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Blogue RBE

Seg | 27.10.25

Breve história de quase 30 anos

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 Por ocasião do Dia Nacional das Bibliotecas Escolares 2025

Na quarta segunda-feira de outubro celebra-se o Dia Nacional das Bibliotecas Escolares. Mais do que uma data simbólica, é um convite à memória e à projeção: recordar o caminho feito e reafirmar o compromisso com o futuro das bibliotecas escolares portuguesas.

A história começa em 1995, quando um grupo de trabalho constituído pelos Ministérios da Educação e da Cultura, elaborou o relatório Lançar a Rede, documento fundador que traçou as bases do futuro programa. Sob a coordenação de Isabel Veiga (hoje conhecida como Isabel Alçada), esse grupo formulou uma visão pioneira: a de criar, em todas as escolas públicas, bibliotecas modernas, integradas e articuladas com o currículo, capazes de promover a leitura, a informação e a cidadania.

A proposta contou com o apoio político decisivo de Guilherme d’Oliveira Martins, então Secretário de Estado da Educação, que reconheceu o potencial transformador do projeto e lhe deu o enquadramento institucional necessário para passar do plano técnico à política pública.

Em 1996, sob a tutela do Ministro da Educação Eduardo Marçal Grilo e do Ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho, a visão delineada no relatório tornou-se realidade com a criação oficial da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE). À frente do programa esteve Teresa Calçada, cuja liderança, persistência e clareza de visão garantiram a expansão e consolidação de uma das políticas públicas de educação mais consistentes do Portugal democrático. A missão era exigente: dotar todas as escolas públicas de bibliotecas de qualidade, com recursos humanos, materiais e tecnológicos adequados, e integradas nos projetos educativos das escolas.

Os primeiros anos foram de construção intensa. Criaram-se critérios de candidatura, normas de funcionamento, planos de formação e instrumentos de avaliação. As bibliotecas começaram a nascer em escolas de todo o país, fruto da cooperação entre o Ministério da Educação e as autarquias, num modelo de financiamento frequentemente partilhado que perdura até hoje.

Durante a década de 2000, a Rede consolidou-se e amadureceu. Sob a coordenação contínua de Teresa Calçada, a biblioteca escolar afirmou-se como centro de recursos para a aprendizagem, espaço de leitura e cultura, laboratório de literacias múltiplas e lugar de inclusão e criatividade.

Um marco decisivo ocorreu em 2009, com a criação da figura do professor bibliotecário, reconhecida oficialmente como função docente especializada, durante o mandato da Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues. Esta medida veio profissionalizar e estabilizar a gestão das bibliotecas escolares, garantindo a continuidade do trabalho e reforçando a sua integração pedagógica. Desde então, os professores bibliotecários tornaram-se mediadores essenciais entre o currículo e a leitura, os media e a informação, entre a escola e a comunidade, promovendo a articulação, a inovação e o desenvolvimento de competências transversais nos alunos.

A partir de 2014, a coordenação da RBE passou para Manuela Pargana Silva, que deu continuidade à consolidação do programa e ampliou o seu âmbito de intervenção. Sob a sua orientação, a Rede apostou fortemente na formação dos professores bibliotecários, reforçou a cooperação com as autarquias, as redes concelhias, e muitos valiosos parceiros, aprofundou a abordagem das literacias digital e mediática e integrou novos domínios — educação para a cidadania, sustentabilidade e bem-estar — nas suas áreas de ação.

Ao longo de quase três décadas, a RBE construiu um património humano e institucional ímpar. Os múltiplos programas, projetos e parcerias desenvolvidos com escolas, autarquias e inúmeras entidades culturais e científicas testemunham a diversidade e a vitalidade de uma Rede que soube evoluir com o tempo, sem perder de vista o essencial: a leitura como competência de base e prática de liberdade. Atualmente, revela-se como uma estrutura nacional coesa e descentralizada, presente em todas as escolas públicas e articulada com centenas de redes concelhias de bibliotecas. O seu modelo, construído com rigor e com uma visão de longo prazo, é reconhecido por múltiplas organizações internacionais como uma boa prática.

Em 2025, a Rede de Bibliotecas Escolares encerra um ciclo: deixa de ser gerida como estrutura de missão e é integrada, no Educa, I.P., integração que representa o reconhecimento da sua maturidade e da sua importância estratégica, garantindo-lhe estabilidade institucional e continuidade como política pública de educação, leitura e cidadania.

Celebrar o Dia Nacional das Bibliotecas Escolares é, portanto, celebrar as pessoas e as ideias que tornaram possível esta história: o grupo fundador de 1995, coordenado por Isabel Alçada, o impulso de Guilherme d’Oliveira Martins e Marçal Grilo, a liderança de Teresa Calçada, a continuidade e desenvolvimento assegurados por Manuela Pargana Silva, e o trabalho diário de professores bibliotecários, equipas de bibliotecas, assistentes de bibliotecas, coordenadores interconcelhios, técnicos municipais e parceiros locais, que mantêm viva a energia e a missão da Rede.

Hoje, a Rede de Bibliotecas Escolares continua a crescer, a inovar e a inspirar. Continua a instalar bibliotecas e também a requalificá-las (porque o tempo decorrido desde as origens a isso obriga). Mantém o foco na leitura e nas literacias e alarga o seu campo de ação a desafios emergentes: a inteligência artificial, a ética digital, a cultura democrática e a sustentabilidade.

No cruzamento entre o humano e o tecnológico, entre a tradição e o futuro, a biblioteca escolar permanece o espaço onde se aprende a ler o mundo para o compreender e transformar, fiel à convicção que esteve na origem do programa: uma biblioteca pode mudar uma escola; uma escola com biblioteca pode mudar o mundo.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0