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Blogue RBE

Qui | 19.12.24

As tecnologias digitais estão distribuídas de forma desigual

Relatório de tendências da IFLA 2024

2024-12-19.jpgEste é o sexto de um conjunto de artigos que divulga e reflete sobre o Relatório de Tendências da IFLA 2024.
Este relatório procura fornecer as ferramentas, as estruturas, a inspiração e a energia necessárias para que as bibliotecas e os profissionais da informação enfrentem o futuro com otimismo. Apresenta sete tendências. Hoje dedicamo-nos à tendência 5.

A inclusão digital irá aumentar a equidade

Apesar do aumento da utilização de dispositivos e ligações à internet, ainda existe um elevado número de pessoas sem acesso a recursos de qualidade. Esta exclusão digital surge em três áreas: ausência de dispositivos e ligações adequadas, custos inacessíveis e falta de competências digitais. Países menos desenvolvidos enfrentam piores condições de cobertura de rede e indivíduos social e economicamente desfavorecidos têm maior probabilidade de ficarem para trás.

Em resposta a estas desigualdades, o Pacto Digital Global da ONU propõe cinco objetivos para promover um futuro digital inclusivo, seguro, sustentável e centrado nos direitos humanos, incluindo a redução das desigualdades digitais, a expansão dos benefícios da economia digital, uma governação internacional dos dados mais responsável e um enquadramento ético para tecnologias emergentes como a inteligência artificial.

Oportunidades

  • Acesso à Internet mais barato e mais acessível 
  • Acesso mais fácil aos serviços através de identificações digitais
  • Conceção e implementação de práticas inclusivas de dados e informação para informar a conceção de serviços adequados

Desafios

  • Aprofundamento das desigualdades sociais 
  • Deficiência das infraestruturas da rede física
  • Falta de infraestruturas sociais para colmatar a falta de competências
  • Falta de dados

Desenvolvimento

  • O fosso digital está a aprofundar-se.

    Apesar dos progressos na conectividade global, cerca de um terço da população mundial continua offline e excluída da economia digital. Esta exclusão digital afeta sobretudo países menos desenvolvidos e grupos socialmente desfavorecidos, como pessoas com baixos rendimentos, menos escolaridade, desempregadas, mulheres, jovens em contextos rurais ou residentes em habitação social. A falta de acessibilidade e de preços comportáveis para dispositivos e ligações, bem como a dependência de redes públicas de acesso à internet, acentua estas desigualdades.

    Tecnologias emergentes como a Inteligência Artificial podem aprofundar o fosso digital entre países mais ricos e mais pobres e entre grupos com e sem acesso a infraestrutura, dispositivos e formação adequados. Embora a pandemia de COVID-19 tenha levado a um aumento do uso de tecnologias – beneficiando parcialmente alguns grupos antes excluídos, como os idosos –, agravou a exclusão de outros, nomeadamente crianças e jovens de meios desfavorecidos.

    Regiões rurais e remotas enfrentam maiores dificuldades de acesso à internet e a dispositivos, o que limita oportunidades educativas e profissionais.

    Contudo, as tecnologias digitais, se bem implementadas, podem também contribuir para ultrapassar estes obstáculos, proporcionando novas formas de ensino à distância e ligação entre escolas em zonas isoladas, ajudando a atenuar o isolamento e a escassez de professores.

  • Os serviços essenciais estão a migrar para serviços prioritariamente digitais ou serviços exclusivamente digitais o que exige identidades digitais

    Assiste-se à crescente adoção da prioridade digital na prestação de serviços por empresas, serviços sociais e governos, com o objetivo de tornar o acesso mais eficiente. Contudo, esta tendência pode prejudicar os grupos que mais necessitam desses serviços, mas não dispõem da tecnologia ou das competências digitais necessárias.

    A nível internacional, a maioria dos países compromete-se a reduzir o fosso digital, implementando planos de ação, quadros legais e mecanismos de financiamento para promover a inclusão. Ao mesmo tempo, muitos governos estão a introduzir identidades digitais únicas que permitem aos cidadãos aceder a múltiplos serviços, alinhando-se com metas europeias que visam assegurar que a maioria da população possa utilizar uma identidade digital até 2030.

    Países como a Dinamarca, a Índia ou a Estónia já adotaram estratégias de governo digital para simplificar processos. Porém, à medida que os serviços digitais ganham força, torna-se mais difícil recorrer a alternativas presenciais, colocando muita pressão sobre organizações de apoio a populações digitalmente excluídas para suprirem as falhas na prestação de serviços.

  • Estruturas de informação cultural inclusivas criam futuros equitativos.

    A organização e o tratamento dos dados e da informação têm raízes em sistemas coloniais e opressores, mas surgem novas abordagens para recolher, partilhar, traduzir e gerir dados, de forma a dar voz a diferentes perspetivas. Especialistas acreditam que a expansão das ferramentas digitais pode fortalecer os direitos humanos, facilitando o acesso a recursos, a comunicação e a informação segura.

    Instituições culturais, como bibliotecas, reavaliam o conhecimento, questionando o conceito de “descolonização” das coleções, um termo contestado e complexo. Além disso, o uso de princípios como os CARE (Collective benefit, Authority to control, Responsibility & Ethics - benefício coletivo, autoridade de controlo, responsabilidade e ética) e a soberania de dados indígenas reforçam a ideia de que as comunidades devem ter poder sobre a forma como o seu conhecimento é utilizado e valorizado.

    Enquadramentos culturais inclusivos são importantes para preservar línguas em risco de extinção, nomeadamente as indígenas, que correm um elevado perigo de desaparecer ao longo do século.
 
Questões a ter em conta
  • Recolher e analisar dados mais detalhados e desagregados melhora a representação e ajuda a identificar barreiras à inclusão.
  • Para refletir as experiências vividas por grupos vulneráveis, a investigação deve adotar abordagens interseccionais, incluindo dados diferenciados por fatores como o género.
Perguntas
  • De que dados dispõe atualmente a sua biblioteca? De que dados necessita? Que dados deveria estar a recolher (ou não)?
  • Que acesso a dispositivos e ligações é que as pessoas da sua comunidade têm fora da biblioteca?
Referência
IFLA (2024). Trend Report 2024. https://www.ifla.org/wp-content/uploads/ifla-trend-report-2024.pdf 
📷Trend Report 2024
 

Relatório de tendências da IFLA 2024 no Blogue RBE

 

 

Relatório de tendências da IFLA 2024

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A verdade está a ser renegociada

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0