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Blogue RBE

Qui | 30.11.23

UN: COP28 e o papel das bibliotecas

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1. COP28

A 28.ª Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC) reúne anualmente os países (Partes) que assinaram o acordo de Paris de 2015, celebrado na COP21 e que limita o aumento da temperatura global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais até 2100.

Organizada pelos Emirados Árabes Unidos, realiza-se de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023, no Dubai e visa avaliar as medidas adotadas e determinar as responsabilidades e a ambição.

Destaca a reflexão sobre os progressos no âmbito de 4 temas: tecnologia e inovação, inclusão, comunidades da linha da frente e finanças.

Para envolvimento e apresentação da COP28 junto dos jovens destacam-se os vídeos Changes Start here [1] e Bringing the world together [2].

2. Acelerar a transição energética justa

No âmbito da mudança climática, um dos tópicos fundamentais é a transição justa e inclusiva em direção à descarbonização, “criando oportunidades de trabalho digno e não deixando ninguém para trás” (OIT - International Labour Organization/ Organização Internacional do Trabalho) [3].

Abordar mudanças climáticas numa perspetiva de transição justa tem, segundo a UNDP (United Nations Development Programme/ Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), benefícios, tais como:

  • Conquistar “apoio público para uma maior ambição climática” que permita abandonar combustíveis fósseis e formas de produção e consumo poluentes;

  • Apoiar “uma revolução de empregos verdes” que crie novos empregos e “garanta salários dignos, proteções adequadas de segurança no local de trabalho e benefícios de saúde”;

  • “Impulsionar soluções locais”, adaptadas a cada contexto e baseadas em processos consultivos.  

A transição justa permite o progresso no âmbito de outros setores, designadamente “energia limpa e acessível, trabalho digno e crescimento económico, redução das desigualdades e produção e consumo responsáveis” - ODS 7, 8, 10 e 12, respetivamente – e é da responsabilidade de todos os níveis de governação, das empresas, de organizações de trabalhadores e de cidadãos.

3. Educação Ecológica

A comunidade internacional reconhece a importância crescente da educação para acelerar o progresso em todos os setores.

A TES (Transforming Education Summit/ Cimeira Transformar a Educação) estabeleceu como uma das prioridades temáticas a Educação Ecológica e lançou a Parceria para uma Educação Ecológica (Greening Education Partnership) [4], para acelerar a educação para a mudança climática.

A Parceria é liderada pela UNESCO e cobre 4 áreas de ação/ pilares:

“Tornar as escolas mais verdes;

Tornar os currículos mais ecológicos;

Tornar mais verde a formação de professores e as competências do sistema educativo;

Tornar mais verdes as comunidades” [5].

Através da Parceria visa-se promover competências, valores e atitudes compatíveis com a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS), adotar formas de governação inclusiva e participativa e adaptar instalações, estabelecer alianças e certificação baseadas nos princípios de sustentabilidade.

Na COP28 a UNESCO coorganiza o primeiro Centro de Educação Ecológica que inclui inúmeras atividades educativas de mobilização, partilha de boas práticas e oportunidades de ação futura nas 4 áreas, lideradas por jovens.

A UNESCO tem vindo a organizar conversas globais (webinars) que reforçam a importância da educação para a ação climática, contribuem para o ACE (Action for Climate Empowerment/ Ação para o Empoderamento Climático) aprovado na COP27 e preparam os jovens para participação na COP28 [5].

4. IFLA: as bibliotecas na COP28

Para destacar o papel das bibliotecas, a IFLA apresentou contributos que foram integrados no resumo do Relatório de Atividades da Action for Climate Empowerment da COP28:

“A IFLA esclarece a posição única das bibliotecas como espaços comunitários públicos para a aprendizagem ao longo da vida, que podem alcançar pessoas de todos os grupos demográficos, defender o acesso à informação e permitir a participação pública nas políticas e ações climáticas. Desde janeiro de 2022, a Federação aumentou a comunicação com os seus membros e rede de profissionais de bibliotecas em todo o mundo para aumentar a sensibilização para o ACE, incentivar uma maior ação e defesa em relação ao ACE e amplificar a ação das partes interessadas das bibliotecas a todos os níveis para implementar o ACE” [6].

Neste documento a IFLA apela à colaboração das bibliotecas de todos os países para lhe fazerem chegar evidências sobre comunicação e educação climática.

5. Questões éticas da COP28

A COP28 está a ser alvo de protestos e divisões por ocorrer num Estado que é um dos principais produtores de petróleo do mundo e por o líder das negociações, o sultão Ahmed al-Jaber, ser o presidente-executivo da Companhia Nacional de Petróleo estatal dos Emirados Árabes Unidos [7].

O petróleo, tal como o gás e o carvão, é uma das principais causas da crise climática porque é um combustível fóssil que, quando queimado para gerar energia, liberta gases de efeitos de estufa e CO2 que aquecem o planeta. 

O país anfitrião e a ONU emitiram um comunicado assegurando que na COP28 haverá um “espaço disponível para os ativistas climáticos se reunirem pacificamente e fazerem ouvir as suas vozes”, designadamente daqueles que mais são alvo do problema e dos jovens.

Referências

  1. (2023). Waiting on the World to Change. Playing For Change. https://www.youtube.com/watch?v=yTU2J2xnkbg 
  2. (2023). COP28: Bringing the world together. United Arab Emirates. https://youtu.be/tSek0dk-uh4
  3. (2022). O que é apenas transição? E por que isto é importante? United Nations Development Programme. https://climatepromise.undp.org/news-and-stories/what-just-transition-and-why-it-important
  4. (2023). Parceria para uma educação mais ecológica. United Nations. https://www.un.org/en/transforming-education-summit/transform-the-world
  5. (2023). Educação sobre alterações climáticas para a transformação social: abordagem de toda a instituição para tornar todas as escolas mais ecológicas. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. https://www.unesco.org/en/education-sustainable-development/cop28-cce-webinars
  6. (2023). IFLA e bibliotecas apresentadas no relatório de atividades da COP28 Action for Climate Empowerment. International Federation of Library Associations and Institutions. https://www.ifla.org/news/ifla-and-libraries-featured-in-cop28-action-for-climate-empowerment-activity-report/
  7. BBC News. (2023). Divisões profundas antes das negociações climáticas cruciais da ONU. https://www.bbc.com/news/science-environment-67271688
  8. 📷 (2023). COP28 UAE - United Nations Climate Change Conference. United Arab Emirates. https://www.cop28.com/

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Qua | 29.11.23

Concurso Nacional de Leitura em Voz Alta

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Atenção: O prazo de envio das propostas para este concurso foi alargado para 30/04.

O Concurso Nacional de Leitura em Voz Alta, lançou a sua quarta edição. Esta é uma iniciativa da Câmara Municipal da Sertã / Biblioteca Municipal Padre Manuel Antunes e da empresa Palser, sediada na Sertã, contando com o apoio da Rede de Bibliotecas Escolares.

Dirigido às bibliotecas escolares portuguesas, o concurso desafia alunos com idade igual ou superior a 12 anos a fazerem um registo áudio, com uma duração até 120 segundos, da leitura em voz alta do excerto de uma obra literária à escolha.

O prazo de envio das propostas é até ao dia 12 de abril de 2024, altura em que um júri de três elementos procederá à avaliação das mesmas, escalonando-as em duas categorias – a categoria A para alunos dos 12 aos 15 anos e a categoria B para alunos com idade igual ou superior a 16 anos.

Os prémios a atribuir destinam-se à biblioteca da escola/agrupamento de escolas que o aluno frequenta e são os seguintes, por categoria:

  • 1.º prémio,1.000 euros;
  • 2.º prémio, 200 euros
  • 3.º prémio, 50 euros.

Esta verba, segundo as normas do concurso, deverá ser utilizada na compra de livros para a respetiva biblioteca ou para ações que visem a promoção do livro e da leitura junto da comunidade escolar.

Os alunos que tenham participado nos trabalhos premiados recebem um voucher em livros no valor de 40 euros. Além disso, todos os alunos cuja leitura tenha sido premiada ou tenha recebido Menção Honrosa têm a possibilidade de frequentar gratuitamente uma formação de leitura em voz alta, ministrada por Rodolfo Castro, que decorrerá integrada na Maratona de Leitura, uma iniciativa anual do município da Sertã.

Os vencedores serão divulgados no final do mês de junho de 2024.

Veja também:

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Ter | 28.11.23

Juntos formamos leitores

Por Graça Trindade, Diretora do CFAE Nova Ágora

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Marcel Proust [1] refere a relação da criança com o livro como se se tratasse de uma relação de interdependência:

(…) não há talvez dias da nossa infância que tenhamos tão intensamente vivido como aqueles que julgámos passar com um livro preferido. Tudo quanto, ao que parecia, os enchia para os outros, e que afastávamos como um obstáculo vulgar a um prazer divino: a brincadeira para a qual um amigo nos vinha buscar na passagem mais interessante, a abelha ou o raio de sol incomodativos que nos obrigavam a erguer os olhos da página ou a mudar de lugar, as provisões para o lanche que nos obrigavam a levar e que deixávamos ao nosso lado no banco, sem lhes tocar, enquanto, sobre a nossa cabeça, o sol diminuía de intensidade no céu azul, o jantar que motivara o regresso a casa e durante o qual só pensávamos em nos levantarmos da mesa para acabar, imediatamente a seguir, o capítulo interrompido, tudo isto, que a leitura nos devia ter impedido de perceber como algo mais do que falta de oportunidade, ela pelo contrário gravava em nós uma recordação de tal modo doce (de tal modo mais preciosa no nosso entendimento atual do que o que líamos então com amor) que, se ainda hoje nos acontece folhear esses livros de outrora, é apenas como sendo os únicos calendários que guardámos dos dias passados, e com esperança de ver refletidas nas suas páginas as casas e os lagos que já não existem.[2]

O desejo de ler faz parte do quotidiano, porque necessário a cada um de nós, e requer um conhecimento do mundo, repleto de informação e de novas tecnologias, pelo que se torna cada vez mais importante diversificar as aprendizagens na leitura. O ensino da leitura, indispensável à sociedade e ao indivíduo, constitui um fator chave da educação e da aprendizagem. Como afirma Mialaret, ela “é inseparável da formação do pensamento e do desenvolvimento do espírito crítico; saber ler constitui, pois, o resultado de toda uma educação, educação essa que nunca se pode dar por concluída”.[3]

Graça_Trindade.jpgSendo a minha formação académica na área das humanidades, e como professora de português, motivar os alunos para aleitura de livros por prazer sempre foi uma das minhas preocupações, entendendo a aquisição da competência leitora do aluno como contribuição subsidiária ao desenvolvimento de competências transversais. 

Atualmente, em muitos casos, o livro entra na vida da criança antes da idade escolar, fazendo parte dos seus brinquedos e atividades quotidianas, mas compete à escola ensinar o aluno a LER. Nesta tarefa, que raramente é linear, nas últimas duas décadas, a realidade escolar passou a contar com a Rede de Bibliotecas Escolares (RBE): bibliotecas escolares mais dinâmicas, com um papel muito relevante no desenvolvimento do currículo, fazendo uso de variadas estratégias e de um manancial de recursos transversais a objetivos educativos e funcionais. As bibliotecas escolares são realmente espaços de desenvolvimento de diversas literacias, promovendo a aprendizagem da leitura, no seu sentido mais abrangente e também mais preciso, contribuindo para a formação integral do indivíduo, educando-o para os sentidos e valores, enriquecendo a sua experiência pessoal, em resposta aos referenciais curriculares, como sejam o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania.

Hoje, poder-se-á afirmar que a escola não existe sem a biblioteca escolar. Por isso, espera-se sempre que se conclua a cobertura total das escolas da rede pública e eventualmente reforçar programas às escolas na dependência de outros ministérios.[4]

A biblioteca escolar, sendo “parceira” na formação e na educação dos jovens, intervindo na melhoria das aprendizagens e das múltiplas literacias, na cidadania e no envolvimento da comunidade educativa, conta para o sucesso da sua ação, agregando Valor às estratégias de aprendizagem, com a figura do professor bibliotecário. Este(s) profissional (ais) tem demonstrado competência, conforme o quadro estratégico, ajudando na criação de uma estrutura que pretende ser “inovadora, funcionando dentro e para fora da escola, capaz de acompanhar e impulsionar as mudanças nas práticas educativas, necessárias para proporcionar o acesso à informação e ao conhecimento e o seu uso, exigidos pelas sociedades atuais.”[5] Deste modo, o professor bibliotecário assume um papel relevante, e procura a cada momento reforçar a sua formação.

Pensando na ação presente, com vista para o futuro, há que destacar o papel ativo que os diversos membros da RBE têm vindo a exercer na formação dos agentes educativos, antes, durante e após a situação pandémica, dando sustentabilidade a práticas a distância e serviços de bibliotecas híbridos, que temos o gosto de ter ido acompanhado. Em colaboração com os centros de formação de associação de escolas, alguns professores bibliotecários e também membros da RBE dinamizam ações de formação,  em diferentes modalidades e suportes, adaptando-se aos novos contextos e apresentando recursos/ferramentas inovadoras, de forma a ir ao encontro de necessidades manifestadas pelos docentes de todos os níveis de ensino. Seriam inúmeros os exemplos a apontar, mas o destaque significativo foca-se em torno da promoção da leitura numa perspetiva inter e transdisciplinar, também com ferramentas digitais, mas também no âmbito da literacia dos media e da informação, promovendo respetivamente competências ao nível da leitura e particularmente leitura reflexiva, providenciando cenários de aprendizagem em diferentes ambientes, nos vários ciclos de ensino. Na verdade, como Centro de Formação, contribuímos para este bem-estar e esta aproximação entre o saber e o saber-fazer dos docentes numa escola que reforça o reconhecimento do poder da leitura para o sucesso, a que as bibliotecas escolares não são alheias.

Reconhecemos e salientamos, com efeito, o papel da RBE, cujo esforço nunca será demais, pois a missão é sublime: transmitir como legado que “a leitura [é o] passaporte para a liberdade.”[6]

Juntos formamos melhor!

Graça Trindade
Diretora do CFAE Nova Ágora

Referências

  1. Romancista, ensaísta e crítico literário francês (1871-1922)
  2. PROUST, M. (1997). O Prazer da Leitura. Lisboa: Teorema.
  3. MIALARET, G. (1997). A Aprendizagem da Leitura. Lisboa: Estampa, p.18.
  4. Rede de Bibliotecas Escolares. (2021). Bibliotecas Escolares; presentes para o futuro. Programa Rede de Bibliotecas Escolares: Quadro estratégico: 2021-2027. https://rbe.mec.pt/np4/file/890/qe__21.27.pdf
  5. Idem
  6. Ibidem
  7. 📷 Imagem criada com recurso a https://www.canva.com/ 

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Seg | 27.11.23

Racismo e discriminação: atividades educativas e ebook

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No âmbito do Plano Nacional de Portugal de Combate ao Racismo e à Discriminação 2021-2025, , em que a Rede de Bibliotecas Escolares está implicada, as bibliotecas escolares realizaram no ano letivo 2022/2023 diversas atividades, das quais se apresentam exemplos que podem inspirar outras iniciativas:

A convite do Alto Comissariado para as Migrações, a Rede de Bibliotecas Escolares participou, a 19 de junho de 2023, no webinar [1] de lançamento do Guia para prevenir e combater a discriminação racial nas escolas [2], apresentando atividades de luta contra o racismo das bibliotecas escolares.

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Este Guia reúne contributos de professores, técnicos e representantes de comunidades migrantes e étnicas, bem como de alunos de diferentes ciclos de ensino, através do projeto ComParte da Fundação Maria Rosa.

Foi elaborado pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM) e pela Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) e visa apoiar as escolas na definição de estratégias, na identificação de práticas de prevenção e combate à discriminação racial e na apresentação de recomendações sobre ações a tomar em sala de aula e na escola.

Referências

  1. Ministério de Educação. (2023). Guia para a prevenção e combate à Discriminação racial as escolas [Webinar]. https://www.youtube.com/watch?v=1Zx6WSB9Ngo
  2. Alto Comissariado para as Migrações, I.P. & Comissão para Igualdade e Contra a Discriminação Racial (2023). Guia para prevenir e combater a discriminação racial nas escolas. https://www.acm.gov.pt/documents/10181/233158/Guia-para-a-Preven%C3%A7%C3%A3o-e-Combate-%C3%A0-Discrimina%C3%A7%C3%A3o-Racial-nas-Escolas-2022.pdf/9b20c922-6214-4be1-91c5-7ed9b4141cfe
  3. 📷 Roland Steinmann por Pixabay

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Sex | 24.11.23

Quando se fala de leitura, todos somos poucos!

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A forma mais simples de garantir que as crianças crescem efetivamente alfabetizadas é ensiná-las a ler e mostrar-lhes que a leitura é uma atividade agradável. E isso significa, na sua forma mais simples, encontrar livros de que gostem, dar-lhes acesso a esses livros e deixá-las lê-los.
Neil Gaiman [1]

Gaiman apresenta duas áreas fundamentais de trabalho com a leitura: a didática da leitura e a promoção do gosto. Na verdade, há muito que as bibliotecas escolares têm essas duas áreas de intervenção no seu caderno de encargos. Não esqueçamos que, desde 2009 até hoje, o Modelo de Avaliação da Biblioteca Escolar [2] distingue dois subdomínios no domínio, B - Leitura e Literacia, a saber, B.1 Desenvolvimento de iniciativas de promoção da leitura e B.2 Atividades de treino e aprofundamento da competência leitora. Podemos perguntar-nos o que deve vir primeiro, mas para um trabalho verdadeiramente impactante, a competência e o gosto têm de vir a par e ser abordados em simultâneo.

Sendo a colaboração e o trabalho em rede a grande estratégia que molda a ação das bibliotecas escolares, perguntamo-nos: com quem temos de trabalhar, na escola, para cumprirmos este nosso compromisso?

Se atentarmos nos relatórios de implementação do Referencial Aprender com a Biblioteca Escolar [3], a área curricular privilegiada para trabalho articulado é a das línguas.

Possivelmente, se se fizesse uma sondagem junto da população portuguesa não especializada em educação perguntando a quem compete “ensinar a ler”, as respostas seriam quase universalmente: ao professor de 1.º ciclo e ao professor de português.

Se se fizesse a mesma sondagem junto de especialistas em educação, haveria uma probabilidade elevada de que as respostas fossem similares, embora talvez com percentagens menos elevadas de unanimidade.

Tendo em conta que a leitura é uma competência imprescindível para todas as aprendizagens, com impactos tão significativos no desenvolvimento social e económico do país, será suficiente deixar essa matéria, apenas, nas mãos de um reduzido número de profissionais?

Reformulando um conhecido provérbio africano, podemos dizer que para ensinar a ler e a gostar de ler, é preciso “toda uma aldeia“ – toda uma escola, toda uma comunidade. E por isso a biblioteca escolar tem de contar com todos, convocar todos, convencer todos: pais, técnicos, assistentes e, sobretudo, os seus parceiros docentes, de todas as áreas curriculares.

As bibliotecas precisam de ajudar os professores de matemática, história, ciências e mesmo de arte ou educação física a incluir a leitura nas suas aulas, não só o ensino, como também a promoção do gosto.

Relativamente ao ensino da leitura, é desejável uma alfabetização transcurricular [4], em que, em cada disciplina, se identificam as competências de que os alunos precisam para ter sucesso em conteúdos curriculares específicos e se ensinam essas competências ao mesmo tempo que se trabalham os conteúdos e não como uma questão marginal.

Em relação ao gosto pela leitura, os professores de todas a áreas curriculares podem motivar os alunos através do seu exemplo e da criatividade na respetiva disciplina, apresentando-se como leitores e demonstrando a sua paixão pela leitura com ações concretas: falando de livros, mostrando livros, recomendando leituras relacionadas, ou não, com as suas matérias, incentivando os alunos a conversarem sobre as suas leituras, entre muitas outras possibilidades.

Apresentam-se abaixo algumas sugestões de atividades que podem ser concretizadas em diferentes disciplinas, propostas pelo grupo  EXPLOLEER – GRUPO ANIMANDO A LEER e traduzidas com a sua autorização[5]:

Matemática

Pesquisa Matemática: os alunos pesquisam a história da matemática e leem biografias de matemáticos famosos, como Isaac Newton ou Albert Einstein.

Livros de matemática recreativa: os alunos contactam com livros de matemática recreativa, que apresentam problemas matemáticos interessantes e desafiadores; os alunos podem resolver os problemas e discutir as soluções em aula.

Resolução de problemas em contextos da vida real: os alunos leem problemas de matemática baseados em histórias da vida diária, procurando compreendê-los e resolvê-los acom recursos às suas competências matemáticas.

Educação Física

Leituras relacionadas com a saúde e o bem-estar: os alunos leem artigos ou excertos de livros relacionados com a importância da atividade física, nutrição adequada e respetivos benefícios para a saúde.

Biografias de atletas notáveis: os alunos leem biografias de atletas famosos - histórias de sucesso, desafios superados e conquistas no desporto... Posteriormente, podem encenar momentos-chave dessa biografias sob a forma de dramatizações.

Revistas e artigos desportivos: os alunos leem revistas ou artigos desportivos que contenham histórias interessantes sobre eventos desportivos atuais ou atletas notáveis e têm oportunidade para os discutir, partilhar opiniões ou escrever sobre eles.

Pesquisa de desportos e cultura: os alunos pesquisam desportos populares em diferentes culturas de todo o mundo. Leem sobre a história, as regras e as tradições associadas a esses desportos e apresentam-nos sob a forma de relatórios escritos, audiovisuais ou mesmo práticos.

Música

Biografias de Compositores: os alunos leem biografias de compositores famosos e a exploram a sua vida e obra. Partilham essas biografias e fragmentos de músicas relacionadas com o compositor em questão.

Análise de letras de músicas: os alunos leem letras de músicas, interpretam os temas e mensagens que transmitem e discutem o modo como a música e as letras se complementam e expressam emoções e experiências.

Geografia

Livros de viagens: os alunos contactam com livros de viagens que descrevam diferentes lugares e culturas ao redor do mundo e leem sobre as características geográficas, a história e as tradições de diferentes regiões. Posteriormente partilham as suas descobertas por diferentes meios.

Notícias Internacionais: os alunos leem notícias sobre acontecimentos e questões geográficas atuais em diferentes partes do mundo. Depois realizam sessões para discutirem questões sociais e económicas decorrentes desses acontecimentos e refletirem sobre possíveis soluções.

História

Romances históricos: os alunos leem romances históricos que cubram diferentes períodos ou eventos históricos e mergulham nessa época. Assim, aprendem sobre pessoas e acontecimentos importantes e discutem o respetivo contexto histórico.

Fontes Primárias: os alunos consultam fontes primárias, como diários, cartas ou documentos históricos autênticos. Escolhem um tópico específico e analisam fontes primárias para obterem uma compreensão mais profunda dos acontecimentos históricos.

Ciências Naturais

Livros de ciências: os alunos leem livros que abordam tópicos relevantes das ciências naturais, como o meio ambiente, a biologia ou a ecologia e exploram os respetivos conceitos científicos.

Pesquisa sobre cientistas: Os alunos pesquisam sobre cientistas destacados no campo das ciências naturais, leem sobre as suas descobertas e os seus contributos e fazem apresentações sobre eles e sobre as suas pesquisas.

Química

Experiências e Procedimentos: os alunos leem instruções de experiências de química que exigem leitura e compreensão. Devem seguir as instruções, realizar as experiências e depois discutir os resultados e as implicações.

Revistas científicas: os alunos leem artigos de revistas científicas que abordam temas relacionados com a química. Podem explorar pesquisas atuais, discutir as descobertas e refletir sobre o seu impacto na sociedade e no meio ambiente.

Física

Biografias de físicos famosos: Os alunos leem biografias de físicos famosos, como Isaac Newton, Albert Einstein ou Marie Curie e aprendem sobre os seus contributos para a física e sobre a influência das suas descobertas na nossa compreensão do mundo.

Livros de divulgação: os alunos leem livros de divulgação de ciência que explicam conceitos físicos de forma clara e acessível. Exploram temas como a gravidade, a energia ou o movimento e discutem exemplos práticos e aplicações na vida diária.

 

Referências

[1] Gaiman, N. (2013, 15 de outubro). Neil Gaiman: Why our future depends on libraries, reading and daydreaming. The Guardian. https://www.theguardian.com/books/2013/oct/15/neil-gaiman-future-libraries-reading-daydreaming

[2] Rede de Bibliotecas Escolares. (2018). Modelo de avaliação da biblioteca escolar. https://www.rbe.mec.pt/np4/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=116&fileName=978_989_8795_09_0Print.pdf

[3] Rede de Bibliotecas Escolares. (2022). Referencial Aprender com a biblioteca escolar. Relatório de implementação. 2021-22. https://www.rbe.mec.pt/np4/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=3317&fileName=relatorio_final_2021.22.pdf

[4] Boryga, A. (2022, 28 de outubro). How to Work Literacy Instruction Into All Content Areas. Edutopia. https://www.edutopia.org/article/how-to-work-literacy-instruction-into-all-content-areas/

[5] Animando a leer. (s.d.), Fomentar la lectura: un deber de todos los professores. https://www.animandoaleer.com/fomentar-la-lectura-un-deber-de-todos-los-profesores/

📷 https://create.piktochart.com/

Nota: © Excecionalmente, por se tratar de uma tradução que careceu de autorização, este trabalho tem todos os direitos reservados.

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Qui | 23.11.23

Transformar a educação: Estratégia de acompanhamento da cimeira

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1. Resultados

Da Cimeira Transformar a Educação/ Transforming Education Summit (TES) das Nações Unidas (Nova Iorque, 17, 18, 19 de setembro de 2022) decorreram 5 resultados:

a) Declaração de visão do SGNU para transformar a educação (UN Secretary-General’s Vision Statement on Transforming Education) [2];

b) Declarações de visão e de compromisso nacionais (national statements of commitment) para transformar a educação [3];

c) Lançamento de 5 iniciativas globais que mobilizem a cooperação internacional e permitam escalar os resultados da Cimeira;

d) Apelo à Ação para Transformar o Financiamento na Educação;

e) Movimento global para transformar a educação inclusivo, no qual se destaca o papel dos jovens, que põem prática a Declaração da Juventude para Transformar a Educação definida por eles, bem como a participação de professores, sociedade civil e de outros parceiros de dentro e de fora da comunidade educativa.

2. Estratégia de Acompanhamento da Cimeira Transformar a Educação

Entra-se em 2023 numa nova etapa, a Estratégia de Acompanhamento da TES (TES Follow-up Strategy) [4] presidida pelo Comité Diretor de Alto Nível do ODS 4 (SDG 4 High Level Steering Committee) [1], do qual Portugal faz parte e que é coordenado pela UNESCO. O HLSC é responsável pelo acompanhamento da TES e é o órgão máximo para a cooperação e monitorização educacional global do ODS 4, incluindo a contribuição para a dimensão educativa da Cimeira do Futuro.

Esta etapa visa a implementação dos resultados da TES e organiza-se em 5 Pilares de Acompanhamento (Follow-up Pillars)

Pilar 1. Dos compromissos às ações ao nível dos países – Consiste em traduzir as declarações nacionais em ações concretas.

Pilar 2. Educação como Componente Chave da Cimeira do Futuro – A educação deve ter lugar de destaque nos eventos das Nações Unidas:

  • Cimeira dos ODS/ SDG Summit, (Nova Iorque, 18 a 19 de setembro de 2023) - Assinala metade do tempo decorrido da Agenda 2030 (2015-2030);
  • Cimeira do Futuro/ Summit of the Future – Tema, Soluções multilaterais para um melhor amanhã (setembro de 2024) da qual resultará um Pacto para o Futuro.

Pilar 3. Movimento Global para Transformar a Educação, não criando novas iniciativas que exigiriam mais recursos, mas incorporando este movimento nas ações previstas e em curso. Neste movimento os jovens têm “papel central” (ONU).

Pilar 4. Transformar o financiamento da educação - Apela aos países para aumentarem o financiamento na educação, especialmente em situações de emergência

Pilar 5.  Iniciativas Globais TES

3. Como passar dos compromissos às ações?

Incrementando o trabalho em rede entre escolas, com partilha de boas práticas, visa-se, a partir da escola e da comunidade, aprofundar ações no âmbito das Iniciativas Globais (Pilar 5), “maiores prioridades temáticas” (major thematic priorities) resultantes da TES:

  • Comprometer-se a transformar a educação para que todas as crianças do mundo possam ter acesso a uma educação de qualidade, equitativa e inclusiva e à aprendizagem ao longo da vida;

  • Parceria para uma Educação Verde – transformar a educação para responder à crise climática e ambiental global;

  • Garantir e melhorar a qualidade da aprendizagem digital para todos – tornar o ensino e a aprendizagem digitais mais acessível a todos;

  • Igualdade de género e empoderamento de raparigas e mulheres em/ através da educação.

4. O papel da Rede de Bibliotecas Escolares

No âmbito do seu Quadro Estratégico 2021-2027 - Bibliotecas Escolares: presentes para o futuro, a Rede de Bibliotecas Escolares tem vindo a acompanhar o processo preparatório do movimento global Transformar a Educação, desenvolvendo internamente ações e publicando artigos de sensibilização/ reflexão no âmbito do Relatório da Comissão Internacional da UNESCO, Reimaginar os nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação (10 de novembro de 2021).

Exemplos de artigos publicados:

Contribuindo, em alinhamento com a ONU/UNESCO, para crescimento de um movimento nacional de crianças e jovens para reimaginar a escola - apoiado pelas bibliotecas escolares e seus responsáveis - através da iniciativa Transformar a Educação: Dá voz às tuas ideias!, no ano letivo 2022 /2023 e para pôr em prática as suas ideias, Transformar a Educação: das Ideias às Ações!, no ano letivo 2023/ 2024.

Referências

  1. (2023). SDG 4 – Education 2030 High Level Steering Committee. https://www.unesco.org/sdg4education2030/en/high-level-steering-committee
  2. Global Education Cooperation Mechanism. (2022). Transforming Education: An urgent political imperative for our collective future. https://transformingeducationsummit.sdg4education2030.org/SGStatementSep22
  3. Global Education Cooperation Mechanism. (2022). Declaração de Compromisso Nacional de Portugal. UNESCO. https://transformingeducationsummit.sdg4education2030.org/PortugalNationalStatement
  4. Global Education Cooperation Mechanism. (2022). From commitment to action: A guidance note for translating national commitments into action in follow-up to the Transforming Education Summit. UNESCO. https://transformingeducationsummit.sdg4education2030.org/system/files/2023-01/TES%20follow-up%20guidance%20note%20-%20ENG.pdf

 

 

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Qua | 22.11.23

Teatro na biblioteca da Várzea de Sintra - uma oferta para as crianças feita pelas crianças!

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10:30. Intervalo da manhã. Um grupo de crianças do núcleo de iniciação (1.º ano) chega à biblioteca. Ao seu ritmo de principiantes na escrita, registam os seus nomes e escolhem as atividades que querem fazer - como foram os primeiros a chegar, conseguem a vaga desejada para fazer teatro usando a seleção do Figurino do Mês: bruxa, fada, vampiro e ninja!

Logo atrás vêm três monitoras do núcleo de desenvolvimento (4.º ano) - vão ensaiar no fantocheiro um Capuchinho Vermelho que vai levar um bolinho vegan à sua avozinha doente, iguaria que deixa o Lobo Mau, carnívoro inveterado, a torcer o nariz. O clássico conto imortalizado pelos Irmãos Grimm foi integralmente adaptado e encenado por estas três alunas que, para além de improvisarem diálogos e narrarem sem qualquer suporte em papel, foram também responsáveis pela conceção e execução do cenário, com uma pequenina ajuda da professora bibliotecária. Foi necessário arranjar um lobo matreiro e costumizar os velhos fantoches da biblioteca para dar vida às novas personagens! E também aqui a professora bibliotecária teve de entrar em ação.

Afinam-se os últimos pormenores antes das sessões de apresentação a todos os núcleos da escola (do pré-escolar ao 4.º ano). Algumas crianças, que pintam, jogam ou estão nos tablets, não resistem a espreitar por detrás da cortina improvisada que encobre o fantocheiro. E logo se ouve um “Não se pode espreitar! É surpresa!”

11:00. Hora de regressar às salas. A representação ensaiada com figurinos não foi além das intenções; fica, certamente, para outro intervalo! É preciso pendurar os trajes de volta no charriot e arrumar os adereços no baú - tarefa em que os mais novos ainda precisam de muita ajuda... E os fantoches voltam à Mala dos Projetos de Teatro, onde também repousam os dos animais de Os Músicos de Bremen - outro projeto, da responsabilidade de um grupo de crianças voluntárias do núcleo de consolidação B (3.º ano) e que vem ensaiar no intervalo do almoço.

O teatro é uma das ofertas de lazer com maior adesão na biblioteca escolar da Várzea de Sintra, desde o ano letivo transato, sobretudo após a representação da peça Crise na Escola, no âmbito do Plano Nacional das Artes - Bienal de Cultura e Educação.

Este ano letivo, o sucesso da apresentação de O Capuchinho Vermelho, no Dia Internacional da Biblioteca Escolar 2023, foi mote para o surgimento de mais projetos com novos alunos voluntários, os quais estão agora a dar os primeiros passos no mundo das artes performativas.

Novos candidatos a artistas, novas ideias, novas histórias todos os dias. Nos intervalos da manhã e do almoço, sucedem-se os grupos de crianças que se empenham em improvisar ou pôr em ação pequenas dramatizações, com ou sem livro de suporte. Para umas, é um tempo de brincar ao faz-de-conta, mas, para outras, esta oferta da biblioteca, é uma oportunidade de organizar um espetáculo para ser apresentado a um público que elas próprias escolhem.

Seja como for, parece não haver dúvida que a criatividade, a comunicação, o espírito de iniciativa, a responsabilidade, o pensamento crítico, a cooperação, a resiliência emocional e a sensibilidade estética, entre outras competências, encontram, nesta oferta de teatro para crianças feito por crianças, espaço para o seu desenvolvimento, de forma lúdica e significativa, sob a orientação da equipa da biblioteca escolar.

Sintra, 31 de outubro 2023

Maria Cristina Calado,
Professora Bibliotecária
E.B. da Várzea de Sintra
A.E. D. Carlos I

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Ter | 21.11.23

MIBE 2023: A Rede de Bibliotecas de Loulé Transforma Livros em Capas Vivas

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A Rede de Bibliotecas do Concelho de Loulé comemorou o MIBE 2023 (Mês Internacional das Bibliotecas Escolares) com uma atividade inspiradora: "Capas Vivas". Sob o lema "Biblioteca escolar: o meu lugar preferido para criar e imaginar", os utilizadores das bibliotecas do concelho foram convidados a dar asas à sua criatividade e transformar os seus livros favoritos em verdadeiras “obras de arte”. Deram vida às personagens, cenários e histórias que mais os marcaram. O resultado foi uma profusão de criatividade, que abrangeu os utilizadores de todas as idades.

Sendo o Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIBE) um evento global que visa destacar a importância das bibliotecas nas escolas, incentivando a leitura e a criatividade entre os alunos, esta iniciativa foi uma oportunidade para promover a diversidade literária, a imaginação e a colaboração.

A fim de partilhar esta expressão incrível de criatividade com um público mais amplo, a Rede de Bibliotecas de Loulé organizou uma exposição virtual. Neste espaço em linha, é possível admirar as "Capas Vivas" criadas pelos jovens artistas.


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Seg | 20.11.23

Sete Razões para amar a filosofia

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Em 2002, a UNESCO instituiu o Dia Mundial da Filosofia, reconhecendo a esta área do saber um papel essencial nas nossas vidas. A filosofia é frequentemente considerada um saber complicado, difícil, demasiado abstrato, mas não para aqueles que a amam. Ler, estudar e compreender filosofia é um exercício benéfico para as pessoas, para a Humanidade. Giuseppe Cambiano[1] encontra muitas razões para uma aproximação à atividade que se apresenta pelo nome de Filosofia, assim, no mês em que se comemora o Dia Mundial de Filosofia[2] partilhamos a leitura do livro Sete Razões para Amar a Filosofia[3]. Afinal, porque devemos amar a filosofia? Porque nos liberta da “tirania da habituação, sacode o dogmatismo arrogante e mantém desperto o nosso espanto”, porque a leitura dos textos e os  ensinamentos filosóficos poderão ajudar nas atitudes, assim como “a avaliar e a orientar o que se diz ou que se faz habitualmente, ou se encontra formulado em textos impressos ou nos ecrãs dos computadores, para tentarmos ser livres em relação a eles, sem sofremos passivamente condicionamentos ou pressões externas.”

Entre muitas razões para amar a filosofia, o autor do livro propõe sete motivos que se prendem com aspetos intrínsecos deste saber, são eles:

1) Fazer perguntas.

Perguntamos quando sentimos falta de algo, quando queremos compreender, o mundo e tudo o que nos rodeia. Sem perguntas “a vida quotidiana acabaria por se paralisar”, o espanto talvez não existisse e a simples curiosidade da vida, em geral, perderia o significado.  Cambiano esclarece-nos que há diferentes tipos de perguntas, que há no mundo pessoas que não gostam de fazer perguntas apesar do “jogo das perguntas” ser o mais antigo do mundo e que as respostas “são frequentemente procuradas naquilo que, em tempos antiquíssimos, se chamava «natureza», isto é, no próprio universo”. O território das perguntas filosóficas é um mundo gigantesco e simultaneamente fabuloso. 

2) Usar palavras.

 Não é fácil fazer uma pergunta, ao contrário do que muitos pensam. Para se fazer perguntas é preciso dominar os termos, as palavras. Afinal, o “uso das palavras na vida quotidiana permite orientar-nos com sucesso, consoante a abundância de vocabulário de que se dispõe: cada palavra é como uma janela nova que se abre para o mundo na sua imensa variedade, para as inúmeras tonalidades dos sentimentos e para os mais subtis itinerários do pensamento.” Os filósofos gostam de pensar nas palavras, elas são apropriação do real, um verdadeiro instrumento do pensamento. Com elas compreendemos situações, atitudes de algumas pessoas, aliviamos a dor, criamos, fazemos crescer ou matamos amizades, amores e cumplicidades.

3) Procurar respostas.

Todos ansiamos por respostas, desde a mais tenra idade. Na adolescência as respostas parecem ser mais importantes que as perguntas. Queremos respostas para edificar a nossa visão do mundo. Envolvidos numa ansiedade desmedida pode-se correr o risco de aceitar respostas baseadas em crenças não justificadas ou limitarmo-nos a permanecer nos imediatismos do senso comum.  Nem sempre os filósofos encontram respostas, mas sentem, muitas vezes, a necessidade de as encontrarem mesmo que sejam satisfatórias.

4) Apreciar a discordância.

Muitos são os filósofos que discordaram, na história da filosofia encontramos com alguma frequência, filósofos que se contradizem.  Talvez a razão de tal atitude é que gostam de dialogar, de escutar e argumentar. “O mundo dos filósofos é um mundo de competições” e esta ideia não é negativa, pelo contrário. Os filósofos gostam de disputar ideias e argumentos, encontrar falácias, evitar percursos erróneos e o formular o melhor dos raciocínios. Sabem que a divergência, desde que sustentada por argumentos fortes, é um excelente exercício.  A divergência é um exercício de liberdade, onde cada um escolhe os seus próprios argumentos, as suas razões e toma as suas decisões.

5) Abrir horizontes.

A filosofia não pretende ter o monopólio nem das perguntas nem das respostas, apenas deseja exercitar o pensamento, pensar criticamente, ser capaz de entrelaçar ideias, diferentes conceções do mundo e deste modo ampliar conhecimentos e perspetivas. É neste ambiente que, por exemplo, a bioética cresce procurando refletir sobre escolhas possíveis perante dilemas, indecisões que a vida nos coloca.

6) Compreender os outros: outros tempos.

“A exigência de compreender os outros, aquilo que dizem e fazem, é central para a vida quotidiana.”  Sem os outros seria difícil conhecermo-nos e ser quem somos. A leitura, a análise e discussão de textos filosóficos são verdadeiras ferramentas de reflexão, promovendo a relação com as palavras de outros e desafiando-nos ao exercício da compreensão, de nos colocar no lugar do outro, de questionar, de apresentar argumentos, de viver noutros tempos e de transformar o passado em presente.

7) Compreender os outros: outros mundos.

Quando a leitura, a análise e discussão de textos filosóficos ecoam em nós concretiza-se uma abertura a outros mundos, a outras formas de pensar, de ser e de estar, a outras tradições e geografias.

Por último, ousamos acrescentar que amar a filosofia é também amar a literatura e neste pequeno, mas intenso, livro habitam múltiplas referências à literatura. Afinal, foram muitos os escritores que se inspiraram e amaram, consciente ou inconscientemente, a filosofia.

Notas

[1] Giuseppe Cambiano licenciou-se em Filosofia em 1965. É professor emérito de História da Filosofia Antiga na Scuola Normale Superiore di Pisa e docente na Universidade de Torino. É também sócio da Academia Nacional de Lincei e diretor da revista Antiquorum Philosophia, fundada em 2007. Tem uma vasta obra publicada em Itália. Em Portugal, Sete Razões Para Amar a Filosofia é o único título disponível. 

[2] Em 2002, a UNESCO proclamou a celebração do DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA, em todo o mundo, na terceira quinta-feira do mês de novembro.

[3] Cambiano, G. (2020). Sete razões para amar a Filosofia. Edições 70

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Sex | 17.11.23

Rede de bibliotecas de Oliveira de Azeméis: um trabalho partilhado

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O Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares (SABE) da Biblioteca Municipal Ferreira de Castro (BMFC) funciona desde 2008, com protocolo celebrado entre a autarquia e o Ministério da Educação, apoiando diretamente a Rede Concelhia de Bibliotecas Escolares de Oliveira de Azeméis.

Esta rede foi formalmente criada no âmbito da Candidatura Ideias com Mérito que envolveu todas as bibliotecas escolares do concelho de Oliveira de Azeméis e a BMFC, aprovada pela RBE, tendo nesse contexto sido criado o catálogo coletivo que integra as coleções das diferentes Bibliotecas Escolares e da Biblioteca Municipal. Visa-se, assim, estimular o empréstimo entre escolas e entre estas e a Biblioteca Municipal, promover e facilitar a circulação da informação documental existente, desenvolver uma política racional das aquisições para as coleções das bibliotecas e incrementar práticas colaborativas entre escolas, instituições e comunidade em geral, passando a política de desenvolvimento das coleções a ser pensada em conjunto.

O SABE da BMFC tem a particularidade de congregar uma rede de parcerias e de trabalho colaborativo que envolve todas as bibliotecas escolares do Município, bem como o Centro de Formação de Associação de Escolas dos Concelhos de Arouca, Vale de Cambra e Oliveira de Azeméis (AVCOA) cujo papel é crucial na formação e na concretização de múltiplas atividades. Os diversos parceiros reúnem quinzenalmente para planificar em conjunto, discutir e analisar soluções para problemas comuns, fazer formação conjunta quer na vertente mais técnica do tratamento documental, quer, por exemplo, na mediação da leitura, assim como para pôr projetos no terreno…

Imagem1.pngEsta rede tem um plano de atividades concelhio, concebido e desenvolvido de forma colaborativa, destacando-se o Chá literário, atividade integrada na Semana da Leitura, destinado a docentes e convidados locais que partilham experiências de leitura e leituras durante uma tarde, o Campeonato de Pesquisa na Internet, PesquisOAz, inicialmente destinado apenas aos alunos dos 2.º, 3.º CEB e Ensino Secundário do Município, tendo, desde o ano letivo 2021/2022, alargado aos alunos dos agrupamentos de escolas de sete concelhos de Entre Douro e Vouga. Na sua versão atual, já convidou outros concelhos e terá uma versão também para docentes.

As colaborações desta rede não se esgotam no âmbito do SABE, embora sejam sempre discutidas e planificadas nesse contexto, dada a tradição de reunir amiúde todos os parceiros para trabalho conjunto. Assim, temos, por exemplo, a colaboração anual recorrente das Bibliotecas Escolares com o município e a BMFC na Semana da Criança ou a colaboração anual destas com o CFAE AVCOA na Maratona Bibliotecária (anteriormente 24 horas das Bibliotecas Escolares), acabando por o trabalho colaborativo desta rede estar espelhado a diferentes níveis. Na verdade, a tónica desta rede e o que a destaca é o ambiente de apoio, interajuda e colaboração.

SABE

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