Discórdia - uma leitura atual
Para muitos a democracia grega foi um marco da civilização ocidental, mas foi igualmente relevante para a filosofia, despertando o espírito crítico, o questionamento, a problematização e o confronto de ideias. Atualmente, a divergência de opiniões está a ultrapassar os limites do saudável dando lugar ao conflito, ao mau estar, aos confrontos e problemas. Ganhará quem gritar mais alto? Conseguiremos escutar o outro? Qual o valor do diálogo?
Vivemos momentos turbulentos, o ruído não nos deixa escutar o outro. Cada um quer ouvir a sua voz. Uma voz alta. Bem alta. Por vezes, ensurdecedora, com que cada um grita mais alto. Conseguiremos dialogar? Conseguiremos entender os pontos de vista dos outros? Teremos liberdade para duvidar? Estaremos esquecidos de que o debate de ideias amplia horizontes e saberes? Será que nos entendemos aos gritos?
Afinal, porque discordamos? Discordar será tão importante quanto concordar? A leitura de Discórdia ajuda-nos a refletir sobre a polarização de opinião e a necessidade de encontrar soluções, redes de entendimento que torne a vida numa comunidade aprazível.
A narrativa visual inicia-se nas guardas do livro, onde é visível um balão de cor púrpura, a mistura equilibrada, transmitindo a sensação de prosperidade e respeito. Quando o balão de cor púrpura conhece o balão laranja, cheio de entusiasmo e energia, tudo se complica. Os dois balões dão lugar a um balão bicolor, que cresce desmesuradamente sem que ninguém o consiga parar. Onde existia cor instala-se o negro. E agora? O que fazer?
Na narrativa, assim como na vida, é necessário encontrar novas soluções, reunir sinergias e descobrir, em conjunto, de forma reflexiva, que cores distintas podem coabitar e encontrar a harmonia. Tolerância, respeito e flexibilidade ganham sentido e tornam-nos mais conscientes da importância da convivência social.
No final, a esperança invade-nos rompendo com a negritude dos dias, alguém recorda que discordar faz parte da vida e que poderá ser benéfico e construtivo.
Este livro nasceu de um trabalho do curso de ilustração, lecionado em 2019 por Catarina Sobral e Tiago Guerreiro, com a orientação de André Letria, editor do Pato Lógico. Um dos exercícios do curso era, precisamente, a criação de uma narrativa visual para a coleção - Imagens Que Contam - livros silenciosos, apenas com uma palavra, a do título, contribuindo desta forma para uma narrativa poderosa.
Nani Brunini nasceu em 1976, em São Paulo. Antes de se mudar para Lisboa, onde vive atualmente, morou em Mannheim, Helsínquia, Londres e São Francisco. Estudou Artes Plásticas na Universidade de São Paulo e Design Industrial na UFPE no Recife. Fez mestrado em Design Management na Universidade de Cambridge, em Inglaterra. Depois de dez anos a trabalhar com pesquisa e estratégia em design, voltou aos pincéis e lápis de cor. Em 2020, foi convidada a publicar o seu primeiro livro, Discórdia.