórum RBE 2025: Bibliotecas Escolares – Humanismo e Intervenção

por Manuela Pargana Silva, Rede de Bibliotecas Escolares

Blogue (1).png

O Fórum RBE 2025, subordinado ao tema “Bibliotecas Escolares: Humanismo e Intervenção”, decorre hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian.

O encontro constitui um momento de reflexão e mobilização em torno do papel das bibliotecas escolares na formação de leitores críticos, cidadãos informados e comunidades educativas participativas.

Reunindo representantes da Rede de Bibliotecas Escolares, da comunidade educativa e de diversos parceiros institucionais, o Fórum afirma-se como um espaço de partilha, diálogo e compromisso com uma educação humanista, inclusiva e transformadora.

O programa integra conferências, mesas redondas e momentos artísticos, cruzando perspetivas do mundo académico, literário e educativo em torno de questões centrais como a ética, a literacia, a inteligência artificial e o futuro da leitura.

A sessão de abertura contou com a intervenção de Manuela Pargana Silva, Coordenadora Nacional da Rede de Bibliotecas Escolares, que sublinhou o valor do humanismo como eixo orientador da ação educativa e reafirmou o papel das bibliotecas escolares como espaços de mediação cultural, ética e democrática.

Segue-se o texto integral da sua intervenção, que marcou a abertura do Fórum e convida à reflexão sobre o sentido e o alcance das bibliotecas escolares no mundo contemporâneo.

O que significa, hoje, falar de humanismo e de intervenção?

Bom dia.

Cumprimento o Sr. Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Professor Dr. António Feijó;
Saúdo o Sr. Professor Guilherme d´Oliveira Martins;
Cumprimento todos os dirigentes do Ministério da Educação, Ciência e Inovação;
Todos os convidados; Entidades;
Saúdo:
Os senhores diretores de agrupamentos; os parceiros; os professores; os professores bibliotecários; os coordenadores interconcelhios; a minha equipa mais próxima.

Começo por agradecer à Fundação Calouste Gulbenkian na pessoa do seu Presidente, Professor António Feijó, por mais uma vez acolher uma iniciativa da Rede de Bibliotecas Escolares.

Um obrigada especial ao Professor Dr. Guilherme d´Oliveira Martins pelo incentivo e apoio que permanentemente presta à Rede de Bibliotecas Escolares.

Destaco os elementos do júri do Prémio Professor Bibliotecário, além do seu presidente, Guilherme d' Oliveira Martins, Isabel Alçada, Teresa Calçada, Ana Rita Bessa e Isabel Mendinhos.

Não posso deixar de sublinhar o apoio espontâneo e generoso da Editora Leya à iniciativa Prémio Professor Bibliotecário, expresso na pessoa da sua presidente, Ana Rita Bessa, cuja colaboração tem sido verdadeiramente inexcedível.

Agradeço a todos os oradores cuja partilha de saberes e experiências vem enriquecer este Fórum, e a todos os presentes, cuja participação dá sentido ao trabalho, que quotidianamente, desenvolvemos.

O Fórum RBE 2025: Bibliotecas Escolares – Humanismo e Intervenção propõe-se como um momento de celebração e reflexão sobre as questões emergentes que se colocam hoje à escola e à biblioteca escolar.

Celebramos a ação de uma Rede que, há quase três décadas tem procurado responder com pertinência, continuidade e inovação aos desafios da aprendizagem e da formação de crianças e jovens num mundo cada vez mais complexo, exigente e em permanente transformação.

Fiéis à nossa identidade, interrogamos o presente, antecipamos desafios e refletimos sobre as dimensões mais prementes da ação educativa, aquelas que têm impacto direto na aprendizagem, na formação dos alunos e no papel transformador das bibliotecas escolares.

Nesta ação concertada, convergem múltiplos intervenientes: membros da Rede, coordenadores interconcelhios, professores, professores bibliotecários, assistentes operacionais, alunos, autarquias, parceiros institucionais e inúmeras entidades. Todos partilham um princípio estruturante, o da colaboração, entendido como plataforma essencial para o desenvolvimento e consolidação da Rede.

No centro deste Fórum, o tema Humanismo e Intervenção convida à reflexão sobre o que significa, hoje, falar de humanismo num tempo mediado pela tecnologia e pela inteligência artificial. Num contexto em que o digital e a inteligência artificial ocupam um espaço crescente nas nossas vidas e transformam os modos de aprender, de criar, de escrever e de pensar, impõem-se interrogações fundamentais:

Como preservar, neste cenário, os valores centrados na pessoa humana — a dignidade, a compaixão, a empatia?

Como reforçar esses valores num ambiente orientado por dados, algoritmos e plataformas digitais?

De que modo podemos formar para despertar o gosto de aprender e o pensamento crítico e criativo, usando a inteligência artificial de forma inteligente e fazendo dela um fator de crescimento e não de atrofia da mente humana?

Como desenvolver o sentido de pertença e de responsabilidade, individual e coletiva, na ação e na intervenção?

Estaremos a conseguir, nos espaços educativos, assegurar a capacidade crítica, a reflexão ética e a liberdade de pensamento?

Como fortalecer a relação entre docente e discente num contexto digital, sem perder de vista a socialização e a interação humana que alimentam o crescimento e o pensamento partilhado?

Como garantir que, junto dos mais jovens, promovemos escolhas informadas, sustentadas no conhecimento, e formamos cidadãos preparados e conscientes da necessidade de um futuro plural, democrático e alicerçado em valores como a justiça e a liberdade?

E que lugar cabe, afinal, à intervenção, à ação transformadora e consciente que caracteriza o verdadeiro humanismo?

Acreditamos no valor do saber, da cultura e das múltiplas expressões que traduzem a permanente busca de aperfeiçoamento e de transcendência, valores indissociáveis da nossa condição humana.

Estamos conscientes da missão exigente que assumimos, bem como da corresponsabilidade e do compromisso na defesa de princípios essenciais à salvaguarda da nossa humanidade.

Atenta a esta nova realidade, a Rede de Bibliotecas Escolares reflete, age e integra estas problemáticas na sua prática quotidiana. E só uma Rede, constituída por múltiplas pessoas empenhadas na mesma missão e sempre dispostas a aprender, pode sustentar esta procura constante de respostas adequadas aos reptos do presente.

Vivemos tempos de grande complexidade e paradoxos, em que se esbatem fronteiras entre a verdade e a manipulação, entre o imediato e o duradouro, entre o privado e o público, entre comunidades fechadas e intolerantes e outras, mais abertas e dialogantes.

É neste contexto que reafirmamos a convicção de que a biblioteca escolar é um lugar privilegiado e imprescindível para o acesso de todos à cultura e ao conhecimento do mundo, um espaço de encontro, de diálogo e de enriquecimento do património coletivo da humanidade.

As bibliotecas constituem-se como garantes de valores civilizacionais essenciais, a liberdade e a democracia; hoje, mais do que nunca, e têm a responsabilidade de cultivar a diversidade, a abertura ao outro e a compreensão do desconhecido, na construção de uma humanidade que a todos pertence.

Espaços de humanismo e de intervenção, de acolhimento e de ação, na escola, com a biblioteca escolar, poder-se-á continuar a construir uma humanidade com todos e para todos.

Manuela Pargana Silva
Rede de Bibliotecas Escolares

_____________________________________________________________________________________________________________________

Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0