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Blogue RBE

Seg | 19.05.25

OCDE: Tendências que moldam a educação 2025

Blogue.jpgO relatório Trends Shaping Education 2025 é uma publicação trianual da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que, tal como as 6 edições anteriores:

  • Analisa as grandes forças globais - sociais, tecnológicos, económicos, ambientais e políticos - que estão a transformar os sistemas educativos;
  • Apresenta uma visão integrada e prospetiva da educação, explorando cenários alternativos e ferramentas de reflexão estratégica para antecipar disrupções e oportunidades futuras;
  • Informa e inspira decisores políticos, investigadores, líderes educativos e a sociedade em geral sobre como a educação pode contribuir para um futuro mais resiliente, inclusivo e sustentável. 

É relevante para as bibliotecas escolares, que desempenham um papel central na promoção da inclusão, inovação, literacia e desenvolvimento de competências essenciais para o século XXI. 

1. Principais Tendências e Recomendações 

A edição 2025 estrutura-se em quatro grandes eixos, que refletem as principais megatendências com impacto na educação (e nas bibliotecas escolares): 1. Conflito Global e Cooperação, 2. Trabalho e progresso, 3. Vozes e narrativas e 4. Corpo e mente. 

Ao longo do artigo evidenciamos a forma como as bibliotecas acompanham estas tendências, constroem resiliência e colaboram com a ação governativa.

1. Conflito Global e Cooperação

Este eixo “destaca como o recente aumento de conflitos globais e tensões geopolíticas está a pressionar os orçamentos públicos, com os gastos em segurança e defesa a crescerem frequentemente à custa de outras prioridades, como a educação”.  

Esta situação tem efeitos na qualidade e continuidade dos serviços educativos. 

O relatório sublinha o papel da cooperação internacional na formulação de políticas educativas inclusivas e equitativas e levanta questões sobre o contributo da educação para a construção de sociedades mais pacíficas e para o apoio a movimentos migratórios resultantes de conflitos e alterações climáticas.

Destaca o crescimento das desigualdades sociais, económicas e culturais em contextos de crise, como o atual. 

Recomendações

  • Investir em políticas de inclusão para grupos vulneráveis (migrantes, minorias, alunos com necessidades especiais);

  • Promover a equidade e a justiça social como pilares do sistema educativo;

  • Adaptar currículos e abordagens pedagógicas para que possam responder eficazmente à diversidade dos alunos. 

Neste âmbito, as bibliotecas escolares assumem-se como espaços seguros e inclusivos, que apoiam e acolhem alunos migrantes, incluindo afrodescendentes e da lusofonia e da comunidade Roma e promovem o diálogo intercultural.

2. Trabalho e progresso

O relatório evidencia que “os mercados de trabalho globais estão a transformar-se rapidamente devido à convergência de avanços tecnológicos, como a IA (Inteligência Artificial) [a Internet das Coisas (IoT) e Realidade Virtual (VR)] e às crescentes exigências de sustentabilidade”. Estas mudanças influenciam a procura de novas competências na educação e formação profissional.

No domínio tecnológico

A “explosão” de tecnologias digitais está a automatizar tarefas rotineiras e cognitivas, criando funções e empregos que exigem competências digitais, pensamento crítico, resolução de problemas e adaptabilidade. 

O crescimento do trabalho remoto está a modificar padrões laborais, promovendo estilos de vida mais flexíveis. 

A rápida evolução do mercado de trabalho exige que a aprendizagem seja flexível e contínua - “a aprendizagem ao longo da vida é essencial para a adaptação às mudanças tecnológicas e sociais”. Esta tendência traduz-se em:

  • Diversificação dos percursos educativos e valorização de competências não-formais;

  • Reforço da formação contínua e da reconversão profissional;

  • Parcerias entre escolas, empresas e universidades. 

Na escola [e na biblioteca], a digitalização e a adoção crescente de tecnologias, estão a redefinir o conceito de escola e “a transformar a forma como as pessoas aprendem, trabalham e interagem”. Esta tendência implica:

  • Personalização do ensino, adaptando conteúdos e métodos ao perfil e necessidades individuais dos alunos, melhorando os resultados de aprendizagem;

  • Novos desafios éticos e de equidade no acesso à tecnologia.

Recomendação

Integração da literacia digital em todos os currículos, preparando os alunos “para avaliar criticamente conteúdos digitais, proteger a sua privacidade e utilizar a tecnologia de forma a melhorar a aprendizagem e o bem-estar”. 

Esta é uma medida que está no cento da ação estratégica da Rede de Bibliotecas Escolares e que há que aprofundar em áreas emergentes, como inteligência artificial, programação, robótica, outras.

No domínio da sustentabilidade e ação climática

A transição para economias verdes está a aumentar a procura por empregos sustentáveis, mas a falta de consciência ambiental, de competências técnicas e de práticas de consumo sustentável pode dificultar este processo.  

Recomendações

Os sistemas educativos: 

  • “Desempenham um papel crucial na promoção da literacia sobre as interdependências entre sistemas naturais e sociais, evidenciando, por exemplo, como as alterações climáticas afetam a saúde pública ou como práticas agrícolas impactam os ecossistemas e a segurança alimentar”. A educação para o desenvolvimento sustentável e o pensamento sistémico devem ser integrados no currículo, promovendo-se competências para a cidadania ecológica e envolvendo-se as escolas e comunidades em projetos de sustentabilidade.

  • “Têm um papel fundamental na promoção de estilos de vida sustentáveis e na preparação para empregos verdes”.

A Sustentabilidade é um valor fundamental do Quadro Estratégico da Rede de Bibliotecas Escolares e deve ser tida em conta na planificação e ação estratégica da biblioteca escolar.

3. Vozes e narrativas 

Este eixo sublinha a importância de incluir diversas perspetivas e histórias no currículo, na política/ democracia, artes, media/ jornalismo e digital. 

Defende o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural, linguística e experiencial como elementos fundamentais para um ambiente educativo mais inclusivo, representativo e inovador. 

Destaca o papel da educação no desenvolvimento da cidadania ativa e na promoção da pluralidade de vozes e narrativas, referindo movimentos como #MeToo, Black Lives Matter, Fridays for Future e a descolonização como exemplos de discussões coletivas “sobre quem conta as histórias e quem é ouvido nas democracias [contemporâneas] e no panorama cultural global”. 

No próprio relatório, os cenários apresentados no final de cada capítulo - que exploram como o mundo e a educação poderão ser em 2040 - são acompanhados por narrativas ficcionais de atores-chave do setor educativo, que adotam diferentes perspetivas e contextos para inspirar a reflexão e a ação sobre futuros alternativos e os seus impactos na vida real

Num contexto de polarização política e desafios à democracia como o atual, a educação para a cidadania global e a participação democrática deve ganhar relevo. 

É “essencial preparar os jovens para serem cidadãos ativos e informados”, promover o diálogo intercultural, o respeito e a tolerância por diferentes culturas e combater a desinformação. 

As bibliotecas escolares cumprem estas recomendações ao: 

  • Construírem uma coleção inclusiva e diversa, com diferentes autores e protagonistas para obras literárias e diferentes idiomas, ideias e opiniões.

  • Recolherem e partilharem histórias reais autênticas e inspiradoras de pessoas diversas.

  • Desenvolverem projetos colaborativos que incentivam a intervenção comunitária.

4. Corpo e mente

O relatório reconhece a íntima ligação entre saúde física, saúde mental e aprendizagem e “o impacto de fatores sociais e ambientais no sucesso escolar”. 

Por isso, recomenda políticas e currículos que integrem o bem-estar físico e emocional na cultura escolar, incentivando 

  • Práticas de atividade física; 
  • Desenvolvimento de competências socio-emocionais e resiliência; 
  • Criação de ambientes escolares seguros e acolhedores; 
  • Apoio psicológico. 

Foi desde a pandemia Covid-19 que “o bem-estar se tornou um objetivo central das políticas educativas”, exigindo aos sistemas educativos respostas integradas e inovadoras.

As bibliotecas escolares contribuem para o bem-estar da comunidade educativa ao proporcionarem: 

  • Informações e recursos que promovem a consciencialização sobre questões de saúde mental e combatem os estigmas 
  • Um lugar seguro, onde todos os alunos podem ser acolhidos e encontrar consolo e proteção.

2. Os futuros possíveis da educação e a construção de resiliência 

O aspeto mais inovador/ controverso do relatório é a incorporação, no contexto da educação, de "Futuros Possíveis". 

Em vez de assumir que o futuro será apenas uma continuação linear do presente, o relatório propõe um exercício de pensamento prospetivo, desafiando os leitores a refletirem sobre diferentes cenários futuros - desde transformações radicais até potenciais colapsos sociais, ecológicos e tecnológicos - e a considerar como as políticas educativas podem ser adaptadas a cada um desses cenários.

A educação é um sistema dinâmico e flexível e, por isso, , é fundamental imaginar e planear como pode responder a contextos imprevisíveis, sobretudo perante desafios globais emergentes, como as crises climáticas, as rápidas mudanças tecnológicas e o agravamento das desigualdades sociais. 

Adotar esta abordagem de antecipação e adaptação torna o sistema educativo mais resiliente, preparado para enfrentar incertezas e transformar desafios em oportunidades de inovação e desenvolvimento.

Outros artigos

Referência

  1. OECD. (2025). Trends Shaping Education 2025. OECD Publishing, Paris. https://doi.org/10.1787/ee6587fd-en

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0