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Blogue RBE

Qua | 24.09.25

Reforçar o papel das bibliotecas

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As bibliotecas trabalham numa diversidade de áreas de políticas públicas: educação e cultura, inclusão social, liberdade intelectual e de expressão, literacia digital e da informação e media.

Reconhecendo o seu impacto transversal, a IFLA lançou, em 2020, o Advoc8 que, depois de um período de suspensão, é relançado em junho de 2025. 

Advoc8 é uma série mensal que destaca 8 prioridades, mensagens-chave e insights, que posiciona as bibliotecas face a questões emergentes e acontecimentos internacionais. Cada prioridade inclui ligações a materiais úteis ou documentos de referência. 

É importante que os profissionais de bibliotecas as tenham em conta no seu trabalho de defesa das bibliotecas, a nível local e nacional. 

De acordo com o único número, desta nova série, até agora publicado, destacam-se, a nível mundial, as seguintes áreas prioritárias das bibliotecas. 

1. Cortes orçamentais têm impacto real nas comunidades

“Horários de funcionamento mais curtos, menos terminais de computador, um espaço menos acolhedor e coleções mais reduzidas significam menos possibilidades de acesso à informação e ao conhecimento de que as pessoas precisam e têm direito”.

De acordo com o IFLA Regional Advocacy Priorities Survey 2025 (Inquérito 2025 sobre as Prioridades Regionais de Advocacia da IFLA), globalmente, “As principais preocupações das bibliotecas ao refletirem sobre o seu ambiente são financeiras, seguidas de receios quanto à existência de consenso político” (Conclusão #2, p. 6) [3]. Ainda que persistam dificuldades ao nível das relações governamentais, as bibliotecas registam apoio da opinião pública e de parceiros não-governamentais e locais. 

2. Crescente censura nos países democráticos

As bibliotecas devem poder construir e gerir coleções sem interferência política: no cerne do trabalho das bibliotecas está o entendimento de que a liberdade intelectual depende da possibilidade de se envolver com uma ampla variedade de pontos de vista e desenvolver as suas próprias opiniões. Quando há interferência política – nomeadamente através da remoção de livros ou eliminação de arquivos” – diminuem os direitos das pessoas e a sociedade “é provável que seja menos criativa, inovadora, coesa ou democrática”. 

3. Educação climática 

As bibliotecas – e suas associações – têm um papel fundamental a desempenhar na mobilização das comunidades diante das mudanças climáticas”. Embora o princípio poluidor-pagador deva ser aplicado, “todos podem desempenhar um papel na construção de resiliência e na ecologização das suas comunidades”. 

Este destaque da IFLA evidencia a importância da literacia climática nas bibliotecas e responde ao interesse dos jovens, que têm vindo a exercer pressão no espaço público para que esta área seja uma prioridade política. 

De 10 a 21 de novembro decorrerá, no Brasil, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, COP30, oportunidade para as bibliotecas refletirem e melhorarem a sua comunicação e ação climática, podendo, segundo a IFLA, as associações de bibliotecas ajudar a mobilizá-las em larga escala. 

Brevemente, a Rede de Bibliotecas Escolares publicará um artigo sobre o envolvimento das bibliotecas na CCE (Climate Change Education - Educação para as mudanças climáticas), tendo por base dois documentos publicados pela IFLA:

🔺State of Library Engagement in Climate Communication and Education (Estado do Envolvimento das Bibliotecas em Comunicação e Educação Climática) [4], relatório baseado em quase 600 respostas que identifica tendências, recomendações e boas práticas globais. Encomendado pela IFLA a Aaron Redman, especialista independente, é elaborado em parceria com o MECCE (Monitorização e Avaliação de Comunicação e Educação Climática) e visa uma maior envolvimento das bibliotecas e associações de bibliotecas em todo o mundo nestas questões.

🔺How Libraries Engage in Climate Communication and Education (Como é que as Bibliotecas se Envolvem na Comunicação e Educação Climática) [5], resumo da IFLA sobre o relatório de Aaron Redman, que apresenta “recomendações e apelos à ação para promover o envolvimento das bibliotecas na ação climática e que os profissionais de bibliotecas podem usar para impulsionar a sua própria defesa do papel das bibliotecas na sustentabilidade ambiental”.

4. Inclusão digital significativa

As bibliotecas têm um papel fundamental a desempenhar na concretização da inclusão digital: durante séculos, a missão das bibliotecas centrou-se na disponibilização de acesso ao conhecimento” e, esse saber especializado e experiência, faz delas “uma excelente infraestrutura para uma inclusão digital significativa”. 

É importante que os profissionais de biblioteca participem ativamente nas discussões sobre inclusão digital do seu país, demostrando que as bibliotecas funcionam como “infraestruturas públicas digitais e espaços seguros para aqueles que ainda não estão confiantes on-line, e são uma oportunidade alternativa importante de conectividade para todos os outros”. 

5. Lugares seguros para refugiados

As bibliotecas devem ser lugares seguros para os refugiados, não de medo”: porque são refúgio seguro no processo de integração nos países de chegada e no contacto com os seus países de origem. 

É isto que está previsto nas Diretrizes da IFLA para Bibliotecas de Apoio a Pessoas Deslocadas, apesar de haver países, como a Suécia (e outros onde esta lei já se aplica), onde houve uma proposta de lei que pretendia obrigar os funcionários públicos, incluindo profissionais de biblioteca, a denunciar às autoridades cidadãos sem documentos. Esta proposta foi rejeitada após forte contestação dos bibliotecários (e outros funcionários públicos) suecos. Do inquérito realizado pelo sindicato DIK, “mais de nove em cada dez bibliotecários rejeitam a proposta de obrigação de denúncia” [6]. 

6. Serviço público essencial

“As bibliotecas são um serviço público essencial”, pois desempenham um “papel flexível, centrado nas pessoas e transversal (abrangendo tudo, desde a saúde pública até a participação dos cidadãos), eles são uma maneira excecionalmente moderna e empolgante de fornecer os serviços públicos aos quais as pessoas têm direito”.

Este estatuto fundamenta-se nas Diretrizes da IFLA/UNESCO e em legislação nacional, que as posicionam como infraestruturas fundamentais para o acesso universal à informação, educação e cultura. Fazer parte da infraestrutura pública exige proteção legal, financiamento estável e integração explícita nas políticas públicas de inclusão, digitalização, cidadania e coesão social.

7. Integridade da informação

As bibliotecas são a infraestrutura essencial para a integridade da informação: grande parte da discussão em torno da integridade da informação concentra-se na regulamentação das plataformas digitais”, tendo entrado em vigor na União Europeia:

📋17 fev. 2024 - Lei dos Serviços Digitais (Digital Services Act – DSA), que regula plataformas digitais de grande dimensão, impondo obrigações de transparência, responsabilidade, remoção de conteúdos ilegais e prevenção de desinformação;

📋1 ago. 2024 - Regulamento Europeu da Inteligência Artificial (Artificial Intelligence Act - AI Act), que estabelece os requisitos e obrigações para fornecedores de IA quanto à sua utilização específica;

📋1 jul. 2025 - Código de Conduta contra a Desinformação para grandes plataformas, obrigando-as a praticas efetivas de combate à desinformação, rotulação, remoção de contas falsas e monitorização de campanhas nocivas.

Contudo, segundo a IFLA, isso não é suficiente para garantir a integridade da informação, é preciso também apoiar as bibliotecas e seus profissionais: “igualmente importante é a forma como desenvolvemos [os bibliotecários] as atitudes e competências da população em geral para valorizar a informação precisa e ser capaz de a identificar”. Só este trabalho, continuado e integrado localmente, pode gerar impacto duradouro nas pessoas e comunidades. 

Leia no blogue RBE

Sobre liberdade intelectual, de acesso à informação e liberdade de expressão

Sobre educação e ação climática 

Referências

  1. Fonte da imagem: Our Life in Pixels. (2020, 9 Ago.). https://unsplash.com/pt-br/fotografias/menina-na-camiseta-branca-e-azul-do-pescoco-da-tripulacao-segurando-o-livro-Ys78stblUyY
  2. IFLA.(2025, Jun.). Advoc8 – Junho 2025. Library Policy and Advocacy Blog. https://blogs.ifla.org/lpa/2025/06/16/advoc8-june-2025/
  3. IFLA. (2025, 22 Jul.). IFLA Regional Advocacy Priorities Survey 2025. https://repository.ifla.org/items/3aa51793-c504-43cf-aa5c-37c3b40a7a8c
  4. Redman, A. (2025). State of Library Engagement in Climate Communication and Education. https://repository.ifla.org/items/b1ba3099-45c2-400f-93da-87726e7b127d
  5. IFLA. (2025). How Libraries Engage in Climate Communication and Education. https://repository.ifla.org/items/7007fa48-4387-4701-8c01-35ffecdb313c
  6. DIK. (2023). Bibliotecários suecos não pretendem registar pessoas sem documentos. https://dik.se/nyheter/sveriges-bibliotekarier-tanker-inte-ange-papperslosa
  7. 📷 Fonte da imagem [1].

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0