Dia de Natal
por Paula Pio, professora bibliotecária do AE Gavião
Era apenas um dia de dezembro, como qualquer outro. As tarefas na biblioteca escolar assemelhavam-se às dos dias anteriores: livros para registar, Escola a Ler com o 1º Ciclo, tentar levar os colegas do 2º CEB a aderir a uma atividade que achei gira, ajudar os gaiatos que nos procuram a realizar tarefas.
Apenas nos faltava aquele brilho do inusitado, que nos dá cor aos dias e apesar da decoração de Natal já instalada, teimava em não aparecer.
Todos os dias fazemos o pino, malabarismo para convencer alunos e docentes de que a biblioteca escolar pode ser central na ação educativa, que estamos aqui prontos, disponíveis. Que não recomendamos apenas livros, mas introduzimos o sonho na vida de todos e cada um. Que despertamos a curiosidade ou apresentamos aprendizagens. Que não estamos, SOMOS!
Mas há dias, como este de dezembro, igual a tantos outros dias ou dezembros, que deixamos cair os braços, suspiramos de cansaço e apenas nos deixamos levar pela rotina. Estes são os dias das sombras, que me fazem questionar porque “estou nisto” há tantos anos. E não, não consigo encontrar uma resposta satisfatória.
Por volta do meio-dia irrompeu na biblioteca uma aluna do ensino secundário, daquelas que já quase desistimos de tentar seduzir.
− Professora, posso perguntar uma coisa?
Claro.
Quando é que volta à nossa sala com o monte dos livros para nos falar deles? Já sentimos a falta dessas aulas.
Naquele mesmo instante perdoei-lhe dizer que o Clube de Leitura era uma aula.
O dia deixou de ser igual a tantos dias. Dezembro deixou de ser um dezembro igual aos outros. Todas as dúvidas encontraram resposta.
Naquele minuto o brilho nos olhos substituiu as iluminações da época. Naquele minuto foi Natal para uma professora bibliotecária.
Paula Pio
Professora Bibliotecária do AE Gavião
10/01/2023
1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.