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Blogue RBE

Sex | 24.11.23

Quando se fala de leitura, todos somos poucos!

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A forma mais simples de garantir que as crianças crescem efetivamente alfabetizadas é ensiná-las a ler e mostrar-lhes que a leitura é uma atividade agradável. E isso significa, na sua forma mais simples, encontrar livros de que gostem, dar-lhes acesso a esses livros e deixá-las lê-los.
Neil Gaiman [1]

Gaiman apresenta duas áreas fundamentais de trabalho com a leitura: a didática da leitura e a promoção do gosto. Na verdade, há muito que as bibliotecas escolares têm essas duas áreas de intervenção no seu caderno de encargos. Não esqueçamos que, desde 2009 até hoje, o Modelo de Avaliação da Biblioteca Escolar [2] distingue dois subdomínios no domínio, B - Leitura e Literacia, a saber, B.1 Desenvolvimento de iniciativas de promoção da leitura e B.2 Atividades de treino e aprofundamento da competência leitora. Podemos perguntar-nos o que deve vir primeiro, mas para um trabalho verdadeiramente impactante, a competência e o gosto têm de vir a par e ser abordados em simultâneo.

Sendo a colaboração e o trabalho em rede a grande estratégia que molda a ação das bibliotecas escolares, perguntamo-nos: com quem temos de trabalhar, na escola, para cumprirmos este nosso compromisso?

Se atentarmos nos relatórios de implementação do Referencial Aprender com a Biblioteca Escolar [3], a área curricular privilegiada para trabalho articulado é a das línguas.

Possivelmente, se se fizesse uma sondagem junto da população portuguesa não especializada em educação perguntando a quem compete “ensinar a ler”, as respostas seriam quase universalmente: ao professor de 1.º ciclo e ao professor de português.

Se se fizesse a mesma sondagem junto de especialistas em educação, haveria uma probabilidade elevada de que as respostas fossem similares, embora talvez com percentagens menos elevadas de unanimidade.

Tendo em conta que a leitura é uma competência imprescindível para todas as aprendizagens, com impactos tão significativos no desenvolvimento social e económico do país, será suficiente deixar essa matéria, apenas, nas mãos de um reduzido número de profissionais?

Reformulando um conhecido provérbio africano, podemos dizer que para ensinar a ler e a gostar de ler, é preciso “toda uma aldeia“ – toda uma escola, toda uma comunidade. E por isso a biblioteca escolar tem de contar com todos, convocar todos, convencer todos: pais, técnicos, assistentes e, sobretudo, os seus parceiros docentes, de todas as áreas curriculares.

As bibliotecas precisam de ajudar os professores de matemática, história, ciências e mesmo de arte ou educação física a incluir a leitura nas suas aulas, não só o ensino, como também a promoção do gosto.

Relativamente ao ensino da leitura, é desejável uma alfabetização transcurricular [4], em que, em cada disciplina, se identificam as competências de que os alunos precisam para ter sucesso em conteúdos curriculares específicos e se ensinam essas competências ao mesmo tempo que se trabalham os conteúdos e não como uma questão marginal.

Em relação ao gosto pela leitura, os professores de todas a áreas curriculares podem motivar os alunos através do seu exemplo e da criatividade na respetiva disciplina, apresentando-se como leitores e demonstrando a sua paixão pela leitura com ações concretas: falando de livros, mostrando livros, recomendando leituras relacionadas, ou não, com as suas matérias, incentivando os alunos a conversarem sobre as suas leituras, entre muitas outras possibilidades.

Apresentam-se abaixo algumas sugestões de atividades que podem ser concretizadas em diferentes disciplinas, propostas pelo grupo  EXPLOLEER – GRUPO ANIMANDO A LEER e traduzidas com a sua autorização[5]:

Matemática

Pesquisa Matemática: os alunos pesquisam a história da matemática e leem biografias de matemáticos famosos, como Isaac Newton ou Albert Einstein.

Livros de matemática recreativa: os alunos contactam com livros de matemática recreativa, que apresentam problemas matemáticos interessantes e desafiadores; os alunos podem resolver os problemas e discutir as soluções em aula.

Resolução de problemas em contextos da vida real: os alunos leem problemas de matemática baseados em histórias da vida diária, procurando compreendê-los e resolvê-los acom recursos às suas competências matemáticas.

Educação Física

Leituras relacionadas com a saúde e o bem-estar: os alunos leem artigos ou excertos de livros relacionados com a importância da atividade física, nutrição adequada e respetivos benefícios para a saúde.

Biografias de atletas notáveis: os alunos leem biografias de atletas famosos - histórias de sucesso, desafios superados e conquistas no desporto... Posteriormente, podem encenar momentos-chave dessa biografias sob a forma de dramatizações.

Revistas e artigos desportivos: os alunos leem revistas ou artigos desportivos que contenham histórias interessantes sobre eventos desportivos atuais ou atletas notáveis e têm oportunidade para os discutir, partilhar opiniões ou escrever sobre eles.

Pesquisa de desportos e cultura: os alunos pesquisam desportos populares em diferentes culturas de todo o mundo. Leem sobre a história, as regras e as tradições associadas a esses desportos e apresentam-nos sob a forma de relatórios escritos, audiovisuais ou mesmo práticos.

Música

Biografias de Compositores: os alunos leem biografias de compositores famosos e a exploram a sua vida e obra. Partilham essas biografias e fragmentos de músicas relacionadas com o compositor em questão.

Análise de letras de músicas: os alunos leem letras de músicas, interpretam os temas e mensagens que transmitem e discutem o modo como a música e as letras se complementam e expressam emoções e experiências.

Geografia

Livros de viagens: os alunos contactam com livros de viagens que descrevam diferentes lugares e culturas ao redor do mundo e leem sobre as características geográficas, a história e as tradições de diferentes regiões. Posteriormente partilham as suas descobertas por diferentes meios.

Notícias Internacionais: os alunos leem notícias sobre acontecimentos e questões geográficas atuais em diferentes partes do mundo. Depois realizam sessões para discutirem questões sociais e económicas decorrentes desses acontecimentos e refletirem sobre possíveis soluções.

História

Romances históricos: os alunos leem romances históricos que cubram diferentes períodos ou eventos históricos e mergulham nessa época. Assim, aprendem sobre pessoas e acontecimentos importantes e discutem o respetivo contexto histórico.

Fontes Primárias: os alunos consultam fontes primárias, como diários, cartas ou documentos históricos autênticos. Escolhem um tópico específico e analisam fontes primárias para obterem uma compreensão mais profunda dos acontecimentos históricos.

Ciências Naturais

Livros de ciências: os alunos leem livros que abordam tópicos relevantes das ciências naturais, como o meio ambiente, a biologia ou a ecologia e exploram os respetivos conceitos científicos.

Pesquisa sobre cientistas: Os alunos pesquisam sobre cientistas destacados no campo das ciências naturais, leem sobre as suas descobertas e os seus contributos e fazem apresentações sobre eles e sobre as suas pesquisas.

Química

Experiências e Procedimentos: os alunos leem instruções de experiências de química que exigem leitura e compreensão. Devem seguir as instruções, realizar as experiências e depois discutir os resultados e as implicações.

Revistas científicas: os alunos leem artigos de revistas científicas que abordam temas relacionados com a química. Podem explorar pesquisas atuais, discutir as descobertas e refletir sobre o seu impacto na sociedade e no meio ambiente.

Física

Biografias de físicos famosos: Os alunos leem biografias de físicos famosos, como Isaac Newton, Albert Einstein ou Marie Curie e aprendem sobre os seus contributos para a física e sobre a influência das suas descobertas na nossa compreensão do mundo.

Livros de divulgação: os alunos leem livros de divulgação de ciência que explicam conceitos físicos de forma clara e acessível. Exploram temas como a gravidade, a energia ou o movimento e discutem exemplos práticos e aplicações na vida diária.

 

Referências

[1] Gaiman, N. (2013, 15 de outubro). Neil Gaiman: Why our future depends on libraries, reading and daydreaming. The Guardian. https://www.theguardian.com/books/2013/oct/15/neil-gaiman-future-libraries-reading-daydreaming

[2] Rede de Bibliotecas Escolares. (2018). Modelo de avaliação da biblioteca escolar. https://www.rbe.mec.pt/np4/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=116&fileName=978_989_8795_09_0Print.pdf

[3] Rede de Bibliotecas Escolares. (2022). Referencial Aprender com a biblioteca escolar. Relatório de implementação. 2021-22. https://www.rbe.mec.pt/np4/%7B$clientServletPath%7D/?newsId=3317&fileName=relatorio_final_2021.22.pdf

[4] Boryga, A. (2022, 28 de outubro). How to Work Literacy Instruction Into All Content Areas. Edutopia. https://www.edutopia.org/article/how-to-work-literacy-instruction-into-all-content-areas/

[5] Animando a leer. (s.d.), Fomentar la lectura: un deber de todos los professores. https://www.animandoaleer.com/fomentar-la-lectura-un-deber-de-todos-los-profesores/

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Nota: © Excecionalmente, por se tratar de uma tradução que careceu de autorização, este trabalho tem todos os direitos reservados.

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