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Blogue RBE

Seg | 07.02.22

Discriminação: abordagem educativa e títulos

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Que abordagem educativa adotaram as bibliotecas escolares nas 168 iniciativas sobre racismo e discriminação apresentadas em 2021?

Tratam-se de atividades criativas, baseadas na leitura, escrita, diálogo e participação a partir de livros, filmes/ vídeos e outros documentos com exploração de media e ferramentas digitais e envolvimento da comunidade. Por exemplo:

-  Discussão em pequenos círculos de reflexão, assembleia de turma ou fóruns alargados, inclusive com outras escolas, sobre estereótipos e preconceitos, por exemplo: “Racismo no séc.XXI?! Naa...deve ser Engano!”;

- Scripts para filmes com base na pesquisa e compilação de legislação e notícias, nacionais e internacionais, sobre desrespeito pelos direitos humanos;

- WebQuests e questionários/ sondagens em linha sobre, por exemplo, direitos por cumprir;

- Emojis temáticos;

- Palestras e debate com especialistas e pessoas da comunidade, inclusive pertencentes a culturas minoritárias e associações locais/ ONG de defesa destes grupos;

- Encontros com escritores, inclusive afrodescendentes, ciganos e migrantes a residir em Portugal;

- Exposições/ Instalações que integram recolha de frases, fotografias, ilustrações, cartoons das próprias crianças e jovens e de autor;

- Tradução de textos para idioma português para publicação na internet em acesso aberto;

- Marcadores de livros com nomes próprios dos colegas escritos em línguas dos grupos minoritários da turma;

- Cartazes e murais coletivos temáticos, físicos e digitais (Padlet) e em várias línguas - exemplo de temas: “Le harcèlement à l´école”, “Os Direitos Humanos são uma Construção! E tu? Constróis os Direitos Humanos, todos os dias?”;

- Ações de rua, saraus de poesia e música com poemas originais das crianças e jovens e de autor;

- Trabalhos baseados em pesquisa orientada da informação sobre temas controversos, por exemplo: contradições dos direitos humanos a partir de situações concretas que violam o seu cumprimento ou figuras icónicas dos direitos humanos;

- Concursos de poesia temáticos; 

- Programas de rádio temáticos e com todos;

- Bibliotecas humanas formadas por pessoas de grupos minoritários e que são referência na comunidade; 

- Oficinas de arte para experienciarem pintar sem uso das mãos, com boca e/ ou pés, sentindo empatia com pessoas com deficiência;

- Criação de jogos de tabuleiro que incluem sessões de jogos de autor, por exemplo, jogo multicultural “A volta ao mundo”.

Porque a leitura é a principal área de trabalho destas iniciativas, as bibliotecas escolares espontaneamente indicam títulos que leram e discutiram com as crianças e jovens [1]. Estes títulos abordam temas sobre identidade e discriminação e têm protagonistas de diversas culturas e etnias.

Neste contexto a Rede de bibliotecas Escolares divulgou propostas de álbuns gráficos [2] e, até 2025, ano de conclusão do Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação, a RBE pretende alargar estas propostas a outros autores lusófonos e de outros países não europeus/ americanos, incluindo autores portugueses ciganos e afrodescendentes, bem como autores migrantes e refugiados a residir no país (Medida 2.7) que habitualmente têm menos oportunidades para serem ouvidos e publicados.

No Twitter #OwnVoices, criada em 2015 pela escritora Corinne Duyvis, com o propósito de aumentar a representatividade de livros com protagonistas - e autores – com diversas identidades e experiências de vida, combate estereótipos na literatura. 

Atualmente organizações, como We Need Diverse Books, apoiam diversos autores de livros infantis, publicando guias anuais de livros infantis diversos e defendendo a mudança na indústria editorial para que “reflita e honre a vida de todos os jovens” e autores.

Neste contexto e, a par da qualidade das obras publicadas, levantam-se questões sobre o “lugar de fala” na literatura [3] que deixamos em aberto para reflexão e discussão: Quem pode escrever sobre quem? Podem escrever-se histórias representando grupos e pessoas dos quais não se tem vivência? Que formas de luta podemos e queremos desenvolver para que as obras publicadas reflitam a diversidade de pessoas da sociedade cosmopolita/ global?

 

Referências

1. Exemplos de títulos trabalhados pelas crianças e jovens nas bibliotecas escolares:

- Livros: Contos do mundo de Ó. Villán e T. Bowley; Uma Longa Viagem, de D. Chambers; Migrantes de I. Watanabe; Os animais estavam zangados de W. Wondriska; O lápis mágico de Malala, de M. Yousafzai; Os direitos das crianças, Meninos de todas as Cores, Os Ovos Misteriosos, Contos de um mundo com esperança de L. Ducla Soares; Não faz mal ser diferente, de T. Parr; Orelhas de Borboleta de L. Aguilar; O Dragão das Mil Flores da Marus Editores; O Dia em que os lápis desistiram de O. Jeffers; Os Ciganos de S. Andresen; As cores do arco-íris de J. Moore-Mallinos; O Autocarro de Rosa Parks de F. Silei; A Canção da Mudança de A. Gorman; Racismo e Intolerância de L. Spilsbury; Uma Terra prometida - Contos sobre refugiados de F. Marona Beja e outros; Dez discursos de B. Obama; Diário de um migrante de M. Almeida; Caros fanáticos, de A. Oz; O apicultor de Alepo de C. Lefteri; O Aquário de J. Mésseder, Um Menino Bateu-me à Porta de M. Neve, Dicionário da invisibilidade do SOS Racismo, Memorial do Convento e A maior flor do mundo de J. Saramago;

- Filmes/ vídeos: Green Book: Um Guia para a Vida, de P. Farrelly; Que mal fiz eu a Deus? de P. Chauveron; Selma: A Marcha da Liberdade de A. DuVernay; Como Estrelas na Terra, Toda a Criança é Especial de A. Khan, A. Gupte; Everybody da Equality and Human Rights Commission, Mudar o Mundo de F. Desbiens, Discursos históricos de M. Luther King da RTP Ensina, Android Rock, Pedra, Papel, Tesoura e uma alfinetada da Google na Apple e Um Ciclo Vicioso (sobre Bullying); O véu de Armani de R. Diniz; S. Jernigan e M. Bate; Dolápo is Fine de E. Hylton; Johnny White de G. Santos; 20 minutes of Silence de A. Teimori.

2. Rede de bibliotecas Escolares. (2019). Álbuns. RBE: https://www.rbe.mec.pt/np4/cidadania-recursos-albuns

3. Ribeiro, D. (2019). Lugar de Fala. Jandaíra. https://editorajandaira.com.br/products/lugar-de-fala-colecao-feminismos-plurais?_pos=1&_sid=7ef55d87d&_ss=r

4. Fonte da imagem: We Need Diverse Books. Imagine um mundo em que todas as crianças se possam ver nas páginas de um livro. WNDB. https://diversebooks.org/

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0