De volta ao Futuro da Educação - Quatro Cenários da OCDE para a escolaridade
Fonte: https://www.oecd.org/education/back-to-the-future-s-of-education-178ef527-en.htm
Porque “o futuro gosta de nos surpreender” a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) propõe, através do relatório Back to the Future of Education - Four OECD Scenarios for Schooling/ De volta ao Futuro da Educação - Quatro Cenários da OCDE para a escolaridade (15/09/2020), quatro cenários para o futuro da educação tendo por horizonte 2040. A saber:
Cenário 1. Escolarização alargada (“Schooling extended”) - “As escolas são agentes centrais na socialização, qualificação, bem-estar e certificação.”
A aprendizagem ocorre fora da sala de aula, ao longo da vida. Trata-se de uma intensificação do atual modelo assente no currículo e certificação formal e que conta com a colaboração internacional público-privada para impulsionar a aprendizagem baseada em tecnologias digitais e apoiar as necessidades emocionais e sociais dos alunos.
Cenário 2. Educação subcontratada (“Education outsourced”) – “Fragmentação da oferta com clientes autoconfiantes em busca de serviços flexíveis.”
A aprendizagem ocorre ao longo da vida a partir de iniciativas privadas e comunitárias que surgem como alternativas à escola (educação em casa, tutoria, aprendizagem em linha, aprendizagem baseada na comunidade…). Esta tendência ocorre em contextos com elevada escolarização, permite a experimentação e individualização, um maior envolvimento dos empregadores e, no geral, menor burocracia e responsabilidade.
Cenário 3. Escolas como centros de aprendizagem (“Schools as learning hubs”) - “A flexibilidade da escolarização permite uma maior personalização e envolvimento da comunidade.”
A escola auto-organiza-se com ligação a parceiros, profissionais não docentes que também podem contribuir para o ensino e professores que fazem parte de redes de competência amplas e diversas.
Cenário 4. Aprender à medida das necessidades (“Learn-as-you-go”): “Os objetivos e funções tradicionais da escolaridade são substituídos pela tecnologia”.
Baseado nos rápidos progressos da inteligência artificial, realidade virtual e aumentada e Internet das Coisas, a aprendizagem ocorre em qualquer momento e lugar, mediada por tecnologia digital. É o fim da aprendizagem baseada na escola e no professor e da distinção entre educação formal/ informal, trabalho/ educação/ lazer. (“4. The OECD Scenarios for the Future of Schooling”).
Cenários são histórias/ narrativas que descrevem experiências plausíveis acerca de uma tendência futura para a qual há sinais no presente. Permitem, em contexto, abrir e estimular a discussão e refletir a plausibilidade e o impacto de uma realidade alternativa e, deste modo, antecipar e prevenir ameaças. Permitem ainda agir no presente (políticas e práticas) de forma segura/ resiliente.
Esta discussão é urgente por três razões:
A. A desigualdade entre países e pessoas atinge o nível mais elevado dos últimos 30 anos (“1. Back to the future of education: Four OECD scenarios for schooling - Education for a changing world”), não obstante a educação constituir um poderoso meio para a equidade e se ter atingido o nível mais elevado de participação e tempo gasto em educação formal (“Tables and Graphs - Figure 3.1. An educated future”). É importante ultrapassar obstáculos no acesso à educação, por exemplo:
- Falta de transmissão intergeracional das vantagens da educação, dirigida a alunos de origens socioeconómicas desfavorecidas que habitualmente apresentam níveis mais baixos de escolaridade;
- Dificuldades de acesso a ambientes educacionais regulares verificada sobretudo em alunos com deficiências;
- “Barreiras linguísticas e culturais, mudanças nos programas e métodos de ensino entre países e escolas”, observadas sobretudo em alunos migrantes e refugiados.
É importante ainda adaptar e melhorar os conteúdos e ambientes de aprendizagem atuais, não só formais (aprendizagem baseada em projetos ou jogos/ brincadeiras, discussões centradas nas crianças e jovens…), como informais (digitalização de conteúdos; recursos educativos abertos; cursos em linha abertos e massivos – MOOC…).
B. Na ausência de factos ou evidências sobre o futuro da educação, o modo mais significativo e útil de compreendê-lo é por via do diálogo, crítica, criatividade e consciencialização que gera responsabilidade individual e coletiva.
C. A fragmentação das atuais formas de ação e poder, sobretudo a partir dos meios informais das redes sociais, gera, rápida e exponencialmente, tendências construídas à margem dos processos deliberativos das instituições democráticas que, por vezes, exigem mais tempo.
Advogar qualquer um dos 4 cenários só tem fundamento se considerarmos que a educação é a base de todas as oportunidades individuais e coletivas, que “A educação funciona como um bem comum que apoia direitos fundamentais como a participação cívica e política e níveis adequados de saúde e bem-estar” – UNESCO. (2015). Rethinking Education: Towards a Global Common Good? - e faz crescer a economia do conhecimento, a empregabilidade e o rendimento – OECD. (2019). Education at a Glance 2019. https://dx.doi.org/10.1787/f8d7880d-en.
Quatro Cenários da OCDE para a escolaridade inspira-se no programa da OCDE, Schooling for Tomorrow/ Escolaridade para o Amanhã (2001).