Ação para o Empoderamento Climático e Literacia da Informação e Media: Roteiro
I. Nota Introdutória
Ação para o Empoderamento Climático: o papel dos jovens e o perfil de Portugal
A Ação para o Empoderamento Climático (ACE) visa capacitar para o envolvimento “em políticas e ações climáticas, através da educação e sensibilização pública” [2].
ACE é um termo adotado pela UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change/ Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), de 1994 (art.º 6) e que faz parte do Acordo de Paris (art.º 12) e da Agenda 2030 (metas 4.7 e 13.3).
A COP26 reconhece “o crescente interesse e envolvimento dos jovens na ação climática” e o seu “papel crítico como agentes de mudança” e apela ao reforço da sua participação [2].
A COP27 aprova um Plano ACE que reforça o papel da educação, dos direitos humanos e da cultura na luta contra a mudança climática.
Pretendendo alcançar a neutralidade carbónica até 2050, Portugal comunica na COP28 a sua abordagem sobre CCE (climate change communication and education/ comunicação e educação sobre mudança climática), na qual se destaca que esta é matéria que abrange todos os níveis de educação - do pré-escolar ao ensino universitário e à formação de adultos - e que é importante fomentar a “consciencialização pública”, o “acesso público à informação”, a “participação pública” e a monitorização e comunicação dos progressos [3].
II. A biblioteca apoia o ACE
- Documentos
A Declaração de Lyon sobre o Acesso à Informação e ao Desenvolvimento [4], elaborada pela IFLA e por parceiros estratégicos de bibliotecas e comunidades de desenvolvimento, é um dos primeiros e mais relevantes documentos da comunidade internacional de bibliotecas a apoiar o desenvolvimento sustentável e o compromisso da ONU para a Agenda 2030.
Elaborada em 2014, durante o processo de discussão da Agenda 2030 (2015), reconhece o papel crucial da informação – e da educação sustentável - para apoiar a ação climática e o desenvolvimento sustentável, bem como a importância das bibliotecas - e de outros mediadores de informação, como a imprensa e os novos media - para ajudar os governos neste desígnio global.
A Declaração de Lyon afirma que o acesso à informação apoia o desenvolvimento sustentável ao capacitar as pessoas para exercerem os seus direitos, aprenderem e aplicarem novas competências, tomarem decisões e participarem na sociedade, garantindo a responsabilização, transparência, boa governação e empoderamento.
Esta Declaração apoiou a ONU para o compromisso da Agenda 2030, a qual visa “garantir que todos tenham acesso e sejam capazes de compreender, utilizar e partilhar a informação necessária para promover o desenvolvimento sustentável e as sociedades democráticas” [4].
A proliferação de conteúdos na internet e nas redes sociais sem ligação a especialistas e à ciência, reforça a necessidades do desenvolvimento sustentável se ancorar na avaliação crítica de fontes e em competências de informação e media.
Fonte da imagem [5]
A Parceria para uma Educação Ecológica (Greening Education Partnership), lançada após a Cimeira Transformar a Educação (2022) e que visa pôr em prática currículos e escolas mais verdes, tem ligação essencial aos princípios da Declaração de Lyon, e contribui para unificação e coerência da ação das bibliotecas.
Fonte da imagem [6].
Na área das bibliotecas, o Manifesto Bibliotecas Verdes (Green Libraries Manifesto) [6], lançado durante a Semana das Bibliotecas Verdes 2023, realizada entre 2 a 8 de outubro, foi desenvolvido como resposta à COP26 e criado no âmbito do programa britânico para a sustentabilidade, Green Libraries Partnership [7]. Visa uma abordagem focada na ação e nos resultados e tem CILIP (Chartered Institute of Library and Information Professionals) e outros parceiros como anfitriões. O Manifesto baseia-se em 7 princípios, dos quais dois enquadram a literacia da informação: “Usar a nossa voz para mais impacto” e “Desenvolver e partilhar os nossos conhecimentos” [6].
A RBE disponibiliza uma tradução portuguesa do documento da IFLA - Secção Ambiente, Sustentabilidade e Bibliotecas, O que é uma Biblioteca Verde? que sintetiza as prioridades da agenda de bibliotecas verdes e sustentáveis.
A biblioteca trabalha a literacia ambiental – e as demais literacias – integrada na literacia digital, da informação e media, um dos seus principais focos, a par da cidadania democrática e do currículo.
Na sua abordagem inspira a curiosidade, o espírito crítico e a investigação, inclusive sobre os riscos da ansiedade climática para a saúde/ bem-estar e desencadeia a discussão para identificação dos principais problemas locais, apresentação de soluções e a sua concretização com/ para a comunidade. A série de curtas-metragens Film4Climate do Concurso Global de Vídeo da ONU [8] pode constituir recurso de partida para este caminho.
- Coleção
De forma coerente, a coleção da biblioteca – tal como o espaço físico, mobiliário e serviços - deve refletir as suas preocupações ambientais e sociais.
Promover o Acesso Aberto à informação e à ciência para garantir a rápida e acessível partilha de conhecimento confiável sobre o clima/ ambiente e os desafios sociais contribui para a transição justa e é missão fundamental da biblioteca.
Os requisitos sustentáveis de Edifícios, equipamento e gestão sustentáveis, documento de Klaus Werner são apresentados em documentos complementares, em formato de tabela e listagem, traduzidos pela RBE.
- Plano de Atividades e Parceiros
Também é crucial que o plano de atividades reflita a prioridade da mudança climática. O artigo da IFLA escrito no contexto da preparação da COP28 durante o Congresso Mundial de Bibliotecas e Informação 2023 (WLIC), apresenta 90 ideias para acelerar o empoderamento climático (Resultados do Mentimeter) [9], que podem ser recriadas para o contexto de cada biblioteca e Transformar a Educação: das ideias à ação apresenta 12 ações baseadas em propostas dos alunos portugueses.
Para que estas atividades produzam impacto e tenham continuidade no tempo, é fundamental a colaboração e o contacto com diversos parceiros que abracem este desígnio, nomeadamente locais:
“Comunicadores científicos, investigadores, jornalistas e grupos como o Scientists for Future (…) Grupos locais, ativistas e comunidades indígenas (…) universidades, estudantes, grupos de jovens e decisores políticos” [9].
Por trabalhar em ligação com todas as disciplinas/ especialistas, saberes e expressões a sua abordagem, liderança, infraestrutura física e digital e efeitos na sociedade é holístico/ multinível e inclusivo e este é um valor que lhe confere liberdade de pensamento e ação.
- Avaliação e advocacy
A recolha de dados da biblioteca deve incluir evidências quantitativas, testemunhos e histórias de sucesso.
Monitoriza-los, comunicá-los e influenciar, inclusive nas redes sociais, é imperioso para que a ação climática e ambiental possa crescer no terreno em apoio/ escala.
O poster da IFLA, Esta biblioteca apoia os ODS em português e editável pode constituir uma ferramenta útil.
Sobre o uso de tecnologias digitais é importante que a biblioteca assuma uma atitude crítica e transparente/ confiável, no sentido de avaliar e comunicar os resultados da sua pegada digital e investigar porque sobre os custos económicos e ambientais do digital reina a opacidade: será que o digital é mais ecológico do que o papel?
- Movimentos civis
No Contexto da COP28 a CAAD (Climate Action Against Disinformation/ Ação Climática Contra a Desinformação) publicou uma Carta Aberta na qual apela à ação que visa responsabilizar a presidência da COP e principais plataformas tecnológicas [10].
O movimento cívico internacional Avaaz.org, que reúne mais de 65 milhões de membros, designadamente jovens, tem como uma das suas missões identificar e denunciar desinformação porque esta tem o potencial de mudar a opinião pública, criar factos e mudar o curso da História. Na fonte mapeia as suas principais denuncias e ações – exemplos: “Cientistas sob ataque”, “O clima de engano do Facebook: como a desinformação viral alimenta a emergência climática”, “As notícias falsas estão a deixar-nos doentes?” [11].
Para uma transição justa que pare os combustíveis fosseis e o seu financiamento e apoie energias renováveis para todos, também se destaca o movimento global 350.org, cujo kit de ferramentas e noções de ciência climática pode ser útil [12].
Em Portugal destaca-se o caso, sem precedentes, de 6 jovens, apoiados pela GLAN (Global Legal Action Network), terem processado mais de 30 países europeus no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos [13].
III. Nota conclusiva
A 8 de outubro de 2021 o Conselho de Direitos Humanos da ONU reconheceu, através da resolução 48/13, que “ter um meio ambiente limpo, saudável e sustentável é um direito humano” e que exige “ação ousada” de todos.
Ao nível das bibliotecas escolares cabe o dever de apoiar a ação dos jovens e de movimentos de cidadãos que contribuam para a ação climática. Esta é um imperativo global para assegurar a sobrevivência da humanidade e dos ecossistemas naturais, para diminuir as desigualdades sociais e os conflitos e, no caso das bibliotecas, arquivos e museus, para preservar e transmitir às futuras gerações, as suas raízes e memória – registada nas suas coleções (as físicas são as mais vulneráveis) - e o seu património.
Referências
- UN Climnate Change. (2023). Action for Climate Empowerment. https://unfccc.int/topics/education-and-youth/big-picture/ACE
- UN Climate Change. (2023). Youth Affiliated Event 2023. https://unfccc.int/topics/education-youth/youth/youth-affiliated-event-2023
- Antunes do Carmo, J. & Caetano, F. (rev.). Perfil do país: CCE. GEM (UNESCO Global Education Monitoring Report) & MECCE (The Monitoring and Evaluating Climate Communication and Education Project). https://mecce.ca/country_profiles/cce-country-profile-portugal/#5-eael-table-of-content
- (2014). The Lyon Declaration. https://www.ifla.org/publications/the-lyon-declaration/
- (2023). Greening Education Partnership. https://tcg.uis.unesco.org/wp-content/uploads/sites/4/2022/12/WG_HHS_6_TCG_ESD_Nov22_UNESCO.pdf
- (2023). Green LIbraries Manifesto. https://cdn.ymaws.com/www.cilip.org.uk/resource/resmgr/cilip/advocacy/green_libraries/manifesto/green_libraries_manifesto_20.pdf
- (2023). Green Libraries. https://www.cilip.org.uk/page/GreenLibraries
- Film4Climate vídeos. https://www.bing.com/videos/search?q=Film4Climate+videos&FORM=HDRSC6
- (2023). Bibliotecas que capacitam a ação climática: ideias geradas durante a sessão climática WLIC 2023. https://www.ifla.org/news/libraries-empowering-climate-action-ideas-generated-during-wlic-2023-climate-session/
- (2023). Global action is required to tackle climate misinformation & disinformation. https://caad.info/open-letter/
- (2023). Investigative Reports. https://secure.avaaz.org/campaign/en/disinfo_hub/#disinfo-hub-section-tell-more
- org. (2023). Lutamos por um mundo além dos combustíveis fósseis. https://350.org/?r=PT&c=EU
- (2023). Uma prova como nenhuma outra. https://youth4climatejustice.org/
- 📷 Pexels/Karolina Grabowska