Dia Mundial da preservação digital
O Dia Mundial da Preservação Digital (DMPD) celebra-se na primeira quinta-feira de cada novembro, pelo que este ano a celebração ocorre hoje, 3 de novembro de 2022.
Organizado pela Digital Preservation Coalition (DPC) (https://www.dpconline.org/events/world-digital-preservation-day) e apoiado por redes de preservação digital em todo o mundo, o Dia Mundial da Preservação Digital pretende criar uma maior consciência da importância da preservação digital, que se traduzirá numa compreensão mais ampla que beneficiará todas as vertentes da sociedade – formulação de políticas, boas práticas pessoais, negócios, etc.
Podemos definir preservação digital como a gestão ativa do conteúdo digital tendo em vista garantir o acesso e a autenticidade dos documentos digitais ao longo do tempo, independentemente da evolução dos suportes documentais e das mudanças tecnológicas.
A fragilidade estrutural da informação digital constitui hoje um dos maiores desafios a para os profissionais da informação e de tantas outras áreas. A preservação digital está profundamente ancorada nas tecnologias atuais que permitem o acesso e o consumo digital de conteúdos a longo prazo, mas também no trabalho de conservação tradicionalmente realizado em bibliotecas, arquivos, museus e noutras instituições culturais.
A preservação é desde há muito um valor central da biblioteconomia, sendo que as bibliotecas têm uma vasta experiência em gestão de preservação no mundo analógico. Por exemplo, em 1991, a Associação Americana de Bibliotecas (ALA) adotou uma política de preservação, abrangendo tanto a preservação física como a digital, que afirma que "a preservação dos recursos de informação é crucial para as bibliotecas e para a biblioteconomia"[1]. Contudo, à medida que os conteúdos se deslocaram para o domínio digital, esta preocupação nem sempre esteve presente, dando-se maior atenção às questões de acesso do que à preservação propriamente dita. Isto mesmo é confirmado por um relatório conjunto de 2002 do Online Computer Library Center (OCLC) e do Research Libraries Group (RLG) sobre preservação digital que afirma que "muitas vezes, aqueles que criam materiais digitais ou concebem os sistemas de gestão de conteúdos digitais não se interessam muito pela sua preservação longo prazo "[2].
Vinte anos depois, embora a maioria dos profissionais da informação reconheça hoje a importância da preservação digital, muitas bibliotecas e outras organizações culturais estão ainda longe fazer disso uma prioridade.
Em Portugal, o panorama não é melhor, e apesar de algumas recomendações já publicadas (Recomendações para a produção de planos de preservação digital, DGLAB, 2019; Regulamento Nacional de Interoperabilidade Digital, Resolução do Conselho de Ministros n.º 2/2018), são raras as instituições que possuem um plano de preservação digital ou que estejam sequer conscientes da sua importância.
A Rede de Bibliotecas Escolares promove este ano um curso de formação sobre preservação digital, que se inicia precisamente hoje, Dia Mundial da Preservação Digital, que será primeiramente frequentado por coordenadores interconcelhios e posteriormente replicado por estes junto dos professores bibliotecários.
Esta ação de formação tem como objetivos promover a reflexão sobre a importância da preservação digital e dotar os profissionais da informação que trabalham nas bibliotecas escolares de instrumentos e estratégias que garantam o acesso e a autenticidade dos documentos digitais da sua coleção ao longo do tempo, independentemente da evolução dos suportes documentais e das mudanças tecnológicas.
[1] American Library Association (1991), “American Library Association Preservation Policy. http://www.ala.org/alcts/resources/preserv/91alaprespolicy . Consultado em 22 de outubro de 2022
[2] Research Libraries Group (2002), “Trusted Digital Repositories: Attributes and Responsibilities; An RLG-OCLC Report” (Mountain View, CA: Research Libraries Group, 2002). http://www.oclc.org/resources/research/activities/trustedrep/repositories.pdf. Consultado em 22 de outubro de 2022
Recursos bibliográficos sobre esta temática
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BORBINHA, J., Henriques, C., Serqueira, J., Lopes, B., (2002).“Manifesto para a Preservação Digital”, Cadernos BAD, Disponível em: http://www.bn.pt/agenda/ecpa/manifesto.html
FERREIRA, M. (2006). Introdução à preservação digital: conceitos, estratégias e actuais consensos. Escola de Engenharia da Universidade do Minho. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/5820/1/livro.pdf
LOPES, V. (2008). Preservação digital. Universidade do Minho. Disponível em: http://www.vitorlopes.com/Trabalhos/Preservacao_Digital-Vitor_Lopes.pdf
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SANTOS, H. M., & FLORES, D. (2017a). Da preservação digital ao acesso à informação: uma breve revisão. Páginas a&b: arquivos e bibliotecas, pp. 16-30. Disponível em: http://ojs.letras.up.pt/index.php/paginasaeb/article/view/2836/2593
SANTOS, H. M., & FLORES, D. (2017b). Os impactos da obsolescência tecnológica frente à preservação de documentos digitais. Brazilian Journal of Information Science: Research Trends, 11(2), pp. 28-37. Disponível em: http://200.145.171.5/revistas/index.php/bjis/article/view/5550
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SARAMAGO, M. L. (2004). Metadados para preservação digital e aplicação do modelo OAIS. In Nas encruzilhadas da Informação e da Cultura: Actas do 8.º Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas, Estoril, 12-14 mai. Disponível em: http://www.bad.pt/publicacoes/index.php/congressosbad/article/view/640
Fonte da imagem: https://www.dpconline.org/docs/miscellaneous/events/2022-events/wdpd2022/2653-wdpd-2022-portuguese-portrait-rgb-1