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Blogue RBE

Seg | 13.12.21

Equilíbrio entre competências

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O Estudo Internacional sobre Competências Sociais e Emocionais (Study of Social and Emotional Skills – SSES) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, Beyond Academic Learning - First results from the survey of social and emotional skills, no qual Portugal - através do município de Sintra - e mais nove países do mundo participaram, apresenta indicadores que constituem pontos de partida ou reforço do trabalho das escolas [1]. Dois exemplos:

- Decréscimo da criatividade e curiosidade dos estudantes ao longo do percurso escolar, muito significativo nas raparigas.

Condicionadas por papeis de género e autocrítica, elas apresentam “níveis mais elevados de competências relacionadas com o desempenho de tarefas como a responsabilidade e a motivação de realização”, enquanto “os rapazes demonstraram maiores capacidades de regulação emocional, como resistência ao stress, otimismo e tolerância emocional, controlo [que favorecem bem-estar e menor ansiedade nos testes], bem como competências sociais importantes como assertividade e energia”.

- Expetativas de educação (e profissão), exemplo expresso pelo presidente da Câmara Municipal de Sintra, Basílio Horta, à Agência Lusa: “Em Sintra, e não deverá ser muito diferente no resto do país, apenas 60% dos adolescentes de 15 anos relataram que esperavam continuar a estudar e completar um grau superior. Para lhe dar uma ideia, na cidade de Suzhou, na China, são 91%. Então porque é que o desenvolvimento da escola em vez de abrir perspetivas aos alunos e desejar que eles prossigam, pelo contrário, levam-nos a abandonar o desejo de continuar a estudar?” Na opinião do dirigente, “o problema é que a escola se tornou apenas uma fonte de conhecimento e ignora o talento […] Os jovens querem tocar música, querem conhecer cinema, teatro, literatura. Isto em termos nacionais é uma perda completa. Uma perda de talentos”; o estudo deve “merecer uma reflexão nacional por parte das escolas e sobre o modelo de ensino".

De acordo com o Editorial deste Estudo Internacional, “os estudantes que se consideram altamente criativos tendem também a relatar níveis elevados de curiosidade intelectual e persistência”, fundamentais para, em todos os grupos etários, disciplinas e cidades, obter bons resultados escolares e ter vontade/ gosto em aprender ao longo da vida, atitude que terá efeito multiplicador na sociedade. A curiosidade intelectual, à semelhança de elevadas expetativas dos pais e professores, é “poderoso motivador intrínseco” da aprendizagem.

Andreas Schleicher, Diretor de Educação e Competências da OCDE, no Editorial deste Estudo apresentado a 26 de novembro em Sintra, sustenta que a missão atual da escola é complexa porque deve:

- Dar ferramentas cognitivas/ académicas e de caráter/ personalidade - a escola atual “É sobre curiosidade - abrir mentes; sobre compaixão - abrir corações; e é sobre coragem - mobilizar os nossos recursos cognitivos, sociais e emocionais para tomar decisões. Estas qualidades ou competências sociais e emocionais como o nosso relatório as designa, são também armas contra as maiores ameaças do nosso tempo: a ignorância - a mente fechada; o ódio - o coração fechado; e o medo - o inimigo da ação”.

- Promover uma aprendizagem diferenciada que desenvolva múltiplas inteligências com base em estratégias diversificadas porque o modo como e o contexto em que cada um as combina e aprende é diverso. É importante centrar a educação no indivíduo e suas diferenças, seguindo uma abordagem personalizada. Relativamente aos estudantes carenciados – e raparigas, sobretudo mais velhas - a ação deve ser particularmente atenta porque “Estudantes de meios favorecidos relataram competências sociais e emocionais mais elevadas do que os seus pares desfavorecidos em todas as competências que foram medidas e em todas cidades participantes no inquérito”.

- Incentivar uma ética do cuidado, respeito mútuo, solidariedade e complexidade para que cada um possa encontrar o seu lugar na escola e no mundo e desenvolver um sentido de empatia, pertença e responsabilidade em relação aos outros e comunidade e para que a escola e, cada um, perceba os problemas da sociedade como seus e de todos.

A boa notícia do estudo é que competências sociais e emocionais - responsabilidade, persistência, autocontrolo, resistência ao stress, empatia, confiança, tolerância, curiosidade, energia, assertividade ou pensamento crítico - não são características inatas e fixas dos indivíduos, podem ser aprendidas e desenvolvidas, mas “não é sistematicamente incorporado no currículo escolar com a mesma extensão que o desenvolvimento das capacidades cognitivas, tais como leitura e matemática” e isto depende dos professores e das atividades que proporcionam aos estudantes: dinâmicas ativas e participativas, explícitas e focadas, que expressam a(s) competência(s) que pretendem desenvolver, individuais e em grupo, competitivas e cooperativas.

É também importante que o estudante tome consciência e acredite que pode mudar e desenvolva uma mentalidade construtiva, de crescimento interior (Growth Mindset), em vez de cultivar uma imagem fixa e estática sobre as suas capacidades (Fixed Mindset), pois o que pensa sobre as suas competências pode afetar a realização e desenvolvimento das mesmas e impedir a criação de novos hábitos, formas de abordagem, experiências e desafios [2].

“As pessoas, e mais especificamente as crianças, precisam de um conjunto equilibrado de competências cognitivas, sociais e emocionais para prosperar no mundo de hoje, exigente, em mudança e imprevisível.” As competências sociais e emocionais devem ser trabalhadas na escola com a mesma dignidade que as cognitivas porque afetam sucesso escolar e profissional, saúde física e mental, envolvimento cívico e democrático, prevalência de comportamentos antissociais e crime e bem-estar.

Para que o seu desenvolvimento produza impacto, a promoção destas competências deve restringir-se a uma disciplina, Educação para a Cidadania [3], ou é necessário trabalhá-las transversal e sistematicamente em todos os contextos de aprendizagem, curriculares e informais, envolvendo inclusive famílias, parceiros e comunidade? Como é que a biblioteca escolar integra esta componente no currículo e oportunidades de aprendizagem que oferece?

 

Referências

[1] Organisation for Economic Co-operation and Development. (2021, 7 September). Beyond Academic Learning - First results from the survey of social and emotional skills. https://www.oecd.org/education/beyond-academic-learning-92a11084-en.htm

[2] Organisation for Economic Co-operation and Development. (2021). Sky's the limit: Understanding the impact of growth mindset. https://learningportal.iiep.unesco.org/en/library/skys-the-limit-growth-mindset-students-and-schools-in-pisa

[3] Direção-Geral de Educação. (2021). Educação para a Cidadania. https://cidadania.dge.mec.pt/saude/prevencao-da-violencia-em-meio-escolar/competencias-socioemocionais

[4] Fonte da imagem: Organisation for Economic Co-operation and Development. (2021). Sky's the limit: Understanding the impact of growth mindset. https://learningportal.iiep.unesco.org/en/library/skys-the-limit-growth-mindset-students-and-schools-in-pisa

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