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Blogue RBE

Qua | 15.06.22

Caminhos da (para a) Educação, sentida e com sentido

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Leitura: 5 min |

Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre."

Paulo Freire

 

Esta ideia simples de Paulo Freire poderia ser, quase, um axioma da educação que se pretende para os cidadãos do século XXI.

Desafios como oportunidades

Todos reconhecemos que estamos face a uma realidade em mudança acelerada, caracterizada por padrões de exigência cada vez mais elevados, em que as competências necessárias, para responder a esta sociedade do conhecimento não se compaginam com uma perspetiva educativa tradicional. Por isso, há que buscar uma educação baseada numa teoria praxiológica, uma educação em que as dificuldades, os obstáculos e as contradições são vistos como desafios, como pontos de partida para a construção de um saber que se baseia numa ótica de investigação-ação, de autoconstrução do conhecimento, em que as dificuldades e os desafios são, antes de mais, e construtivamente, as oportunidades com as quais “aprendemos sempre”.

O aprendente como um todo

No entanto, “(…) as escolas do século XXI continuam a debater-se com a mesma dificuldade, procurando, como no período que se seguiu à criação da imprensa, encontrar uma posição de equilíbrio que conserve a sua relevância como espaço privilegiado de ensino e aprendizagem e da missão do professor como mediador dessa mesma aprendizagem na escola sem muros, na aula aberta (…)”. (Escola, 2005:448). Os Planos de Desenvolvimento Pessoal Social e Comunitário (PDPSC) enquadram magnificamente este desiderato de “aula aberta”, de olhar para o aprendente como um todo, académico, social e emocional; de alargar, agora de forma articulada e transversal, o processo de ensino-aprendizagem a todos os parceiros educativos, a família em particular.

O caso da Escola Básica de Bitarães, Paredes

Um dos projetos em que esta dinâmica foi implementada teve lugar na Escola Básica de Bitarães, do Agrupamento de Escolas de Paredes. No âmbito do Plano de Desenvolvimento Pessoal, Social e Comunitário, desenvolvem-se atividades inseridas na medida: "Conversas em casa inspiradas na escola", que consiste num guião, elaborado com o apoio da psicóloga afeta ao projeto, com propostas de atividades alusivas a um tema útil da sociedade, cumprindo o objetivo de serem realizadas em família, conversando, debatendo, pesquisando, descobrindo, assimilando e aplicando novos conhecimentos. Numa perspetiva construtivista, esta medida pretende envolver as famílias na vida escolar dos seus educandos, bem como diminuir as dificuldades na mobilização da informação e na comunicação, a fim de superar as dificuldades a Português e Matemática.

Assim, foram criadas as tertúlias para pais “A falar é que a gente se entende”, realizadas de forma online, com uma taxa de concretização superior a 90%. Os resultados do questionário de satisfação realizado, subsequentemente, aos alunos, demonstram, de forma inequívoca, o sucesso da iniciativa. Em resposta à questão “Os teus familiares envolveram-se nas atividades?”, 80% considerou que estes se envolveram muito.

Na Escola Básica Estádio do Mar, Matosinhos

Apelando, de novo, ao pedagogo Paulo Freire, regista-se que “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar a possibilidade para a sua produção ou a sua construção. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Este princípio reflete bem os objetivos de um outro projeto, desenvolvido pelos alunos do 4º ano da Escola Básica Estádio do Mar, em Matosinhos, pertencente ao Agrupamento de Escolas Professor Óscar Lopes. O foco da atividade foi a História e o conhecimento do Património do concelho. Pretendeu-se, desta forma, convocar e perpetuar valores e memórias, preconizando o envolvimento cívico e o reforço da essência da própria comunidade. Tendo como dinamizadores os docentes das disciplinas de Estudo do Meio/CeD, apoiados pelo técnico de informática/audiovisual, procurou-se que os alunos consolidassem as suas aprendizagens, de uma forma dinâmica e responsável. Em consonância, foi criado um roteiro interativo, com contextos e situações de aprendizagem mediados por tecnologias e ferramentas digitais, o que permitiu afirmar a identidade da cidade de Matosinhos, partindo do conhecimento e divulgação das suas tradições, lendas e elementos patrimoniais.

O papel das bibliotecas escolares

Em ambos os projetos o papel e relevância das Bibliotecas Escolares foi essencial para a respetiva estruturação, desenvolvimento e implementação. Como é referido no documento “Avaliação do impacto da biblioteca escolar”, pág. 9, “Uma abordagem à aprendizagem através da pesquisa implica que os alunos se envolvam ativamente, com diversas e frequentemente contraditórias fontes de informação e ideias, para descobrir novas ideias, para construir novo conhecimento e para desenvolver pontos de vista e perspetivas pessoais.”

O professor bibliotecário tem o papel fundamental de organizar recursos documentais, impressos e online, e orientar, em conjunto com o professor da(s) turma(s), e os técnicos afetos aos projetos, as atividades de pesquisa e elaboração dos trabalhos. Desta forma, os alunos interagem e trabalham em grupo, partilhando conhecimento e responsabilizando-se, conjuntamente, pela construção deste, assim como pela obtenção de resultados. Estamos face a um processo de aquisição de saberes que se pauta pela valorização e uso de princípios e normas que requerem e reforçam a educação cívica dos alunos, enquanto produtores e consumidores de informação. Estes princípios incluem o uso crítico e responsável das tecnologias e meios de comunicação, bem como o respeito pelos direitos e deveres, inerentes ao uso dos media e da informação.

Em conclusão, a transformação da aprendizagem em conhecimento, através do desenvolvimento de diferentes literacias tem, na biblioteca escolar, o contexto ideal para apreender e desenvolver estas competências, cada vez mais essenciais à formação de cidadãos responsáveis, autónomos e críticos, perante os desafios da world wide web, na era do mobile learning.

 

Referências

1. Escola, J. (2005). “Ensinar e Aprender na Sociedade do Conhecimento” In Livro de Atas, 4º SOPCOM, Repensar os Media: Novos Contextos da Comunicação e da Informação. Aveiro: Universidade de Aveiro: 343,358.

2. Todd, R., Kuhlthau, C. & Heinström, J. (2012). Avaliação do impacto da biblioteca escolar. Lisboa: Rede de Bibliotecas Escolares. https://www.rbe.mec.pt/np4/file/673/02_bibliotecarbe.pdf

 

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