Diz-me o que dizes, dir-te-ei como é

Quando a curiosidade se transforma em cultura viva
Na Escola Básica Tecnópolis, do Agrupamento de Escolas Júlio Dantas (Lagos), as palavras investigam-se, desmontam-se e reinventam-se. É essa a proposta da rubrica semanal “Diz-me o que dizes, dir-te-ei como é”, criada, escrita e apresentada por Vasco Peixinho, aluno do 3.º ciclo, e disponível na rádio escolar TecnoDantas FM.
Neste espaço sonoro onde a linguagem ganha protagonismo, cada episódio transforma duas expressões idiomáticas num enigma a decifrar. Entre etimologias surpreendentes e contextos históricos inesperados, Vasco guia os ouvintes por uma viagem de descoberta, aproximando-os da cultura popular portuguesa com humor, rigor, criatividade e um toque de irreverência juvenil.
Palavras com história: episódios em destaque
“Tenho as favas contadas e guardadas a sete chaves”
Uma viagem ao passado das assembleias votadas com favas e à simbologia do segredo bem guardado. Este episódio cruza certezas e confidências, mostrando como a linguagem preserva memórias coletivas.
“Deus dá nozes a quem dá a mão à palmatória”
Uma combinação inesperada de ditados, em que o tom lúdico não anula a profundidade da reflexão crítica sobre o valor do mérito, da justiça e da humildade.
“Perdi as estribeiras e fiz chorar as pedras da calçada”
Com emoção à flor da pele, este episódio evoca o descontrolo e a empatia, revelando como até as pedras podem ser tocadas pelas palavras — ou pelas emoções que elas traduzem.
E há mais:
“Quem tem boca puxa a brasa à sua sardinha”, “Quando o rei faz anos fica com os azeites”, “Vou lavar a roupa suja enquanto o diabo esfrega um olho”,”Isso são outros quinhentos só para inglês ver”,”Todos os caminhos movem moinhos”,”Tira o cavalinho da chuva que isto não é a casa da mãe Joana”, “Se deres com a língua nos dentes, não é por aí que o gato vai às filhoses, etc…
Numa autêntica coreografia idiomática, Vasco entrelaça múltiplas expressões num só raciocínio, desmontando discursos, relativizando certezas e revelando a riqueza oculta na forma como falamos. Um convite para ler nas entrelinhas e ouvir com atenção redobrada.
Um projeto de literacia e cidadania
Promovido no âmbito da biblioteca escolar, esta rubrica insere-se num projeto mais amplo de desenvolvimento das literacias múltiplas, com enfoque na oralidade, na criatividade e na apropriação crítica da linguagem. Trata-se, também, de um exemplo prático de literacia dos média, já que Vasco, ao assumir a edição e montagem dos episódios, junto da sua equipa, desenvolve competências de produção técnica, comunicação radiofónica e organização de conteúdos. Cada programa é, assim, um exercício de autoria mediática, onde se aprende a pensar, criar e comunicar com intencionalidade.
Este projeto destaca-se por:
- Estimular o gosto pela pesquisa e a curiosidade linguística;
- Desenvolver competências de expressão oral, síntese e argumentação;
- Promover o pensamento crítico com humor e originalidade;
- Valorizar os alunos como criadores e mediadores de conhecimento;
- Reforçar o elo entre escola, cultura e comunidade, através da palavra.
Um podcast que faz pensar… e sorrir
A primeira temporada de “Diz-me o que dizes, dir-te-ei como é” está a conquistar ouvintes dentro e fora da escola, afirmando-se como um exemplo inspirador daquilo que a rádio escolar pode ser: um palco para a voz dos alunos e um laboratório de literacia dos media em ação.
É também a prova viva de que a biblioteca escolar é um espaço onde as ideias ganham forma e onde um microfone e uma boa dose de curiosidade podem dar origem a conteúdos educativos com verdadeiro impacto educativo, cultural e social.
A primeira temporada desta rubrica está disponível na Rádio escolar TecnoDantas FM.
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