OCDE: Tendências que moldam a educação 2025
O relatório Trends Shaping Education 2025 é uma publicação trianual da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que, tal como as 6 edições anteriores:
- Analisa as grandes forças globais - sociais, tecnológicos, económicos, ambientais e políticos - que estão a transformar os sistemas educativos;
- Apresenta uma visão integrada e prospetiva da educação, explorando cenários alternativos e ferramentas de reflexão estratégica para antecipar disrupções e oportunidades futuras;
- Informa e inspira decisores políticos, investigadores, líderes educativos e a sociedade em geral sobre como a educação pode contribuir para um futuro mais resiliente, inclusivo e sustentável.
É relevante para as bibliotecas escolares, que desempenham um papel central na promoção da inclusão, inovação, literacia e desenvolvimento de competências essenciais para o século XXI.
1. Principais Tendências e Recomendações
A edição 2025 estrutura-se em quatro grandes eixos, que refletem as principais megatendências com impacto na educação (e nas bibliotecas escolares): 1. Conflito Global e Cooperação, 2. Trabalho e progresso, 3. Vozes e narrativas e 4. Corpo e mente.
Ao longo do artigo evidenciamos a forma como as bibliotecas acompanham estas tendências, constroem resiliência e colaboram com a ação governativa.
1. Conflito Global e Cooperação
Este eixo “destaca como o recente aumento de conflitos globais e tensões geopolíticas está a pressionar os orçamentos públicos, com os gastos em segurança e defesa a crescerem frequentemente à custa de outras prioridades, como a educação”.
Esta situação tem efeitos na qualidade e continuidade dos serviços educativos.
O relatório sublinha o papel da cooperação internacional na formulação de políticas educativas inclusivas e equitativas e levanta questões sobre o contributo da educação para a construção de sociedades mais pacíficas e para o apoio a movimentos migratórios resultantes de conflitos e alterações climáticas.
Destaca o crescimento das desigualdades sociais, económicas e culturais em contextos de crise, como o atual.
Recomendações
- Investir em políticas de inclusão para grupos vulneráveis (migrantes, minorias, alunos com necessidades especiais);
- Promover a equidade e a justiça social como pilares do sistema educativo;
- Adaptar currículos e abordagens pedagógicas para que possam responder eficazmente à diversidade dos alunos.
Neste âmbito, as bibliotecas escolares assumem-se como espaços seguros e inclusivos, que apoiam e acolhem alunos migrantes, incluindo afrodescendentes e da lusofonia e da comunidade Roma e promovem o diálogo intercultural.
2. Trabalho e progresso
O relatório evidencia que “os mercados de trabalho globais estão a transformar-se rapidamente devido à convergência de avanços tecnológicos, como a IA (Inteligência Artificial) [a Internet das Coisas (IoT) e Realidade Virtual (VR)] e às crescentes exigências de sustentabilidade”. Estas mudanças influenciam a procura de novas competências na educação e formação profissional.
No domínio tecnológico
A “explosão” de tecnologias digitais está a automatizar tarefas rotineiras e cognitivas, criando funções e empregos que exigem competências digitais, pensamento crítico, resolução de problemas e adaptabilidade.
O crescimento do trabalho remoto está a modificar padrões laborais, promovendo estilos de vida mais flexíveis.
A rápida evolução do mercado de trabalho exige que a aprendizagem seja flexível e contínua - “a aprendizagem ao longo da vida é essencial para a adaptação às mudanças tecnológicas e sociais”. Esta tendência traduz-se em:
- Diversificação dos percursos educativos e valorização de competências não-formais;
- Reforço da formação contínua e da reconversão profissional;
- Parcerias entre escolas, empresas e universidades.
Na escola [e na biblioteca], a digitalização e a adoção crescente de tecnologias, estão a redefinir o conceito de escola e “a transformar a forma como as pessoas aprendem, trabalham e interagem”. Esta tendência implica:
- Personalização do ensino, adaptando conteúdos e métodos ao perfil e necessidades individuais dos alunos, melhorando os resultados de aprendizagem;
- Novos desafios éticos e de equidade no acesso à tecnologia.
Recomendação
Integração da literacia digital em todos os currículos, preparando os alunos “para avaliar criticamente conteúdos digitais, proteger a sua privacidade e utilizar a tecnologia de forma a melhorar a aprendizagem e o bem-estar”.
Esta é uma medida que está no cento da ação estratégica da Rede de Bibliotecas Escolares e que há que aprofundar em áreas emergentes, como inteligência artificial, programação, robótica, outras.
No domínio da sustentabilidade e ação climática
A transição para economias verdes está a aumentar a procura por empregos sustentáveis, mas a falta de consciência ambiental, de competências técnicas e de práticas de consumo sustentável pode dificultar este processo.
Recomendações
Os sistemas educativos:
- “Desempenham um papel crucial na promoção da literacia sobre as interdependências entre sistemas naturais e sociais, evidenciando, por exemplo, como as alterações climáticas afetam a saúde pública ou como práticas agrícolas impactam os ecossistemas e a segurança alimentar”. A educação para o desenvolvimento sustentável e o pensamento sistémico devem ser integrados no currículo, promovendo-se competências para a cidadania ecológica e envolvendo-se as escolas e comunidades em projetos de sustentabilidade.
- “Têm um papel fundamental na promoção de estilos de vida sustentáveis e na preparação para empregos verdes”.
A Sustentabilidade é um valor fundamental do Quadro Estratégico da Rede de Bibliotecas Escolares e deve ser tida em conta na planificação e ação estratégica da biblioteca escolar.
3. Vozes e narrativas
Este eixo sublinha a importância de incluir diversas perspetivas e histórias no currículo, na política/ democracia, artes, media/ jornalismo e digital.
Defende o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural, linguística e experiencial como elementos fundamentais para um ambiente educativo mais inclusivo, representativo e inovador.
Destaca o papel da educação no desenvolvimento da cidadania ativa e na promoção da pluralidade de vozes e narrativas, referindo movimentos como #MeToo, Black Lives Matter, Fridays for Future e a descolonização como exemplos de discussões coletivas “sobre quem conta as histórias e quem é ouvido nas democracias [contemporâneas] e no panorama cultural global”.
No próprio relatório, os cenários apresentados no final de cada capítulo - que exploram como o mundo e a educação poderão ser em 2040 - são acompanhados por narrativas ficcionais de atores-chave do setor educativo, que adotam diferentes perspetivas e contextos para inspirar a reflexão e a ação sobre futuros alternativos e os seus impactos na vida real
Num contexto de polarização política e desafios à democracia como o atual, a educação para a cidadania global e a participação democrática deve ganhar relevo.
É “essencial preparar os jovens para serem cidadãos ativos e informados”, promover o diálogo intercultural, o respeito e a tolerância por diferentes culturas e combater a desinformação.
As bibliotecas escolares cumprem estas recomendações ao:
- Construírem uma coleção inclusiva e diversa, com diferentes autores e protagonistas para obras literárias e diferentes idiomas, ideias e opiniões.
- Recolherem e partilharem histórias reais autênticas e inspiradoras de pessoas diversas.
- Desenvolverem projetos colaborativos que incentivam a intervenção comunitária.
4. Corpo e mente
O relatório reconhece a íntima ligação entre saúde física, saúde mental e aprendizagem e “o impacto de fatores sociais e ambientais no sucesso escolar”.
Por isso, recomenda políticas e currículos que integrem o bem-estar físico e emocional na cultura escolar, incentivando
- Práticas de atividade física;
- Desenvolvimento de competências socio-emocionais e resiliência;
- Criação de ambientes escolares seguros e acolhedores;
- Apoio psicológico.
Foi desde a pandemia Covid-19 que “o bem-estar se tornou um objetivo central das políticas educativas”, exigindo aos sistemas educativos respostas integradas e inovadoras.
As bibliotecas escolares contribuem para o bem-estar da comunidade educativa ao proporcionarem:
- Informações e recursos que promovem a consciencialização sobre questões de saúde mental e combatem os estigmas
- Um lugar seguro, onde todos os alunos podem ser acolhidos e encontrar consolo e proteção.
2. Os futuros possíveis da educação e a construção de resiliência
O aspeto mais inovador/ controverso do relatório é a incorporação, no contexto da educação, de "Futuros Possíveis".
Em vez de assumir que o futuro será apenas uma continuação linear do presente, o relatório propõe um exercício de pensamento prospetivo, desafiando os leitores a refletirem sobre diferentes cenários futuros - desde transformações radicais até potenciais colapsos sociais, ecológicos e tecnológicos - e a considerar como as políticas educativas podem ser adaptadas a cada um desses cenários.
A educação é um sistema dinâmico e flexível e, por isso, , é fundamental imaginar e planear como pode responder a contextos imprevisíveis, sobretudo perante desafios globais emergentes, como as crises climáticas, as rápidas mudanças tecnológicas e o agravamento das desigualdades sociais.
Adotar esta abordagem de antecipação e adaptação torna o sistema educativo mais resiliente, preparado para enfrentar incertezas e transformar desafios em oportunidades de inovação e desenvolvimento.
Outros artigos
- OCDE: Tendências para a educação em 2022
- De volta ao Futuro da Educação - Quatro Cenários da OCDE ...
- OCDE : Education at a Glance 2022 – um retrato português
- OCDE: A persistência das diferenças de género na educação e competências
- Futuro da Educação e Competências 2030 - Bússola de ...
- Education at a Glance: Um olhar sobre a Educação em 2023
Referência
- OECD. (2025). Trends Shaping Education 2025. OECD Publishing, Paris. https://doi.org/10.1787/ee6587fd-en