Como trabalhar a guerra com crianças e jovens?
Guerras e conflitos militares provocam sentimentos de medo e ansiedade e aumentam o discurso de ódio, a prática de violência e discriminação.
Habitualmente são as próprias crianças e jovens que abordam o tema e esta é uma oportunidade para educadores, pais - e professores bibliotecários - dialogarem com naturalidade.
A UNESCO apresenta oito sugestões [1] que devem orientar este diálogo e das quais destacamos cinco:
- Descubra o que sabem e como se sentem
O que sabes/ ouviste dizer sobre a guerra? Como é que te faz sentir? O que significa para ti?
Ler um livro [2], fazer um desenho, contar uma história e episódio da vida diária sobre o tema podem ser pontos de partida para responder a dúvidas e dialogar, de forma espontânea, rigorosa e sensível. É importante não desvalorizar as preocupações das crianças e assegurar-lhes que o que sentem é natural e que podem falar com um adulto de confiança sempre que quiserem.
- Mantenha-se calmo e adequado à idade
As crianças têm o direito de saber o que acontece no mundo e o educador tem o dever de as informar com sensibilidade, adequando a linguagem à sua idade e reações e poupando-as ao sofrimento, transmitindo-lhes que estão em segurança e que há muitas pessoas e instituições a trabalhar para construir a paz.
- Espalhe compaixão, não estigma
Na abordagem da guerra, é importante não atribuir rótulos que diminuem e discriminam os seus intervenientes (exemplo: “pessoas más”) e saber se as crianças e jovens estão a sofrer ou contribuir para o bullying e passar a mensagem de que a violência nunca é a resposta certa para um conflito e de que cada um deve fazer a sua parte para ajudar a resolver os problemas da sociedade.
- Concentre-se nos que ajudam
Identificar e partilhar histórias positivas de coragem e generosidade, discutir sobre modos de participar na ajuda aos refugiados e consciencializar para a paz – através de poster, história, poema, fotografia e angariação de bens - podem ser formas de obter e transmitir conforto e segurança.
A Rede de bibliotecas disponibiliza um conjunto de propostas educativas, centradas nas crianças e jovens, que visam a reflexão e ação solidária em contexto de guerra e crise de refugiados:
Rede de Bibliotecas Escolares (2022, março). A de Acolher. Portugal: RBE. https://www.rbe.mec.pt/np4/A-de-Acolher.html
- Limite a avalanche de notícias
A invasão da Ucrânia pela Rússia pode ser testemunhada em direto, através de vários canais de comunicação: televisão, imprensa, redes sociais.
Neste contexto, é importante que educadores e responsáveis pela biblioteca estejam atentos à forma como crianças e jovens, sobretudo os mais novos, estão expostos às notícias, pois muitas incluem conteúdos violentos e que discutam com elas fontes confiáveis e tempo que devem gastar a consumir estas notícias e as incentivem a entreterem-se de forma prazerosa, por exemplo, jogando um jogo em equipa ou lendo.
A propósito da guerra Rússia – Ucrânia há atividades simples que podem ser feitas com a biblioteca escolar e que ajudam a contextualizar, aprofundar e reimaginar os saberes das crianças e jovens:
- Localizar no mapa, representar a bandeira e reunir exemplos de elementos etnográficos e do património cultural da humanidade dos dois países;
- Selecionar artigos da imprensa e vídeos [3], discutir os argumentos da Rússia para invadir a Ucrânia e o significado de expressões como “autodefesa da Rússia”, “operação militar limitada” e “desnazificação da Ucrânia” e verificar se as razões invocadas são suportados em factos;
- Organizar debate Prós e Contras, em que os oradores são os representantes de um trabalho de grupo prévio que visa conhecer e compreender as razões históricas que levaram à guerra entre os dois países;
- Teatro encenado/ role-playing com base na argumentação dos diversos atores, a nível mundial: Comissão Europeia, NATO, EUA, França, Papa, China. Cada grupo encarna um personagem e elege um porta-voz;
- Criar slogan para uma campanha pela paz com base num mapa de ideias digital. O grupo vota – através da ferramenta digital Doodle - o melhor slogan e depois melhora-o em conjunto;
- Pintar um painel coletivo sobre o modo como a guerra afeta as pessoas de todos os países.
Estas são formas de envolvimento baseadas na leitura/ escrita, reflexão, expressão e comunicação, que podem gerar conhecimento e união. Quer deixar-nos a sua proposta?
Referências
1. Fundo das Nações Unidas para a Infância. (2022). Como conversar com seus filhos sobre conflitos e guerras: 8 dicas para apoiar e confortar seus filhos. EUA: UNICEF https://www.unicef.org/parenting/how-talk-your-children-about-conflict-and-war
2. Rede de Bibliotecas Escolares. (2019). Álbuns. RBE: Portugal. https://www.rbe.mec.pt/np4/cidadania-recursos-albuns
3. Os primeiros três minutos do seguinte vídeo podem ajudar ao exercício:
Poli, Michael. (2022, 16 mar.). Vladimir Putin Address on Socioeconomic Strategy for Russia. https://www.youtube.com/watch?v=7FyFkAyqn4Q