A inteligência artificial e a tecnologia estão a evoluir a passos largos, trazendo inúmeras oportunidades para todas as áreas do conhecimento e da sociedade, porém é preciso conhecer os seus benefícios e limitações em cada aplicação e uso e, ainda, respeitar questões éticas relacionadas com a autoria.
Recursos como o ChatGPT já estão a ser utilizados em meio escolar e académico, para pesquisa, para auxiliar na revisão bibliográfica, para a realização de trabalhos ou até mesmo como objeto de pesquisa. Porém, estando esta e outras ferramentas numa fase inicial de desenvolvimento, apresentam inconsistências, pelo que se recomenda, desde já, que não sejam utilizadas como fonte de informação primária para pesquisas, devendo os outputs gerados ser verificados em fontes confiáveis, como é o caso das bases de dados científicas.
Além disso, o uso destes recursos está sujeito a questões éticas, mas a forma como se deve proceder tem gerado posições muito diversas pois, sendo uma realidade recente, as opiniões divergem sobre como os alunos devem usar e citar o ChatGPT e outras ferramentas de inteligência artificial generativa.
Com vista a evitar situações de desinformação e plágio, a própria OpenAI disponibilizou uma ferramenta de deteção de textos produzidos na linguagem natural GPT-2, utilizada pelo ChatGPT, chamada “GPT-2 Output Detector Demo“ https://huggingface.co/openai-detector). Existem outras ferramentas , como a https://aiarchives.org/ que captura a conversa gerada num URL a que qualquer pessoa pode aceder e visualizar.
Timothy McAdoo[1], que gere a equipa da APA Style[2], considerando os desafios criados pelos grandes modelos de linguagem de inteligência artificial (IA), especificamente pelo ChatGPT, publicou um post, no blogue da APA[3], intitulado How to cite ChatGPT ?.
Nesse post, o autor explicita a forma de proceder em situações em que estudantes e investigadores usam o ChatGPT para criar texto e facilitar as suas pesquisas, não para escrever o texto completo do seu artigo ou trabalho. As recomendações do autor vão no sentido de, em primeiro lugar, respeitar as orientações dos instrutores ou professores e apresenta procedimentos adaptados de acordo com a Seção 10.10 do Manual de Publicação (American Psychological Association, 2020), salientando que, ainda que se concentre no ChatGPT, as diretrizes apontadas podem ser adaptadas no uso de outros grandes modelos de linguagem (por exemplo, Bard, Bing…), algoritmos e software semelhantes.
Como citar o texto criado pelo ChatGPT no trabalho realizado?
MacAdoo recomenda que, caso se tenha recorrido ao ChatGPT ou a outras ferramentas de IA aquando de situações de pesquisa e realização de trabalhos, é importante esclarecer esse facto na secção destinada para o efeito (introdução, metodologia…). Para revisões de literatura ou outros tipos de ensaios, para além de clarificar como a ferramenta foi usada, é importante indicar a(s) prompt(s) e, de seguida, a parte relevante do texto que foi gerado em resposta.
Os resultados de uma interação com o ChatGPT não são recuperáveis por outros utilizadores e, por outro lado, o texto gerado não resulta da autoria de uma pessoa. Por isso, citar o texto gerado pelo ChatGPT numa sessão de chat é, portanto, compartilhar a saída de um algoritmo, pelo que há que creditar o autor do algoritmo com uma entrada na lista de referências e a citação correspondente no texto.
Para clarificar a sua posição, o autor apresenta um exemplo concreto:
Exemplo 1- Face à questão “A divisão entre o cérebro esquerdo e o cérebro direito é real ou uma metáfora?”, o texto gerado pelo ChatGPT indicou que, embora os dois hemisférios cerebrais sejam um pouco especializados, “a noção de que as pessoas podem ser caracterizadas como ‘cérebro esquerdo’ ou ‘cérebro direito’ é considerada uma simplificação excessiva e um mito popular” (OpenAI, 2023).
Neste caso concreto, a referência bibliográfica será- OpenAI. (2023). ChatGPT (Mar 14 version) [Large language model]. https://chat.openai.com/chat .
A referência no texto pode assumir o formato de narrativa no texto - Segundo a OpenAI (2023)... - ou surgir entre parênteses - (OpenAI, 2023).
Outra forma de proceder passa por apresentar o texto completo de respostas do ChatGPT num anexo ao trabalho, para que os leitores tenham acesso ao texto exato que foi gerado. É particularmente importante documentar o texto exato criado porque o ChatGPT gera uma resposta única em cada sessão de chat, mesmo que tenha recebido a mesma prompt. Nessa situação, os anexos devem ser mencionados no corpo do trabalho, respeitando o estilo APA, conforme exemplo seguidamente apresentado.
Exemplo 2: Face à prompt “Qual é uma representação mais precisa?”, o texto gerado pelo ChatGPT indicou que “diferentes regiões cerebrais trabalham juntas para apoiar vários processos cognitivos” e “a especialização funcional de diferentes regiões pode mudar em resposta à experiência e fatores ambientais” (OpenAI, 2023; consulte o Anexo A para a transcrição completa).
Assim, os elementos das referências para o ChatGPT ou outros modelos e software de IA incluem 4 elementos: autor, data, título e fonte. Considerando o chatGPT, deverão ser apresentados os seguintes elementos:
1- Autor: O autor do modelo é OpenAI[4].
2- Data: A data é o ano da versão que foi usada. Seguindo o modelo na Secção 10.10, é necessário incluir apenas o ano, não a data exata. O número da versão fornece as informações específicas da data de que um leitor pode precisar.
3- Título: O nome do modelo é “ChatGPT”, então isso serve como título e é colocado em itálico na referência. Embora OpenAI rotule iterações únicas (ou seja, ChatGPT-3, ChatGPT-4), usa-se “ChatGPT” como o nome geral do modelo, com atualizações identificadas com números de versão.
O número da versão é incluído após o título entre parênteses. O formato para o número da versão nas referências do ChatGPT inclui a data, porque é desse modo que a OpenAI rotula as versões. Diferentes modelos de linguagem ou software podem usar diferentes numerações de versão. Por isso, recomenda-se usar o número da versão no formato fornecido pelo autor ou editor, que pode ser um sistema de numeração (por exemplo, Versão 2.0) ou outros métodos.
O texto entre aspas é usado em referências para descrições adicionais quando necessárias para ajudar um leitor a perceber o que está a ser citado.
No caso de uma referência para ChatGPT, recomenda-se identificar o descritor “Grande modelo de linguagem” entre aspas. OpenAI descreve ChatGPT-4 como um “grande modelo multimodal”, então essa descrição pode ser fornecida se se recorrer ao ChatGPT-4. Versões posteriores e software ou modelos de outras empresas podem precisar de descrições diferentes, considerando a forma como os respetivos editores descrevem o modelo. O objetivo do texto entre aspas é descrever brevemente o tipo de modelo.
4- Fonte: Quando o nome do editor e o nome do autor são coincidentes, deve-se evitar a repetição do nome do editor na fonte da referência, recomendando-se que se indique diretamente o URL- https://chat.openai.com/chat . Para outros modelos ou produtos, deve usar-se o URL que vincula o mais diretamente possível à fonte (ou seja, à página onde se acede ao modelo, não à página inicial do editor).
Outras questões relacionadas com a citação do ChatGPT
O ChatGPT apresenta respostas às prompts sem citar as fontes da informação que “consultou”. Temos de lhe pedir que explicite as fontes consultadas e será prudente os utilizadores fazerem da análise das fontes primárias um processo padrão. Se as fontes forem reais, precisas e relevantes, é mais seguro ler essas fontes originais do que usar a “interpretação” que o modelo consultado faz das mesmas.
Existem outras questões a considerar:
Os alunos devem ter permissão para usar este tipo de ferramenta?
O uso de texto gerado por IA constitui plágio?
Autores que usam ChatGPT devem creditar ChatGPT ou OpenAI nos seus trabalhos ou artigos?
Quais são as implicações dos direitos autorais?
Estas questões não são de resposta única e continuam em debate. A APA Style está a trabalhar para contribuir com procedimentos e diretrizes, considerando as recomendações dos editores da APA Journals, com vista a futuros posts no blogue e no site da APA Style ainda este ano.
Por enquanto, vamos todos navegando por esses desafios únicos e novas maneiras de pensar sobre como autores, investigadores e estudantes aprendem, escrevem e trabalham com as novas tecnologias e estas novas ferramentas de IA.
Notas
Contribuiu para o Publication Manual Of The American Psychological Association: The Oficial Guide To APA Style, 7th Edition e é o gestor do blogue APA Style https://aceseditors.org/timothy-mcadoo.
O estilo APA (American Psychological Association) é um sistema internacional de citação autor-data aplicado na área das Ciências Sociais e Humanas.
Eva Revitt, em reação ao post de MacAdoo, manifesta as suas reservas em tratar a OpenAI como “autor”, sendo esta somente a empresa que criou o ChatGTP que nos dá o output. O US Copyright Office considera que as máquinas não podem ser consideradas autoras, pois a autoria implica propriedade. Se tratarmos a OpenAI como o autor, assumimos que o que é gerado pelo ChatGPT é propriedade intelectual da OpenAI. Por isso, Eva Revitt sugere que a APA repense a recomendação de citação apresentada no post de MacAdoo. Para ela, as máquinas não são pessoas e as respostas dos chatbots não devem ser “creditadas” da mesma maneira.
Referências
American Psychological Association. (2020).Publication manual of the American Psychological Association (7th ed.). https://doi.org/10.1037/0000165-000
No cenário caótico da desinformação, onde a sabedoria é escassa e as verdades obscurecidas, mergulhamos nas entrelinhas da literacia dos media e da informação, vislumbrando o seu valor crucial na batalha contra a distorção da realidade. Destacamos a importância da colaboração entre docentes e professores bibliotecários, que devem preservar o conhecimento, confrontar as narrativas manipuladoras e contribuir para uma sociedade informada e crítica. Este artigo é o segundo de um conjunto de cinco, a publicar semanalmente. ________________________________________________________________________________________________________________
A luta entre os "Luminares" e os "Guardiões do Conhecimento" desenrola-se como uma epopeia nas entranhas da sociedade, transcendendo as fronteiras da realidade palpável. Os corajosos Luminares e os devotados Guardiões do Conhecimento erguem-se como figuras lendárias, capazes de iluminar as mentes ávidas de discernimento. A "luz", símbolo da procura incansável pela verdade mais autêntica, projeta os seus raios incisivos sobre o véu enganoso da desinformação. Os “Luminares” são os escolhidos para enfrentar a obscuridade, erguendo-se como guardiões do discernimento e da clareza. Com uma missão nobre, desafiam as narrativas enganosas e iluminam os caminhos para a verdade.
Em contrapartida, a "proteção" ergue-se como uma fortaleza impenetrável, salvaguardando os tesouros do conhecimento confiável e verificado. Os Guardiões do Conhecimento assumem a árdua tarefa de preservar as fontes autênticas de informação, numa luta constante contra a destruição, a censura e a deturpação.
A luz e a proteção entrelaçam-se nessa batalha contra a desinformação, numa dança em busca da verdade. Para desvelar os segredos sombrios das narrativas distorcidas, é necessário transcender os limites da ignorância e dominar a arte da literacia dos media e da informação. Somente ao dançar com maestria nas nuances e subtilezas da informação, é possível navegar pelas armadilhas dissimuladas e emergir como portador da “verdade” inabalável. Nesse confronto, a educação torna-se a nossa maior arma, e a aliança entre docentes e professores bibliotecários emerge como a chave para o triunfo. Nas escolas, é fundamental formar uma frente unida, onde docentes e professores bibliotecários sejam cúmplices na nobre missão de transmitir as competências essenciais das literacias, fortalecendo as defesas de uma sociedade informada e consciente.
Ao assumirmos a batalha contra a desinformação, erguemo-nos como defensores da democracia, da liberdade intelectual e do pensamento crítico. Quando a luz da verdade e a proteção do conhecimento convergem, erguemos muralhas de sabedoria capazes de enfrentar os desafios contemporâneos. Ao construir uma sociedade esclarecida, pavimentamos um caminho para um futuro onde a verdade prevalece e a humanidade se eleva em direção ao seu pleno potencial. Nessa sinfonia de ideias, entre a luz e a proteção, emergem as sementes de um mundo transformado pela procura incessante do conhecimento e pelo poder transformador da verdade.
Neste recomeço, não quero deixar de saudar todos e desejar-vos um ano com energia, entusiasmo e perseverança para continuarmos o trabalho de “construção do futuro” na e com a biblioteca escolar.
Sabemos que a Rede consubstancia uma ação suportada no coletivo, sempre traduzida em práticas colaborativas, desenvolvidas a vários níveis e pautando-se por uma constante partilha de conhecimento, ideias e trabalho. A identificação dos desafios e as soluções concebidas em equipa apresentam-se como as melhores estratégias de resposta, face aos complexos desafios que se colocam hoje à educação, às sociedades e à humanidade.
Em Rede, será mais fácil prosseguir a tarefa e o apoio a quem desempenha o nobre “ofício” de ajudar a descobrir o gosto por aprender e despertar a curiosidade e a criatividade, não perdendo nunca de vista os princípios e valores que norteiam a RBE: a liberdade, a equidade, a inovação e a responsabilidade, sempre suportados numa visão humanista.
Quando assinalamos os 50 anos de democracia em Portugal e, simultaneamente, em Portugal e no mundo, assistimos a ataques ferozes e multifacetados à liberdade, não podemos esquecer que às bibliotecas (de qualquer tipologia) sempre coube a sua salvaguarda. Estamos, por isso, todos, convocados para disponibilizar o acesso universal à informação e formar para o seu uso eficaz, ético e criativo, defendendo a liberdade intelectual e o pensamento crítico. Reforcemos abril, ao longo do ano que agora iniciamos.
Neste ano, subordinado ao lema Iteração & Consolidação, queremos apostar num trabalho orientado para a consecução de objetivos bem definidos e concretos, decorrentes da identificação clara de necessidades/ problemas e reforçar práticas regulares, com vista à consolidação eficaz de aprendizagens. Persistiremos numa atenção cuidada às áreas de trabalho que sempre foram nossas: a leitura, a escrita e as literacias dos media e da informação e seremos, ainda, sítios de cultura e inovação.
Continuaremos a acompanhar as problemáticas da atualidade com implicações na educação, desde as mais globais às mais específicas, elaborando e disponibilizando orientações, literatura especializada e prestando apoio de proximidade.
Já em outubro, no mês dedicado às bibliotecas escolares, temos encontro marcado na Fundação Calouste Gulbenkian - Fórum RBE: liberdade e transformação, constituindo-se a iniciativa como uma oportunidade para nos encontrarmos e, juntos, escutarmos e refletirmos sobre temáticas variadas e emergentes, importantes para incorporar na nossa ação.
Conto convosco para prosseguirmos o trabalho de consolidação da REDE RBE, sempre com o objetivo de fazer mais e melhor por aqueles que nos movem diariamente: os nossos alunos.
Um abraço amigo,
Manuela Pargana Silva, Coordenadora Nacional da Rede de Bibliotecas Escolares
No âmbito da participação na Conferência Internacional da IFLA, que decorreu em Roterdão, entre os dias 21 e 25 de agosto, a Rede de Bibliotecas Escolares teve oportunidade de visitar algumas bibliotecas holandesas, que se destacam pela sua inovação.
Os Países Baixos são conhecidos pela sua abordagem inovadora e pelo compromisso com o bem-estar dos cidadãos. Com uma história pioneira em áreas como tecnologia, urbanismo e sustentabilidade, o país é líder em inovação, criando políticas sociais avançadas, de que são exemplo o sistema de saúde acessível e a mobilidade sustentável, com uma extensa rede de ciclovias e o investimento em transportes públicos eficientes.
Os Países Baixos têm, também, uma abordagem única no que diz respeito às questões urbanas, com projetos de planeamento urbano centrados nas necessidades das pessoas, promovendo espaços verdes, acessibilidade e qualidade de vida.
A inovação nas bibliotecas públicas e universitárias dos Países Baixos também é notável. O país valoriza profundamente a educação e o acesso à informação, refletindo-se no modo como as bibliotecas são inicialmente projetadas e depois no seu modo de funcionamento.
As bibliotecas públicas holandesas são verdadeiros centros de aprendizagem e interação. Com uma ampla gama de serviços digitais, programas educativos, espaços de colaboração e eventos culturais, as bibliotecas são também hubs multifuncionais que se vão adaptando às necessidades da comunidade moderna.
Estes espaços amplos são projetados para acomodar diversas atividades. Para além das áreas de leitura tradicionais, estão disponíveis espaços para relaxamento, interação social, estudo silencioso, discussões em grupo e até mesmo espaços para as crianças brincarem e aprenderem.
A transição para o mundo digital é outra faceta inovadora das bibliotecas dos Países Baixos. A requisição de livros pode ser feita de forma automatizada e estão também à disposição dos utentes o empréstimo de e-books, audiolivros e outros recursos digitais, proporcionando aos utilizadores uma gama diversificada de recursos que reflete a evolução das necessidades e preferências dos leitores contemporâneos.
É comum encontrar zonas de trabalho individual ou de grupo, equipadas com acesso à internet de alta velocidade e espaços propícios à colaboração, o que torna as bibliotecas num local não apenas para pesquisa e estudo, mas também para reuniões de trabalho e projetos em equipa.
Algumas bibliotecas disponibilizam no seu espaço zonas de café e restaurante, o que cria um ambiente acolhedor, onde os utilizadores podem relaxar, socializar e desfrutar de momentos de lazer.
No que diz respeito, às bibliotecas escolares, os Países Baixos estão a tentar criar uma rede nacional, à semelhança do que acontece em Portugal. Os responsáveis holandeses pela criação desta rede visitaram, no final do ano letivo passado, a Rede de Bibliotecas Escolares e algumas escolas portuguesas para conhecer o nosso programa, único na Europa.
A propósito da vinda do Papa Francisco a Lisboa para a 15.ª edição da Jornada Mundial da Juventude (1 a 6 de agosto de 2023) lembramos dois dos seus legados, o Pacto Educativo Global e a Ecologia Integral (a publicar brevemente), que respondem a duas crises interrelacionadas, a crise social e a crise ambiental.
Constituem importantes instrumentos para reflexão sobre educação humana integral ou holística e educação ambiental ou para a ação climática, para além de contribuírem para uma reflexão sobre abordagens educativas em contexto escolar.
Lançado no Vaticano a 15 de outubro de 2020, o Pacto Educativo Global é dirigido a todas as pessoas do mundo, instituições, igrejas e governos e visa transformar a sociedade através de uma educação humanista.
Na mensagem da sua apresentação [2] o Papa Francisco destaca:
- A educação é “um dos caminhos mais eficazes para humanizar o mundo e a história”, é um “antídoto natural à cultura individualista, que às vezes degenera num verdadeiro culto do ‘ego’ e no primado da indiferença”, divisão e fragmentação entre saberes e identidades. É fundamental que desenvolva o “pensamento e imaginação, escuta, diálogo e compreensão mútua“ e fraterna, na busca do bem comum e da harmonia entre povos e culturas. É na educação que “habita a semente da esperança”.
- Este é um “percurso integral” que visa o bem-estar físico e psicológico de cada pessoa e, em particular, dos jovens, que enfrentam situações de solidão, “depressão, toxicodependências, agressividade, ódio verbal, fenómenos de bullying” e de desconfiança quanto ao futuro. Visa o abandono da atitude de passividade perante as ameaças aos direitos humanos - “o flagelo das violências e abusos contra os menores, aos fenómenos das meninas-noivas e das crianças-soldado, ao drama dos menores vendidos e escravizados” - e a “grave crise ambiental e climática”.
- A educação integral não é um apelo apenas dirigido aos cristãos, deve ser um compromisso/ pacto pessoal e entre toda a sociedade, pois é “participativa e poliédrica”, pluridisciplinar, intercultural e inter-religiosa:
“Apelamos, em todas as partes do mundo, de maneira particular aos homens e mulheres da cultura, da ciência e do desporto, aos artistas, aos operadores dos meios de comunicação social, para que adiram – também eles – a este pacto”.
Nesta mensagem o Papa Francisco alicerça o Pacto Educativo Global em 7 pilares:
- Centralidade da pessoa humana e da sua dignidade que, através da educação, se desenvolve cognitiva, espiritualmente (1.º pilar) e através da ação transformadora.
"Educar não é apenas transmitir conceitos, mas é um trabalho que exige que todos os responsáveis, família, escola e instituições sociais, culturais e religiosas, participem desse processo de forma solidária. Para educar é necessário integrar a linguagem da cabeça com a linguagem do coração [destaque para a beleza, as artes e a cultura que educa para os valores, a ética] e a linguagem das mãos” [3].
Centralidade da família (4.º pilar) e da humanidade, designadamente dos mais vulneráveis e marginalizados (5.º pilar). Trata-se de uma visão da educação integral e inclusiva;
- Escuta da voz das crianças e jovens (2.º pilar) – designadamente das meninas e raparigas (3.º pilar) - que devem ter plena participação na educação e na sociedade;
- Compreensão da economia, da política e do progresso, à luz de uma ecologia integral ao serviço do ser humano (6.º pilar);
- Preservação e valorização do planeta - “guardar e cultivar a nossa casa comum” - adotando um estilo de vida mais sóbrio, que limite a utilização de recursos, aposte em energias renováveis, na economia circular e na solidariedade universal (7.º pilar).
O documento de trabalho do Pacto Educativo Global, Instrumentum Laboris [4], considera que a abertura ao outro é o fundamento do pacto e destaca que a concretização do pacto, exige uma vila da educação [“Introdução”], uma rede global de alianças e relações interdependentes e coesas, que assumam o seu compromisso por uma causa comum, pondo de lado as diferenças entre as partes, que devem exercer uma liderança servidora – “fomos criados não apenas para viver ‘com os outros’, mas também para viver ‘a serviço dos outros’”. Defende uma fraternidade universal e não meramente cristã, que decorre, não do dever moral, mas da “identidade objetiva do género humano e de toda a criação” que rejeita a “cultura do descartável”, não só de coisas, como de pessoas [“O projeto - 3. Fraternidade original”].
Neste documento, o Papa Francisco reconhece que os tempos tecnológicos em que vivemos podem gerar o empobrecimento interior e ser um instrumento de fechamento em nós mesmos, de cultivo da indiferença perante o sofrimento real e de perda de ligação ao passado, às raízes/ memória, aos velhos e às crianças, fora do circuito de produtividade. A velocidade de acesso a informação e a personalização da internet gera “crescente dificuldade a parar, a refletir, a escutar”, bem como dificuldade em construir “uma visão unitária de si” e do seu papel no mundo [“O contexto”].
O documento valoriza o papel dos professores e do ato educativo, cuja finalidade é “formar pessoas disponíveis para se colocarem ao serviço da comunidade” [“A Missão”].
O Pacto Educativo Global é um caminho apresentado pelo Papa Francisco desde o início do seu magistério, estando anunciado em Evangelii Gaudium (2013) – “torna-se necessária uma educação que ensine a pensar criticamente e ofereça um caminho de amadurecimento nos valores” [5] - e na Carta Encíclica Laudato Si (2015). - “educar para a aliança entre a humanidade e o ambiente” [5].
Numa palestra recente organizada pelo Frontiers Forum, o renomado pensador contemporâneo, Yuval Noah Harari, leva-nos a uma jornada filosófica que revela o potencial revolucionário da inteligência artificial (IA) como uma forma de vida inorgânica no nosso planeta. Com perspicácia, Harari expõe a ameaça que essa inteligência "alienígena" representa para as civilizações humanas, mesmo sem ser consciente ou capaz de navegar no mundo físico. Ele ressalta a urgência de uma regulamentação imediata, abrindo caminho para uma análise provocativa sobre o impacto da IA na sociedade e na condição humana.
Harari conduz-nos a uma reflexão profunda sobre a influência da IA na moldagem das narrativas culturais. Ele lembra-nos que a cultura é forjada por narrativas partilhadas e que o avanço das ferramentas de IA está a criar e disseminar narrativas verdadeiramente “novas” e de forma amplificada. A capacidade da IA de processar e analisar grandes volumes de dados tem o poder de remodelar valores, comportamentos e relações sociais, o que nos desafia a repensar as nossas crenças e identidades.
Harari confronta-nos com algumas questões perturbadoras. Ele coloca em evidência o domínio da IA sobre a intimidade humana, levantando preocupações acerca da privacidade, autonomia e liberdade individual - Como podemos preservar a nossa singularidade e conexão humana quando a IA é capaz de compreender os nossos desejos e emoções, antecipando até mesmo as nossas necessidades mais íntimas?
Este tipo de questionamento levam-nos a ponderar se a ascensão da IA pode marcar o fim da história humana, já que o seu poder e capacidade de processamento ultrapassam os nossos próprios limites. No entanto, a História mostra-nos, em muitas das suas encruzilhadas, a resiliência e capacidade de adaptação do ser humano, que encontrou maneiras de se reinventar diante dos desafios tecnológicos. Mesmo diante das mudanças profundas que a IA pode trazer, é na natureza humana que encontramos caminhos para florescer e criar novas perspetivas.
Além disso, Harari também nos incita a refletir sobre o acesso, controle e implicações éticas da IA num contexto de ampla participação democrática - Como garantir que a IA seja utilizada de forma responsável e benéfica, sem agravar as desigualdades sociais e os riscos de manipulação?
A regulação da IA emerge, portanto, como um desafio crucial neste contexto. À medida que se torna mais autónoma e sofisticada, é necessário estabelecer estruturas éticas e legais para orientar o seu desenvolvimento e uso. Contudo, é importante reconhecer que não existem respostas definitivas para essas questões que são muito complexas. O futuro da IA e o seu impacto na humanidade são incertos, exigindo um diálogo contínuo e o engajamento de todos os setores da sociedade.
O destino da humanidade repousa nas nossas escolhas éticas e responsáveis diante do avanço tecnológico. Como indivíduos conscientes, devemos participar ativamente destas discussões, forjando um futuro onde a IA coexista de maneira benéfica com a humanidade. É na nossa capacidade de adaptação, criatividade e pensamento crítico que encontramos a força para moldar um mundo em que a humanidade e as suas capacidades únicas possam florescer.
Como dizia Milan Kundera, na Insustentável Leveza do Ser,” são precisamente as perguntas para as quais não existem respostas que marcam os limites das possibilidades humanas e traçam as fronteiras da nossa existência”.
Neste contexto de reflexão, sobre o impacto da inteligência artificial (IA) na sociedade e na condição humana, as bibliotecas escolares podem desempenhar um papel fundamental na colaboração desta discussão.
As bibliotecas têm sido tradicionalmente espaços de conhecimento, aprendizagem e diálogo, e à medida que a IA ganha destaque em diversos setores, elas podem servir como centros de informação e disseminação de conhecimentos sobre essa temática. Podem disponibilizar materiais de estudo, pesquisas e literatura sobre inteligência artificial, implicações éticas, regulamentações e os seus efeitos na cultura e sociedade.
Adicionalmente, as bibliotecas podem promover eventos e palestras que envolvam especialistas e pensadores na área da IA, assim como debates com a participação da comunidade escolar. Ao criar um ambiente propício ao diálogo, as bibliotecas permitem que alunos, educadores e pais discutam e compreendam os desafios e oportunidades trazidos pela inteligência artificial.
Outro aspeto importante é a formação dos alunos para serem cidadãos críticos e conscientes em relação à IA. As bibliotecas podem desenvolver programas de literacia que abordem não apenas os aspetos técnicos da IA, mas também os seus impactos sociais, éticos e filosóficos. Essa formação pode ajudar os alunos a tomar decisões informadas, a compreender o papel da tecnologia nas suas vidas e a desenvolver uma visão mais abrangente sobre o mundo em que vivem.
Além disso, as bibliotecas escolares podem tornar-se espaços de criação e inovação, incentivando a experimentação e o desenvolvimento de projetos relacionados com a IA. Ao integrar tecnologias e outras ferramentas de IA em atividades educativas, os alunos podem vivenciar de forma prática os potenciais e limitações dessas tecnologias.
Em suma, as bibliotecas escolares têm a oportunidade de se tornarem verdadeiros centros de conhecimento e reflexão sobre a IA, contribuindo para o desenvolvimento de uma comunidade educada, informada e preparada para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades trazidas pela inteligência artificial.
Assim, unidos, podemos construir um futuro em que a IA e a humanidade caminhem lado a lado, aproveitando os benefícios e enfrentando os desafios de forma responsável. O destino está nas nossas mãos, e cabe-nos moldá-lo em prol da sociedade e do mundo em que vivemos. É imperativo inaugurar um novo mundo, repensá-lo aqui e agora e, dessa forma, responder com serena acuidade ao desafio que nos é apresentado, mesmo que abdiquemos de utilizar essa clarividência para obter resultados imediatos.
No Congresso Europeu sobre Educação Global na Europa até 2050 (GE2050), convocado pela Rede Europeia de Educação Global (Global Education Network Europe - GENE), foi formalmente adotada, a 4 de novembro de 2022 na Irlanda (Dublin), a Declaração Europeia de Educação Global até 2050 [1].
A Declaração GE2050 configura um “Quadro Estratégico Europeu para aumentar e melhorar a Educação Global” (Apêndice 3) e decorre da Declaração de Maastricht de 2002 sobre Educação Global e de outros compromissos e agendas europeias e internacionais globais fundamentais para estabelecer o núcleo de princípios da aprendizagem dos cidadãos globais do século XXI. Destacam-se:
- Agenda 2030 de 2015 - destaque para a Meta 4.7. sobre educação para a cidadania global e para o desenvolvimento sustentável;
- Recomendação da UNESCO sobre a educação para a compreensão, cooperação e paz internacionais e a educação relativa aos direitos humanos e liberdades fundamentais de 1974,
2. Processo e envolvimento/ parceiros
A Declaração GE2050 resulta de consulta, durante 18 meses (jun. 2021 – nov. 2022) de organizações de jovens e da sociedade civil, de governos locais e regionais, da academia, de políticos (Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Educação) de toda a Europa e amigos críticos de outras regiões (África, Ásia e Américas) [2], para garantir uma Declaração visionária e partilhada e assegurar maior coerência e efeitos.
Incentiva a colaboração com novos atores, incluindo o setor privado e outras regiões, nomeadamente de outros países parceiros da UE.
3. Redefinição de Educação Global
“Educação Global é a educação que permite às pessoas refletir criticamente sobre o mundo e sobre o seu lugar nele […] entender, imaginar, ter esperança e agir para criar um mundo de justiça social e climática, de paz, solidariedade, equidade e igualdade, sustentabilidade planetária e compreensão internacional” (Apêndice 1).
De acordo com a Declaração, a “Educação Global está no centro da educação de qualidade” (p. 2) e é um direito de todos.
O documento apresenta a epígrafe, “Trabalhando para o dia em que todas as pessoas na Europa - em solidariedade com os povos de todo o mundo - terão acesso a uma Educação Global de qualidade”.
4. Valores, princípios e dimensões fundamentais da Educação Global
A Declaração estabelece valores, princípios e dimensões fundamentais da Educação Global, como:
- Justiça social e direitos humanos - todos os direitos para todos os povos;
- Sustentabilidade e interligação entre local – global; pessoas, outros seres vivos e planeta; entre gerações/ culturas/ passado, presente e futuro.
5. Abordagem
A Educação Global adota uma “abordagem universalista e baseada em direitos" (“universalist, rights-based approach”) e uma abordagem escolar integral/ holística (whole-school approach) que pode implicar reformas educativas e curriculares nos Estados-Membros.
Abrange educação formal, não formal e informal, aprendizagem ao longo da vida e em todos os domínios da vida, comprometendo todos os governos da Europa e todos os setores da sociedade.
Envolve pensamento crítico e aprender a lidar com a complexidade das crises e dos desafios planetários “cada vez mais complexos e inter-relacionados”, como a crise climática, a desigualdade, a pobreza, as pandemias, a guerra, a desinformação, os ataques à democracia.
Incentiva práticas pedagógicas centradas nos aprendentes, inclusivas, democráticas e participativas, significativas e que desenvolvam competências para uma ação informada e transformadora.
Promove a “descolonização dos currículos”, incentivando uma reflexão crítica da História e do poder e valorizando o conhecimento de todas as culturas, particularmente as indígenas.
6. Fundamentação de políticas
A Declaração GE2050 incentiva a melhoria de políticas de Educação Global com base num trabalho de informação, investigação e inovação.
7. Financiamento e avaliação
Prevêem-se níveis e mecanismos de financiamento adequados, bem como monitorização e reporte dos progressos, anualmente, a nível nacional (estratégias, políticas, financiamento, trabalho em rede) e, de 5 em 5 anos, a nível europeu, para assegurar a qualidade e o alargamento de boas práticas.
Porque resultou da estreita cooperação com a Comissão Europeia, o Conselho da Europa, a OCDE, a UNECE e a UNESCO, a Declaração GE2050 prevê o alinhamento do calendário com estas instituições internacionais (Apêndice 2).
Em geral, trata-se de um documento estratégico fundamental que reforça a Educação Global e transforma a educação e a sociedade na EU.
Global Education Network Europe. (2022, 4 nov.). Congresso Europeu e Declaração sobre a Educação Global na Europa até 2050. Dublin, Irlanda: GENE. https://www.gene.eu/
Diálogo entre “Luminares” e “Guardiões do Conhecimento”
No cenário caótico da desinformação, onde a sabedoria é escassa e as verdades obscurecidas, mergulhamos nas entrelinhas da literacia dos media e da informação, vislumbrando o seu valor crucial na batalha contra a distorção da realidade. Destacamos a importância da colaboração entre docentes e professores bibliotecários, que devem preservar o conhecimento, confrontar as narrativas manipuladoras e contribuir para uma sociedade informada e crítica.
Este artigo é o primeiro de um conjunto de cinco, a publicar semanalmente.
A Sobreposição das Estruturas: Desvendando Conexões Ocultas
Na voragem implacável da sociedade atual, somos incessantemente bombardeados por um mar de informações, e a desinformação surge como uma ameaça subtil e corrosiva. Para enfrentar esse desafio, a literacia dos media e da informação (MIL) emerge como uma poderosa ferramenta, capaz de empoderar os indivíduos a discernir a verdade entre os véus do engano, erguer pilares de conhecimento sólido e resistir à manipulação.
A literacia dos media envolve a análise crítica dos meios de comunicação, a descodificação de mensagens ocultas, a identificação de vieses e manipulações subtis, e o uso consciente e responsável das informações. Já a literacia da informação engloba habilidades preciosas de pesquisa, avaliação e uso ético das fontes, capacitando os indivíduos a navegar pelo vasto oceano de dados com discernimento e confiança.
Ambas as formas de literacia têm um propósito nobre e comum: capacitar os indivíduos a analisar, avaliar e produzir conteúdos de media e informação, promovendo o pensamento crítico, a avaliação criteriosa das fontes e a compreensão do impacto social dos media e da informação na vida de todos. Tais literacias são essenciais na batalha contra a desinformação, fortalecendo a cidadania e incitando o florescimento de uma sociedade informada e desperta. Com as competências adequadas, os indivíduos tornam-se capazes de tomar decisões fundamentadas, participar ativamente da esfera pública e contribuir para a construção de um mundo mais justo, equânime e democrático. A literacia dos media e da informação revela-se assim uma chave indispensável para navegar com maestria no intrincado e interconectado mundo em que estamos imersos.
E pronto – estamos de volta! Temos duas semanas para prepararmos a chegada dos intervenientes mais importantes das nossas atuações: os nossos alunos. As mangas já estão arregaçadas, os lápis e os blocos de notas (físicos ou digitais, conforme o gosto) preparados, e as cabeças já fervilham de ideias… ora vamos lá a organizar-nos; que tarefas nos esperam?
1. Antecipar a colaboração
Agora que já é conhecida a distribuição de serviço, vamos refletir:
Ξ Com quem podemos contar na equipa da biblioteca (em que se inclui, naturalmente, o(s) assistente(s) de biblioteca) ? São elementos de continuidade ou vêm pela primeira vez trabalhar connosco? Há que reunir com a maior brevidade, partilhar ideias e visões, perceber o que é necessário corrigir ou aperfeiçoar, distribuir tarefas…
Ξ Com que estruturas pedagógicas é importante articular? Clubes, Projetos, Cidadania, Equipa Multidisciplinar de Apoio à Inclusão, Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital da Escola, Plano Nacional das Artes, do Cinema, de Leitura… Como podemos criar sinergias? O que faz sentido incluir no nosso PAA?
Ξ Já conhecemos todos os colegas ou há gente nova com quem precisamos de entabular conversa e apresentar o trabalho que temos vindo a fazer? Será interessante verificar que tipo de atividades têm feito com as bibliotecas das escolas por onde têm andado e o que esperam de nós. Trarão propostas interessantes que possamos adotar? Será de considerar a preparação de uma visita à biblioteca pelos novos docentes e técnicos para conhecerem o espaço e a forma como nos organizamos por aqui?
Ξ Quem leciona o quê a que turmas? É tempo de prepararmos os nossos mapas (para estarem sempre à mão para uma consulta) e os nossos grupos de correio eletrónico para nos facilitar a vida ao longo do ano, quando pretendermos chegar rapidamente a todos os colegas de determinada disciplina/ área/ nível.
Ξ Quem são os diretores das diferentes turmas? Será que têm alguma ideia para concretizar na área da direção de turma? E nós, já temos práticas habituais que possamos sugerir?
Ξ Quais são as composições dos diferentes conselhos de turma? Conseguimos garantir que em cada turma há sempre um ou mais professores com quem será mais fácil colaborar, garantindo assim que todas as turmas têm o seu trabalho na biblioteca? De que forma pode a biblioteca ajudar na conceção e operacionalização de DAC?
2. Repensar o espaço
Tendo em conta que o espaço da nossa biblioteca é o grande cenário onde a maioria da nossa ação se desenvolve, é fundamental olharmos para ele com atenção. Por vezes está assim há tanto tempo que até nos esquecemos que não é obrigatório que assim permaneça. Para quem chega, encontrar novidades é sempre motivador e certamente os colegas e os alunos encontrarão com agrado um espaço renovado.
Ξ Relativamente às ações que costumamos desenvolver e ao uso que os utilizadores fazem do nosso espaço, está ótimo ou podemos melhorar qualquer aspeto, com uma simples reorganização? Peça conselho ao coordenador interconcelhio que acompanha a sua escola. Quem sabe não lhe dá uma boa sugestão?
Ξ Temos um makersapace? Mais digital ou mais físico? Podemos melhorá-lo? Ou ainda não temos, mas estamos a ponderar criar um? Se necessário, a Rede de Bibliotecas Escolares disponibiliza alguns artigos sobre o tema.
Ξ Costumamos ter uma decoração que permaneça ao longo de todo o ano que faça eco do tema da escola para o ano letivo? É tempo de pensar nela. Já não há decorações do ano passado, pois não? Agora há uma linda página em branco para ir recheando ao longo do ano.
Ξ Há pequenos investimentos que seria necessário fazer para otimizar o espaço? Dêmo-los a conhecer à direção para ver se se encontram algumas soluções. Talvez possamos convocar para nos ajudar aquele assistente que temos por cá e que, com muita boa vontade e habilidade, vai ajudando a manter num brinquinho os nossos espaços.
Ξ Não há nada a fazer, nem se reconhece que é uma biblioteca escolar do século XXI 😩? É urgente requalificar? Talvez seja o momento de abordarmos a questão com convicção e inovação e prepararmos uma candidatura RBE: (re)criar a biblioteca.
3. Delinear o plano
Nestas duas semanas é também tempo de pensarmos o nosso plano anual de atividades. O ideal será iniciarmos as atividades letivas já com o plano delineado e praticamente concluído, pois sabemos que logo que os nossos “clientes” começam a chegar não temos mãos a medir para pôr em prática tudo o que sonhamos para eles.
A Rede de Bibliotecas Escolares aprimorou alguns pormenores no Modelo de Plano que disponibiliza, por isso, para usarmos a versão mais recente, é necessário descarregar novamente.
Ξ Para facilitar o trabalho, partimos do plano do ano transato. Muitas atividades são tradição e repetem-se, por isso há que prestar-lhes atenção. Porque as fazemos? Temos objetivos claros e visamos aprendizagens concretas com elas, ou continuamos porque todos estão a contar e é festa e são “giras”? Recordemos que temos muito que fazer, não podemos desperdiçar tempo nem energias…
Ξ E novas ações? Têm andado pela nossa cabeça, a vaguear, algumas ideias, alguns sonhos. Será chegado o momento de os concretizar? Teremos condições para avançar? Vamos experimentar uma inovação ou abalançar-nos para um novo projeto? Quem poderá ajudar-nos? Somos Rede, por isso, nunca estamos sós: podemos partir das propostas e sugestões da Rede de Bibliotecas Escolares ou inspirarmo-nos nas práticas de sucesso de outras bibliotecas.
Ξ A Rede de Bibliotecas Escolares apresenta múltiplos desafios e projetos que percorrem as várias áreas de intervenção das bibliotecas. Revisitemo-los e ponderemos quais se adequam aos nossos contextos, quais temos condições para continuar a implementar ou abraçar como novidade. Quais vamos propor aos nossos colegas? Que outros projetos temos já em curso, na escola ou localmente, a que faz sentido dedicarmos atenção?
Ξ Recordemos as prioridades que a Rede de Bibliotecas Escolares definiu para 2023-2024. O que já fazemos que vai ao encontro dessas prioridades e o que ainda não fazemos mas podemos ponderar fazer? Não nos esqueçamos de que o lema surge na continuidade de 2022-2023 (inclusão, recuperação & inovação): Iteração e Consolidação – pretende-se sobretudo que aperfeiçoemos e consolidemos as nossas práticas, que estabeleçamos programas de desenvolvimento regular.
Ξ Na sequência da COVID 19, houve lugar ao Plano de recuperação Escola+ 21|23, que se prolonga para mais um ano. Existem fortes probabilidades de termos implementado a ação Escola a ler. Sendo uma das medidas mais impactantes deste plano, certamente a nossa escola irá selecioná-la como uma medida a continuar e a biblioteca terá, inequivocamente, o seu papel a desempenhar e inclui-la-á no PAA. O que correu bem e queremos manter? O que podemos corrigir para otimizar?
Ξ Como resultado da avaliação dos nossos serviços, que fizemos o ano passado, vamos elaborar o plano de melhoria para o próximo biénio. Vamos ser realistas e definir uma ou duas ações concretas e exequíveis, dado o nosso contexto, que permitam melhorar algun(s) aspeto(s) evidenciado(s) como mais fraco(s). Que ações são essas? Não nos podemos esquecer de as incluir no nosso PAA.
…
Trabalho não nos falta, é verdade. Mas sabemos exatamente para onde queremos ir, temos muita vontade e sabemos como e com quem fazer. Dentro de duas semanas, abriremos portas e teremos o nosso caminho bem traçado, deixando espaços para imprevistos que, certamente, também nos visitarão ao longo deste ano que agora iniciamos. Vamos lá!
Há um mês desligamo-nos: guardamos os materiais do ano findo, baixamos a tampa ao computador e partimos, rumo ao dolce far niente das férias. Foi uma pausa boa e necessária para retemperarmos energias e renovarmos a nossa motivação.
Hoje é dia de festa! É dia de reencontrar espaços e, sobretudo, pessoas – aquelas mesmas que esquecemos com tanto empenho durante as férias – os professores, os assistentes, os técnicos, a direção, os parceiros... Todo um mundo de relações que nos reafirmam como humanos e nos sustentam o bem-estar.
Hoje é dia de acolher! De conhecer novos colegas, de lhes dar as boas-vindas, de os fazer sentir-se parte de uma nova comunidade. É dia de contarmos e ouvirmos histórias, porque as histórias partilhadas são, desde sempre, marca indelével da nossa humanidade.
Hoje é dia de recomeço! Mas não de trabalho, porque antes de sermos profissionais, somos, necessariamente, pessoas – seres gregários cuja energia se expande como resultado das interações que estabelecemos.
Hoje é dia de ter tempo! Tempo para ficar e conversar sem pressas, para falar só porque sim, para dizer coisas inúteis, quem sabe, disparatadas. Tempo para reencontrar memórias e pensamentos.
E os planos, as ideias, os projetos, os sonhos para o ano letivo que hoje se inicia? A seu tempo virão, muito mais sólidos se alicerçados em visões partilhadas e parcerias robustas. Amanhã? Amanhã é fim de semana.
Estaremos prontos para agarrar todos os desafios na próxima segunda-feira!
Bom recomeço! Bom ano!
Boas aprendizagens para TODOS os nossos alunos!
Apressai-vos lentamente; e sem perder o ânimo, Recomeçai a vossa obra vinte vezes: Esmerilhai-a sem cessar e esmerilhai-a novamente; Acrescentai de vez em quando e apagai frequentemente.