Na sequência do lançamento do Resumo de Políticas Information Integrity on Digital Platforms e em parceria com a Federação Internacional de Associações e Instituições de Bibliotecas (IFLA), a Biblioteca Dag Hammarskjold da sede das Nações Unidas, Nova Yorque, organizou um encontro com bibliotecários, organizações de apoio às bibliotecas dos 5 continentes e membros da ONU, como a Subsecretária-Geral para Comunicações Globais, Melissa Fleming e a responsável pela integridade da informação, Charlotte Scratton.
O objetivo é “determinar onde e como as mais de 2,8 milhões de bibliotecas do mundo poderiam ajudar a alcançar os objetivos do futuro Código de Conduta para a Integridade da Informação” e reforçar a coerência e ambição [2].
O Relatório Preliminar do encontro, que serve de base a este artigo, apresenta 10 pontos de convergência que destacam “a biblioteca como infraestrutura-chave” para alcançar a integridade da informação pública e apresentam soluções concretas.
1. Ao destacar a importância do “acesso a informações exatas, coerentes e fiáveis” nas sociedades da informação atuais, Information Integrity on Digital Platforms preenche uma lacuna da Agenda 2030. Segundo Melissa Fleming, “um ecossistema de informação saudável não pode ser considerado um dado adquirido, mas precisa de atenção e investimento sustentados” e esta pode ser uma missão fundamental de todas as bibliotecas, ao enfatizarem a importância da informação e “ajudarem os utilizadores a utilizar a informação de forma eficaz e ética”.
2. “Precisamos de uma forte infraestrutura de instituições e pessoas que trabalhem para promover a integridade da informação nas comunidades” e as bibliotecas podem garantir esta oferta de forma personalizada. Intervenções exclusivamente a nível macro, por exemplo, ao nível das plataformas, podem ter efeitos prejudiciais.
3. Confiança na internet: “Não devemos tornar-nos negacionistas da Internet, mas sim procurar enfrentar os desafios que ela traz, de forma responsável e eficaz. Em alguns casos, tecnologias como a inteligência artificial podem ajudar a fornecer soluções […] A credibilidade na Internet exige transparência e regras eficazes, mas também utilizadores com competências e confiança”.
4. Só se pode garantir um ecossistema de informação saudável (healthy information ecosystem) – no qual há oportunidades “de acesso a informação exata, coerente e fiável” e em que estas são efetivamente acedidas pelos cidadãos - promovendo “uma prática científica ética”, o acesso livre e a ciência/educação, que “facilita a verificabilidade” e responde ao direito de cada um à informação.
5. Para promover um currículo completo (full curriculum) junto das crianças e jovens, “as bibliotecas são suportes naturais para os esforços de verificação de factos”, para aproximação à imprensa de qualidade – “bibliotecas e jornalistas são aliados naturais” - e desenvolvimento da argumentação.
6. As pessoas têm um sentido de curiosidade natural e uma necessidade de ter voz no espaço público. Quando têm medo da complexidade e incerteza existentes no mundo e aceitam ideias sem espírito crítico, “a desinformação e o discurso de ódio prosperam”. Ora, “Esta curiosidade é algo que se pode desenvolver através da exposição a um leque mais alargado de ideias e materiais desde tenra idade, por exemplo, através das bibliotecas”. É importante que esta curiosidade seja alimentada pelo “valor do jornalismo de qualidade, da ciência ética e da informação fiável”.
7. A IA (Inteligência Artificial) acrescenta “um novo nível de complexidade ao funcionamento da Internet e à forma como a experimentamos”, pelo que é fundamental a partilha de “experiência e conhecimentos sobre ética da informação na conceção de sistemas de IA” e “o desenvolvimento da literacia em IA entre os utilizadores da Internet de todas as idades - algo que as bibliotecas estão bem posicionadas para apoiar”.
8. As bibliotecas são “os atores de referência na promoção do respeito e do interesse por informação de qualidade”, promovendo “a verificação dos factos, ajudando estudantes, investigadores e profissionais a aprender a encontrar a informação correta e dando às pessoas as ferramentas para se manterem seguras na internet. A nível local, por exemplo, quando os governos municipais estão a tentar desenvolver a inclusão e os direitos digitais, a biblioteca é muitas vezes o principal ator”.
9. O Relatório Preliminar destaca ainda a necessidade de as bibliotecas contribuírem para promover a “compreensão da integridade da Informação e questões conexas em todas as partes do mundo”, o que exige a criação de instrumentos e materiais diversos, que tenham em contam culturas e necessidades diferentes da Europa e América do Norte, geografias nas quais esta investigação tem estado centrada.
10. A eficácia de um ecossistema de informação saudável que garanta a integridade da Informação pública implica a colaboração de uma variedade de intervenientes e as bibliotecas têm esta capacidade de mobilização. Apoiam ainda o jornalismo e meios de comunicação independentes, criam oportunidades de verificação de factos, proporcionam acesso aberto e publicações científicas abertas e formam utilizadores de Internet confiantes e seguros, valorizando “uma informação exata, coerente e fiável”.
Concluindo, quando se pretendem implementar soluções de baixo para cima (bottom-up) que envolvam o maior número de pessoas, as bibliotecas escolares que trabalham no terreno com as crianças e jovens, têm um papel fundamental no combate à poluição da informação (information pollution) – informações falsas, enganosas, manipuladas [3] - que se dissemina muito mais rapidamente do que a proveniente de fontes fiáveis e corrói a confiança nas instituições democráticas, gera oposição às políticas públicas (climáticas, de inclusão social…) e violações aos direitos humanos e dificulta o alcance da Agenda 2030.
A Rede Concelhia de Bibliotecas Escolares (RCBE) de Santa Maria da Feira, foi criada no ano 2000, após assinatura de um protocolo entre o Ministério da Educação e a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, através da sua Biblioteca Municipal e dos Agrupamentos de Escolas de Santa Maria da Feira.
A RCBE é constituída por 34 Bibliotecas Escolares. Assumindo a sua missão no âmbito da promoção do livro e das literacias alinha com as políticas educativas municipais. É uma estrutura dinâmica de trabalho colaborativo e cooperativo entre a Biblioteca Municipal e as Bibliotecas Escolares, consolidada através da transferência dos catálogos informáticos individuais de cada uma das BE para um catálogo coletivo, pesquisável através da Internet, que encerra em cada registo a relação dos exemplares e a sua localização concreta. Desta forma, a produção de recursos de informação, torna-se uma realidade mais presente, na medida em que existe uma efetiva partilha de registos bibliográficos e a adoção das tabelas de autoridade utilizadas na Biblioteca Municipal. Esta iniciativa tem por base um dos grandes objetivos das Bibliotecas Escolares: fornecer informação organizada a fim de ajudar a alargar o conhecimento de base dos alunos dos diferentes níveis de ensino, transformando-os em adultos críticos, criativos e consumidores de bens culturais diferenciados, com competência para usar plenamente o direito da cidadania.
São objetivos da Biblioteca Municipal, em articulação com a Rede Concelhia de Bibliotecas Escolares de Santa Maria da Feira:
Potenciar as sinergias existentes entre a Biblioteca Municipal e a Rede de Bibliotecas Escolares;
Acompanhar e estimular o desenvolvimento das Bibliotecas Escolares;
Gerir, de forma normalizada, o catálogo coletivo da Rede Concelhia de Bibliotecas Escolares;
Realizar reuniões regulares com os Professores Bibliotecários e a Coordenadora Interconcelhia da Rede de Bibliotecas Escolares, que têm como finalidade a troca de experiências no âmbito da organização, da gestão e da dinamização de projetos, de acordo com os princípios técnicos e de biblioteconomia;
Promover empréstimos de recursos documentais entre a Biblioteca Municipal e as Bibliotecas Escolares;
Divulgar as atividades do serviço educativo junto dos coordenadores das BE, com especial destaque para a atividade intitulada “Estafeta de Contos: Conto (com)tigo!” em que contadores andarilhos da biblioteca municipal e das bibliotecas escolares difundem estórias e contos, apresentando o que de melhor se faz na área da promoção da leitura, partindo da Biblioteca Municipal e percorrendo as Bibliotecas Escolares do concelho;
Fomentar a partilha de boas práticas e a produção conjunta de recursos, criando condições de implementação, usando como um dos meios, por exemplo, o canal YouTube da RCBE.
A literacia mediática ajuda os alunos a desenvolverem competências de pensamento crítico ao questionarem o que veem em linha.
Como educador que ajuda os colegas a ensinar literacia mediática, proponho esta lição concebida para alunos do ensino secundário.
Mostro aos alunos um vídeo que suscita uma reação emocional, especialmente quando o vídeo atinge o seu clímax, o homem que salva o cão do comboio in extremis. É cativante, está no TikTok e os alunos adoram-no. Tenho a sua atenção.
Pergunto-lhes então se é verdadeiro ou falso, pedindo-lhes que prestem mais atenção antes de o reproduzir novamente. São feitas afirmações, gritadas pelos quatro cantos da sala de aula. O envolvimento e as emoções são elevados. Verificamos os comentários ao vídeo; muitos não põem em causa a sua veracidade, comentando antes o heroísmo do homem que salvou o cão.
Peço então aos alunos que olhem com mais atenção. Os mais perspicazes reparam que a longa sombra do comboio sobre a figura esbaforida do homem deitado no chão, no final, não deveria estar lá. É de facto uma falsificação.
Essa é a parte mais fácil. Torna-se mais difícil quando pergunto aos alunos porque é que acham que este conteúdo falso foi criado. Os alunos entusiasmados ficam subitamente mais calmos, com expressões faciais que me dizem que estão a pensar. Fazem um brainstorming coletivo - por enquanto, não há afirmações certas ou erradas.
É ilegal ter excesso de peso no Japão?
Depois mostro-lhes o título de outro vídeo. É chocante, é cativante, dá vontade de clicar e ver. Será que isto é mesmo verdade? Peço-lhes que levantem rapidamente a mão para ver se querem ver o vídeo. A maioria diz que sim.
Visionamos juntos o filme e depois voltamos ao título. É ilegal ter excesso de peso no Japão? O vídeo não sugere isso, mas eu peço-lhes que procurem mais informações em linha. Fazem um bom trabalho, encontrando fontes fidedignas e não fidedignas, concluindo, em grupo, que o título é enganador. Não, não é ilegal, mas os cidadãos japoneses com idades compreendidas entre os 40 e os 74 anos são obrigados a submeter-se a exames de peso anuais.
Alguém escreveu este título - qual foi a motivação para escrever um título enganador? "Porque querem que as pessoas cliquem nele", exclama um aluno. Convido-os a irem mais longe, pensando paralelamente nas motivações da pessoa que criou o vídeo falso que vimos anteriormente.
"Porque querem ganhar dinheiro."
Eu sorrio.
O "porquê" do pensamento crítico
A aprendizagem é (demasiado) frequentemente uma experiência de caixa de verificação. Temos um conjunto de objetivos, rubricas e prazos a cumprir. Detetar uma falsificação? Verificar! Apontar um título enganador? Verificar! Verificar as afirmações e as fontes? Verificado! Todas estas são competências "técnicas" que temos de ensinar, mas e o porquê?
Ao cultivar o porquê, os alunos estão a desenvolver o seu pensamento crítico, a tomar uma posição, a abalar o status quo. O nosso objetivo é fornecer-lhes as ferramentas que lhes permitam questionar por que razão as aplicações das redes sociais são tão viciantes, por que razão muitas aplicações Web são, à primeira vista, gratuitas, por que razão os títulos enganadores - caça-cliques - prejudicam a nossa experiência em linha.
Ir mais longe no porquê mostra um conhecimento mais profundo da forma como a informação se difunde em linha. Porque é que as histórias em linha são normalmente negativas? Porque é que há engenhos informáticos a criar e a partilhar conteúdos? A questão aborda elementos aparentemente dispersos - desde a psicologia humana até ao modelo de dados da Web baseado em anúncios, desde o nosso instinto de sermos atraídos por títulos sensacionalistas até à nossa tendência para continuarmos a percorrer o ecrã sem objetivo. Todos eles, no entanto, se encaixam num puzzle.
Peças do puzzle: de volta à sala de aula. Com a ajuda de um chatbot de IA, imaginamos uma notícia de última hora sobre um protesto numa grande cidade e confrontos entre os manifestantes e a polícia. Em grupos, são atribuídas aos alunos peças do puzzle. A um grupo é pedido que escreva manchetes de caça-cliques; a outro, que crie posts virais enganadores nas redes sociais. Alguns estudam a criação de contas falsas em vários meios de comunicação social; outros são incumbidos de imaginar como os media de esquerda e de direita retratariam o evento. Um último grupo cria imagens falsas do evento com recurso a IA, utilizando uma das muitas ferramentas atualmente disponíveis para o efeito.
A capacidade de explicar é uma componente fundamental do pensamento crítico, e a turma ouve quando os grupos, mais tarde, não só apresentam os seus resultados, mas também mostram o processo e os passos que deram para chegar ao resultado final. A cada um segue-se uma fase de comentários. Desde o primeiro dia, tenho tentado promover discussões abertas, argumentação e autorreflexão, e estes momentos são fundamentais para isso, com os alunos a liderar o caminho, fornecendo observações e sugestões de melhoria. Explicar como chegaram a esta ou àquela conclusão é fundamental.
Aprender a pensar criticamente exige a capacidade de compreender como é que estas peças do puzzle se encaixam, por isso desenhamos um mapa mental no quadro e ligamos os pontos. Os alunos começam a perceber que a desinformação é muito mais do que simplesmente detetar uma falsificação.
Os alunos de amanhã crescerão, sem dúvida, numa Web radicalmente diferente da atual, mas independentemente da tecnologia, a sua capacidade de pensar criticamente levá-los-á a compreender, questionar e desafiar.
O porquê será tão relevante nessa altura como o é agora.
O texto deste artigo foi traduzido e publicado com a autorização da Edutopia:
Sou um ex-professor de inglês e cofundador da aplicação de tecnologia educativa Sutori. Também fundei a #FilterTheNoise, uma iniciativa de literacia mediática que visa ajudar os alunos a navegar nas notícias e a compreender a política através de lições e recursos gratuitos por e-mail.
No primeiro artigo da série “A inteligência artificial (IA) nas bibliotecas escolares”, exploramos os desafios e oportunidades criados pela IA. Neste segundo artigo, vamos centrar-nos na crescente relevância que os Planos de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas assumem atualmente e propor ações de integração da IA em contexto educativo, com o apoio da biblioteca. Estas ações são apenas sugestões que deverão ser adaptadas por cada agrupamento/ escola, com o apoio da biblioteca, tendo em conta a sua missão estratégica e o contexto específico em que se inserem.
Integração da IA nos Planos de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas
A integração da tecnologia em contexto educativo é uma prioridade para a Comissão Europeia (2020), em alinhamento com outros organismos internacionais (OCDE, 2023; UNESCO, 2023), reconhecendo-se a necessidade de preparar os alunos para uma sociedade cada vez mais influenciada pela tecnologia.
A nível europeu, o Plano de Ação para a Educação Digital (2021-2027) da Comissão Europeia (2020) pretende apoiar a adaptação dos sistemas de ensino à era digital, visando uma educação inclusiva e acessível na Europa. As questões relativas à utilização ética da IA e de dados no ensino e na aprendizagem não foi esquecida, sendo uma das vertentes deste plano.
Os Planos de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas (PADDE) tornam-se, assim, instrumentos cruciais, não só para adaptar a escola à era digital, mas também para apoiar a integração eficaz da IA em contexto educativo.
A biblioteca escolar, enquanto centro de inovação e espaço cada vez mais híbrido, desempenha um papel crucial na (re)definição destes planos, podendo contribuir com ações estratégicas capazes de envolver toda a comunidade educativa na utilização da tecnologia, nomeadamente da IA.
A título de exemplo, apresentam-se algumas propostas de ação, para cada uma das três dimensões do PADDE, organizacional, pedagógica e tecnológica. Estas sugestões devem ser vistas como pontos de partida, que cada agrupamento/ escola deve adaptar às suas necessidades específicas, tendo em conta o seu contexto, visão e objetivos.
I. Dimensão Organizacional
A biblioteca escolar assume um papel crucial na integração efetiva da IA na esfera organizacional. A direção e as estruturas intermédias, entre as quais se integra a biblioteca, devem refletir sobre os desafios criados pela IA, tomando decisões sobre a sua utilização em contexto escolar, tendo em conta as orientações nacionais e internacionais, bem como os objetivos do Projeto Educativo e de outros documentos de referência do agrupamento/ escola.
Neste âmbito, sugerem-se as seguintes ações:
Criar um grupo de trabalho para a IA
Este grupo de trabalho deve ser composto por representantes da biblioteca, da direção e de outros departamentos da escola. O objetivo deste grupo é coordenar a implementação da IA na escola e garantir que a sua utilização esteja alinhada com os objetivos da escola e com as recomendações nacionais e internacionais.
Desenvolver um plano estratégico para a utilização da IA
Este plano deve estabelecer os objetivos do agrupamento/ escola para a utilização da IA e as ações a serem implementadas para alcançar esses objetivos. O plano deve ser desenvolvido com a participação de todos os stakeholders, incluindo o(s) professor(e)s bibliotecário(s).
Monitorizar o impacto da IA
É importante monitorizar o impacto da IA no agrupamento/ escola, para garantir que está a ser utilizada de forma eficaz e responsável. A monitorização pode ser feita através da análise de dados, como por exemplo, os resultados dos alunos, as opiniões dos professores e dos alunos e o feedback dos diferentes stakeholders.
II. Dimensão Pedagógica
A biblioteca escolar posiciona-se como agente transformador, impulsionando a excelência no ensino e na aprendizagem e, por isso, desempenha um papel crucial na integração da IA em contexto escolar. Ao adotar a IA, as bibliotecas escolares criam um ambiente dinâmico e inovador que apoia a participação ativa dos alunos e a personalização das experiências de aprendizagem. Contudo, é fundamental garantir os princípios éticos na utilização da IA, preservando a privacidade e segurança dos dados.
Relativamente à dimensão pedagógica, sugerem-se as seguintes ações:
Criar um repositório de recursos educativos
A criação de um repositório abrangente de recursos educativos (jogos, aplicações, vídeos e outros materiais que explorem as potencialidades da IA para a aprendizagem) facilita a sua utilização, promovendo a integração dessas ferramentas inovadoras em contexto educativo e fomentando a colaboração entre os professores.
Apoiar os professores na utilização da IA
A biblioteca pode organizar cursos e oficinas de formação para apoiar os professores na utilização da IA em contexto de sala de aula. Poderá, também, criar pequenos tutoriais, para a utilização de diferentes ferramentas.
Desenvolver atividades de aprendizagem com recurso à IA
A biblioteca pode desenvolver atividades de aprendizagem com recurso à IA, adaptadas às necessidades individuais de cada aluno, para promover a aprendizagem personalizada. Estas atividades podem ser utilizadas para apoiar a aprendizagem em diferentes áreas curriculares, mas também no âmbito das diferentes literacias.
Criar programas de tutoria personalizados
A criação de programas de tutoria personalizados baseados em IA pode ser bastante útil para apoiar alunos com necessidades educativas. A IA pode ser utilizada para adaptar a tutoria às necessidades individuais de cada aluno, fornecendo feedback personalizado, identificando áreas de dificuldade e oferecendo estratégias de aprendizagem adaptadas.
Criar programas de formação para alunos sobre o uso ético da IA
As bibliotecas escolares devem promover a literacia mediática dos alunos e uma compreensão ética do uso da IA, podendo fazê-lo através de atividades de aprendizagem e de formação. Os programas de formação podem incluir sessões, debates e projetos de investigação sobre os desafios éticos do uso da IA. Estes programas podem ajudar os alunos a desenvolverem uma compreensão crítica da IA e a utilizarem a tecnologia de forma consciente e responsável.
III. Dimensão Tecnológica
É necessário garantir uma infraestrutura tecnológica adequada e estabelecer políticas de segurança robustas, assegurando a conformidade com leis e regulamentos de privacidade de dados. Para tal, sugere-se a elaboração de um plano de gestão de risco que considere as implicações éticas associadas à implementação da IA na escola. A biblioteca escolar pode desempenhar um papel fundamental no apoio à elaboração deste plano, promovendo uma abordagem ética e segura na integração da IA em contexto educativo.
A biblioteca escolar, como centro dinâmico de recursos e conhecimento, desempenha um papel crucial no apoio ao desenvolvimento digital das escolas. Ao alinhar estrategicamente a integração da IA com os objetivos da biblioteca e da escola, os professores bibliotecários têm uma oportunidade única de liderar iniciativas que impulsionam a inovação. Através da colaboração, formação contínua e exploração responsável da IA, as bibliotecas escolares podem não apenas transformar-se em centros de aprendizagem digital, mas também capacitar alunos e professores para enfrentar os desafios de uma sociedade cada vez mais digitalizada.
OECD Education International. (2023). Opportunities, Guidelines and Guardrails on Effective and Equitable Use of AI in Education. https://bit.ly/41Kod1V
Lídia é uma jovem muito popular, na sua escola, “sabe responder na ponta da língua a quase todas as perguntas que lhe fazem, e isto quer as perguntas sejam postas por colegas, quer por professores”, mas também por ser muito imaginativa. Lídia, a jovem curiosa, provavelmente uma excelente leitora, foi com os seus colegas de turma e a Setôra Ideias visitar a Imprensa Nacional. Uma verdadeira aventura através do tempo!
A visita ao edifício da Imprensa Nacional começou pela biblioteca, outrora denominada “Biblioteca da Impressão Régia”, instalada no Palácio de D. Fernando Soares de Noronha, encantou todos que permaneceram “um bocado a olhar para as paredes e para os livros. Entre os volumes encontravam-se coleções de revistas antigas com encadernações vistosas”.
Sabemos que atualmente, a biblioteca da Imprensa Nacional é a fiel guardiã de um acervo com cerca de 20 mil livros, incluindo os incunábulos e as primeiras edições da Imprensa Régia. A visita continua e Lídia acompanha os diferentes momentos históricos que atravessam a vida da Imprensa Nacional, assim ficamos a saber que “dentro da impressa nacional existiu uma escola. Ou melhor: várias escolas. Na verdade, desde a sua criação, cada oficinarecebia aprendizes, normalmente com 14 anos, que eram ensinados a compor, imprimir, desenhar, gravar e fabricar letras” ou que a Imprensa Nacional “imprimiu obras e documentos importantes que hoje nos ajudam a compreender o impacto da ocupação francesa” ou ainda aprender sobre o trabalho feminino, entre o final do século XIX e o início do século XX, nas oficias.
A Lídia no País das Armadilhas - A história maravilhosa da Imprensa Nacional é uma aproximação ao livro informativo. O subtítulo indica-nos o tema, o glossário surge no final do livro, o texto é preciso, claro e rigoroso historicamente, mas a narrativa é pincelada com imaginação, dando ritmo à leitura. As imagens não são as típicas fotografias ou gráficos, que usualmente se encontram num livro informativo, mas sim, ilustrações elucidativas que ampliam a compreensão do texto. Nas últimas páginas muito aprendemos sobre a evolução dos prelos, das máquinas de impressão litográficas ou da primeira geração da offset. Sempre em tons de vermelho e verde recordando as cores da pátria.
Conhecem a Gazeta de Lisboa? Talvez não. E, se vos perguntar se conhecem o Diário da República? Talvez já tenham ouvido falar ou necessidade de consultar. A publicação da legislação oficial hoje é disseminada em formato digital, mas nem sempre assim foi. Aqui fica o desafio para que os jovens leitores descubram a evolução desta publicação, assim como as capas de algumas das obras simbólicas da Imprensa Nacional.
Segundo Information Integrity on Digital Platforms, “integridade da informação refere-se à precisão, consistência e confiabilidade da informação [sublinhado nosso]” (UN, 2023, p. 5) [1]. Expressão frequentemente usada na computação, designa a qualidade de dados não adulterados e validados por especialistas.
Information Integrity on Digital Platforms é o oitavo de uma série de 11 Resumos de Políticas (Policy Brief) das Nações Unidas publicados entre março e setembro de 2023, que reflete sobre as implicações da desinformação e do discurso de ódio “na confiança [das instituições], segurança, democracia e desenvolvimento sustentável” (p. 10), considerando-os ameaça civilizacional e existencial.
Reconhece que a integridade da informação é uma prioridade política: previne o discurso falso e de ódio/polarizado que afeta sobretudo grupos vulneráveis, torna o ambiente digital menos inclusivo e representativo, exacerba conflitos e gera falta de coesão social, faz crescer o movimento anti-vacinação (“infodemia”) e pseudo-ciência, inibe a ação climática, influencia eleições e faz retroceder a governação democrática e a paz.
Esclarece que este não é um problema novo, mas que o surgimento de plataformas digitais, confere-lhe uma dimensão exponencial. Criado intencionalmente ou não, inclusive por atores estatais, afeta todos os setores do desenvolvimento, podendo comprometer o alcance da Agenda 2030 (esquema síntese, p. 13).
Código de Conduta
Information Integrity on Digital Platforms propõe um conjunto de princípios para um Código de Conduta para a Integridade da Informação em Plataformas Digitais que visa construir um “espaço digital mais inclusivo e seguro”, no qual se experiencie o “direito à liberdade de opinião e expressão e o direito de acesso à informação” (p. 2).
O Código de Conduta das Nações Unidas baseia-se em 9 princípios, dos quais se destacam os seguintes:
- Compromisso com a integridade da informação: “Todas as partes interessadas devem abster-se de usar, apoiar ou ampliar a informação falsa e o discurso de ódio para qualquer finalidade” (pp. 19, 20);
- Respeito pelos direitos humanos: “Os Estados-membros devem: (i) Assegurar que as respostas à informação falsa e ao discurso de ódio (…) não sejam utilizadas de forma a bloquear qualquer expressão legítima de pontos de vista ou opinião, inclusive por meio de desligamentos gerais da Internet ou proibições de plataformas ou meios de comunicação” (p. 19);
- Apoio a média independente e a “organizações independentes de verificação de factos nos idiomas locais” e garantir relatórios independentes e éticos e condições de trabalho para jornalistas (pp. 19, 20);
- Aumento da transparência: “As plataformas digitais devem: (i) Garantir transparência significativa em relação aos algoritmos, dados, moderação de conteúdo e publicidade. (ii) Publicar e divulgar políticas acessíveis sobre informação falsa, desinformação e discurso de ódio” (p. 20);
- Empoderamento/capacitação dos utilizadores: “Os Estados-membros devem garantir o acesso público a informações governamentais corretas, transparentes e de fontes confiáveis, particularmente informações que atendam ao interesse público, incluindo todos os aspetos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (p. 20);
- Maior confiança e segurança: “As plataformas digitais devem: (i) Garantir a segurança e a privacidade (…) juntamente com a aplicação consistente de políticas em todos os países e idiomas. (ii) Investir em sistemas de moderação de conteúdo feitos por inteligência humana e artificial em todos os idiomas (…) tomar medidas urgentes e imediatas para garantir o uso seguro, protetor, responsável, ético e compatível com os direitos humanos da inteligência artificial” (p. 21).
A aprovação deste Código de Conduta pelos Estados-Membros, que ocorrerá na Cimeira do Futuro de setembro de 2024, surge no contexto da aprovação, em 2022, do Código de Conduta em matéria de Desinformação da UE, cujas plataformas e empresas de publicidade signatárias - das quais o Twitter/X se retirou - se comprometem voluntariamente a:
- Reduzir os incentivos financeiros dos fornecedores de desinformação;
- Adotar medidas de transparência de publicidade política;
- Garantir a integridade dos serviços (informando e combatendo contas falsas, usurpação de identidade e deepfakes);
- Capacitar os utilizadores;
- Cooperar com a comunidade de verificação de factos;
- Proporcionar aos investigadores um melhor acesso aos dados [2].
O papel das bibliotecas
No seu parecer sobre este Resumo de Políticas, a IFLA, em representação de todos os setores das bibliotecas, considera muito positivo que o Secretário-Geral das NU reconheça a importância do acesso universal a informação fiável e da capacitação do utilizador, dando enfoque a uma literacia digital mais ampla que inclui saber lidar com a desinformação e o discurso de ódio e ter controlo sobre os próprios dados [3].
Celebra e associa-se ao “apoio aos meios de comunicação independentes de qualidade” e de “organizações independentes de verificação de factos, que desempenham um papel cada vez mais importante” e à necessidade de regulação para transparência das plataformas digitais que o documento destaca, bem como à importância destas soluções se aplicarem em todo o mundo e não apenas nos países ricos.
A IFLA tece “áreas para melhoria”, designadamente: “promover o acesso a toda a informação, e não apenas à que chega através da imprensa ou do governo”, conforme o artigo 19.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos e “o papel da ciência e, em particular, do acesso aberto e da ciência aberta” e das bibliotecas, cujo papel o documento não refere e que promovem o pensamento crítico/livre sobre informação de qualidade e jornalismo e media locais e dos cidadãos.
Em Bibliotecas como Pilares da Integridade da Informação [4], a IFLA sublinha que as bibliotecas “há muito que não só compreenderam a necessidade de informação fiável, verificável e precisa, como também a forneceram [sublinhado nosso]” e podem contribuir para políticas futuras no setor.
Em geral, este Resumo de Políticas marca uma oportunidade de as bibliotecas reforçarem, no terreno, a sua participação no combate à desinformação, através da capacitação dos utilizadores e do reforço do investimento em outros setores interligados, dos quais é responsável, como a defesa do acesso aberto, da privacidade e da segurança.
Nota conclusiva
Sobre o contexto/implicações da integridade da informação, o Índice Mundial da Liberdade de Imprensa 2023 da ONG francesa, Reporters Without Borders, conclui que “o ambiente para o jornalismo é ‘mau’ em sete em cada dez países” e que o “jornalismo está ameaçado pela indústria de conteúdo falso” das redes sociais, fonte de notícias preferida dos cidadãos [5].
“Pelo 19º ano consecutivo, a governação democrática sofreu um declínio global”, afirma o relatório global anual da americana Fredoom House 2023. “A pontuação da democracia diminuiu em 11 dos 29 países do relatório” e os governos autocráticos “persistem no seu ataque interno aos restantes vestígios de independência institucional nos meios de comunicação social, na governação local e, sobretudo, na sociedade civil” [6].
A desinformação, o declínio da imprensa independente/livre, a repressão da liberdade de expressão e a censura são sintoma e terreno propício para crescimento de governos autocráticos/autoritários.
por Ana Paula Couto, Professora Bibliotecária do AE da Corga de Lobão, Santa Maria da Feira
No atual cenário educacional, o trabalho colaborativo desempenha um papel crucial no sucesso dos alunos e no crescimento das instituições de ensino. Mais do que uma simples tendência, o trabalho colaborativo nas escolas é uma necessidade premente para dar resposta às exigências crescentes que se fazem sentir. Quando as estruturas pedagógicas das escolas se unem em colaboração, elas têm o poder de criar experiências de aprendizagem mais ricas e significativas para os alunos.
Consciente dessa realidade, no papel de professora bibliotecária de quatro Bibliotecas, no Agrupamento de Escolas da Corga de Lobão, o meu compromisso é ir além do simples reconhecimento dessas necessidades. Em todas as iniciativas da Biblioteca, busco não apenas implementá-las, mas também criá-las em estreita articulação, valorizando, acima de tudo, o trabalho colaborativo com as equipas educativas de todos os anos de escolaridade. Iniciativas como "10 Minutos a Ler", "Miúdos a Votos", "Já sei ler", "Leitura em vai e vem", "Leitura Orientada com a Biblioteca Escolar", "Cidadania e Biblioteca Escolar", “Dia da Cultura Científica”, entre outras do Plano Anual de Atividades, são exemplos tangíveis dessa colaboração estreita e da parceria da Biblioteca com todos os docentes do Agrupamento.
Acredito firmemente que é por meio dessa união de esforços que conseguiremos verdadeiramente enriquecer as experiências de aprendizagem dos alunos e promover um ambiente educativo mais dinâmico. Daí que as Candidaturas apresentadas e apoiadas pela Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) – Bibliotecas Digitais e Leituras com a Biblioteca – desempenham um papel crucial nesse processo, proporcionando oportunidades concretas para a implementação prática dessas ideias. Essas candidaturas não são apenas documentos formais; são expressões concretas do nosso compromisso coletivo com a inovação, a interdisciplinaridade e a promoção de práticas educacionais que transcendem as fronteiras tradicionais. Elas refletem a convicção comum de que o envolvimento conjunto de docentes, alinhados com objetivos comuns, é a chave para alcançar um impacto significativo na jornada educacional dos nossos alunos. Refira-se, ainda, que o sucesso dos projetos associados às Candidaturas, no nosso Agrupamento, não se limita ao período inicial de implementação (estendendo-se no tempo) e extrapola os anos de escolaridade inscritos (alargando-se a outros anos de escolaridade não previstos nos projetos iniciais), o que me deixa muito satisfeita e me motiva a continuar a apostar nesta forma de trabalhar com os meus colegas, que estão sempre recetivos e abertos a colaborar.
Na proposta da Candidatura Bibliotecas Digitais, proporcionamos formação certificada ao corpo docente, uma iniciativa conduzida por mim, professora bibliotecária, e um docente especializado em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) do Agrupamento. O propósito central foi impulsionar a criação de materiais e de recursos educativos em plataformas digitais que incentivassem a aprendizagem colaborativa, mas também fomentassem a interação e a participação ativa dos alunos. No âmbito da Candidatura Leituras com a Biblioteca, a nossa meta foi transcender as fronteiras convencionais das disciplinas, buscando – através da literacia da leitura, da informação e digital – tornar a aprendizagem mais eficaz, mas também mais envolvente. Esta abordagem procurou abraçar uma visão holística do conhecimento, interligando conceitos de diferentes disciplinas para criar uma compreensão mais profunda e contextualizada. Entendemos que ao articular os conteúdos de várias disciplinas, os alunos podem aplicar os seus conhecimentos de maneira mais eficaz e compreender como esses conceitos se relacionam com o mundo real.
Desta forma, as Bibliotecas Escolares que coordeno vão muito além de serem simples depósitos de livros e recursos; elas são centros de aprendizagem dinâmicos, amplamente reconhecidos pelo corpo docente como impulsionadores do trabalho colaborativo e da interdisciplinaridade. São espaços que proporcionam um ambiente propício para a interação entre professores, alunos e recursos, tornando-se locais ideais para a realização de pesquisas, discussões e desenvolvimento de projetos colaborativos.
Considero que, ao promover ativamente o trabalho colaborativo e ao aproveitar os recursos disponíveis na Biblioteca, estamos, na prática, a preparar os alunos para se destacarem num mundo cada vez mais complexo e interligado. Essa abordagem reflete não apenas o meu compromisso, mas sim um compromisso profundamente enraizado, no Agrupamento, de oferecer uma educação de qualidade.
Ana Paula Couto Professora Bibliotecária Agrupamento de Escolas da Corga de Lobão, Santa Maria da Feira
*Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.
Mais do que as mudanças que se têm operado na escola, mudou o modo como os alunos aprendem e é fundamental que as bibliotecas escolares acompanhem esta transformação. Há que repensar, por isso, o espaço da biblioteca, adaptando-a às novas formas de aprender e de estar na escola.
Desde 2022-2023, a Rede de Bibliotecas Escolares definiu como uma das prioridades para as bibliotecas (de acordo com o Quadro Estratégico da Rede de Bibliotecas Escolares para 2021-2027) a necessidade de reequacionar o espaço físico, garantindo a inclusão, a segurança, o acolhimento, a multifuncionalidade e a flexibilidade e viabilizando as múltiplas vertentes da ação da biblioteca. Esta necessidade de reconfigurar o espaço da biblioteca não obriga, necessariamente, a uma mudança radical de paradigma ou conceção de biblioteca, mas deve permitir conciliar novas práticas com um uso mais convencional do espaço, correspondendo, sempre, às necessidades e expetativas dos seus utilizadores.
É expectável que as nossas bibliotecas sejam espaços atrativos, confortáveis, flexíveis, multifuncionais, fluidos, seguros, acessíveis e inclusivos, mas estas mudanças nem sempre são fáceis.
Há que repensar o espaço físico e o modo como está organizado e equipado. O mobiliário deverá ser o mais flexível e versátil possível, evitando barreiras visuais e permitindo múltiplas formas de utilização.
Por onde começar, então?
1 – Repense, criticamente, o espaço: dê um passo atrás e observe com atenção. Veja a biblioteca como um todo. O que é que funciona e o que é que precisa de ser melhorado?
2 – Planifique as mudanças a fazer, tendo em mente palavras-chave importantes: amplitude, bem-estar, conforto, flexibilidade, fluidez, inclusão, inovação, mobilidade, multifuncionalidade, renovação, utilidade.
3 – Ouça os outros. É fundamental ouvir as opiniões dos utilizadores da biblioteca: os alunos, os professores, os assistentes operacionais, a direção... Que alterações fariam? Como é que melhorariam o espaço?
4 – Estabeleça parcerias (internas e externas): procure patrocínios, investidores ou mecenas disponíveis para contribuir com recursos que ajudem a otimizar o espaço.
6 – Experimente várias soluções. Nem sempre se acerta à primeira. Por vezes, é preciso errar para chegar à solução.
7 – Divirta-se. Tentar melhorar o espaço da biblioteca não é sempre um processo pacífico, mas pode ser algo divertido, principalmente se não for uma tarefa solitária!
Ao tratar os media como texto, os professores podem criar uma aula rápida, relevante e acessível que estimule um debate animado.
Perante o ataque 24 horas por dia de gráficos, imagens, áudio e vídeos que atingem os alunos de todas as idades, temos de os capacitar como utilizadores e de os ajudar a desenvolver as competências necessárias para lerem e analisarem os textos multimédia que os rodeiam. É fácil assumir que as crianças nativas na tecnologia sabem como navegar nos media. Mas "nativo digital" não é o mesmo que "competente digital".
Os alunos ainda precisam de ensino e prática explícitos sobre como ler todos os tipos de media. O desenvolvimento desta competência prática aumenta a adesão e ajuda a desenvolver as habilidades fundamentais de que os alunos necessitam para criarem os seus próprios produtos mediáticos.
Porquê utilizar os media: uma recapitulação
Se já utiliza textos multimédia na sua sala de aula, aqui está uma confirmação. Se não utiliza esses textos com regularidade, seguem-se algumas razões para reconsiderar.
Eficientes: A maioria dos media (fotos, vídeos, áudio, infográficos e memes) é curta, o que permite aos alunos analisarem vários textos e ganharem mais prática na aplicação de competências numa só aula. Experimente mais exemplos; reveja e analise mais histórias; pratique a identificação de contexto, subtexto, tom, simbolismo e temas em história e português.
Relevante: A utilização de textos multimédia é uma excelente forma de trazer diferentes locais, culturas e pessoas para a sua aula. Pode responder rapidamente a circunstâncias em mudança, incorporar acontecimentos da atualidade e explorar os interesses dos alunos. Além disso, desenvolverá a sua inteligência socioemocional ao ajudar os alunos a lerem e a analisarem a história, a cultura e as emoções presentes em cada objeto mediático.
Envolvente: Uma vez que é possível utilizar conteúdos multimédia que se relacionam com a realidade dos alunos, esses recursos podem lançar um diálogo mais autêntico e ajudar a envolver todos. Como ponto de partida, os textos curtos estimulam o debate, as tarefas de escrita, a reflexão, as ligações pessoais e a investigação, e podem levá-los a aprofundarem qualquer tópico.
Acessível: A natureza omnipresente dos media (incluindo fotografias, vídeos, áudio e memes) facilita a sua adição a qualquer aula. Não é necessário comprar livros ou textos, não é necessário preocupar-se com material desatualizado. Estão amplamente disponíveis opções gratuitas e de acesso livre.
Leitura e análise de media: questões para apoiar o trabalho dos alunos
Para além de discutir os 3Q+OP - Quem, O quê, Quando, Onde e Porquê - os textos multimédia oferecem inúmeras oportunidades para aprofundar o contexto e o subtexto de ideias, questões e acontecimentos. Ao partilhar media com os alunos, comece com os 3Q+OP e depois incentive-os a ler criticamente.
Veja algumas perguntas e atividades para ler textos multimédia:
Qual é o objetivo? O que é que o produtor quer que os utilizadores façam?
Que história está a ser contada?
Quem a está a contar?
Como é que a história vos faz sentir? Como é que a história vos fez sentir isso?
Que técnicas de narração de histórias se vêem? O que é que se ouve?
Em que é que a história vos faz pensar?
Que ferramentas (luz, sombra, cor; movimento, imagens; som; composição, justaposição; densidade, espaço; carácter, pressupostos, estereótipos) estão a ser utilizadas para contar esta história?
Quem/o quê está a ser deixado de fora da história?
O que é que aconteceu antes do que está a ser apresentado? O que é que aconteceu depois?
Que dispositivos retóricos e recursos expressivos estão a ser utilizados? Pensem no seu impacto.
Como é que as cores, as imagens e o texto funcionam em conjunto?
Imagens como textos
As imagens são excelentes, em parte porque o chavão é verdadeiro: uma imagem vale mais de mil palavras. E quanto mais ajudar os alunos a aprenderem a ler fotografias, mais palavras irão descobrir. Quer as utilize como um alerta rápido, como inspiração para uma atividade de análise ou como ponto de partida para um debate, as imagens (incluindo anúncios, memes, fotografias, pinturas e esculturas) introduzem contexto em qualquer aula, com camadas adicionais de ação e emoção.
Indicamos aqui algumas ideias para a leitura de fotografias:
Interagir com imagens: Ponha os alunos em movimento com estas atividades de Imagens Vivas. Nota: Embora as fotografias destaquem conteúdos de estudos sociais, as atividades são todas universais e baseadas em competências. Troque por fotografias relacionadas com qualquer conteúdo.
Inverter o guião: Para além de responder aos 3Q+OP e às perguntas de análise (acima), inverta o guião ao ler imagens: A maioria das pessoas nas culturas ocidentais lê da esquerda para a direita, de cima para baixo. Como é que leram a fotografia? O que acontece à história desta imagem se a lermos da direita para a esquerda? De baixo para cima? Alguma coisa muda?
Microinvestigação: Atribua a cada aluno ou grupo uma fotografia relacionada com um conceito, uma ideia ou uma pessoa. Os alunos investigam com base na fotografia. Bónus: Os alunos podem incorporar fisicamente a fotografia em apresentações para partilharem a sua investigação.
Mudar as lentes: Desafie os alunos a verem de forma diferente o que veem todos os dias: Como é que uma pessoa de uma geração ou cultura diferente poderia experienciar estes media? Os anúncios e os vídeos de música funcionam particularmente bem.
Algumas sugestões de coleções de fotografias e recursos:
Quer tenha crescido com uma televisão, um sistema de projeção ou uma sala dedicada ao visionamento de filmes e curtas-metragens, alguma versão de vídeo fez parte da sua educação, tal como deveria ter feito. Os vídeos ajudam a captar todas as nuances que as palavras não captam e são ferramentas de envolvimento comprovadas.
Tal como acontece com a leitura de imagens, os alunos precisam de aprender a ler e a analisar todos os aspetos dos vídeos para os interpretarem plenamente. Ajude-os a aperfeiçoar as suas competências naturais e prepare-os para tarefas futuras de criação dos seus próprios vídeos.
Seguem-se algumas ideias para a leitura de vídeos:
Ler as camadas da história: Os alunos já sabem que há muitas ferramentas que ajudam a contar uma história. Da iluminação ao som e ao ritmo, desenvolva as suas capacidades de pensamento crítico com algumas instruções explícitas sobre técnicas de realização de filmes. Os alunos adoram este vídeo sobre a ratoeira, que suscita muito debate sobre a estrutura da história e o arco narrativo, a música e a iluminação. Da mesma forma, este vídeo (atenção - há um palavrão) tem tudo: risos, lágrimas e todas as emoções especiais.
Ler com todos os sentidos: Embora este vídeo de Michael Phelps já esteja ultrapassado, continua a ser um ótimo conteúdo com uma infinidade de camadas. A iluminação e as imagens, por si só, contam uma história, por isso, deixe-as contar. Apresente o vídeo uma vez e peça aos alunos que respondam às cinco perguntas. Apresente o vídeo uma segunda vez, desta vez sem som. Pergunte aos alunos: "O que é que viram?" Passe uma terceira vez, mas peça aos alunos que fechem os olhos e se limitem a ouvir. "O que é que ouviram? Sentiram?" Repita o visionamento uma última vez. "Como é que a mudança de sentidos influenciou a vossa leitura do texto?" "Como é que o realizador consegue manipular os sentidos para aumentar o impacto da comunicação?"
Ler o que os alunos querem: Peça aos alunos que partilhem os seus favoritos do TikTok e do YouTube. Se os alunos se identificarem com o conteúdo, terá mais sucesso. Defina tarefas de sala de aula e/ou de projeto que exijam que os alunos tragam vídeos relacionados com o conteúdo da aula. Um "Criador de contexto" encontra vídeos actuais que se baseiam nos tópicos e temas da aula; o "Arquivista" traz conteúdo histórico para aprofundar a compreensão; o "Influenciador" identifica imagens, memes e publicações das redes sociais que se relacionam com o conteúdo da disciplina. Talvez até tenha também uma função de "riso leve" responsável por trazer um pouco de humor - relacionado ou não com o conteúdo. Redistribua os papéis todas as semanas.
A utilização de media na sala de aula liga os alunos aos conteúdos de forma autêntica e cativante e ajuda-o a ligar-se também aos seus alunos. A diversidade dos media torna-os uma excelente forma de dar início a uma aula, aprofundar um conteúdo ou encerrar um conceito. Independentemente do ponto de partida e do ponto de chegada, a utilização de vídeos, áudio, fotografias, infografias e memes na sala de aula será uma vitória.
O texto deste artigo foi traduzido e publicado com a autorização da Edutopia:
Darcy Bakkegard é professora de inglês/ teatro e formadora de professores. Com 10 anos de experiência no ensino de inglês e teatro, Bakkegard é especialista em estratégias interativas para a sala de aula, integração tecnológica significativa e construção de relações com os alunos. Bakkegard é uma Educadora Certificada ISTE, uma apresentadora internacional experiente e empoderadora de professores. É coautora do livro The Startup Teacher Playbook para ajudar os professores a reacender a sua paixão pelo ensino e a tornar o desenvolvimento profissional significativo.