Novos Horizontes da Inteligência Artificial nas Bibliotecas
A obra New Horizons in Artificial Intelligence in Libraries, editada por Edmund Balnaves, Leda Bultrini, Andrew Cox e Raymond Uzwyshyn, publicada pela IFLA (International Federation of Library Associations and Institutions), explora o impacto crescente da Inteligência Artificial (IA) no setor das bibliotecas. Por ser um assunto de grande importância para o nosso setor de atividade, apresentamos um resumo do livro que, por estar em acesso aberto, pode ser lido na íntegra, fazendo o download de cada capítulo.
Organizado em quatro partes principais, o livro aborda desde a situação atual da IA nas bibliotecas até projetos concretos e implicações éticas.
Inteligência Artificial e Bibliotecas: Introdução
O livro introduz a IA como um conjunto de sistemas informáticos que realizam tarefas anteriormente reservadas ao intelecto humano, como reconhecimento de imagens, análise de dados e processamento de linguagem natural. A tecnologia está a ser cada vez mais integrada nos serviços bibliotecários, melhorando a pesquisa, a classificação e a personalização da experiência do utilizador. Além disso, a IA permite otimizar a organização das coleções e facilitar o acesso a grandes volumes de dados, tornando o trabalho dos bibliotecários mais eficiente.
Ao longo da introdução, os autores analisam a evolução da IA desde os primeiros sistemas de automatização até às tecnologias mais avançadas, como os modelos de linguagem generativa e redes neurais profundas. A implementação da IA em bibliotecas não é apenas uma questão de inovação tecnológica, mas também uma transformação estrutural dos serviços oferecidos ao público.
Parte I
Estado da arte em Inteligência Artificial nas Bibliotecas
A primeira parte do livro discute o modo como a IA já está presente nas bibliotecas, auxiliando na classificação automática de documentos, na análise semântica de textos e na recomendação de conteúdos personalizados. Destacam-se iniciativas europeias que procuram desenvolver a IA de forma ética, garantindo transparência e equidade no acesso ao conhecimento.
Além disso, referem-se as novas abordagens para digitalização de acervos, ferramentas de análise preditiva para identificar tendências de uso de materiais e sistemas inteligentes para facilitar a navegação em bases de dados complexas. Essas tecnologias permitem que as bibliotecas modernizem os seus serviços e aumentem a sua relevância para os utilizadores.
Outro ponto relevante abordado é a integração da IA em catálogos eletrónicos e interfaces de pesquisa, permitindo que os utilizadores obtenham resultados mais precisos através da análise de padrões de pesquisa e interesses.
Ferramentas como chatbots avançados e assistentes virtuais estão a tornar-se comuns para facilitar a interação com os serviços bibliotecários.
Parte II
Implicações da Inteligência Artificial na educação e nas bibliotecas
A segunda parte foca-se nos desafios e oportunidades trazidos pela IA para bibliotecas académicas e instituições de ensino. São abordados temas como:
- O impacto da IA na educação: A personalização da aprendizagem através da IA pode permitir um ensino mais adaptado às necessidades individuais dos alunos, melhorando a retenção de informação e a acessibilidade a recursos educativos. A IA pode ajudar a criar ambientes de aprendizagem imersivos, proporcionando feedback imediato e adaptando os materiais ao nível de conhecimento de cada estudante;
- O risco de vieses algorítmicos nos sistemas de IA: Como os algoritmos de IA são treinados em dados históricos, podem reproduzir e amplificar preconceitos, afetando a equidade no acesso à informação. Os autores alertam para a necessidade de monitorização constante dos sistemas e a criação de mecanismos que garantam justiça e inclusão na recomendação de conteúdos;
- A necessidade de políticas que garantam um desenvolvimento ético da tecnologia: Para evitar problemas como a manipulação de informações ou discriminação, é essencial desenvolver normas claras para o uso da IA nas bibliotecas. Os autores destacam exemplos de regulamentações emergentes e diretrizes propostas por organizações internacionais para garantir que a IA seja utilizada de forma responsável.
Parte III
Projetos em Aprendizagem Automática e Processamento de Linguagem Natural
Nesta seção, são apresentados projetos práticos que demonstram a aplicação da IA em bibliotecas, incluindo:
- Modelagem de tópicos para classificação automática de documentos: Sistemas baseados em IA são utilizados para agrupar documentos por temas de forma automatizada, facilitando a recuperação de informações. Algoritmos de clustering e análise semântica desempenham um papel essencial na criação de taxonomias dinâmicas;
- Reconhecimento de entidades em registos bibliográficos: Técnicas de IA permitem identificar autores, títulos, assuntos e outros elementos relevantes para a indexação automática. O uso de redes neurais para extrair metadados tem contribuído para a melhoria dos sistemas de recuperação de informação;
- Uso de IA para otimizar os processos de catalogação e indexação: Soluções inteligentes são desenvolvidas para agilizar o trabalho de catalogadores e melhorar a precisão das descrições bibliográficas. A automação baseada em IA reduz significativamente o tempo necessário para catalogação manual, garantindo maior uniformidade nos registos.
Além destes exemplos, o livro apresenta casos em que IA é utilizada para melhorar a acessibilidade, como na criação de descrições automáticas de imagens e na transcrição de conteúdos audiovisuais. Essas tecnologias beneficiam utilizadores com deficiência visual ou auditiva, tornando o acesso à informação mais inclusivo.
Parte IV
Inteligência Artificial nos Serviços Bibliotecários
A última parte explora casos reais de bibliotecas que já utilizam IA, tais como:
- Uso de chatbots para melhorar a assistência ao utilizador: Há bibliotecas que implementam assistentes virtuais para responder a perguntas frequentes, facilitar a pesquisa e orientar os utilizadores. Por exemplo, algumas bibliotecas universitárias que utilizam IA para oferecer suporte 24/7;
- Implementação de jogos educativos baseados em IA para promover a literacia digital: Algumas bibliotecas utilizam inteligência artificial para desenvolver atividades interativas que ensinam competências digitais de forma lúdica. Estes jogos ajudam os utilizadores a compreender melhor a gestão da informação e a navegação em bases de dados;
- Desenvolvimento de assistentes virtuais para apoiar a pesquisa académica: Sistemas baseados em IA ajudam investigadores a encontrar artigos relevantes, sugerem referências bibliográficas e organizam informações de forma automatizada. Estas ferramentas estão a ser integradas em plataformas de gestão de conhecimento para facilitar o trabalho de investigadores e estudantes.
Conclusão
O livro enfatiza a necessidade de uma abordagem equilibrada à adoção da IA em bibliotecas, considerando tanto os avanços tecnológicos como as implicações éticas e sociais. A IA tem o potencial de revolucionar a forma como as bibliotecas operam, mas é fundamental garantir que a sua implementação seja transparente, acessível e eticamente responsável.
Além disso, a obra destaca a importância do papel dos bibliotecários no uso da IA, enquanto curadores e mediadores da informação, assegurando que as novas tecnologias sejam utilizadas de forma justa e eficiente para o benefício de toda a comunidade. A formação contínua dos profissionais da informação e o desenvolvimento de competências digitais são essenciais para garantir que a IA seja implementada de forma sustentável e eficaz.
Balnaves, E., Bultrini, L., Cox, A. & Uzwyshyn, R. (2025). New Horizons in Artificial Intelligence in Libraries. Berlin, Boston: De Gruyter Saur. https://doi.org/10.1515/9783111336435