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Blogue RBE

Seg | 15.01.24

A biblioteca como pilar da integridade da informação

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Na sequência do lançamento do Resumo de Políticas Information Integrity on Digital Platforms e em parceria com a Federação Internacional de Associações e Instituições de Bibliotecas (IFLA), a Biblioteca Dag Hammarskjold da sede das Nações Unidas, Nova Yorque, organizou um encontro com bibliotecários, organizações de apoio às bibliotecas dos 5 continentes e membros da ONU, como a Subsecretária-Geral para Comunicações Globais, Melissa Fleming e a responsável pela integridade da informação, Charlotte Scratton.

O objetivo é “determinar onde e como as mais de 2,8 milhões de bibliotecas do mundo poderiam ajudar a alcançar os objetivos do futuro Código de Conduta para a Integridade da Informação” e reforçar a coerência e ambição [2].

O Relatório Preliminar do encontro, que serve de base a este artigo, apresenta 10 pontos de convergência que destacam “a biblioteca como infraestrutura-chave” para alcançar a integridade da informação pública e apresentam soluções concretas.

1. Ao destacar a importância do “acesso a informações exatas, coerentes e fiáveis” nas sociedades da informação atuais, Information Integrity on Digital Platforms preenche uma lacuna da Agenda 2030. Segundo Melissa Fleming, “um ecossistema de informação saudável não pode ser considerado um dado adquirido, mas precisa de atenção e investimento sustentados” e esta pode ser uma missão fundamental de todas as bibliotecas, ao enfatizarem a importância da informação e “ajudarem os utilizadores a utilizar a informação de forma eficaz e ética”.

2. “Precisamos de uma forte infraestrutura de instituições e pessoas que trabalhem para promover a integridade da informação nas comunidades” e as bibliotecas podem garantir esta oferta de forma personalizada. Intervenções exclusivamente a nível macro, por exemplo, ao nível das plataformas, podem ter efeitos prejudiciais.

3. Confiança na internet: “Não devemos tornar-nos negacionistas da Internet, mas sim procurar enfrentar os desafios que ela traz, de forma responsável e eficaz. Em alguns casos, tecnologias como a inteligência artificial podem ajudar a fornecer soluções […] A credibilidade na Internet exige transparência e regras eficazes, mas também utilizadores com competências e confiança”.

4. Só se pode garantir um ecossistema de informação saudável (healthy information ecosystem) – no qual há oportunidades “de acesso a informação exata, coerente e fiável” e em que estas são efetivamente acedidas pelos cidadãos - promovendo “uma prática científica ética”, o acesso livre e a ciência/educação, que “facilita a verificabilidade” e responde ao direito de cada um à informação.

5. Para promover um currículo completo (full curriculum) junto das crianças e jovens, “as bibliotecas são suportes naturais para os esforços de verificação de factos”, para aproximação à imprensa de qualidade – “bibliotecas e jornalistas são aliados naturais” - e desenvolvimento da argumentação.

6. As pessoas têm um sentido de curiosidade natural e uma necessidade de ter voz no espaço público. Quando têm medo da complexidade e incerteza existentes no mundo e aceitam ideias sem espírito crítico, “a desinformação e o discurso de ódio prosperam”. Ora, “Esta curiosidade é algo que se pode desenvolver através da exposição a um leque mais alargado de ideias e materiais desde tenra idade, por exemplo, através das bibliotecas”. É importante que esta curiosidade seja alimentada pelo “valor do jornalismo de qualidade, da ciência ética e da informação fiável”.

7. A IA (Inteligência Artificial) acrescenta “um novo nível de complexidade ao funcionamento da Internet e à forma como a experimentamos”, pelo que é fundamental a partilha de “experiência e conhecimentos sobre ética da informação na conceção de sistemas de IA” e “o desenvolvimento da literacia em IA entre os utilizadores da Internet de todas as idades - algo que as bibliotecas estão bem posicionadas para apoiar”.

8. As bibliotecas são “os atores de referência na promoção do respeito e do interesse por informação de qualidade”, promovendo “a verificação dos factos, ajudando estudantes, investigadores e profissionais a aprender a encontrar a informação correta e dando às pessoas as ferramentas para se manterem seguras na internet. A nível local, por exemplo, quando os governos municipais estão a tentar desenvolver a inclusão e os direitos digitais, a biblioteca é muitas vezes o principal ator”.

9. O Relatório Preliminar destaca ainda a necessidade de as bibliotecas contribuírem para promover a “compreensão da integridade da Informação e questões conexas em todas as partes do mundo”, o que exige a criação de instrumentos e materiais diversos, que tenham em contam culturas e necessidades diferentes da Europa e América do Norte, geografias nas quais esta investigação tem estado centrada. 

10. A eficácia de um ecossistema de informação saudável que garanta a integridade da Informação pública implica a colaboração de uma variedade de intervenientes e as bibliotecas têm esta capacidade de mobilização. Apoiam ainda o jornalismo e meios de comunicação independentes, criam oportunidades de verificação de factos, proporcionam acesso aberto e publicações científicas abertas e formam utilizadores de Internet confiantes e seguros, valorizando “uma informação exata, coerente e fiável”.

Concluindo, quando se pretendem implementar soluções de baixo para cima (bottom-up) que envolvam o maior número de pessoas, as bibliotecas escolares que trabalham no terreno com as crianças e jovens, têm um papel fundamental no combate à poluição da informação (information pollution) – informações falsas, enganosas, manipuladas [3] - que se dissemina muito mais rapidamente do que a proveniente de fontes fiáveis e corrói a confiança nas instituições democráticas, gera oposição às políticas públicas (climáticas, de inclusão social…) e violações aos direitos humanos e dificulta o alcance da Agenda 2030.

Referências

  1. Fleming, Melissa. (2023). Healing Our Troubled Information Ecosystem. https://melissa-fleming.medium.com/healing-our-troubled-information-ecosystem-cf2e9e8a4bed
  2. (2023). Pillars of Information Integrity. https://repository.ifla.org/handle/123456789/3136
  3. Oslo Governance Centre. (2023). Information Integrity. https://www.undp.org/policy-centre/oslo/information-integrity
  4. 📷 [1.]

 

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0