Bibliotecas a(tra)tivas
Estantes que convidam a ler
Pensar na organização da biblioteca, tornando-a mais atrativa para os seus utilizadores, é algo que se vai mantendo na lista de tarefas de muitos professores bibliotecários. Promover a leitura e aumentar a circulação da coleção, também. Neste artigo, apresentamos algumas sugestões que permitem conciliar ambas.
Dynamic Shelving – o que é?
Já ouviu falar em dynamic shelving? Esta expressão refere-se a uma técnica de organização e disponibilização mais dinâmica dos livros nas prateleiras ou estantes, em oposição a uma arrumação tradicional baseada apenas na Classificação Decimal Universal (CDU) e na ordem alfabética dos autores. A ideia é simples, mas eficaz: tornar os livros mais visíveis, acessíveis e apelativos para quem entra na biblioteca.
Ao invés de termos apenas filas de lombadas organizadas verticalmente, propõe-se a inclusão de capas voltadas para o leitor, criando pontos de destaque visual que despertam curiosidade e convidam ao toque. Tal como nas livrarias, o objetivo é que o utilizador se sinta estimulado a explorar — mesmo que ainda não saiba o que procura.
Porquê investir em estantes dinâmicas?
Este tipo de abordagem traz múltiplas vantagens. Em primeiro lugar, aumenta a visibilidade dos livros, especialmente daqueles que raramente são requisitados. Ao destacar livros menos conhecidos ou menos procurados, dá-se uma nova oportunidade para que sejam descobertos pelos leitores.
Além disso, estimula a leitura por prazer, através do apelo visual e da surpresa. A disposição dos livros com as capas viradas para fora e a criação de temas inesperados despertam a curiosidade e convidam à exploração livre do acervo.
Esta prática também apoia aprendizagens e projetos pedagógicos, ao permitir que se organizem seleções que complementem conteúdos curriculares ou iniciativas da escola. Estas seleções podem funcionar como recursos úteis para a sala de aula ou como incentivo à pesquisa autónoma.
Outro benefício significativo é que impulsiona o envolvimento de alunos e professores, abrindo espaço para sugestões e colaborações na escolha dos temas ou dos livros em destaque. Esta participação ativa fortalece o sentido de pertença e torna a biblioteca um espaço mais partilhado.
Por fim, renova a perceção da biblioteca escolar, tornando-a num ambiente dinâmico, acolhedor e atualizado, capaz de responder aos interesses da comunidade educativa e de refletir o que se vive na escola e no mundo.
Condições para o sucesso
É verdade que a implementação desta prática depende de vários fatores — tipologia da biblioteca, espaço disponível, diversidade da coleção — mas, acima de tudo, depende da criatividade e da vontade de experimentar.
Importa, no entanto, assegurar que há espaço físico para estas exposições. Nesse sentido, vale a pena reler o documento da RBE Política de gestão da coleção: linhas orientadoras para a política de constituição e desenvolvimento da coleção. Uma coleção bem gerida — e com desbaste regular — facilita a criação de zonas de destaque que não comprometam a organização geral.
Como começar? Um plano simples em 5 passos
Antes de mais, é útil recordar algumas boas práticas sugeridas por profissionais que já aplicam esta abordagem em bibliotecas escolares e públicas, por exemplo:
- Agrupar livros por tópicos baseados nos interesses dos alunos, como “super-heróis”, “mistério”, “princesas” ou “histórias assustadoras”;
- Criar caixas ou cestos temáticos com etiquetas visuais e apelativas para facilitar o acesso dos leitores mais jovens;
- Envolver os alunos na criação da sinalética e organização dos espaços, promovendo a apropriação da biblioteca;
- Agrupar livros por tópicos inesperados e divertidos (ex.: "Livros com gatos", "Histórias com finais surpreendentes", "Livros que podiam ser filmes de terror");
- Utilizar as ilhargas das estantes e áreas de transição como locais privilegiados para destacar livros;
- Renovar frequentemente as exposições para manter o fator surpresa;
- Apostar em sinalética clara, apelativa e escrita em linguagem próxima dos alunos.
Tendo em conta estas sugestões e práticas já implementadas em várias bibliotecas escolares, propõe-se o seguinte plano de ação:
- Observar: Quais são os interesses dos alunos? Que livros estão a ser pouco lidos? Que géneros ou formatos (romances, banda desenhada, livros informativos, poesia) parecem atrair mais leitores em determinados ciclos de ensino? Existem títulos frequentemente manuseados mas raramente requisitados, que merecem destaque para incentivar o empréstimo?
- Planear: Criar um calendário de temas mensais, aproveitando efemérides, projetos da escola ou acontecimentos culturais, pode ser ainda mais enriquecedor se envolver os próprios alunos nesse processo.
Convidá-los a sugerir temas, a escolher livros para cada exposição ou até a criar materiais de divulgação (cartazes, resenhas, marcadores) transforma esta ação numa oportunidade de colaboração. - Montar: Usar mesas, carrinhos, suportes ou prateleiras acessíveis. Expor livros com a capa voltada para fora é apenas uma das muitas possibilidades criativas ao montar uma exposição dinâmica. Também se pode utilizar pequenos cavaletes para destacar livros em cima de mesas, criar "ilhas" temáticas com adereços relacionados com o conteúdo dos livros, adicionar frases cativantes retiradas das obras, ou até recorrer a QR codes que conduzam a booktrailers, críticas ou entrevistas com os autores. Outra ideia interessante é incluir pequenos cartões com recomendações escritas pelos próprios alunos ou professores, incentivando a partilha de leituras e a descoberta colaborativa.
- Divulgar: Promover as seleções em sala de aula, no site da escola, nas redes sociais ou em visitas orientadas pode ser uma excelente forma de alargar o impacto da iniciativa.
- Avaliar: Medir o impacto através da monitorização dos empréstimos, da observação do comportamento dos utilizadores e do feedback dos utilizadores.
Ideias de temas para as exposições dinâmicas:
- Livros que fazem rir
- Do livro ao ecrã
- O que andamos a aprender? (ligado ao currículo)
- Autores portugueses que deves conhecer
- Sugestões dos alunos
- …
E por que não começar com uma proposta ligada ao 25 de Abril?
“Liberdade de Ler” – livros sobre liberdade, democracia, direitos humanos. (a esse propósito lembramos a publicação Tempo para ler de Abril de 2024: Liberdade: 50 livros para pensar
Vale a pena experimentar
Adotar uma prática de dynamic shelving não exige grandes investimentos nem mudanças estruturais. Exige, isso sim, vontade de transformar a biblioteca num espaço mais apelativo e centrado nos leitores. Cada livro destacado é uma oportunidade para (re)descobrir uma história.
Comece por uma pequena exposição. Observe o efeito. E, acima de tudo, diverta-se a criar pontes entre os livros e os leitores.
Que tal? Vamos experimentar nesta reta final do ano letivo? Partilhe nos comentários!
Referências
- Bogan, K. (2023, 8 de março). 3 Essential Dynamic Shelving Tips!. https://ideas.demco.com/blog/3-essential-dynamic-shelving-tips/
- South Dakota State Library. (2021). Dynamic Shelving: A Practical Guide for School Libraries. https://library.sd.gov/LIB/SLC/doc/Guide-SDSL-SLDynamicShelving.pdf
- Van Orden, J. (2022, 10 de outubro). Dynamic Shelving: A Practical Guide. Don't You Shush Me. https://dontyoushushme.com/2022/10/10/dynamic-shelving-a-practical-guide/
- Struckmeyer, A. (2022, 14 de outubro). Dynamic Shelving for School Libraries. Demco Ideas. https://ideas.demco.com/blog/dynamic-shelving-for-school-libraries/
- Demco. (2023). Dynamic Shelving with Kelsey Bogan [Webinar]. https://youtu.be/qYBsH_-PHZg?si=QvTxiVADnUQ27EjZ
- Fotos: Escola Secundária de Caldas das Taipas, Guimarães