Leitura a par: quando um Voluntário e um livro fazem a diferença

A leitura a par é o centro da ação dos Voluntários de Leitura. Para além de uma técnica, é um espaço de encontro entre o aluno, o livro e o voluntário, com efeitos reais na fluência, compreensão e gosto pela leitura. Este texto destaca o valor desta prática e sugere caminhos para o seu reforço nas bibliotecas escolares.
A leitura a par é, cada vez mais, o coração do projeto Voluntários de Leitura. Longe de fórmulas rígidas ou métodos formais, trata-se de uma prática simples, próxima e poderosa: um voluntário partilha a leitura com uma criança, ao seu ritmo, com atenção e escuta. E é nesse espaço seguro, feito de palavras e presença, que muitas vezes se abrem portas para o gosto de ler, para a confiança e para o progresso.
Os dados recolhidos na edição 2024/2025 do projeto mostram que a leitura a par tem um impacto concreto nas competências dos alunos. Melhora a fluência, ajuda na compreensão, fortalece a confiança na leitura em voz alta e, sobretudo, aproxima os alunos dos livros. Voluntários, professores e bibliotecários concordam: é neste formato individual ou em pequenos grupos que se constrói uma relação mais significativa com a leitura.
Para que este momento seja realmente transformador, não é preciso seguir regras complicadas. O essencial é a consistência, a empatia e uma boa escolha de textos. Histórias curtas, envolventes, com linguagem acessível e imagens apelativas fazem toda a diferença. E também a forma como se lê: devagar, com expressividade, com tempo para conversar, para repetir, para imaginar.
Para que esta experiência resulte, há práticas que têm mostrado ser especialmente eficazes no contexto da leitura a par.
Durante as sessões:
- Permitir ao aluno a escolha do livro ou a releitura de histórias anteriores;
- Adaptar o ritmo da sessão ao aluno, aceitando silêncios e hesitações como parte do processo;
- Optar por livros curtos e explorar imagens, personagens e perguntas simples;
- Promover a releitura expressiva com entoação e ritmo adequados.
Atitudes e relações:
- Criar um ambiente empático, com escuta ativa e valorização dos progressos;
- Ser consistente na presença e pontualidade;
- Se o aluno estiver distraído ou irrequieto: Parar | Retomar a atenção | Reiniciar;
- Encerrar a sessão, se necessário, com um jogo verbal ou conversa leve, mantendo o vínculo.
Registo e partilha:
- Fazer anotações breves sobre cada sessão (o que funcionou, o que ajustar);
- Participar, sempre que possível, em momentos de partilha com outros voluntários.
O papel do professor bibliotecário é determinante neste processo, não para estar sempre presente, mas para garantir condições, orientar o início e acompanhar de forma leve, com sugestões, apoio logístico e articulação com os docentes. Quando o programa é integrado no plano de ação da biblioteca, ganha visibilidade e torna-se mais fácil de manter ao longo do ano.
Esse papel pode assumir formas muito simples, mas com grande impacto, sobretudo quando pensado de forma articulada com o que se passa na escola.
Integração no plano de ação da biblioteca:
- Incluir a leitura a par como atividade sistemática, com horários definidos e registos de progresso;
- Criar oportunidades de partilha e avaliação em momentos chave do ano letivo.
Planeamento e articulação:
- Definir, com os docentes, critérios claros de seleção dos alunos;
- Reunir com voluntários e professores titulares no início do ano para alinhar objetivos e rotinas.
Organização do espaço:
- Escolher um local calmo e acolhedor, com o mínimo de interrupções e distrações;
- Garantir conforto, boa iluminação e algum grau de privacidade;
Apoio continuado aos voluntários:
- Apoiar na escolha de livros adequados;
- Sugerir estratégias simples de mediação;
- Estar disponível para escuta e acompanhamento informal ao longo do ano.
A leitura a par não exige grandes recursos, mas exige intenção. É um investimento nas relações e na formação leitora das crianças. Uma prática discreta, mas com efeitos profundos.
Ler a par é fazer da leitura um lugar partilhado.