O conceito de Impressão Digital/Manual de Carbono (Carbon Handprint) foi usado pela primeira vez pela UNESCO, em 2007, “como uma medida de ação de Educação para o Desenvolvimento Sustentável, com o objetivo de diminuir a pegada humana” [2].
Refere-se aos impactos ambientais positivos que uma organização pode alcançar e comunicar/ advocacy.
2. Qual é a sua importância?
A Rede de Bibliotecas Escolares contactou a Carbon Footprint Ltda, especialista em emissões de carbono, que informou que o cálculo da Impressão Digital é qualitativo - apesar de se poder fazer uma estimativa quantitativa usando uma calculadora - e que o importante é medir com precisão a Pegada de Carbono, para que esta possa ser reduzida e ser feito um plano para atingir zero emissões nos próximos anos.
Ainda assim, é importante a comparação com “alternativas tradicionais típicas” que indicam a Impressão Digital, para que a biblioteca escolar possa demonstrar publicamente os seus benefícios de baixo carbono.
A biblioteca escolar pode usar a calculadora de carbono on-line gratuita da Carbon Footprint (nova versão Beta 2024 - Sustrax Lite) [3], encontrando os critérios do cálculo na fonte [4], para os quais deve compilar dados do último ano.
Para além desta calculadora, há muitas outras que pode usar, como a 2030 Calculator da Fin-TechDoconomia, parceira das Nações Unidas ou a Calculadora da Greebly, ou da CoolClimate ou da Conservation International. Nenhuma apresenta calculadora de Impressão Digital automática.
3. Que fatores podem ser contabilizados na Impressão Digital de Carbono?
A biblioteca contribui para o aumento da Impressão Digital adotando práticas de Economia de Partilha, como a disponibilização de coleções, dispositivos, serviços e espaços acessíveis a todas aas pessoas.
Obtém-se o grau de redução de CO², comparando a Pegada de Carbono de um recurso de referência – e.g. livro em papel – com a utilização do mesmo melhorada – e.g. livro emprestado a diversos leitores, ao longo do seu tempo de vida útil. Outro exemplo, é a comparação entre a deslocação através de carro elétrico e o seu equivalente a gasolina: segundo a ONG Transport & Environment, carros elétricos europeus emitem 3 vezes menos CO² [5].
Práticas de Economia Circular, como reparar equipamentos e reciclar e reutilizar resíduos - evitar a palavra lixo, pois este deve ser perspetivado como matéria-prima - também contribuem para aumentar a Impressão Digital da biblioteca.
Empresas e instituições parceiras com Impressão Digital de Carbono positiva têm sistemas de devolução dos produtos para reutilização/reciclagem - que pode implicar descontos ou benefícios na próxima compra/utilização - e contabilizam quantos produtos evitaram que fossem consumidos.
Economia Circular é um “modelo de produção e consumo, que envolve compartilhar, alugar, reutilizar, reparar, reformar e reciclar materiais e produtos existentes pelo maior tempo possível”, prolongando o ciclo de vida dos produtos, através da redução ao mínimo do desperdício e da reutilização contínua [6].
Adquirir produtos de garantia vitalícia, fazer uma visita de estudo com os alunos deslocando-se de bicicleta ou criar parcerias com fornecedores e parceiros com preocupações sociais e sustentáveis e de Comércio Justo, são outras formas de evitar emissões que podem ser contabilizadas.
A criação de um banco do tempo, ferramenta de Economia Solidáriaque consiste na troca de serviços, também reduz a Pegada de Carbono do leitor/utilizador e da biblioteca.
A criação de atividades – por exemplo, no Dia Mundial da Alimentação ou sobre a Dieta Mediterrânica, património cultural imaterial da humanidade da UNESCO ou cultivo de uma horta escolar de agricultura biológica - que incentivem a Estratégia do Prado ao Prato (Comissão Europeia, 2020) e que passam pela conceção do menu com alimentos locais, sazonais e orgânicos, sem pesticidas, também são contabilizadas.
Se a Pegada de Carbono da biblioteca deriva sobretudo dos consumos do Edifício e o seu aumento provoca a diminuição da Sustentabilidade Física da biblioteca, a Impressão Digital é um critério positivo, cujo aumento provoca uma maior Sustentabilidade Qualitativa e Social da biblioteca, que beneficia os utilizadores e a comunidade nos diversos setores [7].
A biblioteca é neutra em carbono quando a dimensão da sua Pegada de Carbono coincide com a dimensão da sua Impressão Digital e tem um impacto positivo no clima sempre que esta é superior aquela e, neste caso, significa que ela está a ajudar as pessoas a tornarem-se neutras em emissões.
4. Como compensar as emissões de que a biblioteca é responsável?
No caso de a Pegada de Carbono da biblioteca ser superior à sua Impressão Digital, é necessário realizar ações de compensação.
Tendo por base critérios de justiça, a Compensação de Carbono (Carbon Offsetting) permite equilibrar as emissões no Planeta e pode fazer-se realizando ações ou projetos que contribuam para a mudança climática, como plantar árvores ou fazer voluntariado junto de populações vulneráveis.
Conscientes de que reduzir as emissões não é suficiente, eventos das Nações Unidas, da Cimeira de Davos ou da Jornada Mundial da Juventude têm calculadoras próprias que medem as emissões e propõem ações de compensação.
5. Instrumento para melhoria das políticas públicas
O método da pegada centrado no utilizador, de modo a que ele tenha controlo de todo o processo, é usado para “medir e comunicar o potencial impacto ambiental do ciclo de vida” de um produto ou organização e é recomendado pela Comissão Europeia porque é de fácil adoção, facilita a comparabilidade de dados e informa os decisores políticos constituindo uma importante ferramenta para a tomada de decisões políticas [8].
Grönman et al. (2018). Carbon handprint – An approach to assess the positive climate impacts of products demonstrated via renewable diesel case. Journal of Cleaner Production, vol. 206, pp. 1059-1072. https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2018.09.233
Em 1909, nos Estados Unidos, a 28 de fevereiro, ocorreu a primeira celebração nacional do Dia da Mulher, organizada pelo Partido Socialista da América em homenagem à greve dos trabalhadores do vestuário de 1908 em Nova York.
Em 1910, na Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em Copenhaga, Clara Zetkin propõe a criação de um Dia Internacional da Mulher para promover a igualdade de direitos e o sufrágio feminino. A proposta foi aprovada por unanimidade por mais de 100 mulheres de 17 países.
A 19 de março de 1911, foi celebrado o primeiro Dia Internacional da Mulher em vários países europeus. No entanto, esta celebração só foi oficializada em 1975, em assembleia da Organização das Nações Unidas.
Para que o dia 8 de março continue a ser comemorado propomos que as Bibliotecas Escolares festejem este dia com livros, lendo e divulgando. Muitos são os títulos disponíveis, no mercado e nas bibliotecas, que se apresentam como excelentes sugestões, deixamos-vos as seguintes propostas:
Todos Devemos Ser Feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie[1].
Em 2012, apresentação We Should All Be Feminists, numa conferência TED, a qual começou a ser conhecida, um pouco por todo o mundo, e originou um livro, publicado em 2014. A primeira parte é uma adaptação do deste seu discurso e a segunda parte tem um pequeno conto intitulado "Casamenteiros".
Neste pequeno livro, mas poderoso, podemos ler:
“Em 2003, escrevi um romance chamado A cor do Hibisco, sobre um homem que, entre outras coisas, batia na mulher, e a sua história não acaba lá muito bem. Enquanto eu divulgava o livro na Nigéria, um jornalista, um homem bem-intencionado, veio dar-me um conselho (talvez vocês saibam que os Nigerianos estão sempre prontos a dar conselhos, mesmo que ninguém os tenha pedido).
Ele comentou que as pessoas andavam a dizer que o meu livro era feminista. O seu conselho – disse, abanando a cabeça com um ar consternado – era que eu nunca, nunca me definisse como feminista, já que as feministas são mulheres infelizes que não conseguem arranjar marido.
Então decidi autointitular-me de «feminista feliz».
Mais tarde, uma professora universitária nigeriana veio dizer-me que o feminismo não fazia parte da nossa cultura, que era antiafricano, e que, se eu me considerava feminista, era porque havia sido corrompida pelos livros ocidentais (o que achei engraçado, porque passei boa parte da juventude a devorar romances que eram tudo menos feministas: devo ter lido toda a coleção da Mills & Boon antes dos dezasseis anos. E sempre que tentava ler os tais textos clássicos sobre o feminismo, ficava entediada e mal conseguia terminar).
De qualquer forma, já que o feminismo era antiafricano, resolvi considerar-me uma «feminista feliz africana». Depois, uma grande amiga disse-me que, se eu era feminista, então devia odiar os homens. Decidi tornar-me então uma «feminista feliz africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e saltos altos para si mesma, e não para os homens.»
É claro que não estou a falar a sério, queria ilustrar apenas o quão negativa é a carga da palavra feminista: a feminista odeia os homens, odeia sutiãs, odeia a cultura africana, acha que as mulheres devem mandar nos homens; ela não se pinta, não se depila, está sempre zangada, não tem sentido de humor, não usa desodorizante.”
Já está disponível uma edição ilustrada e adaptada ao público mais jovem do livro Todos Devemos Ser Feministas.
Outras sugestões de leituras para comemorar o Dia Internacional da Mulher:
Nota:
[i]Chimamanda Ngozi Adichie nasceu é uma escritora nigeriana que tem vindo a destacar-se no mundo literatura, sobretudo pelos temas eleitos.
Nasceu em Enugu, no dia 15 de setembro de 1977.
Aos 16 anos, deixou a Nigéria e viajou até aos Estados Unidos onde foi estudar Comunicação na Drexel University, em Philadelphia, mas foi em Eastern Connecticut State University que se licenciou em Comunicação e Ciência Política. Mais tarde fez um mestrado em escrita criativa na Johns Hopkins University, em Baltimore, e estudou História Africana na Yale University.
Chimamanda Ngozi Adichie é atualmente uma das maiores vozes da literatura africana, tendo as suas obras já sido traduzidas para mais de trinta idiomas.
por Juliana Fernandes, Diretora da Biblioteca Municipal Raul Brandão, Guimarães
A Rede de Bibliotecas do concelho de Guimarães é constituída pela Biblioteca Municipal Raul Brandão, três Polos (Taipas, Pevidém e Lordelo) e cinquenta e três Bibliotecas Escolares.
Guimarães é um dos concelhos do país com o maior número de bibliotecas em estabelecimentos de ensino (integradas na Rede de Bibliotecas Escolares), complementando, assim, o trabalho realizado pela Biblioteca Municipal e os respetivos polos.
Biblioteca Municipal Raul Brandão (BMRB)
A Biblioteca Municipal está perfeitamente integrada no seu meio e direcionada para servir os interesses e necessidades dos seus utilizadores, com um quadro de pessoal qualificado (31 colaboradores), dispondo de fundos documentais atualizados e diversificados, em livre acesso e para empréstimo domiciliário. Possui um portal online, em constante atualização, que permite, entre outros aspetos, o acesso ao Catálogo Coletivo Concelhio, e está presente nas redes sociais: Facebook, Instagram, Youtube e Twitter.
Presencialmente, para além do serviço de empréstimo, a Biblioteca oferece diferentes atividades de dinamização e promoção do livro, da leitura e do conhecimento. Em colaboração estreita com as escolas e várias instituições do concelho, disponibiliza serviços permanentes: caixas-biblioteca, exposições itinerantes, bibliocafé e empréstimo domiciliário ao Estabelecimento Prisional de Guimarães.
De forma a promover o património literário, surgiu, em 2017, o Festival Literário de Guimarães – HÚMUS. Paralelamente, está em andamento o Plano Local de Leitura de Guimarães “Ler é Património”.
A BMRB está inserida na Rede Nacional de Leitura Pública e constitui um dos equipamentos mais estruturantes da vida do município. Assume-se, por isso, como um verdadeiro centro cultural, assente num conceito de polivalência, que lhe é dado através da multiplicação de espaços de diferentes funções e, por vezes, com públicos específicos, na aposta na divulgação e animação cultural, assumindo o seu papel de mediação e aproximação a públicos alargados, mediante a proliferação de iniciativas, direta ou indiretamente relacionadas com o livro.
Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares (SABE)
A Biblioteca Municipal Raul Brandão tem um serviço de apoio às bibliotecas escolares com o objetivo de proporcionar apoio técnico e recursos de informação às escolas. Como funções do SABE, destacamos:
colaboração técnica nas bibliotecas escolares no domínio da organização, gestão e funcionamento;
seleção, aquisição e manutenção do equipamento informático, audiovisual e mobiliário específico;
formação contínua dos docentes e não docentes no serviço das bibliotecas escolares;
fornecimento de recursos informativos através de empréstimos prolongados e empréstimos especiais, nomeadamente recorrendo ao Serviço das Caixas-Biblioteca;
renovação periódica do fundo documental;
dinamização dos espaços de leitura.
Atividades conjuntas
Com uma programação contínua e conjunta ao nível da animação cultural, desenvolvem-se atividades e projetos destinados a todos os ciclos, dos quais destacamos:
📍 Semana Concelhia da Leitura
A Semana Concelhia da Leitura de Guimarães envolve todos os Agrupamentos de Escola e Escolas não Agrupadas em estreita colaboração com a Biblioteca Municipal. São privilegiadas ações de promoção da leitura tendo por base um tema comum previamente assumido pelos Professores Bibliotecários, Biblioteca Municipal e CIBE.
📍Convence-me!
Convence-me! é uma iniciativa da Rede de Bibliotecas de Guimarães que pretende estimular hábitos de leitura e pôr à prova competências de leitura, expressão escrita e oratória, potenciando os saberes curriculares e intelectuais dos participantes e promovendo o seu gosto pela leitura.
É objetivo primordial desta iniciativa que os alunos, em equipa, sejam capazes de convencer o público para a leitura de um livro à sua escolha, através de argumentos e estratégias originais, que validem a sua recomendação.
📍 Exposições itinerantes
Serviço gratuito de empréstimo de exposições temáticas, disponível para as escolas, bibliotecas e outras instituições.
📍 Encontros com escritores
Promoção de encontros com escritores para momentos de partilha sobre os livros que escrevem, as suas ideias, a forma como transformam o seu pensamento em objeto de cultura, de reflexão, de prazer, de aprendizagem e conhecimentos.
📍 Soletrar C
Concurso dirigido aos alunos do 3.º ciclo, com o objetivo de aumentar o vocabulário, melhorar a pronúncia e a ortografia e aprofundar o conhecimento de conceitos científicos e de cidadania. Desenvolvido em parceria com as bibliotecas escolares e o Centro Ciência Viva de Guimarães.
📍 Leituras animadas (Hora do Conto, Teatro de Fantoches e Contos on-line)
Programação continuada tendo por base o livro infantil, valorizando a leitura em voz alta, a animação de histórias, potenciando o direito ao imaginário e ao ler por prazer.
📍 Instantes criativos
Este concurso é uma iniciativa conjunta da Rede de Bibliotecas de Guimarães, que pretende desafiar a capacidade de síntese e a criatividade dos alunos do concelho para criarem microtextos e ilustrações, valorizando, assim, outras formas de expressão literária/artística.
📍 Mapa de um livro
Projeto colaborativo que propõe a criação de um livro para cada um dos patronos das Escolas de Guimarães.
Este projeto, direcionado para o primeiro ciclo, permite criar uma espécie de editora dentro de cada uma das turmas participantes. Assim, emergem pequenos autores, ilustradores, designers, investigadores, paginadores, diretores de conteúdo, revisores e editores. Deste trabalho conjunto, cooperativo e solidário, nasce a obra (um livro sobre o patrono da escola).
Em síntese
A Biblioteca Municipal Raul Brandão e as Biblioteca Escolares têm conseguido manter, ao longo destes 32 anos, um papel fundamental na promoção das diferentes literacias, desenvolvendo um trabalho de articulação sustentado e profícuo que tem dado os seus frutos. Mas não queremos ficar por aqui e pretendemos abraçar outros desafios, sempre em prol da nossa comunidade, porque juntos podemos mais, sempre!
Juliana Fernandes Diretora da Biblioteca Municipal Raul Brandão, Guimarães
No artigo de hoje vamos dar continuidade à série “A inteligência artificial (IA) nas bibliotecas escolares” e apresentar exemplos de assistentes virtuais gratuitos que podem ser utilizados em contexto de sala de aula e de biblioteca escolar para apoiar o processo de aprendizagem e proporcionar uma experiência personalizada aos alunos.
Os assistentes virtuais, ou chatbots, – ferramentas que utilizam inteligência artificial para interagir com o utilizador e realizar tarefas de forma autónoma - emergem, cada vez mais, como valiosos aliados no ecossistema educativo, oferecendo apoioà aprendizagem dos alunos sob a orientação e supervisão atenta dos professores. Desde a explicação de conceitos complexos até ao auxílio em tarefas específicas, estes modelos podem desempenhar um papel importante, permitindo que os alunos personalizem e reforcem a sua experiência de aprendizagem. Parte superior do formulário
Estes assistentes virtuais podem desempenhar um papel importante no apoio à aprendizagem dos alunos, sob a supervisão dos professores[1], por exemplo em:
Explicação de conceitos complexos: os alunos podem recorrer aos assistentes virtuais para obter explicações claras e detalhadas sobre conceitos complexos em matemática, ciências, línguas e outras disciplinas. Por exemplo, o assistente virtual pode explicar fórmulas matemáticas, princípios científicos ou regras gramaticais.
Auxílio em tarefas e exercícios: os alunos podem solicitar ajuda ao assistente virtual para esclarecer dúvidas em exercícios específicos ou tarefas escolares. O modelo pode oferecer orientação passo a passo, sugerir abordagens para a resolução de problemas e fornecer exemplos práticos.
Prática de línguas estrangeiras: o assistente virtual pode servir como um parceiro de prática para os alunos que querem melhorar as suas competências em línguas estrangeiras. Os alunos podem realizar conversas simuladas, pedir correções gramaticais e obter sugestões de vocabulário.
Apoio na redação e compreensão de textos: os alunos podem recorrer ao assistente virtual para receberem sugestões de melhoria dos seus textos, dicas de escrita e esclarecimentos sobre a estrutura dos textos. Para além disso, o modelo pode criar resumos ou análises de textos complexos.
Revisão de conteúdos: o assistente virtual pode ser utilizado para rever os conceitos aprendidos na sala de aula, esclarecendo dúvidas persistentes e fornecendo resumos de tópicos específicos.
Tal como foi referido no artigo anterior, já estão disponíveis no mercado várias plataformas de tutoria que tiram partido das tecnologias de IA. Contudo, as escolas podem começar a usar, com a devida precaução, as plataformas que disponibilizam assistentes virtuais de forma gratuita, nomeadamente:
ChatGPT (desenvolvido pela OpenAI): modelo de linguagem baseado em inteligência artificial que utiliza a aprendizagem de máquina para a compreensão e a criação de linguagem natural em respostas a perguntas e diálogos;
Gemini (desenvolvido pela Google) ferramenta de escrita alimentada por IA projetada para auxiliar na criação de ideias e conteúdos de forma criativa e eficaz;
Copilot (desenvolvido pela Microsotf): assistente digital baseado em IA que oferece suporte personalizado em diversas tarefas e atividades, visando aumentar a produtividade dos utilizadores.
Para usar estes assistentes virtuais, devemos usar comandos, os chamados prompts, que guiam os assistentes na realização da tarefa que lhes solicitamos, seja responder a uma pergunta, criar um texto ou apoiar na resolução de um problema.
Os prompts, para serem eficazes e responderem às necessidades dos alunos, devem ser[2]:
Contextualizados: deve ser definido o cenário no qual o chatbot vai ser utilizado, especificando claramente o contexto (por exemplo, aula de Português de 7º ano sobre o texto de opinião), o papel a assumir (por exemplo, tutor de português que apoia um aluno de 12 anos com dificuldades ao nível da leitura e da escrita) e as competências a dominar (por exemplo, características de um texto de opinião);
Específicos: é essencial que as instruções sejam claras e detalhadas, evitando ambiguidades e garantindo que as informações sejam precisas e diretas (por exemplo, explica-me de forma detalhada e com exemplos concretos quais são as características de um texto de opinião);
Simples: deve utilizar uma linguagem simples e acessível, evitando o uso de termos técnicos desnecessários;
Estruturados: é fundamental dizer qual o produto final que se pretende, nomeadamente, o formato, o público-alvo e outras informações específicas relevantes para cada caso (por exemplo, cria uma série de 5 perguntas sobre as características dos textos de opinião em que eu possa testar os meus conhecimentos e corrige-me os erros, explicando-me porque errei).
Para obter melhores resultados, deve fornecer feedback ao longo da interação com o assistente virtual, para que ele possa ir adequando a sua resposta às necessidades de cada um (por exemplo, não percebi o que disseste; os exemplos são demasiado complexos, têm de ser mais simples).
Os assistentes virtuais podem ser ferramentas valiosas para a aprendizagem, no entanto, à medida que abraçamos os benefícios, é igualmente crucial que os alunos desenvolvam uma compreensão crítica dos riscos associados à IA. Questões como a privacidade, o viés algorítmico e a potencial dependência da tecnologia devem ser abordadas. Capacitar os alunos para avaliar de forma crítica as informações geradas pela IA, compreender o funcionamento dos algoritmos e reconhecer potenciais desafios éticos torna-se fundamental.
Neste contexto, a bibliotecaescolar desempenha um papel fundamental ao preparar os alunos para uma utilização mais consciente e responsável da tecnologia, desenvolvendo as competências necessárias para enfrentar desafios éticos e sociais. A biblioteca deve apoiar a formação dos alunos na utilização segura da IA, destacando as limitações desta tecnologia. Os alunos devem compreender as suas restrições, reconhecendo a importância da verificação humana e compreendendo as suas limitações contextuais. Ao promover uma compreensão equilibrada dos benefícios, riscos e limitações da IA, estamos a preparar os alunos para um tempo em que a tecnologia é uma aliada e não uma força desconhecida.
[1] No próximo artigo, debruçar-nos-emos sobre o papel que a IA pode ter no apoio aos professores e apresentaremos propostas concretas de utilização da IA.
Para tornar as bibliotecas mais sustentáveis, é necessário conhecer e compreender a sua Pegada de Carbono (Carbon Footprint) e criar um plano estratégico eficiente que contribua para a redução de emissões.
1. Quais são os fatores a ter em conta no cálculo da Pegada de Carbono?
O cálculo da Pegada de Carbono incide sobre a Sustentabilidade Física da biblioteca [2], que inclui:
- As características e os processos que estão na origem da construção e funcionamento do edifício:
Eficiência energética e aquecimento/refrigeração;
Localização e acessibilidade/mobilidade;
Aquisição e logística.
- As atividades de rotina da biblioteca:
Separação de resíduos;
Reciclagem/reutilização de papel, livros e outros materiais;
Redução de energia (desligar equipamentos e luzes).
Incide ainda sobre fatores de Sustentabilidade Económica [2] da biblioteca:
Redução do consumo;
Economia circular e partilhada (recursos, dispositivos, espaços…).
2. Quais são as vantagens do cálculo da Pegada de Carbono?
- Tomar consciência da quantidade de CO2 que um produto, atividade ou serviço provoca;
- Identificar as principais fontes de emissões;
- Fundamentar a decisão/ação;
- Obter dados comparáveis que podem gerar uma ação conjunta e a melhoria global do setor.
3. Que calculadora(s) usar?
Há diversas calculadoras de CO² digitais e de acesso livre que podem ser usadas no contexto da biblioteca.
Calculadora da Global Footprint Network
Dos testes que realizamos, a calculadora da Global Footprint Network (GFN) [3] foi a que se mostrou mais completa. Pode ser consultada em 8 idiomas, incluindo português.
Segundo esta ONG formada por cientistas, o uso da calculadora é a primeira etapa de uma abordagem de redução de CO² abrangente e integrada no contexto local, que inclui as seguintes etapas:
- Definição de objetivos de sustentabilidade quantificáveis;
- Adoção de estratégias de redução de CO²;
- Adoção de estratégias de compensação de CO²;
- Comunicação/Advocacy;
- Conformidade (Compliance) e requisitos legais, adotando certificações de eficiência energética ou outras.
Calculadora de Papel e de Azoto
Há outras calculadoras automáticas e de acesso livre que podem complementar este diagnóstico e/ou ser usadas em projetos específicos da biblioteca, como:
A Paper Calculator 4.0 [4], calculadora da pegada de papel da ONG americana Environmental Defense Fund, que permite conhecer os impactos ambientais de diferentes tipos de papel, podendo aplicar-se a indivíduos ou organizações;
A N-Print (Nitrogen Footprint - N, símbolo químico do Azoto) [5], calculadora da Pegada de Azoto (designação portuguesa) ou de Nitrogénio (designação brasileira) da Universidade de Virgínia, EUA. Está disponível em 6 idiomas, incluindo português e permite calcular as emissões individuais resultantes de hábitos alimentares, utilizando dados per capita/país.
Destaca que a maior parte do azoto reativo (Nr) provém da produção de alimentos, designadamente da pecuária e do uso de fertilizantes na agricultura.
Inspirada nesta calculadora, Portugal disponibiliza uma versão desta calculadora adaptada à dieta mediterrânica, que pode ser usada de acordo com 3 faixas etárias: 5 - 12, 12 - 18, a partir dos 18 anos [6].
Estes modelos de cálculo da pegada de CO²/papel/azoto ajudam a biblioteca – e cada pessoa – a compreender o seu papel nas emissões globais, incentivando a consciencialização e a ação, para além de apresentarem medidas acessíveis para diminuir a pegada.
Para além destas calculadoras, destacam-se:
A Calculadora de GEE (Gases de Efeito de Estufa) das Nações Unidas que se aplica a indivíduos e organizações e, brevemente, a eventos [7];
A Calculadora da Pegada Consumidor da Comissão Europeia que avalia o impacto ambiental do estilo de vida de cada um tendo em vista o consumo responsável (ODS 12) [8].
4. Dia da Sobrecarga da Terra
Para além de disponibilizar a calculadora digital acima referida, a Global Footprint Network disponibiliza, na sua página, o cálculo anual da Pegada Ecológica da espécie humana [9].
A Pegada Ecológica é a única métrica que compara a procura de recursos e a absorção de resíduos com a capacidade de regeneração da Terra.
O Dia da Sobrecarga da Terra/Earth Overshoot Day “marca a data em que a procura da humanidade por recursos e serviços ecológicos num determinado ano excede o que a Terra consegue regenerar nesse ano”.
A Global Footprint Network calcula e organiza esta data e disponibiliza na sua página, em acesso livre:
- Dados globais e por país;
- Recursos pedagógicos para crianças e professores;
- Soluções para decisores organizadas em 5 categorias – Planeta, Cidades, Energia, Alimentação, População - e exemplos por país que contribuem para adiar esta data (#MoveTheDate) - e manter uma relação sustentável com o Planeta. No mapa global dos países [10], Portugal surge representado com a Eco Quinta Villa Maria, turismo de natureza na Pampilhosa e a campanha de Limpeza do Parque Natural da Ria Formosa feita por alunos, em Olhão.
A evolução da Pegada Ecológica mostra que o Dia da Sobrecarga da Terra ocorre cada vez mais cedo (défice ecológico), levando a maioria dos países a roubar recursos às futuras gerações (crédito ecológico).
Não obstante a imensa disparidade de consumos por país – os países mais ricos são os maiores responsáveis pela emissão de CO² e pelo esgotamento de recursos - o gráfico infra mostra que 2023 precisou em média de 1,7 planetas.
Fonte da imagem [9]
A data de sobrecarga da Terra de cada ano é divulgada a 5 de junho, Dia Mundial do Ambiente.
A calculadora da ONG também permite determinar o Dia da Sobrecarga da Terra individual, avaliando o estilo de vida de cada um e propondo ações para adiamento da data.
Recolher dados sobre a Pegada de Carbono – e sobre o Dia de Sobrecarga da Terra – da biblioteca escolar ajuda a esclarecer o seu papel no desenvolvimento sustentável, permite-lhe progredir com base em evidências e faz dela um exemplo.
Este artigo tem continuação. O próximo é sobre Estratégias de Compensação de Emissões e Impressão Digital de Carbono (carbon handprint) da biblioteca.
por Filomena Nunes, Professora Bibliotecária do AE de Santa Marta de Penaguião
Mesmo antes de ser professora já era “cliente” das bibliotecas. As bibliotecas e os livros foram sempre espaços onde me sentia confortável, em casa.
Quando assumi responsabilidades na biblioteca escolar, fi-lo com enorme entusiasmo, mas consciente da exigente tarefa que me era pedida.
Embora já estivesse ligada à biblioteca da minha escola (Santa Marta de Penaguião), a odisseia começou com a integração da biblioteca da escola E.B 2,3 na Rede de Bibliotecas Escolares logo em 2000. Foi um tempo de muita descoberta, de muita colaboração entre colegas de outras escolas, de sentimento de partilha de uma missão entusiasmante.
Anos depois, em 2009, com a construção da biblioteca do novo Centro Escolar, também integrada na RBE, alargou-se a manta: desenhar e costurar uma biblioteca de raiz para os mais pequeninos (pré-escolar e 1º ciclo), alargar os serviços da biblioteca escolar a todas as escolas do Agrupamento. Foi uma aventura feliz e uma aprendizagem.
Ao longo dos anos, os espaços, os hábitos, os utilizadores, os recursos, os livros mudaram muito. O papel da biblioteca escolar na escola também mudou, fruto do trabalho dos professores bibliotecários e da RBE.
Com 37 anos de docência e mais de vinte de biblioteca escolar, a minha manta de retalhos tornou-se tão colorida quanto o dia-a-dia de uma biblioteca.
As bibliotecas escuras e com livros fechados em estantes fazem parte do passado, do meu passado de aluna. Ir à biblioteca da escola é hoje sinónimo de realização de atividades criativas, inovadoras e motivadoras, num espaço colorido, confortável, interativo e, sobretudo, acolhedor e inclusivo. E grande parte das atividades e projetos da escola passam pela biblioteca, espaço de projetos de leitura, de artes, de literacia digital, de encontros…
Entrar todos os dias na biblioteca e receber diferentes alunos, com diferentes solicitações, com diferentes interesses e sentir que se sentem acolhidos, confortáveis nesse seu espaço contribui para um sentimento de dever cumprido.
Prazer maior: ver crescer um leitor, conquistar um não-leitor, sugerir, orientar e aprender com eles. Acolher sugestões, descobrir novos livros, ouvir uma aluna entusiasmada que me conta a sua nova descoberta de leitura, assistir ao entusiasmo por um livro que esperavam…
Ao longo dos anos, e de forma mais premente nos últimos anos, com todos os desafios que se têm colocado às escolas e à sociedade em geral, a biblioteca escolar esteve presente e atenta às necessidades das suas comunidades de utilizadores, procurando oferecer um espaço de felicidade e de inspiração, onde se convive e é possível ajudar, partilhar e ensinar, respeitando os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem.
E se as exigências e desafios são por vezes avassaladores, importa salientar que o trabalho do professor bibliotecário é tudo menos solitário. Conta com o suporte de uma estrutura como a RBE, com o apoio de proximidade dos coordenadores interconcelhios e, no caso de Santa Marta de Penaguião, com uma equipa estável de docentes, com assistentes operacionais empenhados e motivados e com docentes que reconhecem, apoiam e solicitam a Biblioteca Escolar.
Filomena Nunes, Professora Bibliotecária, Agrupamento de Escolas de Santa Marta de Penaguião
*Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.