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Blogue RBE

Sex | 09.02.24

Bibliotecas Escolares: aliadas essenciais para a nossa escola

por Filipa Carvalho, Diretora do AE da Venda do Pinheiro, Mafra

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A Importância das Bibliotecas Escolares para uma formação integral: aliadas essenciais para a nossa escola

As bibliotecas escolares são uma componente crucial do ensino e do trabalho no agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro. As bibliotecas, que hoje são espaços multifuncionais, passaram de simples depósitos de livros para verdadeiros e ativos espaços de aprendizagem e trabalho colaborativo, que apoiam o desenvolvimento da literacia e promovem a pesquisa, ampliando as experiências educativas e formativas dos nossos alunos.

É fundamental salientarmos a variedade de recursos que as nossas bibliotecas escolares têm à disposição de todos: os espaços oferecem acesso a uma imensa variedade de recursos digitais, conteúdos audiovisuais e tecnologias, para além dos tradicionais livros. A diversidade das nossas bibliotecas não acompanha somente os avanços tecnológicos, mas responde igualmente aos diferentes estilos de aprendizagem dos nossos alunos.

As bibliotecas permitem que os alunos explorem um enorme leque de recursos, tendo mesmo, em cada biblioteca do agrupamento, um pequeno espaço maker com uma impressora 3D, que faz as delícias dos nossos alunos.

Na biblioteca, a pesquisa, capacidade essencial para o crescimento académico e pessoal, encontra terreno fértil. Os alunos têm a oportunidade de aprender a navegar em bases de dados, utilizar fontes fiáveis e aperfeiçoar as suas competências de pesquisa e seleção de informação. Defendemos e acreditamos que estas competências são essenciais para o sucesso e para o exercício de uma cidadania informada, esclarecida e responsável, quanto a nós algo que urge trabalhar se queremos e acreditamos em democracias inteligentes.

Os professores bibliotecários e os professores das diferentes áreas trabalham juntos e de forma colaborativa para maximizar o potencial de todos os recursos. Esta colaboração eficaz faz com que que os recursos da biblioteca sejam incorporados no currículo escolar, melhorando e enriquecendo as experiências de aprendizagem de todos. Os professores bibliotecários, lado a lado com os outros docentes, desempenham um papel crucial ao ajudarem os alunos a usar recursos de forma mais eficaz, permitindo uma formação mais abrangente e prática.

A colaboração não se limita a utilizar os recursos da biblioteca de forma superficial: é importante que estes sejam integrados no processo educativo e é este o objetivo que procuramos sempre atingir. A interdisciplinaridade, ou a integração de conhecimentos de várias disciplinas, é uma parte fundamental desta estratégia de trabalho em equipa. São desenvolvidos projetos, apoiados pelos professores bibliotecários em conjunto com professores de outras disciplinas, que utilizam os recursos da biblioteca de forma sinérgica. Tal não significa que os professores interajam apenas no desenvolvimento de projetos: as nossas bibliotecas são, também,  um local ideal para atividades extracurriculares como clubes de leitura, atividades culturais e oficinas temáticas. Estas iniciativas não despertam apenas o interesse pela leitura, mas também fortalecem o sentido de comunidade escolar, tornando a biblioteca um ponto de encontro saudável e profícuo para vários interesses e talentos.

No Agrupamento de Escolas da Venda do Pinheiro, o investimento na melhoria das bibliotecas escolares é constante e tem como objetivo o crescimento completo dos alunos, maximizando os benefícios do espaço para a formação dos jovens. As escolas do nosso agrupamento oferecem, garantidamente, uma educação mais rica, contextualizada e preparatória para os desafios, constantes, dos nossos dias, fortalecendo, permanentemente, a colaboração entre todos.

Filipa Carvalho
Diretora do AE da Venda do Pinheiro, Mafra

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Qui | 08.02.24

Abertura e uso da biblioteca escolar

Escolas do 1.º ciclo do ensino básico e jardins-de-infância

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Os primeiros anos de escolaridade constituem uma fase crucial para a aprendizagem da leitura e da escrita, assim como para o desenvolvimento do gosto pelos livros, por ler e ouvir ler. O acesso regular às bibliotecas escolares, não só proporciona às crianças um ambiente favorável à leitura, como também contribui significativamente para um ensino mais dinâmico e enriquecedor.

As bibliotecas oferecem aos alunos um espaço dedicado à exploração de uma ampla variedade de livros cativantes e adequados à sua idade e interesses, incentivando o desenvolvimento de competências de leitura e de compreensão desde cedo, e criando um ambiente acolhedor que desperte neles o interesse pela leitura.

A existência de recursos educativos diversificados, como livros informativos, jogos educativos e materiais multimédia, que estimulam a curiosidade dos alunos e promovem uma aprendizagem mais envolvente, torna as bibliotecas verdadeiros centros de aprendizagem ativa, contribuindo para o desenvolvimento das habilidades cognitivas das crianças e jovens.

Reconhecer a biblioteca como um espaço flexível, é crucial para a sua utilização em pleno. Os professores têm a oportunidade de utilizar este ambiente educativo como uma extensão de suas salas de aula, promovendo atividades interdisciplinares e práticas inovadoras. Nela encontram um cenário propício ao desenvolvimento de projetos, à realização de pesquisas e de atividades colaborativas, enriquecendo a experiência educacional dos seus alunos.

É fundamental que os docentes se apropriem do espaço da biblioteca e o utilizem sem a necessidade constante da presença do professor bibliotecário. Isso não só promove a autonomia dos docentes, como também encoraja a integração da biblioteca no plano de ensino, possibilitando uma abordagem mais personalizada e adaptada às necessidades de cada turma.

A abertura alargada e regular das bibliotecas não é apenas uma decisão logística, mas uma estratégia educativa com impactos diretos no desenvolvimento integral dos alunos. Ao criar um ambiente propício à leitura, à curiosidade e à aprendizagem dinâmica, as bibliotecas tornam-se catalisadoras do processo educativo, contribuindo para a formação de alunos autónomos, críticos, ávidos por conhecimento e mais criativos. É, assim, imperativo reconhecer e fortalecer o papel desses espaços enriquecedores no cenário educacional do 1.º ciclo.

Cabe ao professor bibliotecário, em articulação com os órgãos de gestão, encontrar a melhor solução para garantir esse funcionamento, adequando as possibilidades às diferentes realidades.

Eis algumas sugestões:

Professores do Art.º 79 e redução da componente letiva

  • Articule com a direção a distribuição de serviço dos docentes pelas escolas do 1.º ciclo e jardins-de-infância.

Assistentes operacionais

  • Equacione, com o/a coordenador/a da escola, um tempo para a biblioteca no horário semanal de um/a assistente operacional.

Monitores da Biblioteca

  • Aproveite o gosto dos alunos mais velhos e convide-os a serem monitores.

Programa de mentorias

  • Organize um programa de mentoria por alunos mais velhos (3.º ciclo/ensino secundário) ou ex-alunos das escolas.

Voluntários de leitura

Professores aposentados

  • Averigue a disponibilidade de professores aposentados e sugira-lhes a biblioteca como espaço onde manter a ligação a alunos e colegas.

Associações de pais

  • Mostre a biblioteca à Associação de Pais e incentive os seus membros a tornarem-se seus colaboradores.

Autarquias/ Juntas de Freguesia

  • Solicite a colaboração das autarquias para a presença de funcionários na escola/biblioteca, um dia por semana.

Membros da comunidade local

  • Analise a sua comunidade local e contacte empresas ou outras instituições que se disponibilizem a colaborar em iniciativas da biblioteca escolar.

📷 CC BY 2.0/ JuliaC2006S
Inside the new Meopham library
Visited the new library in Meopham. A new building on the same site, which it shares with Meopham school, a doctors surgery, leisure centre and nursery. (ps it wasn't empty, I just waited til most people were out of shot!)

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Qua | 07.02.24

Cidadania Democrática Eficaz

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1. A importância do autogoverno e o papel da educação

Foi finalmente traduzido para português O Descontentamento da Democracia de Michael Sandel.

No Prefácio à nova edição, Democracia em Perigo, este filósofo político afirma a importância de nos tornarmos “cidadãos democráticos eficazes”. O que significa a expressão?

A democracia tem duas aceções:

  • Restrita, baseada no exercício do direito de votar e participar em eleições livres, justas e regulares - democracia eleitoral;

  • Alargada, baseada na voz dos cidadãos que, dotados de valores e competências, influenciam as elites para garantir, localmente e na vida diária, a efetivação dos direitos humanos de todos – autogoverno democrático.

Para Peter Singer a educação tem o poder de capacitação dos cidadãos comuns que impulsiona a autogovernação democrática.

No contexto filosófico, têm vindo a crescer, nas últimas décadas, os adeptos da Ética Prática e da Ética Utilitarista de Stuart Mill e do Altruísmo Eficaz de Peter Singer que tem ligação à vida diária das pessoas e da comunidade. Segundo este movimento, o fundamental não é agir de acordo com uma intenção pura, conforme defende Immanuel Kant, mas que a ética e a cidadania democrática constituam forças de melhoria e transformação efetiva do mundo.

Adaptando o pensamento de Sandel à biblioteca escolar e ao currículo, é importante que o exercício de cidadania das crianças e jovens seja:

  • Significativo, se aplique a situações da vida real;
  • Eficaz, contribua para reforço dos seus direitos e melhoria efetiva do seu dia-a-dia.

Exemplos de atividades com estas características:

  • Contar histórias reais sobre o que é um bom cidadão, discutir sobre os seus direitos/deveres e escrever – e pôr em prática - uma declaração de compromisso;

  • Visitar/Desenhar monumentos/museus que reflitam a identidade nacional e discutir se são representativos de todos os cidadãos;

  • Selecionar artigos de jornal que identifiquem problemas/soluções locais e discutir – e implementar - formas de ação;

  • Simular na comunidade educativa o processo de um ato eleitoral nacional/europeu apoiado pela Comissão Nacional de Eleições/Parlamento Europeu;

  • Investigar/Recriar o significado de símbolos nacionais/locais, e.g.: bandeira, galo de Barcelos, cante alentejano, 7 saias da Nazaré…;

  • Entrevistar personalidades locais que contribuíram para o bem da comunidade;

  • Investigar/Partilhar o significado de feriados nacionais, como o 25 de Abril de 1974 e dos países de origem dos alunos ou de festas locais;

  • Ler/Discutir excertos de romances - como Ensaio sobre a Lucidez de José Saramago, que levanta a questão, E se todos votarem em branco? - ou de álbuns gráficos – como Eleição dos Bichos da editora Nuvem de Letras -  ensaios – e.g., The Democracy Series apresenta livros sobre democracia com os respetivos autores [2].

  • Realizar atividades educativas com base em situações fictícias, como mero exercício mental, diminui a relevância da cidadania e a capacidade de intervenção dos jovens.

2. Contexto/Problema

No Prefácio à nova edição, Democracia em Perigo, Sandel expõe as causas e os sintomas da crescente corrosão da democracia:

Desde 1980 “As elites governantes levaram a cabo um projeto de globalização neoliberal que trouxe ganhos maciços para aqueles que estavam no topo, mas perda de empregos e estagnação de salários para a maioria dos trabalhadores. Os defensores do projeto argumentaram que os ganhos dos vencedores poderiam ser utilizados para compensar os vencidos da globalização”, conforme estabelece o modelo de justiça distributiva de Rawls. No entanto, “Os vencedores usaram as suas recompensas para comprar influência nos centros de decisão e consolidar os seus ganhos”, aumentando as desigualdades sociais.

A raiva e o ressentimento contra as elites, por parte da população desfavorecida, tem provocado o aumento do populismo e de ataques à democracia como: a invasão do Capitólio incitada por Trump, as disputas sobre máscaras e vacinas, a luta contra a violência policial desencadeada pelo assassinato de Floyd e a manipulação de eleições e a desinformação através das grandes empresas tecnológicas, cujo caráter gratuito e desregulação degrada a democracia e a liberdade.

O crescimento da polarização e de protestos é exercido por movimentos inorgânicos, à margem dos sindicatos de trabalhadores, em declínio.

Expõe também a gravidade dos seus efeitos: medidas governativas urgentes - na área da saúde, da educação, do clima, dos direitos humanos, da habitação… - que poderiam beneficiar os mais vulneráveis, acabam por ser recebidas com desconfiança e instituições/identidades nacionais e supranacionais partilhadas, como a União Europeia, deixam de colher adesão, como comprovam o Brexit e a política nacionalista America First.

3. A necessidade de transformação da educação

Para Sandel, na atualidade o desafio cívico do autogoverno é prioritário porque é necessário imaginar, discutir e implementar alternativas ao liberalismo individualista, economicista, tecnocrático e moral e religiosamente neutro.

A escola e a universidade podem capacitar e ser uma força impulsionadora da autogovernação se se transformarem, colocando a educação moral e cívica e o empoderamento dos cidadãos – e não a competição meritocrática, da qual resulta um diploma de estudos - no centro dos programas curriculares e da luta contra as desigualdades sociais e o desmoronamento da democracia.

Este desafio é tão mais importante quanto se evidencia o descrédito dos jovens na democracia. Exemplo: o Barómetro da Open Society Foundations lançado em 2023, Pode a democracia dar resultados?, um dos maiores estudos de opinião pública feito com base na recolha de dados de 30 países, conclui que os jovens, entre os 18 e os 35 anos, “são os que têm menos fé na democracia” e apenas 57% considera que esta é a melhor forma de governo [3].

 Veja também

Referências

  1. Sandel, Mochael. (2023). O Descontentamento da Democracia: Por que razão vivemos tempos perigosos e o que temos de fazer para mudar. https://www.presenca.pt/products/o-descontentamento-da-democracia
  2. University of Chicago - Center for Effective Government . The Democracy Series. https://effectivegov.uchicago.edu/initiatives/the-democracy-series
  3. Open Society Foundations. (2023). Can democracy deliver? https://www.opensocietyfoundations.org/focus/open-society-barometer

 

 

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Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Ter | 06.02.24

Missão: Democracia

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Para muitos, 2024 apresenta-se como o ano de todas as eleições. Na Europa irá haver eleições para o Parlamento Europeu, nos Estados Unidos e na Rússia acontecerão eleições presidenciais, no Reino Unido e na Índia também haverá eleições como em muitos outros países. Há eleições agendadas em mais de 60 países de todo o mundo, o que significa que haverá um número muito significativo de pessoas a votar, cerca de metade da população mundial. Em Portugal haverá eleições regionais, legislativas e europeias.

Votar é um dever cívico, um ato de liberdade. Todos deveremos exercê-lo. Neste ano de todas as eleições, há que ler e dar a ler livros sobre a democracia, os direitos e deveres, a liberdade e o pleno exercício de cidadania. É neste contexto que consideramos pertinente a partilha de uma nova coleção de livros-álbum informativos sobre a temática.

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A Edições da Assembleia da República publica uma coleção intitulada Missão: Democracia dedicada aos mais jovens (e não só) que explora “conceitos abstratos como «democracia» ou «liberdade» e, por outro, particularizam-se instrumentos democráticos como «lei» e «eleições». Os temas propostos são uma espécie de percurso através de conceitos e valores essenciais que refletem a imagem da própria instituição enquanto Casa da Democracia.”[i]

São doze os títulos que constituem a coleção para a qual foram convocados escritores e ilustradores portugueses de várias gerações e sensibilidades artísticas, Dora Batalim Sottomayor é a consultora da coleção. Esta coleção é uma homenagem à Democracia em Portugal que nasceu há 50 anos, é por isso, também, uma homenagem aos 50 anos do 25 de abril.

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O primeiro título da coleção é A Melhor Amiga da menina República, com texto de Isabel Zambujal e ilustrações de Bernardo P. Carvalho, que nos recordam o 1 de fevereiro de 1908, horas antes do regicídio e, de um modo brevíssimo, os conflitos e lutas que os republicanos travaram para libertar o país da monarquia. Os leitores são transportados ao dia 5 de Outubro de 1910 quando a “República conquistou o poder. E com a Democracia, a sua melhor amiga, partilhou sonhos e triunfos.” Ao longo das páginas do livro a Menina República partilha as suas vivências nesses dias, meses e anos de mudança com a Democracia, a sua melhor amiga. Muitas foram as mudanças: nas escolas e universidades, no desporto, a liberdade de impressa e o direito à informação, novas leis, novos símbolos, como a uma bandeira, um hino e uma moeda. Não são esquecidos grandes nomes republicanos, de mulheres e homens, que desempenharam um papel importante na vida da Menina República.

Outros títulos da coleção já publicados:

  • Voltas e Reviravoltas, de Ana Maria Magalhães, Isabel Alçada e Mantraste (ilust.)
  • Leva-me ao teu Líder, Afonso Cruz e Mariana Rio (ilust.)
  • Fantasmas, Bananas e Avestruzes, de Catarina Sobral (texto e ilust.)
  • E se fôssemos a votos?, de Luísa Ducla Soares e Rachel Caiano ( ilust.)

 

[i] In - ver mais em https://livraria.parlamento.pt/collections/missao-democracia

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Seg | 05.02.24

UNESCO: Literacia dos Media e da Informação e Currículo

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Este artigo dá continuidade ao de 29 de janeiro [UNESCO: Desafios e recomendações políticas para a MIL] e baseia-se num documento encomendado pelo Relatório GEM 2023 da UNESCO, Literacia dos Media e da Informação/Media and Information Literacy (MIL) [2], da autoria de Divina Frau-Meigs, professora de sociologia de media e tecnologia da informação e comunicação e TIC. da Université Sorbonne Nouvelle, França e representante da UNESCO e da União/Comissão Europeia.

Com base nele, sublinha-se a importância de um currículo MIL cocriado com os professores e deste ter um caráter holístico, que possa responder à complexidade do mundo atual.

1. MIL e Currículo

Em nenhum país do mundo a MIL faz parte do currículo obrigatório como uma disciplina ou matéria independente. É “integrada no currículo formal como tópico transversal a várias matérias [geralmente educação para a cidadania democrática] ou é oferecida como complemento à educação formal, principalmente em ambiente informais”, como a biblioteca escolar.

A maioria dos currículos faz uma abordagem da MIL por módulos, com temas e tópicos que os professores incluem na matéria pela ordem que quiserem. Segundo Frau-Meigs, a desvantagem desta situação é que a MIL não tem um caráter essencial, diluindo-se em outras disciplinas e a vantagem é que é apoiada por professores e colhe menos resistência por encarregados de educação e decisores.

Em França faz parte do currículo obrigatório e os bibliotecários escolares foram oficialmente designados para a sua implementação.

Na Finlândia, desde 2016, que a multiliteracia faz parte do currículo, entendendo-se como "competência para interpretar, produzir e fazer um juízo de valor sobre uma variedade de textos diferentes" (Palsa, 2020).

Os países asiáticos estão a aproximar-se da integração da MIL no currículo, cuja lecionação inclui professores bibliotecários – as Filipinas já a inclui no ensino secundário como disciplina essencial.

Para Frau-Meigs a MIL “pode ser incorporada aos currículos escolares como uma opção minimalista (enriquecimento de matérias existentes) ou maximalista”, disciplina autónoma - obrigatória ou opcional - que poderia funcionar da escolaridade básica à secundária, dos 6 aos 18 anos.

2. O currículo MIL da UNESCO

A UNESCO publicou em 2012 um currículo MIL que, de acordo com a sua revisão em 2021, se organiza em 3 áreas:

- Conhecimento da informação para o desenvolvimento sustentável e os discursos democráticos;

- Avaliação de conteúdo;

- Produção e uso de conteúdo [1].

Nesta publicação de 2021 a UNESCO propõe 10 abordagens inovadoras e criativas da MIL como: aprendizagem por investigação (inquiry), baseada em problemas, cooperativa, por investigação científica ou empírica, por estudo de caso e simulação. 

Atualmente também há a tendência de uma abordagem por jogos (GBL - Game-Based Learning). No projeto da Comissão Europeia YouVerify! são disponibilizados jogos digitais, como o YouCheck! e BotBusters, que contribuem para a MIL junto dos jovens [3].

3. MIL: finalidades e âmbito

Segundo Frau-Meigs, “As literacias refletem o papel dos usos e práticas informais e emergentes que não estão formalmente incluídos nos currículos oficiais”.

A MIL tem tido uma rápida expansão com a abertura da imprensa escrita aos media digitais e é uma competência fundamental para a Agenda 2030 (Education 2030 Framework for Action, 2015) porque:

- Promove o uso critico dos media, contribuindo para analisar e decidir sobre realidades complexas e para distinguir facto de opinião e incentiva o uso criativo dos media, a cidadania, o bem-estar e a inclusão na vida digital e na sociedade;

- Responde às ameaças da desinformação, do discurso de ódio e das violações de privacidade, assegura a qualidade da informação e a liberdade de expressão, fundamentais para as sociedades democráticas e é uma “ferramenta para o desenvolvimento de sociedades abertas e participativas”.

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Fonte da imagem [1]

Segundo a UNESCO, o ecossistema MIL (figura supra) inclui literacia digital (DIGCOMP, 2022), da informação e media, na sua pluralidade (literacia de televisão, jornais, redes sociais…) e literacia no uso da biblioteca, diálogo intercultural - incluindo questões como discurso de ódio e assédio, colonialismo, género e etnia, bem como literacia informática (focada na codificação e matemática), de IA e algorítmica e audiovisual (incluindo cinematográfica). Este modelo holístico da MIL desenvolve competências de pensamento crítico, criatividade e participação/cidadania digital.

Referindo as conclusões de Scheibenzuber et al., 2021 e Tully et al., 2020, Frau-Meigs destaca que, com a subida do nível de risco da desinformação, a MIL centra-se no desenvolvimento de pensamento crítico e avaliação da qualidade da informação em detrimento do “anterior ênfase na criatividade, comunicação e participação do utilizador que prevaleceu com o advento das histórias, séries, selfies e streams”. A crise da desinformação gerou a tendência de inserir a MIL nas áreas do jornalismo (notícias falsas), ciência (mudanças climáticas) e literacia da saúde (vacinação).

Afirma-se também a tendência de abordagem ecológica da MIL em que se equacionam questões como “a pegada ecológica das TIC (emissões de CO2 dos parques de servidores, baterias não recicladas, resíduos de computadores, etc.).

A par destas recentes tendências, Frau-Meigs salienta que a abordagem da MIL depende do nível económico dos países: nos de baixo e médio rendimento (Tailândia, Indonésia…) consiste em desenvolver conhecimentos e competências para aceder à informação e meios de comunicação, enquanto nos países de rendimentos elevados (Japão, Dinamarca…) em desenvolver “as atitudes necessárias para serem trabalhadores criativos e participativos”.

Concluindo, refere marcos históricos da MIL, como a EU Audiovisual Media Services Directive (Parlamento Europeu e do Conselho, 2018), que estabelece que “A educação para os media deverá, por conseguinte, ser fomentada em todos os sectores da sociedade e os seus progressos deverão ser acompanhados de perto” pelos governos (ponto 47) [4]. Deverá ser fomentada inclusive pelos fornecedores de serviços de comunicação social e pelas plataformas digitais.

Na União Europeia a MIL está ligada a 2 departamentos:

- DG Connect (Directorate-General for Communications Networks, Content and Technology/Direção-Geral de Redes de Comunicação, Conteúdos e Tecnologias), responsável pela agenda digital;

-  GD EAC (Directorate-General for Education, Youth, Sport and Culture/Direção-Geral de Educação, Juventude, Desporto e Cultura).

Na UNESCO é da competência da CI (Communication & Information/Comunicação e Informação), apesar de também ser transversal a todos os departamentos.

A designação MIL foi introduzida pela Declaração de Fez (UNESCO, 2011) - até então dominava a expressão Literacia Mediática (LM) criada pela Declaração de Grünwald (UNESCO, 1982).

 

Referências

  1. Fonte da imagem: UNESCO. (2021). Media and information Literate Citizens: Think Critically, Click Wisely! [Fig. 2, p. 12]. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000377068

A primeira versão deste documento:

UNESCO. 2012. MIL Curriculum and Competency Framework for Teachers. http://en.unesco/media-and-informationliteracy-curriculum-for-teachers

  1. Divina, Frau-Meigs. (2023). Media and information literacy. Global Education Monitoring Report Team. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000386080.locale=en
  2. AFP, UNED, SNSPA & Savoir*Devenir. (2021). YouVerify. https://youverify.eu/resources
  3. European Parliamet. (2018). Audiovisual Media Services Directive. https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/ALL/?uri=CELEX%3A32010L0013
  4. 📷 Imagem de pch.vector no Freepik

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Sex | 02.02.24

Era uma vez…

por Olívia Brandão, Professora bibliotecária do AE de Arrifana, Santa Maria da Feira

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Era uma vez...

Eis a fórmula mágica que nos faz viajar pelo mundo das histórias, um mundo novo, cheio de magia, que estimula a imaginação, a criatividade e curiosidade, abrindo caminhos infindáveis…

8h da manhã… Hoje, avizinha-se um dia intenso… Tiro estes breves momentos, antes da azáfama do dia, para contar um pedacinho, ou se assim o entenderem, um retalho da minha história, ou melhor dizendo, da nossa história. Nossa, sim, pois nesta história eu não sou a personagem principal. Quem tem esse papel são todas as crianças e alunos do Agrupamento de Escolas de Arrifana, Santa Maria da Feira. É em torno delas e deles que gira toda a ação. São elas e eles os agentes, os fazedores, os verdadeiros construtores do conhecimento. Eu sou apenas uma personagem secundária, que incentiva, que cria oportunidades, que cria teias de conhecimento e de colaboração, que abre novos caminhos para a construção plena delas e deles, enquanto seres pensantes, ativos, críticos e cívicos numa sociedade exigente e complexa.

Claro que existem muitas fadas madrinhas! Sem elas, esta história não teria um final feliz… Todas as educadores e docentes do Agrupamento, a Diretora e sua equipa, a equipa da biblioteca (pessoal docente e não docente), a CIBE, a Biblioteca Municipal, a RBE, a autarquia e todos os outros parceiros locais, nacionais e internacionais (Erasmus+)… Com as suas varinhas de condão, proporcionam um trabalho, retifico, uma magia articulada, concertada e sustentada no tempo…. Sim, a nossa (minha) história não tem uma unidade temporal. Ela tem vindo a desenrolar-se ao longo dos últimos 22 anos e prevê-se a sua continuidade por muitos e muitos anos…

Apesar de não ser a personagem principal, por vezes, sinto-me uma verdadeira heroína! Não no sentido de super-herói, cujos poderes transformam o mundo e consertam tudo, mesmo o impossível. O meu superpoder é mais modesto e é alimentado pela energia que recebo em cada espaço por que passo. Já me esquecia, e desculpem-me mais este parêntesis... (A nossa história também não tem uma unidade espacial. Ela percorre todos os jardins e escolas do nosso agrupamento com e sem biblioteca, num total de 15, espalhados por cinco freguesias… Um verdadeiro périplo!). Regressando ao meu superpoder, e como estava a narrar, é tão bom, tão gratificante chegar às escolas e ter tantas crianças a correr na minha direção, a chamar pelo meu nome, a dar abraços atrás de abraços, a bombardear-me com perguntas ansiosas e entusiásticas “Vens contar-nos uma história?” (- Não. respondo eu), “Vamos brincar com a matemática?” (- Não.), “Vamos criar avatares?” (- Não.), “Então, o que vamos fazer?” Naquele dia, vou estar sozinha. Sim, sozinha! Há momentos mais solitários, indispensáveis para tratar de um dos objetos mais valiosos da nossa história – os livros, de forma a que possam sair das estantes, das caixas itinerantes e viajem em sacos próprios, pelas mãos delas e deles, até junto das suas famílias. Famílias que me vão conhecendo pelas minhas dinâmicas, pela voz delas e deles em encontros fortuitos, por exemplo, num supermercado. E peço desculpa por mais este parêntesis… (“- Olá, professora Olívia!”. Perante o olhar inquiridor do adulto, ela ou ele, com um rasgado sorriso na cara, exclama “É a professora da Biblioteca!”). É este o meu superpoder! Sentir que deixo a minha marca, uma marca positiva, nelas e neles, com a minha ação.

E como toda a história tem uma ação, a nossa está recheada de múltiplas sequências narrativas todas elas principais, em termos de relevo, que abrangem múltiplas áreas de intervenção (literacia da leitura e escrita, literacia da informação, literacia mediática, literacias digitais, cidadania, currículo, skills for lifeMakerspaces…), sempre abertas a novos desafios (Inteligência Artificial) e projetos (nacionais e internacionais). Por isso, a ação da nossa história não tem um desfecho fechado, mas sim aberto… Ela pretende, acima de tudo, criar momentos contínuos em que se possa afirmar convictamente “E viverão felizes para sempre!”

Vitória, vitória… História contada, mas não acabada!

Olívia Brandão,
Professora bibliotecária
Agrupamento de Escolas de Arrifana, Santa Maria da Feira

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  1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
  2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
  3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.

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Qui | 01.02.24

 Reforçar dinâmicas colaborativas no 1.º CEB

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É sabido que a melhor forma de contribuir para o uso mais eficaz dos espaços e dos recursos da biblioteca será através do envolvimento de todos os agentes educativos no reconhecimento do papel dessa valência para o sucesso escolar dos alunos.

No caso das bibliotecas do 1.º CEB, em que normalmente não existe um professor bibliotecário em exclusividade, verifica-se que é ainda mais urgente pensar em estratégias práticas, no sentido de reforçar esta dinâmica colaborativa:

Importa, por isso, assegurar a capacitação dos docentes dos vários níveis de ensino para a rentabilização pedagógica da biblioteca escolar – de forma autónoma e/ou em trabalho colaborativo – com vista à melhoria das aprendizagens das crianças e dos alunos, potenciando não só o seu sucesso académico, mas também o seu desenvolvimento holístico, como consignado no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.” [1]

No concelho de Torres Vedras, todos os agrupamentos contam com várias bibliotecas em escolas do 1.º CEB, sendo que há um agrupamento de escolas que conta com onze bibliotecas escolares (AE S. Gonçalo), nove das quais do 1.º CEB, pelo que se torna premente rentabilizar o espaço e os recursos disponibilizados em benefício dos alunos/ crianças e professores titulares/ educadores.

Foi com este objetivo que a Rede de Bibliotecas Escolares, através da Coordenação Interconcelhia, articulou com as professoras bibliotecárias de três agrupamentos de escolas do concelho de Torres Vedras para dinamizar várias Ações de Curta Duração (ACD), de 3 a 6 horas, dirigidas aos professores titulares e educadores dos respetivos agrupamentos, no sentido de lhes dar a conhecer os serviços em linha disponibilizados pela Rede de Bibliotecas do concelho de Torres Vedras, projetos locais e nacionais, as coleções; assim como de lhes apresentar algumas sugestões de atividades possíveis de dinamizar autonomamente, na biblioteca da escola, com os respetivos alunos/ crianças no âmbito da leitura, da escrita ou da pesquisa, tendo por base o Roteiro para uso da biblioteca escolar| Escolas do primeiro ciclo do ensino básico jardins de infância.

Eis algumas das sugestões de atividades, deste Roteiro, partilhadas/exploradas nas sessões:

  • Empréstimo domiciliário: como começar? (pág. 23)
  • Conhecer a coleção (pág. 24)
  • Roda de livros 2 (pág. 26)
  • Barra de crítica (pág.27)
  • Onde mora o livro? (pág. 28)
  • Exploração do título: narrativas (pág. 29)
  • Tão, tão… (pág. 35)
  • Aperitivos de leitura (pág. 36)
  • (...)

Foram, assim, desenhadas 3 ACD e construídos/adaptados os respetivos materiais de apoio (apresentação em Canva, infográfico e desafios com recurso à ferramenta  Mentimeter e em suporte papel).

As Ações de Curta Duração tiveram as seguintes designações:

  1. Rumo ao sucesso: ensinar e aprender com a biblioteca escolar, dirigida aos professores titulares e educadores do AE Henriques Nogueira (3h);
  2. Promover a leitura com a biblioteca escolar, dirigida aos professores titulares e educadores do AE São Gonçalo (3h);
  3. Criar leitores com o apoio da biblioteca escolar, dirigida aos professores titulares e educadores do AE Madeira de Torres (6h).

As sessões decorreram no arranque do presente ano letivo e, no caso do Agrupamento de Escolas São Gonçalo, a ACD integrou as Jornadas Pedagógicas na primeira semana de setembro; no Agrupamento de Escolas Henriques Nogueira, decorreram antes do início oficial das aulas; no Agrupamento de Escolas Madeira Torres, as sessões repartiram-se por dois dias, em horário pós-laboral, no decorrer do 1.º semestre.

É de evidenciar a disponibilidade dos Professores Titulares e Educadores, assim como o apoio dos Coordenadores de Estabelecimento, Diretores e Diretora do Centro de Formação de Escolas de Torres Vedras e Lourinhã, que contribuíram para a realização destas ações.

Estas ACD decorreram também de uma tentativa da equipa da Rede Bibliotecas do concelho de Torres Vedras de dar resposta aos desafios colocados no âmbito da implementação do Plano Local de Leitura, nomeadamente a formação de docentes, MUDANÇA II - MAIS SOCIALIZAÇÃO PARA A LEITURA EM CONTEXTO ESCOLAR, da qual a RBE é parceira, através da Coordenação Interconcelhia.

 

Referência

[1]- Programa temático da ACD que decorreu no Agrupamento de Escolas Henriques Nogueira.

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