As bibliotecas escolares cobriram Portugal de cravos*
Ano após ano, com maior ou menor expressão, as bibliotecas escolares assinalam o 25 de abril de 1974.
Para que nunca se esqueça, porque as bibliotecas são espaços de memória.
Desde o início da História humana, desde que se aprendeu a fazer registos escritos, as bibliotecas reúnem em si a memória da humanidade. Com tábuas de argila, rolos de papiro, pergaminhos, códices, livros impressos ou e-books… Com mapas, gravuras, registos sonoros, programas informáticos… e tantos, tantos outros formatos, nas suas coleções se reúne e preserva a nossa herança cultural e intelectual.
As bibliotecas agregam e não deixam esquecer o que a nossa ciência já alcançou, mas também as nossas criações, tradições, as nossas crenças, os nossos valores. São, portanto, essenciais para conhecermos o nosso passado individual e coletivo e nos ajudarem a compreender o presente e a equacionar o futuro.
Às bibliotecas, devemos a possibilidade de nos irmos “da lei da morte libertando”.
Pelo seu potencial sentido agregador, em uma sociedade escassa em consensos, as formas e os tempos em que essas memórias e histórias são guardadas, são apagadas, são esquecidas, são organizadas e são comunicadas não são menos críticos e estratégicos, diante da torrente informacional da atualidade que tem o smartphone como o seu totem principal. [1]
Para que sempre se celebre, porque as bibliotecas são espaços de liberdade.
As bibliotecas são espaços de liberdade porque é sua missão fornecer acesso livre ao conhecimento e à cultura, para todos, independentemente das suas múltiplas circunstâncias.
São espaços de liberdade porque as memórias que agregam são plurais e refletem o todo da variedade humana.
Porque acolhem todos, dando resposta adequada a cada necessidade individual e permitindo que cada um encontre o seu caminho e explore conhecimentos, ideias e manifestações culturais, sem qualquer tipo de constrangimento, desenvolvendo em plenitude o seu potencial.
Porque são locais de aprendizagem que promovem a leitura e o desenvolvimento de literacias críticas indispensáveis para pesquisar, estudar e interagir com o conhecimento de forma dinâmica e construirr conhecimento próprio e informado.
As bibliotecas são agentes básicos da democracia, à qual são tão necessárias como o pão na alimentação.
(…) A participação construtiva e o desenvolvimento da democracia dependem tanto de uma educação satisfatória como de um acesso livre e sem limites ao conhecimento, ao pensamento, à cultura e à informação. [2]
Foi bonita a festa, pá! [3]
Face a esta assumida vocação de preservação da memória e da liberdade, é natural o envolvimento contínuo das bibliotecas escolares com a conservação do legado de uma revolução que devolveu ao povo português a sua liberdade.
Assim, não espanta que quando, em 25 de abril de 2023, a Rede de Bibliotecas Escolares lançou o desafio Abril depois de Abril e o apelo a uma celebração especial da Revolução dos Cravos, por se assinalarem os 50 anos dessa data, as bibliotecas tenham desde logo respondido à chamada e começado a registar a sua participação na atividade. Foram 486 agrupamentos de escolas e muitas, muitas mais bibliotecas que trabalharam com todos, para que a data (e o que representa) não fique nunca esquecida.
O que espanta, isso sim (ou talvez não), é qualidade, a variedade e a criatividade das ações concretizadas e a abrangência que atingiram.
Num momento em começamos já a fazer alguns balanços de um ano letivo que se encaminha para o fim, não podemos deixar de apelar a que se explore o excelente trabalho das bibliotecas na preservação desta memória. Cada cravo, um agrupamento, várias bibliotecas, muitas ações, muitos jovens, muitos presentes e futuros…
Convidamos a apreciar, com vagar e admiração, este recordatório de tudo o que aconteceu. Para que nunca se esqueça! Para que sempre se celebre a liberdade!
Nota
* Este título feliz, foi retirado de uma publicação de uma biblioteca escolar no Instagram, em abril/ maio de 2024, que não se conseguiu localizar. Apela-se à biblioteca que o publicou que coloque a hiperligação para essa publicação como comentário a este artigo.
Referências
[1] Nassar, P. (2023, 19 de dezembro). Os lugares de memória são lugares extraordinários. Jornal da USP. https://jornal.usp.br/articulistas/paulo-nassar/os-lugares-de-memoria-sao-lugares-extraordinarios/
[2] Numes, M & Vitorino, M. (2024, 29 de fevereiro). Acesso a todos: algumas notas sobre bibliotecas e democracia. Setenta e Quatro. https://setentaequatro.pt/ensaio/acesso-todos-algumas-notas-sobre-bibliotecas-e-democracia
[3] Buarque, C. (1975) Tanto mar. https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45178/