Concurso Literário Escolar Paula Calado
Os Agrupamentos de Escolas de Elvas e Campo Maior e o Colégio Luso-Britânico associam-se ao coletivo de Autores de Elvas [1] para lançar o Concurso Literário Escolar Paula Calado, apresentado ao mundo, na tarde do dia 28 de outubro de 2024, no auditório da Escola Secundária D. Sancho II, em Elvas.
Paula Cristina Mota Henriques Calado, nasceu a 21 de dezembro de 1971 e faleceu a 24 de junho de 2023. Natural de Elvas, apaixonada pela sua terra natal, teve um papel ativo na valorização do território e da sua gente. Dinâmica, entusiasta, visionária, participou ativamente na vida associativa e na vida política local, distrital e nacional, tendo assumido diversas funções partidárias. Foi Vereadora da Cultura e do Turismo na Câmara Municipal de Elvas desde setembro de 2021 até à sua morte. Docente, formada em ensino de Português e Inglês pela Universidade de Évora, lecionou na Escola Secundária D. Sancho II de Elvas, no Instituto Politécnico de Portalegre e no Agrupamento de Escolas de Campo Maior.
Este prémio literário pretende homenagear a memória de Paula Calado, a sua determinação e trabalho em prol da comunidade e estimular nas camadas mais jovens, às quais dedicou grande parte da sua vida, o gosto pela escrita.
Sobre a Paula Calado, falecida prematuramente, para choque e tristeza de Elvas, pode dizer-se que era daquelas pessoas (como acontece a todos nós) de quem era fácil gostar. Porquê? A Paula era uma pessoa calorosa, de uma simpatia desarmante e uma inteligência, sentido de humor e perspicácia invulgares.
Houve a oportunidade de conversar sobre muitos assuntos, a Escola, a educação, Elvas e o que é isto de ser elvense. E a cultura. A sua grande paixão. A cultura numa região limítrofe, do interior, numa terra pequena, mas com um valor patrimonial incrível. E com gente de valor e com boas ideias para "pôr isto a mexer".
Entretanto, o coletivo de Autores de Elvas começou a ganhar corpo e consistência, a desejar dinamizar a cultura elvense através da leitura e dessa tão nobre missão que é a de partilhar conhecimento e arte. E, não sei se por magia ou ciência, os astros foram-se alinhando. E a Paula alinhou nesta ideia.
A política colocou-a num lugar onde teria algum poder de decisão e ação. E a Paula exerceu-o com determinação, vistas largas e uma ideia para Elvas. Começou a traçar projetos, a falar com as pessoas, a seduzi-las, com o seu jeitinho que bem lhe conhecemos, para fazer coisas. E as coisas começaram a fazer-se.
Pôs de lado a sua profissão (e era uma daquelas professoras a sério, com P maiúsculo, em que o nome "professor", como diz uma muito querida amiga, se torna adjetivo - e elogioso, pois claro), mas (e os professores que aqui estão sabem muito bem que se pode deixar a profissão, mas a profissão nunca nos deixa) tinha sempre um lugar aonde poderia regressar: este Agrupamento de Escolas n.º 3 de Elvas. E regressou, no dia 28 de outubro, com o Concurso Literário Escolar Paula Calado.
Este é um projeto que demorou o seu tempo até chegar a hoje. Houve muito trabalho e apoios indispensáveis: a editora Leya (António Pereira) e a Rede de Bibliotecas Escolares (Fátima Bonzinho). A generosidade e talento da professora Elisabete Matias, pelo trabalho na conceção de todo o design gráfico deste concurso, a perseverança e amor da Tânia Rico, do Nuno Franco Pires e da Luísa Currito, autores de Elvas. O papel, absolutamente fulcral para o sucesso deste concurso, das professoras bibliotecárias (Alexandra Silva, do AE n.º 1 de Elvas, Helena Melo, do AE n.º 2 de Elvas, Isabel Azinhais, do AE n.º 3 de Elvas, Vera Tirapicos, do Colégio Luso-Britânico, Isabel Golaio, do AE de Campo Maior, e Manuela Tomé, do Centro Educativo Alice Nabeiro), que são as mensageiras e dinamizadoras a tornar real este sonho. A adesão imediata das direções dos agrupamentos de Elvas e Campo Maior, que escancararam as portas para podermos, todos juntos, celebrar a vida de quem merece, parafraseando Luís Vaz de Camões, ir-se "da lei da morte libertando".
Para compreender o alcance deste projeto, nada melhor do que ler as palavras de Sara Fevereiro, filha de Paula Calado, proferidas no dia 28 de outubro.
Começo por dizer que é nostálgico para mim voltar a este auditório, onde falei tantas vezes e escutei ainda mais. Quando saí desta escola estava longe de imaginar que este seria o motivo que me iria fazer voltar a entrar aqui. Isto, se alguma vez voltasse. Mas as escolas serão sempre como casas, porque um dia assim o foram. São sítios com portas escancaradas para nos receber.
A minha mãe lecionou nesta escola, no ciclo de Elvas, no ciclo da Boa Fé e - por uns anos - fez dessas escolas a sua casa. Fizemos - ela e eu - do Colégio Luso-Britânico a nossa casa, eu apenas enquanto estudante, a mãe também enquanto professora. E é por isso que fico imensamente feliz, por saber que o concurso se alarga a todas estas instituições, incluindo à Escola de Campo Maior, onde deu aulas por muitos anos e pela qual sempre teve muito carinho. Em todas elas criou laços, alguns pôde até chamar de amigos para a vida.
Quando a Tânia [2] me contou - há muitos meses - sobre a intenção de fazer este concurso, achei maravilhoso. Quando o Nuno [3] me disse que iria mesmo acontecer, pensei que esta era sem dúvida uma das homenagens mais bonitas que podiam fazer à minha mãe. Todas as homenagens são importantes, enchem-me de orgulho e mantêm-na viva e presente entre nós que cá ficámos, mas esta, embora à primeira vista pareça mais simples, é uma homenagem muito especial. E é especial por dois motivos:
Em primeiro lugar, porque a mãe dedicou toda a sua vida profissional ao ensino, este sempre foi a seu propósito. Mesmo quando enveredou pela política e ficou com a pasta da Cultura, não poderia ter mostrado o seu real compromisso com Elvas se não tivesse adquirido o sentido de missão que ganhara através das escolas durante décadas.
Nunca esquecerei as inúmeras mensagens e relatos que recebi dos seus alunos no momento da sua partida.
Em segundo lugar, porque era uma ávida leitora. Quando eu era pequenina, descobri com surpresa que nem todas as casas tinham bibliotecas ou estantes com muitos livros. Para mim, sempre foi um dado adquirido ter livros à disposição. A minha mãe vivia rodeada deles e hoje sei o privilégio que isso é. Sempre tivemos os clássicos em casa, mas o interesse que tinha pelos novos escritores que apareciam, a vontade em manter-se na vanguarda literária, sempre me admirou. Mesmo que as novas gerações tivessem muita pressa em contar os acontecimentos nas suas obras - coisa que ela não apreciava - mesmo que tivesse tido conhecimento de uma crítica mais negativa sobre a produção de um autor - ela lia. Lia porque sempre teve muita fé nos outros, nos que mais tarde se tornariam presente, e andava sempre numa procura incessante de se surpreender.
Obrigada aos Autores de Elvas por esta iniciativa. Obrigada à Escola Secundária D. Sancho II. Obrigada a todas as escolas que vão acolher e divulgar este concurso.
Dirigindo-me agora aos futuros participantes:
Leiam, é através da leitura que podemos viver coisas nunca antes pensadas. Escrevam, escrevam sem medo do julgamento. Escrevam porque escrever é um ato de liberdade e estão todos convocados a exercê-lo. Deixem-se invadir pelo tédio, pois é nele que as melhores ideias aparecem. Talvez até descubram que podem fazer disto vida, como eu e outros descobriram.
A escrita é a base de toda a criação artística e está ao acesso de todos. Mesmo quando pintamos um quadro, precisamos da palavra para explicar o seu sentido, sem abstrações.
Aproveitem esta oportunidade para serem livres, esta oportunidade que a vossa escola vos dá e participem.
Porque mais do que existir um concurso com o nome da minha mãe, o que a fará realmente feliz - esteja ela onde estiver - é saber que os jovens elvenses e campomaiorenses têm coisas para contar ao mundo.
Desejamos que a adesão dos jovens escritores seja bonita e que este concurso literário vingue por muitos e bons anos.
Teresa Guerreiro, professora bibliotecária AE n.º 3 de Elvas
[1] Projeto que teve o seu início em março de 2022, no âmbito da 1.ª Assembleia de Escritores de Elvas, promovida pelas bibliotecas escolares do AE n.º 3 de Elvas, nas celebrações do Mês da Leitura.
[2] Tânia Morais Rico, coordenadora da Biblioteca Municipal de Elvas
[3] Membro fundador do coletivo Autores de Elvas, promotor do Concurso Literário Escolar Paula Calado