Criatividade, de John Cleese
Cleese, J. (2021). Criatividade. Um Guia Prático e Divertido. Editora Objetiva
Outubro é o Mês Internacional da Biblioteca Escolar, uma celebração anual das bibliotecas escolares em todo o mundo. Este ano o mote é Biblioteca escolar: o meu lugar preferido para criar e imaginar.
De que falamos quando usamos a palavra criatividade? Se para alguns a criatividade está próxima das artes, isto é, da música, da pintura, do teatro, do cinema, da dança ou de outras manifestações artísticas, para outras pessoas, a criatividade é algo misterioso, raro, um privilégio que só alguns possuem.
No livro Criatividade, John Cleese desmistifica estas e outras ideias e esclarece, a partir do seu caso pessoal, que a criatividade está presente em todas as áreas da nossa vida.
Por criatividade entendo simplesmente novas formas de pensar sobre as coisas.
Cleese confessa que foi com surpresa que tomou consciência de que era dotado de alguma criatividade. Esta descoberta aconteceu quando estudava em Cambridge e sentiu o desejo de pertencer a uma associação chamada «Footlights» [i], sendo para tal necessário “escrever qualquer coisa. Inventei algumas rábulas e fui aceite.” Era indispensável escrever mais rábulas e apresentá-las publicamente. Durante este processo de escrita, J. Cleese tomou consciência de que conseguia escrever pequenos textos que faziam rir as pessoas. Seria isso ser criativo?
Envolvido neste processo de escrita, percebeu que nem sempre a fluidez acontecia. Bloqueava. Ficava imobilizado, dava voltas à cabeça e nada acontecia. Muitas vezes desistia e ia dormir. Mas, na manhã seguinte, e, quase, imediatamente, a solução, as palavras mais adequadas surgiam de forma tão clara, tão óbvia. Afinal, o que se tinha passado?
As escolas que frequentei preocupavam-se unicamente em ensinar os alunos a pensarem lógica, analítica e verbalmente (ou numericamente).
Pensamos de formas distintas. Se por um lado temos um raciocínio rápido e intencional, uma espécie de «cérebro de lebre», por outro, existe um pensamento lento, menos intencional, mais lúdico, indolente e sonhador, a «mente de tartaruga». São distintos e complementares. Umas vezes necessitamos categoricamente do «cérebro de lebre», enquanto outras vezes necessitamos de recorrer à «mente de tartaruga», talvez a mais ociosa e divertida. A brincadeira, as diversões ajudarão à criatividade?
Cleese recorda a importância do brincar. O ato de brincar induz o envolvimento prazeroso nas tarefas, amplia a curiosidade, ignora o medo de errar e minimiza os níveis de ansiedade. Brincar liberta e permite fluir a torrente de criatividade que há dentro de nós.
As pessoas criativas suportam, muito melhor essa vaga inquietação que se apodera de todos nós quando temos uma questão pendente.
Criatividade fala-nos do processo criativo, mas é simultaneamente um guia prático, muito divertido, por isso, poderemos encontrar algumas advertências para cultivar a criatividade e desta forma romper com a ideia de que a criatividade é inata. Não é verdade. Todos podemos ser criativos. Para tal devemos:
- Evitar as interrupções. Estas desviam a nossa mente daquilo que desejamos pensar.
- Cultivar a clareza e nitidez dos conceitos, apesar da clareza ser difícil no início do processo criativo.
- Amadurecer os pensamentos para ganharem consistência. Para ser criativo é preciso ser paciente.
Cleese termina o seu livro com alguns conselhos e sugestões, a partir da sua experiência como escritor, para fomentar a criatividade:
- Escrever sobre o que se conhece.
- Não desistir.
- Aprender a lidar com os contratempos.
- Não abusar do excesso de confiança.
- Testar as suas ideias.
- Pedir uma segunda opinião.
Criatividade é uma oportunidade para fomentar e exercitar a criatividade nas nossas bibliotecas escolares, com os alunos, professores e restante comunidade educativa.
[i] Cambridge University Footlights Dramatic Club – é um clube de Teatro Amador dirigido por alunos da Universidade de Cambridge
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