Ensinar através da colagem
Esta técnica foi apresentada por Andrew Walsh [1] na rede social Library Instruction e pode ser interessante para trabalhar de forma ativa, criativa e lúdica a literacia de informação.
Já há muito tempo que Andrew Walsh utiliza a colagem com objetivos pedagógicos; faz parte de todo um conjunto de coisas correlacionadas que costuma fazer e que envolvem pedir aos alunos para criarem qualquer coisa e depois falarem sobre aquilo que criaram; é uma forma de usar o jogo, a criatividade, a metáfora... uma abordagem que também pode funcionar bastante bem online.
Todos aqueles que referem esta técnica parecem usá-la de forma ligeiramente diferente, por isso decidiu partilhar os seus princípios básicos na abordagem deste método.
Em primeiro lugar, pega em folhas A3, cola, tesoura e um conjunto de revistas antigas.
Começa por desafiar a turma com uma pergunta relacionada com qualquer assunto sobre o qual pretenda que os alunos reflitam ou pesquisem informação ou sobre qualquer problema que possam ter de resolver.
Em seguida, individualmente, os alunos têm de encontrar imagens e colá-las numa folha para responder a essa pergunta. Têm de começar a cortar e colar o mais depressa possível (quanto mais tempo pensam sem "fazer", pior é o resultado). Normalmente é definido um tempo para conclusão (muitas vezes 10 minutos), mas também é necessário ser flexível, de modo a ter em conta as características da turma.
Quando acabam a colagem, cada aluno tem então de a explicar a outra pessoa - é realmente muito importante que esta fase aconteça logo a seguir à fase da criação. Nunca se deve pedir, Agora explique a sua pergunta de pesquisa, mas antes, Explique a sua colagem. Não importa se a explicação é para uma outra pessoa, ou para o resto da turma com quem estão sentados, ou para um ser imaginário sentado ao fundo da sala... é muito importante que terminem a parte de criação do exercício com alguma reflexão, alguma construção narrativa, sobre o que acabaram de fazer. Este momento desencadeia a transformação de alguns pensamentos imprecisos, que poderiam ter sido apenas meio pensados à medida que selecionavam uma imagem, em algo mais concreto e significativo.
Muitas vezes, o próprio professor pode colocar algumas perguntas que, de algum modo, permitem dar um feedback à turma, para que aqueles que ouviram a explicação da colagem possam acrescentar-lhe algumas palavras ou ideias como retorno àquele que a criou.
Geralmente, esta técnica suscita algumas ideias interessantes, pois ajuda os alunos a pensarem num problema de uma forma que normalmente não fariam, bem como a expressarem-se com menos receios e inseguranças, obtendo-se com frequência uma maior profundidade na reflexão e na resolução de problemas.
Para algumas pessoas a técnica também funciona bem online e sugerem opções como o Padlet, ou colar coisas em PowerPoint e depois partilhá-las online, remetendo normalmente os alunos para um repositório de imagens, fazendo-o equivaler a uma pilha de revistas... Para Andrew Walsh, essa transposição faz perder muitos dos benefícios desta abordagem, pois os alunos acabam por ter em conta as palavras que descrevem as imagens que vão encontrando e a procura de uma "boa" imagem torna-se a força dominante no exercício. Muito do objetivo desta abordagem é encontrar inesperadamente imagens significativas a partir de uma fonte restrita, com isso ajudando-se os alunos a pensarem em coisas que de outra forma não teriam feito...
Em vez disso, Andrew Walsh propõe uma alternativa que usa ideias muito similares e que parece funcionar bem quando transposta para um ambiente online:
Em vez de cortar e colar imagens, uma versão diferente desta técnica consiste em levar para a aula uma quantidade de objetos bastante aleatórios (penas, dados, balões, cartões… apenas tem de ser uma quantidade de objetos muito diferentes). Depois dá-se a todos um saco de papel e faz-se uma pergunta semelhante à da colagem, mas em vez de pedir Crie uma colagem representando x, pede-se Encontre 5 objetos que representam x e coloque-os no seu saco de papel. Depois, na parte de partilha da sessão, o aluno retira os objetos do saco, um de cada vez, e explica porque foram escolhidos. Esta opção também dá alguns resultados bastante ricos.
Ao transferir essa ideia para um ambiente online, pode dizer-se Tem 2 minutos para encontrar 3 objetos que representam x e normalmente funciona muito bem - a limitação de encontrar objetos rapidamente funciona de forma semelhante à limitação de ter apenas um pequeno número de revistas para cortar no exercício de colagem.
Os alunos podem então partilhar os seus objetos no chat, ou usando áudio/ num grupo maior ou mais pequeno e é possível obter o mesmo tipo de discussões que surgem de exercícios do tipo colagem.
Uma hipótese interessante que Andrew Walsh pondera é usar a técnica em contexto de formação: Tem dois minutos para encontrar um objeto que resuma que tipo de professor é - afixar no chat o que encontrou e porque o escolheu. Pode ser um bom exercício lúdico que leve a pensar. Já pensou?
Nota:
Andrew Wash faz ainda notar que James Soderman na conferência LILAC também falou sobre colagem: Visualise it! - Extra material
Referências
1. Andrew Walsh trabalha uma biblioteca universitária do Reino Unido e é formador e conferencista sobre literacia da informação, aprendizagem lúdica, aprendizagem ativa, criatividade no ensino (principalmente em bibliotecas). Segundo o próprio, está verdadeiramente interessado em ajudar qualquer pessoa que trabalhe em bibliotecas a melhorar suas competências de ensino e a refletir e desenvolver suas pedagogias pessoais. Partilha o seu conhecimento com grande generosidade e disponibilidade.
2. Este texto foi adaptado a partir de: Walsh, A. (2022). Teaching through collage. https://library-instruction.mn.co/posts/teaching-through-collage