Bibliotecas: pontes de cooperação no território
Por Aida Alves, Diretora da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Braga

Há lugares que guardam silêncios e, ao mesmo tempo, multiplicam vozes. As bibliotecas são assim: espaços discretos, mas que irradiam conhecimento, cidadania e futuro. Entre as estantes, descobre-se não apenas o prazer da leitura, mas também a possibilidade de pertença a uma comunidade mais ampla. Nas escolas, a biblioteca é o coração do processo educativo. Apoia professores, inspira alunos e abre janelas para mundos que ultrapassam o manual escolar. É um espaço de descoberta e de experimentação, onde a leitura se transforma em ferramenta de autonomia e onde a informação, organizada e acessível, alimenta a aprendizagem ao longo da vida.
Já a biblioteca pública é a grande praça do saber: um lugar de encontro intergeracional, onde a criança que lê a primeira história pode cruzar- se com o investigador que procura fontes raras, ou com o cidadão que precisa apenas de um acesso justo à informação. Representa a democratização do conhecimento, sem barreiras económicas ou sociais. Quando estas duas realidades se encontram numa política de cooperação territorial, o resultado é maior do que a soma das partes. A biblioteca escolar encontra na biblioteca pública o prolongamento natural do seu trabalho: mais recursos, mais experiências culturais, mais comunidade. A biblioteca pública encontra na escola o seu parceiro de futuro: leitores em formação, cidadãos em construção, a promessa de uma sociedade mais informada e crítica.
Cooperar é, neste contexto, partilhar responsabilidades. Significa que municípios, agrupamentos escolares e profissionais da informação reconhecem que o território é um ecossistema de saber, onde cada biblioteca desempenha um papel essencial. E significa também que nenhum aluno, nenhum cidadão, deve ficar para trás no acesso ao livro, ao conhecimento, à cultura. Porque no fim, bibliotecas escolares e bibliotecas públicas falam a mesma língua: a da inclusão, da equidade e da esperança. Uma língua que nos lembra que a leitura não é apenas uma competência; é um direito. E que esse direito só ganha força quando partilhado em rede.
A rede concelhia de bibliotecas não se esgota na ligação entre bibliotecas escolares e bibliotecas públicas. É, na verdade, um organismo vivo que cresce com a entrada de novos parceiros — universidades, juntas de freguesia, associações culturais, instituições de solidariedade, grupos empresariais e tantas outras entidades do território. Cada um destes atores coletivos ou individuais, com a sua identidade própria, acrescenta uma peça ao grande mosaico da leitura pública.
Falar de uma política local de leitura é falar de um compromisso coletivo. Significa assumir que a promoção da leitura não é apenas responsabilidade da escola ou da biblioteca, mas uma missão partilhada pela comunidade em todas as suas dimensões. Quando diferentes instituições se unem em rede, a leitura deixa de ser uma prática isolada e transforma-se numa estratégia de desenvolvimento local: mais coesão social, mais cidadania ativa, mais igualdade de oportunidades.
Este modelo de cooperação territorial é, ao mesmo tempo, pragmático e visionário. Pragmaticamente, rentabiliza recursos, evita duplicações, amplia o impacto das iniciativas. Visionariamente, desenha um futuro em que cada cidadão, independentemente da sua idade ou condição, pode encontrar no livro, na biblioteca, na leitura, em diferentes espaços públicos ou privados uma porta aberta para o conhecimento e para a participação.