OCDE: Education at a Glance 2025

Education at a Glance 2025 da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) [1] é a publicação estatística internacional mais completa sobre os sistemas educativos, abrangendo os 38 países membros da OCDE e economias parceiras (Argentina, Brasil, Bulgária, China, Croácia, Índia, Indonésia, Peru, Roménia, Arábia Saudita, África do Sul).
Apresenta dados atualizados e comparáveis sobre a evolução do acesso, da qualidade e da internacionalização do ensino superior, bem como taxas de conclusão e de financiamento, resultados da educação e do mercado de trabalho por área de estudo.
Publicado anualmente, destaca um tema que, na edição de 2025, é o Ensino Superior.
Em Portugal a DGEEC (Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência) é a entidade responsável pela recolha, análise, harmonização - que permite a comparabilidade com outros países - e divulgação dos dados estatísticos para o Education at a Glance 2025. Faz ainda a apresentação pública do Relatório que, na edição 2025, decorreu no Teatro Thalia, em Lisboa, a 9 de setembro, dia de publicação do Relatório [2].
Do Relatório, destacam-se 2 aspetos, que desenvolveremos sobretudo a partir do Resumo do Relatório [1] e da Nota Concetual relativa a Portugal [3].
1. Persistência das desigualdades de acesso e de sucesso
Uma das principais conclusões do Relatório é a grande influência da origem e do contexto familiar na decisão de ingressar no ensino superior. Verifica-se uma desigualdade persistente, intergeracional, que prejudica a mobilidade económica e social:
“Em todos os países, crianças de origens desfavorecidas têm muito menos probabilidade de alcançar níveis educacionais mais elevados do que aquelas de origens mais favorecidas. Em média, na OCDE, apenas 26% [em Portugal, 23%] dos jovens adultos cujos pais não concluíram o ensino médio têm um diploma de ensino superior, em comparação com 70% [em Portugal, 73%] com pelo menos um dos pais com ensino superior”.
É difícil romper o ciclo de desigualdade e exclusão porque quanto maior é o nível de escolaridade (e o salário), maior é a valorização da educação - percecionada como elemento de progressão na vida e na carreira - e a probabilidade de participação em oportunidades de educação e formação:
“Em Portugal, como em todos os países da OCDE, os adultos com melhores competências de literacia têm maior probabilidade de participar em educação e formação. Em 2023, 80% dos adultos (25-64 anos) com elevada proficiência em literacia (ou seja, igual ou superior ao Nível 4) no Inquérito às Competências de Adultos participaram em educação e formação formal e/ou não formal no último ano, em comparação com apenas 22% daqueles com proficiência igual ou inferior ao Nível 1”.
Esta disparidade é muito maior em Portugal dos que na maioria dos países da OCDE.
1.1 Que ações políticas podem promover a equidade de acesso educativo?
A OCDE apresenta recomendações para diminuir as desigualdades de partida e considera que pô-las em prática é uma prioridade. Destas, destacamos:
A) Aumentar a frequência do pré-escolar e melhorar a qualidade dos cuidados na primeira infância – sistemas educativos que priorizam a primeira infância tendem a apresentar resultados académicos e sociais mais equitativos e robustos.
“Em Portugal, 68,2% do financiamento do ensino pré-primário e 56,1% do financiamento do ensino superior provêm de fontes públicas [Portugal investe mais no pré-escolar do que no ensino universitário], em comparação com as médias da OCDE de 85,6% e 71,9%, respetivamente”. E “no ensino pré-primário, a despesa pública em Portugal aumentou 9,3% entre 2015 e 2022”.
A escola deve compensar a desvantagem de ter menos estímulos em casa. É importante que, desde o pré-escolar, as crianças desenvolvam as mesmas competências e aspirações de aprendizagem.
B) Promover a educação e orientação profissional e criar programas de ensino superior adaptados a estudantes do ensino profissionalizante, que muitas vezes vêm de origens desfavorecidas.
Não obstante esta recomendação da OCDE, verifica-se em muitos países que:
- Os cursos técnicos superiores profissionais são frequentemente ignorados nos processos de admissão à universidade. Os alunos de cursos profissionais não têm entrada direta na universidade, têm de fazer exames de acesso ao ensino superior a título particular. A OCDE recomenda a expansão do acesso dos alunos destes cursos ao ensino superior, pois o mercado de trabalho necessita deles;
- Os programas universitários privilegiam a teoria e não conseguem alinhá-la com a experiência prática destes alunos. Não obstante as dificuldades que se colocam a alunos de cursos profissionalizantes, o Relatório mostra que apresentam taxas de conclusão do ensino superior semelhantes aos outros alunos e, a este nível, Portugal está acima da média da OCDE.
C) Aumentar o apoio financeiro (ação social) aos estudantes do ensino superior com mais carências - é necessário maior investimento público para terem as mesmas oportunidades. Subsídios e bolsas de estudo podem ajudar a cobrir as mensalidades e os custos de vida e permitem que os alunos se concentrem nos estudos, em vez de precisarem trabalhar para financiar a universidade.
2. Progresso no acesso e nas habilitações
O nível de escolaridade em todos os países apresenta-se mais alto do que nunca. Quase metade, 48%, dos jovens adultos, entre 25 e 34 anos, apresentam diplomas de ensino superior - em 2000 eram 27%.
De acordo com o Relatório, esta expansão do ensino superior tem consequências positivas a todos os níveis:
🟥Económico - mais e melhores empregos, mais estáveis e com salários mais elevados - “Os trabalhadores com ensino superior em Portugal ganham, em média, 74% mais do que os trabalhadores com conclusão do ensino secundário superior, acima da média da OCDE com 34%”.
🟥Social - menos propensão para fumar, perceção de melhor saúde e de níveis mais elevados de satisfação com a vida;
🟥Político – maior participação cívica.
O Relatório inclui um capítulo com os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Competências de Adultos 2023 (PIAAC - Programme for the International Assessment of Adult Competencies) da OCDE que evidencia que o nível de competências é proporcional ao nível de habilitações.
Em Portugal, desde o 25 de Abril tem havido um progresso continuo - mais significativo em Portugal do que nos outros países da OCDE - no acesso à educação e nas habilitações. Atualmente a média em Portugal aproxima-se da média da OCDE, apesar de ainda ser inferior. A proporção de jovens adultos:
🟥Com ensino superior, subiu de 38% (2019) para 43% (2024), ainda abaixo da média da OCDE (48%);
🟥Sem ensino secundário, desceu de 24% (2019) para 16% (2024), ainda abaixo da média da OCDE (13%).
🟥Com competências de Nível 1 ou inferior (só conseguem compreender textos muito curtos com o mínimo de informações) é 46%, quando a média da OCDE é 27% (PIAAC).
Contudo, em inúmeros países - e Portugal está abaixo da média da OCDE - obter um diploma do ensino superior não significa ter competências essenciais em literacia, numeracia ou resolução de problemas, o que levanta dúvidas sobre o valor real destes diplomas.
Portugal é um dos países que mais investe na educação, tendo em conta a despesa por aluno relativamente ao PIB per capita, apesar da despesa por aluno ser mais baixa do que a média da OCDE (porque o PIB de Portugal é inferior).
3. Outros aspetos
🟥Áreas STEM [ciência, tecnologia, engenharia e matemática] e Business Administration [negócios, administração e direito] apresentam vantagem de emprego.
🟥Taxa de conclusão do ensino superior: só 43% dos estudantes de licenciatura concluem o curso no tempo previsto e muitos desistem ou prolongam excessivamente os estudos, agravando o desperdício de investimento público, a escassez de competências e a frustração de expectativas.
🟥O envelhecimento do corpo docente e a endogamia académica - mais de metade do corpo docente estudou onde leciona.
🟥Salários dos professores – em Portugal são 28% superiores (na OCDE 17%) aos dos outros profissionais licenciados:
“Isso pode ser parcialmente explicado pelo fato de que a proporção de professores com 50 anos ter aumentado significativamente em Portugal (de 31% em 2013 para 56% em 2023) e, consequentemente, uma grande proporção de professores pode estar perto do topo de sua carreira docente”.
Contudo, os professores portugueses perderam poder de compra, os seus salários reais caíram 1,8% na última década, enquanto na média da OCDE subiram 14,6%.
Há um ano, a OCDE recomendava a valorização da carreira e dos salários dos professores para fazer face à falta destes profissionais e volta agora a insistir, “Salários competitivos podem tornar a profissão docente mais atrativa”.
Referências
1. OECD. (2025). Education at a Glance 2025: OECD Indicators, OECD Publishing. Paris. https://doi.org/10.1787/1c0d9c79-en.
2. DGEstE Ministério da Educação, Ciência e Inovação. (2025, 9 set.). Education at a Glance 2025. https://www.youtube.com/watch?v=gMR9LYWAQdU
3. OECD. (2025). Education at a Glance 2025: Portugal. Country Note. https://www.oecd.org/en/publications/education-at-a-glance-2025_1a3543e2-en/portugal_4692d9a6-en.html#section-d1e33
Fonte da Imagem [1]