A substância das nuvens: o uso da Inteligência Artificial na educação
Ainda que nos pareça uma realidade distante, a Inteligência Artificial (IA) já marca presença na educação. Desde sistemas que geram testes, a aplicações para a aprendizagem de línguas, monitorização de fóruns de estudantes, recomendação automática de Recursos Educativos Abertos, deteção de plágio, diagnóstico de dificuldades de aprendizagem ou análise de dados educativos para atribuição de recursos, os exemplos abundam. Estamos preparados para que esta presença se torne cada vez mais constante?
O relatório “The use of Artificial Intelligence (AI) in education”, apresentado em maio de 2020 pela Comissão da Cultura e da Educação (CULT) do Parlamento Europeu, deixa algumas pistas para reflexão sobre as consequências do uso generalizado de sistema de “data-driven Artificial Intelligence” na educação. Esta expressão inglesa refere-se ao desenvolvimento que se verificou nos últimos nove anos no domínio da Inteligência Artificial e que foi impulsionado pela explosão de dados que passaram a estar acessíveis.
- Os aspetos relativos ao consumo de energia, muitas vezes ignorados, são relevantes na discussão sobre a utilização de sistemas de IA na educação, visto que os recentes desenvolvimentos nesta área podem não ser sustentáveis e existe o risco de que a IA ser torne a maior fonte de aquecimento global do planeta.
- Muitas empresas de IA que disponibilizam produtos educativos indicam que a sua atividade principal não se situa na área da Educação, mas, sim, na área de serviços de Tecnologias de Informação.
- Existem poucas evidências que demonstrem claramente o impacto dos sistemas de IA na aprendizagem. Considerando que o conhecimento do contexto é um ponto crítico para o sucesso, recomenda-se que os professores participem no desenvolvimento e implementação de sistemas de IA. Esta participação é crucial, já que, apesar do seu potencial, estes sistemas só beneficiarão a aprendizagem se forem utilizados pelos professores de forma pedagogicamente significativa.
- O desenvolvimento de sistemas de IA coloca desafios éticos, como o enviesamento dos dados que são introduzidos (ex: dados históricos que refletem preconceitos de género). Assim, é necessário assegurar que os sistemas de IA estão alinhados com os princípios éticos gerais que orientam a educação. As diretrizes que têm sido publicadas indicam alguns princípios que devem ser garantidos: transparência na tomada de decisões automatizadas, não discriminação, responsabilização e segurança.
- Na área da educação, os sistemas de IA trabalham com dados históricos e são incapazes de dar sentido a atos que não seguem o padrão previsto. Desta forma, quando os indivíduos se transformam em algo que antes não eram, ou seja, quando aprendem, os sistemas de IA têm dificuldades em compreendê-los. A utilização generalizada de sistemas de Inteligência Artificial pode limitar a plena realização do potencial humano.
Quando os alunos recorrem a legendas automáticas ou tradutores online, mostram que a IA já faz parte das suas rotinas e que tem potencial para ajudar a criar um novo ecossistema educativo. No entanto, embora venha a ser usada de forma generalizada na sociedade e na economia, a forma como a escola encara o futuro da aprendizagem vai determinar o impacto da IA na educação.