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Blogue RBE

Ter | 12.10.21

Education at a Glance 2021

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Education at a Glance é a principal fonte internacional de estatísticas nacionais comparáveis que medem o estado da educação no mundo. Publicado anualmente, analisa a estrutura, financiamento e desempenho dos sistemas de educação dos 37 Países Membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) 1 e economias parceiras.

A edição 2021, publicada a 16 de setembro, no contexto da pandemia Covid-19, mantém o nível de análise crítica habitual e inclui um relatório sobre efeitos da Covid-19 na educação, para além de versão nova e interativa 2 e uma relativa a cada país, Portugal Country Note (traduzida para português) 3.

Tem por foco a equidade na educação, analisando algumas das suas dimensões - nível socioeconómico, género, país de origem, condições de trabalho dos professores – objeto dos três artigos do blogue sobre o relatório.

“Em Portugal, 5,6% dos alunos matriculados nos cursos gerais do 3.º ciclo do ensino básico e 7,2% dos alunos matriculados nos cursos científico-humanísticos do ensino secundário, repetiram um ano de escolaridade em 2019 [a média da OCDE é 1,9% e 3%]” e a maioria são rapazes – por exemplo, no 3.º ciclo, correspondem a 60% das reprovações; no secundário diminuiu para 52% (a média da OCDE é 57%), afirma a versão nacional do relatório.

Os rapazes também têm mais tendência - na OCDE e em Portugal - a escolherem, no secundário, cursos de dupla certificação, em vez de cursos científico-humanísticos – em Portugal são opção de 55% das raparigas – e a ingressar menos no ensino superior – em Portugal 49% das mulheres de 25 a 34 anos têm qualificação de nível superior em 2020, em comparação com 35% dos homens.

Na OCDE tem vindo a aumentar a procura do ensino superior, sobretudo por parte de jovens mulheres entre 25 e 34 anos: em 2020, 52% de jovens têm qualificação superior, em comparação com 39% dos seus pares masculinos; em Portugal a probabilidade é ascendente, mas menor (49% e 35%, respetivamente).

Nas licenciaturas em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), essenciais para economias do futuro, mulheres estão sub-representadas na OCDE e em Portugal, onde em 2019 representavam 29% (engenharia, indústrias transformadoras, construção) e 17% (tecnologias de informação e comunicação); em contrapartida, são 77% dos novos inscritos em educação e 71% dos professores. À medida que o nível de ensino superior aumenta, a proporção de mulheres diminui – na OCDE, em 2020, 45% realizou o doutoramento.

Apesar do elevado nível de qualificação, aproveitamento e realização nos estabelecimentos de ensino, jovens mulheres, sobretudo sem secundário completo, têm maior probabilidade de:

- Desemprego: Em Portugal, em 2020, 35% das mulheres entre os 25 e os 34 anos estavam desempregadas, para 20% dos homens – a OCDE regista menor diferença de género 57% e 31%, respetivamente;

- Baixos salários: Mulheres entre os 25 e 64 anos têm média de rendimentos que corresponde a 76% - 78% dos rendimentos dos homens e, em Portugal, a desigualdade salarial entre sexos é maior entre licenciados: as mulheres têm rendimentos equivalentes a 73% do que recebem os homens.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) sublinha que meninas e jovens mulheres adultas frequentando presencialmente estabelecimentos escolares “diminui casos de violência, negligência, fome”, gravidez precoce, impedindo-as de aumentarem o trabalho doméstico não remunerado e abandonarem a escola – a falta de acesso à escola pode gerar “retrocesso na condição social de milhares de alunas” 4.

Para além do género, o país de origem também é determinante no acesso a emprego digno com salário justo e a educação/ formação de qualidade ao longo da vida. Domínio da língua do país de destino, dificuldades de reconhecimento de diplomas dos países de origem e falta de competências para mercado de trabalho são dificuldades que migrantes enfrentam no país de destino.

Na OCDE, em 2020, adultos de 25 a 64 anos provenientes de outro país têm maior probabilidade de não terem diploma do secundário (22%), não tirarem uma licenciatura (14%), tornarem-se NEET (Not in Education, Employment, or Training/ Não estão na Educação, Emprego ou Formação), aceitarem salário mais baixo e, por isso, a sua taxa de emprego com baixo nível de qualificações é mais elevada. A probabilidade de estar empregado aumenta com as habilitações, mas para 86% de adultos empregados com habilitações de nível superior, há 79% de adultos nascidos no estrangeiro. Os que chegam em idade precoce, estudam e obtêm diplomas reconhecidos no país de acolhimento, tendo menor risco de se tornar NEET.

Na OCDE, entre janeiro de 2020 e maio de 2021, quanto mais elevado o nível de educação, mais dias as escolas fecharam: 55 dias na educação pré-primária e mais de 100 dias no ensino secundário e superior (estes num quarto dos países estiveram totalmente fechados mais de 150 dias). Education at a Glance 2021 sublinha que o fecho das escolas e a alteração para o ensino à distância “foi particularmente desafiadora para crianças desfavorecidas que não tinham acesso a materiais de aprendizagem ou que não tinham um ambiente de aprendizagem de apoio em casa [pais com formação e disponibilidade, ferramentas de aprendizagem digital, espaço tranquilo para estudar em casa…]” 5.

Atualmente a maioria dos países reabriu as escolas, mas “Os sistemas de educação precisam prestar muita atenção para evitar que a educação cada vez mais digital amplie ainda mais as desigualdades existentes no acesso e na qualidade da aprendizagem6, pelo que precisamos repensar o modelo de escola e aprendizagem que queremos para um futuro mais justo.

 

Referências:

1. Organisation for Economic Co-operation and Development. (s.d.). OECD: Together, we create better policies for better lives. https://www.oecd.org/

2. Organisation for Economic Co-operation and Development. (September 16, 2021). Education at a Glance 2021: Executive Summary. https://www.oecd-ilibrary.org/sites/b35a14e5-en/index.html?itemId=/content/publication/b35a14e5-en

3. Organisation for Economic Co-operation and Development. (September 16, 2021). Education at a Glance 2021: Portugal - Country Note. https://www.dgeec.mec.pt/np4/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=1278&fileName=EAG_2021_Country_Note_Portugal_em_l_ngua.pdf

4. Gomes, A., Balmant, O. (24 de setembro, 2021). 'Nova escola' depois da pandemia impõe desafios. https://www.terra.com.br/noticias/educacao/nova-escola-depois-da-pandemia-impoe-desafios,4f9ba7fd110b10ebb8bc2b54292b10adgw6a6zf0.html

ONU News. (27 de julho, 2021). Com escolas fechadas, crianças sofrem com violência e maior risco de gravidez. https://news.un.org/pt/story/2021/07/1758032

5. Doumet, M. (September 16, 2021). OECD Education and Skills Today: Six key takeaways on equity from Education at a Glance 2021. https://oecdedutoday.com/six-key-takeaways-equity-education-2021/

6. Organisation for Economic Co-operation and Development. (s.d.). Equity in education: Strengthening educational opportunities. https://www.oecd.org/coronavirus/en/education-equity

 

Fonte da imagem: OECD. (2021, 17 November). Education at a Glance 2021. https://www.oecd-ilibrary.org/education/education-at-a-glance-2021_b35a14e5-en

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