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Blogue RBE

Sex | 23.05.25

Avaliação da biblioteca escolar: tempos de relatório

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Porque o relatório de avaliação não é bicho papão!

O processo de avaliação das bibliotecas escolares pode ser exigente, mas, quando bem conduzido, transforma-se num valioso instrumento de trabalho. É com base nele que o professor bibliotecário recolhe evidências que sustentam as decisões sobre o Plano Anual de Atividades, justifica decisões e fundamenta pedidos junto da direção, além de garantir um serviço de excelência aos utilizadores.

Neste artigo apresentamos algumas pistas para a elaboração do relatório que encerra o ciclo de avaliação.

Chegou o momento de elaborar o relatório final… como?

Vamos por partes… recolha de dados

Para concluir com êxito este processo, é importante reunir e compilar as evidências do trabalho realizado, colhendo-as nos diferentes instrumentos que foram selecionados, insistindo não só no Plano de Melhoria, mas também noutras fontes de informação pertinentes. 

Recorde-se que neste relatório final se irão avaliar todos os domínios e subdomínios e não apenas os que foram definidos no plano de melhoria elaborado no início do ciclo avaliativo.

É recomendável evitar considerar desde logo listas infindáveis de instrumentos pouco produtivos para a recolha dos dados de que se necessita, evitando-se o ruído informativo. Contudo, é preciso ter em conta que o cruzamento de informação, recolhida por diferentes meios, é o que permite a leitura crítica dos dados, pelo que o número e o tipo de instrumentos de recolha de dados deve ser alvo de aturada ponderação, logo no início do ciclo avaliativo.

A recolha destes instrumentos foi já assegurada ao longo do biénio, pelo que agora basta reunir e organizar toda a informação recolhida.

Vamos por partes… tratamento de dados

É importante ter em mente que o que baliza a análise de dados são os perfis de desempenho, tal como enunciados no Modelo de Avaliação da Biblioteca Escolar (MABE).

Assim, recolhidos, compilados e cruzados os dados que conduzem à leitura crítica da informação, é agora necessário desenvolver dois processos em paralelo, um que se reporta aos domínios e subdomínios constantes do Plano de Melhoria, outro àqueles que não se inscreveram nesse plano.

No primeiro caso, é necessário ter em mente se foram ou não necessárias reformulações às ações inicialmente previstas e porquê, se for o caso, e, considerando o cruzamento de dados realizado, se as ações surtiram ou não o efeito desejado. Caso não tenham sido eficazes, é preciso estabelecer claramente

  • porque não o foram?
  • a formulação estava correta?
  • A ação desenhada é, afinal, ineficaz para a consecução do objetivo a atingir?
  • é ou não produtivo reformular essas ações num novo ciclo avaliativo?
  • o lapso aconteceu num ponto específico do processo, de resolução fácil no futuro sem mais alterações?

No segundo caso, é preciso perceber se o nível de qualidade atingido num dado domínio ou subdomínio é suficiente para ditar que apenas se invista na manutenção do que se conseguiu ou se é necessário passar a investir em ações de melhoria e, nesse caso, em quais e com que objetivos, sempre com base na interpretação dos dados recolhidos.

Nesta fase, é crucial que a análise dos dados recolhidos permita identificar claramente os pontos fortes e as áreas que requerem melhoria. 

Recorde-se que a atribuição da valoração de 1 a 4 é enformada pelos perfis de desempenho anteriormente referidos, pelo que, para se compreender o nível de qualidade atingido em cada domínio, é fundamental prestar muita atenção aos indicadores que constam nos respetivos perfis de desempenho e refletir sobre eles, aferindo deste modo a qualidade do trabalho desenvolvido.

Vamos por partes… redação do relatório

Na redação propriamente dita, deve evitar-se enunciados meramente descritivos. É fundamental que o texto reflita a análise realizada, apontando de forma clara as conclusões e os caminhos futuros, quer se trate de um novo ciclo de avaliação ou do encerramento do processo.

Durante o processo de elaboração do relatório, há que garantir que o texto seja:

  • Claro, permitindo a apreensão fácil das ideias principais;
  • Completo, contemplando todos os aspetos essenciais, designadamente os perfis de desempenho nos quatro domínios;
  • Preciso, apresentando apenas a informação relevante;
  • Sucinto, evitando repetições;
  • Esclarecedor, revelando-se útil para qualquer professor bibliotecário, incluindo quem venha, eventualmente, a assumir funções no futuro;
  • Acessível, sendo facilmente compreendido por qualquer elemento da comunidade educativa;
  • Harmonioso e fluido, promovendo uma leitura envolvente e agradável e valorizando o trabalho desenvolvido pela biblioteca.

Algumas pistas adicionais

Antes de finalizar, deixe o relatório “repousar” uns dias e regresse mais tarde. Revê-lo com distanciamento ajudará a garantir clareza e rigor.

Se possível, analise o processo de avaliação e discuta o documento com o coordenador interconcelhio das bibliotecas escolares. Um olhar externo é sempre enriquecedor: clarifica ideias, ajuda a organizar informação e contribui para tornar o processo mais participativo e menos solitário.

Apresentação em Conselho Pedagógico

Terminado o relatório de avaliação da biblioteca escolar, chegou o momento de o apresentar em Conselho Pedagógico. Este é, igualmente, um passo estratégico, que permite não apenas prestar contas sobre o trabalho desenvolvido, mas também valorizar o papel da biblioteca enquanto estrutura fundamental no apoio às aprendizagens, à inovação pedagógica e à consolidação da cultura de escola.

A apresentação deve centrar-se na comunicação clara e objetiva dos principais resultados obtidos. É importante indicar os níveis de desempenho atribuídos a cada um dos quatro domínios do modelo de avaliação, explicando de forma breve os critérios que sustentaram essa atribuição. Os pontos fortes devem ser destacados com exemplos concretos, que possam ilustrar com eficácia a ação da biblioteca: projetos desenvolvidos, articulações curriculares bem-sucedidas, aumento do número de utilizadores ou dados que evidenciem o impacto do trabalho realizado. Ao mesmo tempo, é essencial transmitir claramente os pontos a melhorar, enquadrando-os nas circunstâncias que os explicam e apresentando propostas fundamentadas que se prevejam incorporar no plano de melhoria do próximo ciclo.

De igual modo, a apresentação deve dar visibilidade aos impactos observados na escola: os progressos dos alunos ao nível da competência leitora, a utilização autónoma da biblioteca, o reforço das práticas pedagógicas colaborativas ou o envolvimento das famílias são aspetos que merecem ser realçados. Esta exemplificação permite evidenciar de que forma a biblioteca contribui ativamente para a missão da escola e para o desenvolvimento das competências previstas no Perfil dos Alunos.

Importa também mostrar o que se prevê para o futuro, apontando os eixos estratégicos a integrar no novo plano de melhoria e deixando claro que o relatório não é um fim em si mesmo, mas um instrumento de trabalho essencial para a tomada de decisões fundamentadas e para o alinhamento estratégico da ação da biblioteca com as prioridades do Projeto Educativo.

A apresentação ganhará clareza e eficácia se for acompanhada por suportes visuais simples e apelativos (uma infografia, um quadro-resumo ou uma síntese visual dos principais resultados), que facilitarão a compreensão da informação por todos os elementos do Conselho Pedagógico, mesmo aqueles que não acompanham diretamente o trabalho da biblioteca.

Por fim, este momento deve ser aproveitado para convidar ao envolvimento. É importante propor que o relatório de avaliação seja integrado nos instrumentos de autoavaliação da escola, e apresentar a biblioteca como um parceiro ativo, capaz de contribuir significativamente para a inovação pedagógica, o desenvolvimento das literacias e a promoção do sucesso educativo.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0