A inteligência artificial nas bibliotecas escolares: desafios e oportunidades
A utilização da inteligência artificial (IA) no nosso dia-a-dia é incontornável, mesmo que muitas vezes passe despercebida. Desde a personalização dos feeds das redes sociais, até aos assistentes virtuais como a Siri e a Alexa, a IA está, cada vez mais, presente na nossa vida. As plataformas de streaming recomendam-nos conteúdos com base em algoritmos de aprendizagem automática, enquanto as empresas de comércio eletrónico utilizam a IA para antecipar tendências de consumo. A tradução automática, os assistentes de voz que controlam dispositivos inteligentes nas nossas casas, o reconhecimento facial ou os chatbots de atendimento ao cliente são exemplos de como a tecnologia molda, muitas vezes impercetivelmente, a forma como vivemos e interagimos diariamente.
“Os especialistas são unânimes: a humanidade está no limiar de uma nova era. A Inteligência Artificial transformará as nossas vidas de uma maneira que não podemos imaginar” (Azoulay, 2018, p. 36).
Estas questões têm vindo a integrar as agendas dos diferentes organismos internacionais, nomeadamente a Comissão Europeia, a UNESCO e a OCDE, que procuram regular a utilização da IA e encontrar pontos de equilíbrio, assegurando a transparência, a responsabilidade e o respeito pelos direitos fundamentais no desenvolvimento e uso da inteligência artificial.
A educação também será fortemente abalada. “A AI no domínio da educação já não pertence a um futuro distante. Já está a mudar a forma como as escolas, as universidades e os educadores trabalham, bem como a forma como os nossos filhos aprendem” (Comissão Europeia, 2022, p. 6). Torna-se, por isso, crucial assegurar que a inteligência artificial promova uma educação de alta qualidade e oportunidades de aprendizagem acessíveis a todos, independentemente de género, deficiência, posição social ou económica, origem étnica ou cultural, ou localização geográfica (UNESCO, 2019).
Também as bibliotecas, um pouco por todo o mundo, discutem estas questões, tendo sido publicado pela IFLA (International Federation of Library Associations and Institutions[1]) um documento de trabalho que aponta para a necessidade de responder de forma estratégica aos desafios colocados pela IA. O texto está organizado em torno de um conjunto de questões que visam estimular a reflexão e a ação dos responsáveis pelas bibliotecas (IFLA, 2023).
A Rede de Bibliotecas Escolares, ciente da importância que esta temática assume nas escolas, publica o primeiro de uma série de artigos que abordam a inteligência artificial (IA) e as suas implicações para as bibliotecas escolares. O objetivo destes artigos é proporcionar uma visão geral e atualizada sobre a IA e as suas possibilidades para as bibliotecas escolares, bem como apresentar orientações práticas para quem deseja iniciar ou aprofundar o uso desta tecnologia. Esta utilização deve ser precedida de uma reflexão alargada, que será discutida nos próximos artigos:
- Como é que a IA se adequa à estratégia da biblioteca escolar, sobretudo tendo em conta o alinhamento à missão do Agrupamento de Escolas / Escola não Agrupada?
- Como criar uma resposta estratégica aos desafios colocados pela IA à aprendizagem, sobretudo num contexto em que os alunos já estão a utilizar ferramentas com IA?
- Como utilizar a IA para personalizar os percursos formativos dos alunos, adaptando-os às suas necessidades individuais?
- Como se devem preparar os professores bibliotecários e as equipas das bibliotecas para uma utilização eficaz da IA?
- Como tirar partido da IA para melhorar os serviços e recursos disponibilizados pela biblioteca?
- Que questões éticas, legais e pedagógicas a IA levanta às bibliotecas escolares e como assegurar a transparência e a equidade?
A inteligência artificial poderá ter um impacto nos serviços prestados pela biblioteca escolar, tornando-os mais eficazes e inclusivos. Para isso, é necessário implementar algumas mudanças, como por exemplo:
- a criação de espaços físicos e digitais inteligentes, com a automação de alguns processos;
- novas formas de interação com os utilizadores;
- novos formatos de apoio e formação.
O compromisso dos professores bibliotecários com o desenvolvimento profissional contínuo implica disponibilidade para acompanhar estas mudanças, isto é compreender o funcionamento dos algoritmos de IA, saber tirar partido das ferramentas disponíveis e ter uma atitude aberta em relação à aprendizagem e à inovação, adotando uma postura proativa. “O desafio não é proibir a IA, mas sim sermos melhores do que ela. Analisá-la, avaliá-la. E realizar aquilo que a IA não pode fazer” (UNESCO, 2023, p.38).
É fundamental colaborar com os utilizadores, alunos e professores, para compreender como estão a utilizar a IA e para que propósitos. Para além disso, a colaboração com outros profissionais, incluindo especialistas na área, é essencial para o sucesso deste cenário em constante evolução nas bibliotecas escolares.
Referências
- Azoulay. A. (2018, julho-setembro). Aproveitando o melhor da IA . O Correio da UNESCO, 3, 36-39. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000265211_por
- Comissão Europeia. (2022). Orientações éticas para educadores sobre a utilização de inteligência artificial (IA) e de dados no ensino e na aprendizagem. https://data.europa.eu/doi/10.2766/07
- IFLA. (2023). Developing a library strategic response to Artificial Intelligence. https://www.ifla.org/developing-a-library-strategic-response-to-artificial-intelligence/
- UNESCO. (2019). Consenso de Beijing Consensus sobre a inteligência artificial e a educação. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000372249
- UNESCO. (2023). Inteligencia Artificial¿ Necesitamos una nueva educación? https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000386262
Para saber mais:
[1] Para mais informações sobre a posição da IFLA a propósito da IA, consultar https://blogue.rbe.mec.pt/ifla-declaracao-sobre-bibliotecas-e-ia-2778509
Consulte também os vários artigos sobre a temática que têm vido a ser publicados no blogue RBE.