Além da aprendizagem académica
O Estudo sobre Competências Sociais e Emocionais (Study of Social and Emotional Skills – SSES) [1] coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) envolve 10 países do mundo, entre os quais Portugal, exclusivamente o município de Sintra (1 cidade/ país). Contando com o apoio do Ministério da Educação e financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian, envolveu em Sintra a participação de 58% dos alunos, 80% dos docentes e 96% dos diretores dos estabelecimentos de ensino.
Este estudo não se destina a avaliar o desempenho curricular dos alunos, mas competências que lhes permitem lidar com a incerteza, a complexidade, o cuidado e respeito mútuo e, em geral, os desafios do futuro. É o primeiro estudo internacional a avaliar estas competências em duas faixas etárias - 10 e 15 anos – que frequentam qualquer modalidade de ensino do 4.º ano ao 12.º ano de escolaridade e desenvolveu-se em três fases:
1.ª Teste aos instrumentos a aplicar (abril a maio de 2018);
2.ª Ensaio de campo (outubro a dezembro de 2018, em 31 estabelecimentos de ensino público e privado);
3.ª Estudo principal (outubro a dezembro de 2019 em 48 escolas para os alunos de 10 anos e 31 escolas para os alunos de 15 anos, envolvendo 58% [3855] dos alunos, 80% dos docentes e 96% dos diretores dos estabelecimentos de ensino de Sintra).
De acordo com o Sumário Executivo do Estudo conclui-se, nas várias áreas, o seguinte:
Distribuição sociodemográfica, tendo por base idade, sexo, estatuto socioeconómico e antecedentes migratórios dos jovens
- Aptidões sociais e emocionais, ao contrário dos conhecimentos curriculares, diminuem com a idade, sobretudo em competências como otimismo, confiança, energia e sociabilidade.
- Nas raparigas este declínio é ainda mais acentuado, revelando também níveis mais elevados de responsabilidade, empatia e cooperação com os outros.
- Estudantes de ambiente socioeconómico mais favorecido relatam competências sociais e emocionais mais elevadas em todas as cidades envolvidas.
Sucesso académico, tendo por base os resultados escolares em leitura, matemática e artes e aspirações de educação e carreira
- Em todas as idades, competências sociais e emocionais, como curiosidade e persistência, são preditoras de bom desempenho escolar e profissional.
Bem-estar psicológico
- Com a idade e, sobretudo nas raparigas, a satisfação com a vida diminui e a ansiedade perante os testes aumenta.
- Estudantes de meios socioeconómicos mais favorecidos revelam níveis mais elevados de satisfação com a vida e bem-estar psicológico.
- Clima escolar competitivo e elevadas expectativas dos seus pais e professores estão associados a um nível mais elevado de bem-estar psicológico para crianças de 10 anos, mas a um nível mais elevado de ansiedade nos testes para jovens de 10 e 15 anos.
Criatividade e curiosidade
- Pais e educadores confirmam a diminuição com a idade, em rapazes e raparigas, de competências emocionais como criatividade e curiosidade.
- Estudantes de 15 anos que se consideram altamente criativos, também se descrevem como persistentes e desejosos de aprender coisas novas e esperam trabalhar em empregos criativos.
Bullying e interacções sociais na escola, examinando o sentido de pertença, a sua relação com os professores
- Um em cada cinco estudantes com 10 anos, relatou que gozavam com ele uma vez por semana ou mais.
- Rapazes apresentam maior exposição ao bullying, mas também maior sentimento de pertença à escola.
- Estudantes que relataram maior exposição ao bullying, relatam menor resistência ao stress, otimismo e controlo emocional.
- Estudantes de meios socioeconómicos mais favorecidos têm sentido mais forte de adaptação à escola e melhores relações com seus professores.
- A relação com os seus professores é fortemente influenciada pela sua curiosidade, motivação e otimismo na realização.
No global, o relatório evidencia que competências sociais e emocionais influenciam o desempenho académico, expetativas educacionais e profissionais, o relacionamento interpessoal, a saúde e o bem-estar.
Para moldar a mente e caráter dos estudantes, Andreas Schleicher, Diretor para a Educação e Competências da OCDE, defende no Editorial do Estudo, “Precisamos de pensar de forma mais integrada e criativa. Precisamos de reconhecer as interconexões, ser capazes de lidar com tensões e dilemas, sentir à vontade com a ambiguidade, persistir mesmo em tempos difíceis.”
Referências
[1] Organisation for Economic Co-operation and Development. (2021, 7 September). Beyond Academic Learning - First results from the survey of social and emotional skills. https://www.oecd.org/education/beyond-academic-learning-92a11084-en.htm