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Blogue RBE

Qua | 08.10.25

Ajudar os alunos a ler textos complexos

por Andrew Boryga*

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Ao cultivar hábitos metacognitivos de leitura, pode ajudar os alunos a manterem-se concentrados enquanto estudam materiais de leitura complexos.

Todos nós já passámos por isso. Estamos a ler e, de repente, percebemos que, embora os nossos olhos estejam a percorrer as palavras na página, nada está realmente a ser registado. Passam-se alguns minutos até nos orientarmos e percebermos que perdemos completamente o fio à meada.

Nas salas de aula, os alunos tendem a experimentar essa perda de atenção ao lerem textos exigentes ou altamente técnicos — o tipo de passagens repletas de linguagem técnica que alunos do ensino básico e secundário podem encontrar em ciências, matemática ou história. De muitas formas, a distração da mente em si é inevitável: nem tudo o que colocamos diante dos alunos irá cativá-los.

Num estudo de 2024 sobre «leitura distraída», investigadores da Universidade de Würzburg acompanharam a velocidade de leitura e a atenção de alunos universitários que se debruçavam sobre um texto científico complexo. Em vários momentos durante o exercício, surgiram perguntas aos alunos: «A sua mente estava distraída quando leu a última frase?» Os alunos confirmaram vários casos de perda de atenção.

Os investigadores descobriram que mudanças na velocidade de leitura, demora na mesma passagem por longos períodos e omissão de palavras eram sinais de que os alunos estavam com dificuldade em manter o foco ou compreender o texto, e também previam um desempenho inferior em testes subsequentes — conclusões que se alinham com um estudo de 2016 que utilizou software de rastreamento ocular para identificar comportamentos de leitura associados à distração.

Mas esses obstáculos não são insuperáveis.

Os investigadores da Universidade de Würzburg também concluíram que, quando os alunos eram explicitamente treinados para reconheceram quando perdiam o foco nas informações contidos nas frases ou ficavam presos em determinadas passagens — e eram ajudados a desenvolver estratégias metacognitivas para « planear, monitorizar e regular a sua leitura » —, eles conseguiam redirecionar a sua atenção com sucesso.

Para convencer os alunos da importância de estratégias de compreensão eficazes — reler, anotar ou parar para procurar palavras desconhecidas, por exemplo —, é importante explicar os benefícios a longo prazo de insistir em textos complexos, disse o especialista em alfabetização Timothy Shanahan à Edutopia numa entrevista em 2023.

Aprender a compreender um texto técnico de ciências, por exemplo, pode ser útil se os alunos decidirem trabalhar com climatização ou simplesmente quiserem perceber os efeitos de um medicamento prescrito. As competências que utilizam para a compreensão de um texto de história podem ajudar em futuras carreiras jurídicas ou na interpretação de documentos complicados sobre impostos ou hipotecas. Tente deixar claro, diz Shanahan, que quando ensinamos os alunos a aprofundarem textos difíceis, «o que realmente estamos a fazer é a mostrar-lhes como a ter acesso a todos estes diferentes locais de poder na nossa sociedade».

1. Lembre aos alunos de que o caminho pode ser difícil: embora fosse maravilhoso que os alunos pudessem ler sempre com facilidade, isso nem sempre é possível ou mesmo desejável. Alguns tópicos são inerentemente difíceis.

Ao abordar materiais complexos, lembre aos alunos que eles devem estar preparados para acompanhar o seu processo de leitura e avaliar efetivamente «se estão a compreender o conteúdo ou se precisam de ajustar as suas estratégias de leitura, reler seções anteriores do texto ou procurar informações adicionais», dizem os investigadores da Universidade de Würzburg.

2. Aprimore o conhecimento prévio: antes de mergulhar num novo texto, forneça aos alunos materiais relacionados ou peça-lhes que pesquisem para se familiarizarem com o assunto. Isso pode ativar o conhecimento prévio existente e fornecer uma base para que compreendam melhor textos complexos e ricos em informações.

Antes de atribuir leituras difíceis relacionadas com a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o professor de estudos sociais do ensino secundário Tim Smyth monta estações na sala de aula repletas de banda desenhada, coleções de fotos, poesia, vídeos introdutórios ou notícias relacionadas com o Holocausto, mulheres líderes, batalhas importantes e muito mais. À medida que os alunos passam por cada estação, eles criam vários pontos de entrada para o tópico, tomam notas e preparam-se para as leituras futuras, respondendo a perguntas de reflexão como: «Quais são as três perguntas sobre as quais quer saber mais?»

Ao lerem os textos atribuídos, Smyth diz que os alunos usam os seus conhecimentos prévios para fazerem «conexões poderosas» entre o novo conteúdo e o conteúdo anterior que exploraram, tornando mais provável que retenham informações e «vejam o panorama geral».

Também pode expor os alunos a segmentos de notícias, podcasts, entrevistas ou videoclipes relacionados com o tópico que estão prestes a ler — ou pedir-lhes que dediquem tempo a fazer a sua própria pesquisa e a elaborar uma lista de perguntas que gostariam de explorar.

3. Esteja preparado para novo vocabulário: Quando os alunos não estão familiarizados com mais de 59% dos termos-chave relacionados com um tópico sobre o qual estão a ler, a sua capacidade de compreender um texto relacionado com esse tópico fica severamente «comprometida», segundo um estudo de 2019, que sugere que existe uma base de conhecimento de vocabulário de que os alunos precisam para garantir a compreensão.

Na revista American Educator, Jeanne Wanzek, professora de educação especial da Universidade de Vanderbilt, escreve que, antes de os alunos lerem um texto complexo, os professores podem concentrar-se em algumas palavras-chave essenciais e fornecer orientações específicas que vão para além de simples definições. Comece com uma «definição acessível aos alunos», seguida de um recurso visual — talvez uma foto ou ilustração — para ajudar os alunos a memorizá-la, diz Wanzek. Discutir exemplos de como a palavra pode ser usada ou pedir aos alunos que discutam exemplos a pares também pode ajudar a criar uma base importante antes da leitura.

Os professores nem sempre podem preparar o trabalho em tempo real. Por esse motivo, Shanahan diz que é útil ensinar aos alunos estratégias para compreenderem palavras desconhecidas à medida que as encontram. Isso inclui manter um dicionário à mão para procurar definições, reler as secções onde a palavra aparece e usar pistas do contexto para determinar o seu significado, ou simplesmente tentar ao máximo inferir o significado, sem permitir que a falta de compreensão atrapalhe a leitura. «Às vezes, os leitores só precisam de seguir em frente, compreendendo o máximo possível do texto e aceitando que não estão a entender tudo, pois não conhecem todas as palavras», diz Shanahan.

4. Use várias estratégias de releitura: Um método eficaz e frequentemente usado para encontrar o equilíbrio quando se tem dificuldade em compreender um texto ou em perceber com precisão uma passagem é parar e reler as secções anteriores — ou até mesmo ler um pouco à frente para ter uma noção melhor de qual é o sentido do texto.

Investigadores da Universidade de Würzburg escrevem que a releitura é uma competência útil de «monitorização da compreensão» e que tê-la como ferramenta no seu arsenal pode ajudar os alunos « a aferirem constantemente a sua compreensão do texto e a aplicarem estratégias de correção para resolver problemas de compreensão à medida que estes surgem».

A educadora Nina Parrish escreve que, para ajudar os alunos a relerem eficazmente e a recuperarem o sentido de um texto, deve pedir-lhes que voltem a ler uma página para ajudar a «esclarecer ou responder a perguntas» que possam ter surgido depois de perderem a concentração.

Também é crucial mostrar aos alunos como é que isso funciona. Leia uma passagem densa de um texto e descreva em voz alta o seu processo para compreendê-la — seja relendo uma frase ou passagem, parando para ler desde o início novamente ou consultando pistas em seções anteriores ou futuras.

5. Leia em voz alta também: pedir aos alunos que leiam em voz alta algumas passagens ou páginas quando estiverem perdidos num texto pode ser uma estratégia útil para se concentrarem novamente, escreve o educador Paul Holt para a E-Student.

Ler em voz alta envolve os olhos e os ouvidos, o que cria «dois traços de memória distintos: um relacionado com o processamento visual e outro com o processamento auditivo» e pode reforçar a compreensão e a retenção. «Se um traço de memória enfraquece, o outro serve como cópia de segurança, garantindo a retenção do conhecimento», escreve Holt.

Dizer palavras em voz alta também tende a aumentar a atenção, diz Holt. Afinal, é mais difícil distrair-se quando se está a pronunciar palavras ativamente e a interagir com um texto, em vez de lê-lo passivamente para si mesmo. Pedir aos alunos que leiam em voz alta periodicamente, especialmente quando notarem que a sua compreensão está a diminuir ou que a sua velocidade de leitura silenciosa está a ficar muito lenta ou muito rápida, também pode ajudá-los a ajustarem a sua leitura para uma velocidade mais natural, tornando mais provável que assimilem o significado de cada frase.

6. Anote para se manter mentalmente alerta: Ajude os alunos a manterem-se concentrados durante a leitura — e a controlarem a sua compreensão — ensinando-lhes estratégias eficazes para fazer anotações, escreve Rebecca Alber, professora da faculdade de educação da UCLA.

Alber sugere que os alunos sejam orientados sobre a importância de ler com um objetivo — descobrir a intenção do autor, analisar o uso de recursos literários, prever, contextualizar, criticar, resumir e muito mais — e sobre como fazer anotações nas margens do texto os pode ajudar a acompanhar as ideias e as questões-chave.

Práticas de anotação que valem a pena modelar incluem numerar parágrafos para acompanhar as evidências, circular palavras-chave, frases ou datas e sublinhar as «afirmações do autor e informações importantes relacionadas com essas afirmações», diz Alber.

7. Termine a leitura com uma «autoexplicação»: tomar notas é uma estratégia popular que os alunos costumam usar ao lerem textos complexos, mas, de acordo com um estudo de 2018, muitas vezes eles não otimizam a prática resumindo conceitos e ideias com as suas próprias palavras, em vez de os copiarem literalmente.

A investigação mostra que é mais eficaz orientar os alunos para parafrasearem ideias e pontos importantes que encontram numa leitura por conta própria, de memória. Isso pode ajudá-los a envolverem-se de forma «mais significativa» com as leituras e destacar lacunas que poderiam ser abordadas voltando a passagens-chave que possam ter sido mal interpretadas ou às quais não tenham prestado atenção suficiente.

Tente pedir aos alunos que mantenham um caderno à mão enquanto leem e o utilizem para refletirem sobre o que acabaram de ler com algumas frases, pontos-chave ou até desenhos.

8. Junte tudo: Por fim, é uma boa ideia explicar aos alunos que compreender verdadeiramente um texto complicado provavelmente exigirá uma combinação de muitas dessas estratégias de forma coordenada, como ler uma vez, reler seções particularmente difíceis, fazer anotações e resumir os pontos mais importantes com palavras próprias. Essa receita, embora certamente mais demorada do que simplesmente tentar avançar num texto difícil e memorizar o que for possível, resultará numa maior compreensão e retenção de conhecimento.



O texto deste artigo foi traduzido e publicado com a autorização da Edutopia:

Referência

Boryga, A. (2024, 15 de novembro). Helping Students Read Complex Texts. Edutopia. https://www.edutopia.org/article/helping-students-read-complex-texts 

 

* Andrew Boryga

Sou escritor, editor e educador, e tenho um grande interesse em ajudar as crianças do ensino básico ao secundário a terem acesso a uma educação de alta qualidade. Os meus textos foram publicados no The New York Times, The New Yorker, The Atlantic e outras publicações. No passado, também ensinei escrita a alunos do ensino básico, alunos universitários e reclusos do sexo masculino. Nasci e cresci no Bronx, Nova Iorque, e atualmente resido com a minha família em Miami, Flórida.

 

Nota: © Excecionalmente, por se tratar de uma tradução que careceu de autorização, este trabalho tem todos os direitos reservados.

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0