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Blogue RBE

Qui | 23.01.25

Celebração dos 500 anos do Poeta Maior da Língua Portuguesa

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No âmbito das Comemorações dos 500 anos do Nascimento de Luís de Camões, figura incontornável da literatura portuguesa e mundial, a Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) lançou o desafio Ler Camões.

Hoje, jardins de infância e escolas em Portugal e no estrangeiro unirão esforços para realizar uma leitura simultânea de textos camonianos ou inspirados na sua obra. Esta iniciativa, além de promover a obra de Camões, visa reforçar os laços culturais entre gerações, atravessando fronteiras geográficas e linguísticas, num movimento coletivo em homenagem ao autor de Os Lusíadas.

Porquê o dia 23 de janeiro?

A escolha desta data tem fundamento científico e literário, como apresentado no webinar LER Camões: «O dia em que nasci…» organizado pela RBE, com a colaboração da Universidade de Coimbra, realizado no dia 14 de janeiro e cuja gravação já se encontra disponível.

Com efeito, num recente estudo da Universidade de Coimbra, apresentado no artigo O dia do nascimento de Camões, a professora e investigadora Carlota Simões expõe evidências de que Camões terá nascido em 23 de janeiro de 1524, como anteriormente proposto pelo investigador Mario Saa.

A pesquisa revelou que o poeta possuía um profundo conhecimento de astronomia, refletido nos seus textos, e sugere que este associou o seu nascimento a um evento astronómico singular: um eclipse solar anular visível em Portugal exatamente um ano depois, a 23 de janeiro de 1525. O poema “O dia em que eu nasci, morra e pereça” inclui uma referência a este fenómeno, reforçando a teoria da data de nascimento. Esta descoberta enriquece ainda mais a compreensão da genialidade de Camões, que no seu poema, convocando o seu conhecimento em astronomia, relaciona o seu nascimento a uma visão cósmica e simbólica do mundo.

O dia em que eu nasci, morra e pereça
Não o queira jamais o tempo dar,
não torne mais ao mundo e, se tornar,
eclipse nesse passo o sol padeça.
                                                       Luís de Camões

Afigura-se digno de nota o facto de o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas corresponder ao dia da morte deste autor, promovendo-o a símbolo nacional. Enquanto muitos países celebram as suas datas nacionais baseando-se em acontecimentos históricos ou militares, Portugal eleva a cultura e a palavra como pilares identitários. Esta escolha enaltece a centralidade da língua e da literatura no espírito português, reforçando a ligação com as comunidades lusófonas espalhadas pelo mundo. Ao celebrar Camões, Portugal reconhece a imortalidade da sua obra e reafirma-se como uma nação que valoriza a arte e o conhecimento como património universal.

Ler Camões - Uma experiência coletiva

Para assinalar Camões num dia específico, para além do dia 10 de junho, pouco favorável à mobilização da totalidade dos elementos das comunidades educativas por questões de calendário escolar, a RBE selecionou o dia 23 de janeiro, na sequência do estudo referido.

Assim, lançou a iniciativa Ler Camões, cujo principal objetivo é partilhar a obra de Camões envolvendo todas as faixas etárias, através de ações simultâneas de leitura e apreciação. Trata-se de um movimento que transcende a dimensão escolar, convidando alunos, professores e outros elementos das comunidades educativas a explorarem o legado deste poeta maior. Ao envolver escolas, bibliotecas e espaços públicos, esta celebração enriquece o tecido cultural e promove uma ligação viva com a história, a literatura e o pensamento ainda interpelante de Camões.
Para dinamizar esta celebração, a RBE estruturou o programa em quatro grandes ações:

1. Ler Camões: Juntos na Escola

Esta primeira ação propõe que as escolas transformem os seus espaços – desde a sala de aula até à biblioteca da escola– em palcos de leitura simultânea. Em diferentes horários (mas preferencialmente entre as 10:30h – 12:30h) e locais, alunos, professores, assistentes e encarregados de educação juntar-se-ão para dar voz às palavras de Camões, recriando momentos da sua obra e refletindo sobre os seus temas universais, num ambiente de partilha e pertença que amplia a perspetiva sobre o legado camoniano.

2. Ler Camões: Sinfonia Multilingue

Camões é um poeta universal, a sua obra ultrapassou barreiras de tempo e espaço. Inspirada por essa universalidade, a RBE propôs  “Sinfonia Multilingue”, como forma de, por meio da leitura de textos camonianos, celebrar o encontro de línguas e culturas que se verifica nas nossas escolas, onde a diversidade linguística é um valor a celebrar.

No contexto desta iniciativa, os textos camonianos são lidos em diferentes idiomas, promovendo o diálogo intercultural e valorizando a diversidade linguística. Seja em português, inglês, espanhol, mandarim…, cada leitura contribui para uma sinfonia que enaltece a riqueza da obra de Camões e o seu alcance global.

3. Ler Camões: Arruada de Leitura

Com esta ação, a obra de Camões sai à rua, transformada em palco de leitura itinerante por grupos de alunos, professores e membros da comunidade que percorrem espaços públicos, levando a voz e o pensamento de Camões para além das paredes da escola e tornando-a acessível a um público mais amplo.

4. Ler Camões: Em Movimento

Numa performance coletiva com um toque contemporâneo, através da organização de um flashmob de leitura, alunos, professores, encarregados de educação… reúnem-se em locais públicos para partilhar leituras de textos camonianos, de forma dinâmica e memorável, dando visibilidade à sua obra de forma inovadora. 

Ler Camões - Mobilização em grande escala

Desde o lançamento do desafio “Ler Camões” no dia 23 de janeiro de 2023, verificou-se uma adesão extraordinária por todo o país e além-fronteiras. Na página oficial da iniciativa, disponível em LER Camões - Programa , encontra-se a programação definida e reportada pelas escolas, num espaço que é atualizado regularmente com novos contributos e que vale bem a pena explorar para compreender a criatividade e adesão das escolas. Salienta-se que se estima o envolvimento de mais de 100 000 alunos.

Ainda para este dia, a Rede de Bibliotecas Escolares desafiou as escolas, dirigentes do Ministério da Educação e outras personalidades para gravarem pequenos vídeos com leituras da obra camoniana. Mais uma vez a resposta foi clara e ficará visível ao longo do dia de hoje no Facebook RBE. Para quem não tenha paciência para esperar, os mais de 100 vídeos que gentilmente nos enviaram, e serão publicados ao longo do dia entre as 10:30h e  as 22:30h, estão publicados na página Ler Camões – Na Web.

Além das atividades que irão decorrer no dia 23 de janeiro, a Celebração do V Centenário do nascimento de Camões estende-se ao longo do presente ano letivo e do próximo, em articulação com o trabalho curricular e extracurricular. Estão planeadas inúmeras atividades inter e transdisciplinares, ancoradas em diferentes vertentes da obra de Camões. Estas iniciativas refletem um esforço criativo e colaborativo, amplificando as potencialidades da obra e o seu diálogo com as outras artes no espaço escolar. 

Camões: um desígnio coletivo de memória e futuro

Ler Camões é mais do que uma homenagem:  é uma oportunidade para redescobrir e reatualizar a obra camoniana, pondo-a ao serviço da formação plena dos alunos, assegurando que continua a inspirar gerações. Através das quatro ações propostas, a RBE desafia as escolas a envolverem as comunidades educativas num movimento coletivo global que valoriza o passado, enquanto olha para o presente e perspetiva o futuro.

Hoje, o legado camoniano ecoa de norte a sul do país, unindo escolas, comunidades e outras instituições e culturas, numa celebração memorável que cantará “por toda a parte”, “com engenho e arte”, a língua, a cultura e a literatura portuguesas.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0