Desde a sua constituição, o Programa da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) incentiva as bibliotecas a criarem oportunidades de aprendizagem amplas, plurais e participativas, ligadas ao currículo e à comunidade educativa.
Neste contexto, a Rede de Bibliotecas do Concelho de Alcobaça (RBCA) está a desenvolver um projeto integrador, que envolve as bibliotecas escolares, a Biblioteca Municipal, o Centro de Estudos Superiores da Universidade de Coimbra em Alcobaça (CESUCA), o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra (CECH) e toda a comunidade educativa, ligando os currículos, as literacias e as competências ao património alimentar das famílias dos alunos do concelho.
O projeto Implica a recolha de receitas do património alimentar familiar, pelos alunos do concelho de Alcobaça, para posterior compilação, ilustração e publicação.
O projeto “Património alimentar familiar dos residentes do concelho de Alcobaça” integra o Domínio de intervenção “Projetos e parcerias – leitura & literacia” do Plano Anual de Atividades da RBCA, elaborado para 2022/23, estando prevista a sua conclusão no próximo ano letivo. Conta com a colaboração da Professora Catedrática da FLUC, Carmen Soares, investigadora e Coordenadora do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, cuja investigação tem incidido em particular sobre a Historiografia e o Pensamento Político Grego (em especial Heródoto e Platão), a Antiguidade Clássica, a Tragédia Grega (sobretudo Eurípides) e os temas da Família, Alimentação, Saúde e Dietética.
Com este projeto, dá-se continuidade a uma prática consolidada da RBCA no sentido de propor atividades que permitam trabalhar o currículo de forma integrada, desenvolvendo competências de cidadania e transversais ao nível das diferentes literacias exigidas pela sociedade contemporânea, num trabalho colaborativo e em ligação com a comunidade educativa. Na fase de planificação do projeto, foi elaborado um cronograma com as principais ações a desenvolver e respetivos objetivos, com prazos intermédios, com os intervenientes em cada etapa, tendo sido o arranque do projeto oficialmente assinalado no dia 23 de fevereiro, numa reunião da RBCA que contou com a presença da Professora Carmen Soares. Nessa sessão, a investigadora, respondendo ao pedido de colaboração da RBCA, apresentou o Guia de levantamento e registo do património alimentar familiar dos residentes do concelho de Alcobaça, documento orientador fundamental para todas as diferentes fases do projeto.
Num primeiro momento, o documento apresenta uma introdução ao conceito “património alimentar”, clarificando o que pode ser considerado representativo do património alimentar familiar e os procedimentos para a recolha e seleção de “marcas” desse património.
Num segundo momento, para facilitar o trabalho de pesquisa e o tratamento da informação, foi proposta uma ficha para registo da receita, estabelecendo os campos primaciais a considerar, seguida de um exemplo concreto bastante elucidativo.
Neste momento, as professoras bibliotecárias já apresentaram o projeto aos alunos e professores dos diferentes níveis de ensino e áreas curriculares das escolas dos vários agrupamentos e, ainda, aos encarregados de educação/famílias, estando a decorrer a recolha das receitas com o contributo dos familiares.
Numa fase posterior (entre março e maio), em oficinas de escrita, os alunos irão proceder à planificação, textualização e revisão das receitas recolhidas, de acordo com o guião pré-fornecido, sendo realizada uma pré-seleção dos textos produzidos em cada agrupamento. Depois de coligir os textos selecionados, a amostra do património alimentar familiar do concelho de Alcobaça será apreciada e validada pela professora Carmen Soares.
No final do presente ano letivo, em junho, será elaborado um guião orientador para os ilustradores das receitas selecionadas e constituída uma bolsa de ilustradores entre os alunos dos vários agrupamentos, que irão proceder à Ilustração das receitas selecionadas no início do próximo ano letivo, de acordo com o constante no respetivo guião.
Pretende-se, numa fase final, a edição/publicação do livro e/ou ebook Património alimentar familiar dos residentes do concelho de Alcobaça, reunindo as receitas ilustradas, que será lançado na Semana da Leitura de 2023-2024, numa cerimónia envolvendo os alunos participantes, os familiares e os parceiros, com provas de degustação das receitas recolhidas e recriadas, cumprindo o objetivo fulcral do património alimentar familiar: reunir [em torno da mesa] para criar um sentimento de pertença e de união.
Em suma, trata-se de um projeto que, partindo da tradição e do passado, envolve ativamente os alunos, no presente, convidando-os a desenvolver competências diversas e fundamentais para o seu futuro. Além disso, incrementa a ligação à comunidade local e envolve parceiros externos, permitindo a todos os envolvidos fruir e recriar o património, transformando-se a si próprios e ao mundo.
- A tecnologia e a inovação beneficiam igualmente homens e mulheres?
- A tecnologia melhora a qualidade de vida e cria oportunidades para todos?
- Damos oportunidades, às meninas e mulheres, de criarem tecnologia adequada às suas necessidades?
- A internet perpetua, na vida de mulheres e raparigas, preconceitos, desigualdades e violência?
- Contribuímos para criar um mundo digital livre e igualitário?
Estas são algumas questões que o vídeo #PowerOn to create an equal digital future, criado pela ONU Mulheres para celebração do Dia Internacional da Mulher 2023, levanta e que o professor bibliotecário pode discutir com as crianças e jovens em março. Ouvir e registar histórias de vida de e sobre meninas e mulheres que experienciaram formas de exclusão e violência digital ou se levantaram contra o assédio, a discriminação na educação e no trabalho, na legislação e em todos os setores da vida diária, bem como recolher e refletir sobre estudos, dados e evidências sobre (des)igualdade de género em ambiente digital, podem ser outras formas de consciencializar e capacitar para a transformação digital.
#PowerOn to create an equal digital future – Vídeo [2]
A 8 de março celebra-se o Dia Internacional da Mulher, adotado oficialmente pela Organização das Nações Unidas em 1975. Foi criado para evocar as conquistas sociais, económicas, culturais e políticas das mulheres e apelar à igualdade de género e direitos das mulheres e meninas em todo o mundo.
Todos os anos as Nações Unidas adotam um tema diferente para esta comemoração. Em 2023 e, considerando que no mundo cada vez mais digitalizado em que vivemos, “as mulheres representam cerca de metade da população mundial e que 259 milhões de mulheres têm menos acesso à Internet do que os homens”, o tema é DigitALL: Inovação e tecnologia para a igualdade de género.
Com base no relatório da União Internacional de Telecomunicações (UIT), agência das Nações Unidas para as tecnologias de informação e comunicação, Measuring digital development: Facts and Figures 2022/ Medindo o desenvolvimento digital: Fatos e Números 2022 [3], “Em 2022 apenas 63% das mulheres estão a usar a Internet, em comparação com 69% dos homens”, não obstante o custo médio global dos serviços de banda larga móvel ter descido em todo o mundo. A diferença de género no acesso à internet é mais acentuada nos países de mais baixo rendimento, aqueles onde esta poderia justamente fazer maior diferença. Nestes países “21% das mulheres estão on-line, em comparação com 32% dos homens, número que não melhorou desde 2019” e, em geral, são estes países com mais baixo uso de internet os que registam menores progressos na paridade de género.
O relatório Gender Snapshot 2022/ Retrato de Género 2022 [4] das Nações Unidas apresenta evidências sobre igualdade de género no contexto dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), mas sublinha que apenas estão disponíveis “47% dos dados necessários para acompanhar o progresso do ODS 5”, Igualdade de Género, tornando “as mulheres e raparigas efetivamente invisíveis”.
Sobre esta invisibilidade , a ONU Mulheres refere que “apenas metade das políticas ou planos diretores nacionais de tecnologia da informação e comunicação (TIC) fazem qualquer referência ao género”.
“Uma das coisas mais importantes a dizer sobre o défice informacional de género é que geralmente não é mal‑intencionado ou sequer deliberado. Pelo contrário. É simplesmente o resultado de uma forma de pensar que prevalece há milénios e que, em consequência, é uma espécie de não pensar. Um não pensar redobrado, até: dos homens nem é preciso falar — enquanto das mulheres nunca se fala. Porque ao falarmos de seres humanos, na verdade, estamos a referir‑nos aos homens” [5].
De acordo com os dados apresentados no Gender Snapshot 2022, “Continua a existir uma grande diferença de género na área da tecnologia e inovação, apesar das recentes melhorias. As mulheres e as raparigas estão sub-representadas nas indústrias, universidades e setor tecnológico em geral. A nível mundial, as mulheres são apenas 2 em cada 10 trabalhadoras de ciência, engenharia e tecnologias de informação e comunicação. Nas 20 maiores empresas de tecnologia global, as mulheres representavam 33% da força de trabalho em 2022, mas ocupavam apenas 1 em cada 4 cargos de liderança. Mulheres inventoras constituem apenas 16,5% dos inventores listados nos pedidos de patentes internacionais a nível mundial”.
No contexto da Quarta Revolução Industrial (4IR) em que vivemos, ciência, tecnologia, engenharia e matemática (Science, technology, engineering and mathematics, STEM) - e inovação são áreas dominantes de aprendizagem e empregabilidade, nas quais mulheres e raparigas continuam sub-representadas. Desta situação decorre uma diminuição dos rendimentos e bem-estar individuais e das economias dos países, para além de uma perda de criatividade e de igualdade de género nas tecnologias e indústria, da qual poderíamos todos beneficiar.
Gender Snapshot 2022 identifica outro fator que leva à (auto-)exclusão das raparigas e mulheres da vida e aprendizagem na internet, a violência e assédio digital. Refere que “Um estudo de 51 países revelou que 38% das mulheres a tinha experimentado pessoalmente” e que “Apenas 1 em cada 4 mulheres o denunciou às autoridades competentes e quase 9 em cada 10 mulheres optaram por limitar a sua atividade online, aumentando assim a clivagem digital de género”. Durante a pandemia Covid-19 esta situação agravou-se devido ao aumento de atividade na internet, refere um estudo de 2020, da ONU Mulheres [6].
Em 2020, no México, a organização Luchadoras abriu um serviço de apoio às vítimas de violência digital em que os pedidos de ajuda são feitos através das redes sociais, emails, linha telefónica, apps e outros canais. No primeiro ano de funcionamento recebeu 470 pedidos de ajuda de mulheres. A principal tática dos que praticam violência de género na internet é a “a extorsão online – ameaçar publicar conteúdo íntimo da vítima sem consentimento”. Luchadoras disponibiliza sugestões e recursos de atendimento digital que incluem kits de ferramentas [7].
A comemoração do Dia Internacional da Mulher iniciou-se com o discurso, Tecnologia e inovação para acelerar a igualdade de género e os direitos de todas as mulheres e meninas de Sima Bahous, Subsecretária-Geral da ONU e Diretora Executiva da ONU Mulheres [8]. Centrado na defesa dos direitos digitais das mulheres, destacou a exclusão digital como o “novo rosto da desigualdade de género” e exortou à inclusão e capacitação digital e à responsabilização, para que a violência de género termine.
Colmatar todas as lacunas em matéria de acesso e competências digitais, apoiar mulheres e meninas em STEM, criar tecnologia que atenda às necessidades de mulheres e meninas e abordar a violência de género facilitada pela tecnologia são, segundo a ONU Mulheres, as quatro prioridades para um futuro digital transformador e igual para todos [9].
A Rede de Bibliotecas Escolares colabora com o governo e a sociedade civil neste desígnio, desenvolvendo programas, projetos e ações de literacia digital, da informação e média e promovendo a aprendizagem da cidadania digital que ajuda a prevenir situações de violência na internet e a fazer um uso ético dos meios digitais, defensor da igualdade entre homens e mulheres.
No âmbito da atividade "Vou levar-te comigo!" que implica a “dinamização periódica de sessões de requisição domiciliária na biblioteca escolar, em articulação com os docentes da turma e com recurso a estratégias motivadoras” [1], a professora bibliotecária responsável pelas bibliotecas escolares do Agrupamento de Escolas do Bom Sucesso tem vindo a desenvolver uma atividade intitulada “Say yes to the book”, inspirado no título do programa televisivo “Say yes to the dress”.
Nesta atividade de requisição domiciliária, os alunos do 1.º ciclo da EB do Bom Sucesso e EB de Arcena são convidados a dizer “yes” ao livro a partir de uma breve exploração do mesmo.
Ao entrar na biblioteca, os alunos são convidados a sentar-se onde encontram um livro; têm um momento mais “íntimo” para exploração do mesmo e, só depois, é que se segue o momento de partilha em que os alunos leem um excerto à sua escolha ou a sinopse do livro aos seus colegas. Por fim, é-lhes feita a pergunta: " Dizes sim ao livro?". Uns alunos dizem “sim” e outros dizem “não”, colocando-os no carrinho, mas muitos dos livros “recusados”, acabam por ser rebuscados por outros alunos da turma.
Para preparação desta atividade, a professora bibliotecária faz uma pré-seleção cuidada, de forma a dar a conhecer, o melhor possível, a coleção (funciona também como divulgação do fundo documental existente nas bibliotecas escolares do agrupamento). Aproveita, ainda, para diversificar a oferta, apresentando diferentes géneros literários.
Esta é uma prática que a professora bibliotecária dinamiza periodicamente, sobretudo com o 1.º ciclo, mas tem vindo a alargar aos restantes ciclos, envolvendo os colegas de português.
Com esta dinâmica e a divulgação das estatísticas das turmas que mais requisitaram no 1.º período, já se notou um aumento de requisições, não só por parte dos alunos do 1.º ciclo, mas também por parte dos restantes ciclos.
Encontra-se a decorrer a 6ª edição das ‘Olimpíadas da Cultura Clássica’, uma iniciativa criada em 2017 no âmbito do projeto Clássicos em Rede, que tem como principais objetivos estimular a curiosidade e aumentar os conhecimentos de alunos do 4º ao 12º anos sobre a Antiguidade Clássica, convidando-os, igualmente, a exercitar a sua criatividade ao nível da escrita, das expressões artísticas e da produção de recursos multimédia.
Os temas a concurso nesta 6ª edição de 2022-2023 são:
🔴 Jasão e os Argonautas: uma narrativa que descreve as aventuras de Jasão, herói da Tessália, e do grupo de cinquenta jovens que o acompanham numa perigosa expedição, considerada uma missão impossível: conquistar o tosão dourado! A viagem, a bordo da nau Argo, onde cada um dos heróis desempenha uma função específica de acordo com suas habilidades, cumpre um longo e sinuoso itinerário que passa por regiões tão diferentes como o norte de África e a Cólquida, na atual Geórgia.
🔴 Penélope à espera: um tema que tem no centro a mulher de Ulisses e a sua inabalável relutância em deixar-se vencer pelo desânimo e pelas insistências dos muitos pretendentes que a cercam, durante a longa ausência do marido. Símbolo da fidelidade, ou da submissão, ela contraria tudo e todos com o estratagema de prometer tomar uma decisão no momento em que concluir uma peça de pano - que tece incansavelmente durante o dia, mas desfaz durante a noite.
🔴 Sísifo: um mito que conta a história do mais astuto de todos os mortais que, depois de, por duas vezes, enganar a morte, é condenado à tarefa eterna de empurrar uma pedra até ao cume de uma montanha, a qual, sempre que se aproxima do topo, rola de novo para o ponto de partida. Um mito que permite refletir sobre os temas da liberdade, do eterno recomeço, ou do desempenho de tarefas sem sentido e sem horizonte.
A partir destes temas e do que eles suscitam, os/as alunos/as são desafiados/as a expressar-se através de trabalhos de escrita (textos narrativos, dramáticos, poéticos, jornalísticos ou quaisquer outros) ou de artes / multimédia, nas categorias de recursos digitais (blogues, jogos, bandas desenhadas com uso de apps, etc.); vídeos ou filmes; desenho, ilustração, fotografia e bandas desenhadas não digitais; e finalmente, escultura ou instalação.
Como tem sido hábito, cada trabalho concorre dentro de um dos três escalões etários: escalão A para alunos/as do 4º ao 6º anos de escolaridade; escalão B para alunos/as do 7º ao 9º anos de escolaridade; e escalão C para alunos/as do ensino secundário. Todos os trabalhos devem ser submetidos até dia 31 de março, através dos formulários disponíveis no portal RBE.
Fonte da imagem:
The Argo
Pintura de Lourenzo Costa (1460–1535)
Fonte/ fotógrafo: The Yorck Project (2002) 10.000 Meisterwerke der Malerei (DVD-ROM), distributed by DIRECTMEDIA Publishing GmbH. ISBN: 3936122202.
No pequeno e jovem concelho do interior algarvio, situado entre a serra e o mar, berço de personalidades que marcaram o panorama cultural algarvio e nacional, podemos encontrar a Biblioteca Municipal Dr. Manuel Francisco do Estanco Louro, a primeira biblioteca municipal de São Brás de Alportel.
Localizada no centro histórico da vila de São Brás de Alportel, num espaço onde funcionou uma moagem de cereais, a Biblioteca Municipal foi inaugurada a 1 de junho de 2001, dia do concelho e, simultaneamente, Dia Mundial da Criança e Dia Nacional do Sobreiro e da Cortiça (importante fonte de rendimento e desenvolvimento do concelho desde os finais do século XIX e durante o século XX). Outrora um edifício de alimento para saciar a fome física, futuramente o novo edifício assumir-se-ia como fonte de alimento espiritual e intelectual.
Num concelho em franco desenvolvimento e crescimento populacional, escolhido por muitos casais jovens para se estabelecerem, a Biblioteca Municipal definiu como prioridade orientar a sua ação de formação para a leitura entre crianças e jovens e, simultaneamente, ser um local de acesso às mais variadas manifestações culturais. Para a concretização desse objetivo, estabeleceu parcerias com diversas entidades, criando em 2003 a Rede de Bibliotecas Concelhia, composta pela Biblioteca Municipal, o Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas (com quatro bibliotecas escolares), o Centro de Documentação da Associação In Loco e a Santa Casa da Misericórdia (através da Biblioteca do Museu do Traje e a Bebeteca do Centro Infantil António Calçada). Ao longo dos anos, esta Rede tem crescido, integrando, informalmente, o Centro de Documentação do Centro de Interpretação e Educação Ambiental “Quinta do Peral”, a Biblioteca da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários e a Biblioteca do Grupo Desportivo e Cultural de Machados.
Num meio pequeno, onde as distâncias físicas são diminutas e as limitações de recursos financeiros e humanos são muitas, o trabalho em rede revelou-se o melhor meio de ultrapassar as dificuldades existentes e o recurso mais eficaz para responder aos interesses e necessidades de informação da comunidade.
Criar pontes para eliminar obstáculos em benefício da comunidade é a bandeira que erguemos, diariamente, no cumprimento da nossa missão enquanto profissionais da informação, da formação e promotores culturais. Imbuídos deste espírito de rede, de trabalho colaborativo e serviço público, partilham-se documentos, atividades, equipamentos, inclusive, recursos humanos, de modo a garantir o regular funcionamento dos serviços, independentemente das entidades a que estão afetos.
Foi neste contexto que, em São Brás de Alportel, se iniciaram projetos de promoção e desenvolvimento das literacias da informação, da leitura, dos media e digital, em articulação não só com os parceiros locais, mas também nacionais, como a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas e a Rede de Bibliotecas Escolares, esta última representada pela coordenadora interconcelhia, que desempenha um papel ativo na dinâmica da Rede Concelhia.
A nossa prioridade tem sido dotar a comunidade de competências que lhe permitam exercer uma cidadania ativa, alicerçada nos pilares da democracia, inclusão, inovação, empreendedorismo e sustentabilidade.
Como exemplo, destacamos a criação do portal da Rede de Bibliotecas Concelhia, uma ferramenta onde não só se divulga o trabalho desenvolvido pela Rede, mas também se disponibiliza um conjunto de recursos digitais complementares ao serviço das bibliotecas físicas.
De referir também a organização de eventos partilhados de promoção do livro, da leitura, da escrita, das artes e da transmediação de histórias, como Feiras do Livro e o (En)LEIO de Histórias, em que cada um dos parceiros dinamiza uma atividade.
Esta é uma rede em que cada nó contribui para o crescimento de uma comunidade ativa e interventiva.
De 13 a 17 de março decorre o II Festival de Literatura “Eu Leio, tu Lês”, numa parceria entre o Município de Tábua e a Rede de Bibliotecas de Tábua, que compreende a Biblioteca Pública Municipal João Brandão, o Agrupamento de Escolas de Tábua, a Escola Profissional EPTOLIVA, Pólo de Tábua e a Rede de Biblioteca Escolares, tutelada pelo Ministério da Educação.
O Festival transporta, metaforicamente, às escolas / bibliotecas escolares e aos jardins-de-infância, escritores e ilustradores com o objetivo de aproximar da comunidade educativa (alunos, professores, educadores de infância, assistentes operacionais e administrativos) o livro, a leitura e a ilustração, oferecendo aos alunos a oportunidade de interagir com um autor, dirigindo-lhe questões e obtendo as respetivas respostas, ou apenas deslumbrando-se com histórias ficcionais vividas e/ou contadas.
Em paralelo a uma dimensão mais ligada à comunidade escolar, os escritores e ilustradores convidados irão mover-se pelas ruas de aldeias da nossa comunidade, nomeadamente: Tábua, Midões, Mouronho, Ázere, Sinde e Espariz, Covas e Candosa e Póvoa de Midões, proporcionando encontros (im)prováveis com o comércio local, onde descobrem um cartaz com os seus nomes, com restaurantes onde irão almoçar e jantar, pastelarias que lhes vão servir o pequeno-almoço e o lanche. Uma dinâmica que reforçará o encontro com o outro, num concelho do interior do país e que mantém a prática de proporcionar momentos que fomentem bem-estar e reflexão, a par destes momentos para que a comunidade tabuense, que os acolhe, os (re)conheça e compreenda que contribuem para associar as artes da literatura, ilustração, narração, … Pretende-se com este Festival que a comunidade se deixe envolver pelo fascínio dos livros e dos seus escritores e ilustradores.
O programa é bastante rico e destaca-se também a oferta de sessões abertas à comunidade, às 18 horas, nos dias 15 e 17 da escritora e mediadora de leitura Cristina Taquelim e do escritor e ilustrador Pedro Seromenho, respetivamente.
Dos nossos autores:
Alice Cardoso, Ana Ventura, Cristina Taquelim, David Machado, Miguel Montenegro, Nuno Camarneiro, Paulo Galindro, Pedro Seromenho e Yara Kono
No portal do facebook da Biblioteca Municipal e do Agrupamento de Escolas de Tábua, todos os dias se publicará o programa do dia, dando destaque ao autor e ao público com que trabalha. Para o efeito serão usadas as hastags: #rededebibliotecasdetabua, #rededebibliotecasescolares, #festivaldeliteratura, #festivaldeliteraturaeuleiotulestabua, #mesdaleituratabua, #semanadaleitura2023
No seguimento do Protocolo de Cooperação entre a Rede de Bibliotecas Escolares e a Secretaria de Educação de Cali (Colômbia), assinado em julho de 2019, realizou-se, entre os dias 27 de fevereiro e 03 de março, uma visita de trabalho e formação de três técnicos da Secretaria de Educação de Santiago de Cali, Colômbia.
Ao longo da sua visita, os elementos desta comitiva puderam visitar e inteirar-se das dinâmicas de trabalho e atuação de várias bibliotecas escolares dos concelhos de Braga, Vizela, Guimarães, Santo Tirso e Mafra; conhecer a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Braga e a Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra e reunir com professores bibliotecários, diretores de Agrupamentos/ Escolas e Centros de Formação. Partilharam-se conhecimentos e boas práticas; promoveu-se a inovação e o intercâmbio profissional e cultural; estreitaram-se laços intercontinentais e deu-se mais um passo na criação da Rede de Bibliotecas de Cali.
Desde a sua criação, o Programa da Rede de Bibliotecas Escolares procura, através deste tipo de parcerias e acordos de cooperação internacionais com diferentes instituições, a partilha de boas práticas, acompanhando os avanços mais recentes na área da gestão da informação e das literacias, de modo a valorizar, cada vez mais, o trabalho das bibliotecas escolares, enquanto estruturas essenciais na estratégia de melhoria da educação.
Planos de sequências de ensino e aprendizagem para apoio à LOSA
Os 4 professores bibliotecários da Rede Concelhia de Bibliotecas de Cantanhede conceberam 46 planos de sequências de ensino e aprendizagem para apoio à Leitura Orientada em Sala de Aula (LOSA), no 1.º ciclo de escolaridade, no âmbito da ação “Escola a ler”.
Da responsabilidade da Rede de Bibliotecas Escolares, do Plano Nacional de Leitura 2027 e da Direção-Geral de Educação, esta medida resulta da agregação de todas as propostas respeitantes à ação Escola a ler e integra o Plano Escola + 21|23.
Para apoiar a concretização deste projeto, foi atribuído às 717 escolas inscritas um reforço do orçamento, definido de acordo com o número de alunos das escolas, para aquisição de fundo documental, tendo também o Município de Cantanhede apoiado financeiramente o projeto.
Os 12 títulos, criteriosamente selecionados pelos professores bibliotecários, em articulação com professores do 1.º ciclo, para leitura orientada em sala de aula, podem ser trabalhados em qualquer ano de escolaridade do 1.º ciclo, dada a conceção de quatro planos de sequências de ensino e aprendizagem para cada título, à exceção de um, que apenas dispõe de planos para os 3.º e 4.º anos.
Centrados em metodologias ativas de aprendizagem, a resolução de problemas, o questionamento, a pesquisa e o trabalho colaborativo, os planos são ainda uma oportunidade quer para a integração curricular, nomeadamente nas áreas de TIC, Português, Estudo do Meio, Expressões Artísticas e de Cidadania e Desenvolvimento, quer para a articulação com projetos desenvolvidos nos três Agrupamentos, Eco-Escolas, Clube Ciência Viva na Escola e Promoção e Educação para a Saúde (PES). Em ambas as situações, os planos articulam sempre as competências do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória com as Aprendizagens Essenciais e com os conhecimentos/capacidades e atitudes/valores da literacia da leitura, uma das três literacias que integram o referencial de aprendizagens associadas ao trabalho das bibliotecas escolares na educação pré-escolar e nos ensinos básicos e secundário, Aprender com a biblioteca escolar.
As diversas sequências de aprendizagem podem ser total ou parcialmente implementadas pelos professores titulares de turma. Todos os planos incluirão ainda as respetivas rubricas de avaliação, estando disponibilizados, em livre acesso, na secção “Sala de aula” do Aprendiz de Investigador, um dos rostos visíveis do projeto concelhio “Literacias na Escola: formar os parceiros da biblioteca”, em implementação desde 2012 e apoiado, de 2015 a 2017, pelo Programa da Rede de Bibliotecas Escolares, no âmbito da candidatura “Ideias com mérito”.
Para além da LOSA, os três Agrupamentos de Escolas de Cantanhede, AE Gândara-Mar, AE Lima-de-Faria e AE Marquês de Marialva, encontram-se ainda a implementar, a nível concelhio, as atividades “Projeto Pessoal de Leitura” e “Vou levar-te comigo” inerentes à iniciativa “Escola a ler”, a qual pretende trabalhar a leitura de forma sistemática, estruturada e diversificada, fomentando o prazer de ler, o hábito de leitura e o desenvolvimento da compreensão leitora.
A inteligência artificial (IA) está cada vez mais presente na nossa sociedade, influenciando a forma como trabalhamos, aprendemos e interagimos uns com os outros. Em educação, pode contribuir para a melhoria das práticas de ensino, aprendizagem e avaliação, pois, entre outras coisas, permite responder às necessidades individuais dos alunos, personalizando percursos de aprendizagem e fornecendo informações importantes sobre o seu progresso.
É neste contexto que surge a publicação, pela Comissão Europeia, do documento intitulado Orientações éticas para educadores sobre a utilização de inteligência artificial (IA) e de dados no ensino e na aprendizagem [1], no âmbito do Plano de Ação para a Educação Digital (2021-2027).
Este documento ajuda os educadores a compreender o potencial que as aplicações de inteligência artificial e a utilização de dados podem ter na educação e alertar para os possíveis riscos. Os profissionais da educação poderão, assim, interagir de forma adequada com os sistemas de IA e explorar todo o seu potencial, pois “... terão agora uma base sólida para avançarem e expandirem a sua utilização destas tecnologias de uma forma atenta, segura e ética” (Comissão Europeia, 2022, p. 6).
O documento está estruturado em quatro partes fundamentais, que passamos a apresentar.
1. Política da UE em matéria de inteligência artificial e proposta de quadro regulamentar
Neste capítulo são ainda apresentadas algumas das ideias erradas mais comuns sobre a utilização de IA e de dados, em contexto educativo, nomeadamente:
- A IA é demasiado difícil de compreender;
- A IA não tem qualquer papel na educação;
- A IA não é inclusiva;
- A IA comprometerá o papel do professor;
- Não se pode confiar nos sistemas de IA.
2. Exemplos da utilização de IA e de dados na educação
A IA pode ser utilizada em educação para apoiar práticas de ensino, aprendizagem e avaliação. De forma a facilitar a compreensão das potencialidades da IA, o documento apresenta quatro áreas de utilização:
- ensino dos alunos (sistema de tutoria inteligente, sistemas de tutoria baseados no diálogo, aplicações de aprendizagem de línguas); - apoio aos alunos (ambientes de aprendizagem exploratória, avaliação formativa escrita, aprendizagem colaborativa apoiada pela IA); - apoio aos professores (avaliação sumativa escrita, classificação de trabalhos escritos, monitorização de fóruns de alunos, assistentes de ensino através de IA, recomendação de recursos pedagógicos); - apoio aos sistemas (prospeção de dados educativos para a afetação de recursos, diagnóstico de dificuldades de aprendizagem, serviços de orientação).
3. Considerações éticas e requisitos subjacentes às orientações éticas
Estas orientações apresentam quatro considerações fundamentais que estão na base da utilização ética da IA e dos dados no ensino, na aprendizagem e na avaliação:
- ação humana - capacidade de cada um para ser responsável pelos seus atos; - equidade - necessidade de tratar todas as pessoas de forma equitativa na organização social; - humanidade - necessidade de assegurar a identidade, integridade e dignidade de todas as pessoas; - escolha justificada - utilização de conhecimentos, factos e dados para justificar as escolhas, que devem ser feitas de forma transparente e tendo em conta modelos de tomada de decisões participativos e colaborativos.
Nesse sentido, os requisitos essenciais para uma IA de confiança são:
- Ação e supervisão humanas;
- Diversidade, não discriminação e equidade;
- Bem-estar societal e ambiental;
- Privacidade e governação dos dados;
- Solidez técnica e segurança;
- Responsabilização.
Para cada um destes requisitos, o documento apresenta uma série de perguntas de orientação que fomentam a reflexão e apoiam os educadores na utilização de IA.
4. Orientações para educadores e dirigentes escolares
Neste capítulo, são apresentadas medidas que podem ser implementadas por educadores e dirigentes, levando-os a utilizar a IA de forma ética. Estas medidas são organizadas em seis cenários escolares e, em cada um, existem exemplos de perguntas de orientação que ajudam à tomada de decisão, para que a IA seja utilizada de forma ética e responsável:
1. Utilizar tecnologias de aprendizagem adaptativa às capacidades de cada aluno;
2. Utilizar painéis do aluno para orientar os alunos na sua aprendizagem;
3. Prever intervenções individualizadas para necessidades especiais;
4. Classificar trabalhos escritos através de ferramentas automatizadas;
5. Gerir as matrículas dos alunos e o planeamento dos recursos;
6. Utilizar robôs de conversação para ajudar os alunos e os pais a tratar das questões administrativas.
A utilização de IA e de dados em contexto educativo implica um planeamento rigoroso e uma implementação gradual, sempre acompanhada de avaliação, num trabalho colaborativo e reflexivo que envolva a comunidade escolar. Para isso a escola deve:
- Analisar os atuais sistemas de IA e a utilização de dados;
- Implantar políticas e procedimentos;
- Realizar um projeto-piloto do sistema de IA;
- Colaborar com o fornecedor do sistema de IA;
- Controlar o funcionamento do sistema de IA e avaliar os riscos;
- Debater com colegas;
- Colaborar com outras escolas;
- Comunicar com os pais, os alunos e a comunidade escolar;
- Manter-se atualizada.
O documento disponibiliza, ainda, um completo glossário de termos sobre IA e dados.
Referências
[1] Comissão Europeia, Direção-Geral da Educação, da Juventude, do Desporto e da Cultura (2022). Orientações éticas para educadores sobre a utilização de inteligência artificial (IA) e de dados no ensino e na aprendizagem. Serviço das Publicações da União Europeia. https://data.europa.eu/doi/10.2766/07
Por Madalena Trindade, Professora bibliotecária da Escola Básica e Secundária Quinta das Flores, Coi
Depois de muitos anos como professora bibliotecária, está quase na hora de fechar “o livro” que fui escrevendo ao longo desse tempo e que guardei na minha memória. Mas como me pediram uma reflexão, fui “pesquisar” um pouco. Numa das “páginas”, deparei-me com a expressão “trecho harmonioso” – e decidi fazer dela o título deste pequeno depoimento.
A expressão não é minha. Devo-a ao saudoso António Torrado. Deu-nos a honra de aceitar o nosso convite, mas aquele dia iniciou-se com alguma confusão de calendário… Ao combinar a data com a representante da editora, houve grande indecisão entre o dia cinco e o dia sete, convencendo-me eu que o dia definido era este último, e para esse dia tudo estava articulado, preparado.
No dia cinco, estando em casa, recebo um telefonema da mesma representante, a avisar-me de que estava a chegar com o autor “dentro de quinze minutos, estamos aí…”. Num ápice, telefonei para a escola e orientei alguns procedimentos rápidos para obviar a situação. Quando cheguei, ia de coração apertado, temendo pela reação do escritor por tal displicência, mas, em vez disso, tive a melhor compreensão, simpatia e palavras apaziguadoras e amáveis. A sessão decorreu lindamente. Começou com um momento musical, os alunos estiveram atentos, intervindo com muita ordem e calma, e, no final, António Torrado escreveu assim no Livro de Honra da biblioteca: “Muito sinceramente, apreciei imenso o silêncio com que a jovem assistência acolheu a minha fala. Se, como dizia Aldous Huxley, “o silêncio é a soma de todas as harmonias”, vivemos hoje aqui um breve trecho harmonioso das nossas vidas”.
A partir daí, muitas foram as vezes que lembrei, com carinho, esta frase, e muitas outras vezes em que senti estar a viver de novo, e de novo, mais um e mais outro “trecho harmonioso” da minha vida como professora bibliotecária: revejo os momentos de partilha e de cumplicidade com os alunos, interessados em saber e descobrir sempre mais, as orientações nas suas pesquisas, as sugestões de leitura fornecidas e o entusiasmo quando descobriam “aquele livro”, os momentos de encontros com autores, ilustradores, desportistas, psicólogos, jornalistas e até ex-alunas, agora escritoras também, a participação e o empenho dos alunos em tantos e tantos concursos e desafios, os momentos das atividades de articulação curricular e o entusiasmo com que eram recebidas, as iniciativas dinamizadas em colaboração com outras colegas professoras bibliotecárias, irmanadas pelo mesmo entusiasmo, emoções e objetivos… Sim, foram páginas e páginas de “trechos maravilhosos”!
Encontrei também, nestas minhas memórias, momentos de cansaço, de algum desânimo, por vezes alguma frustração por nem sempre poder ou ter meios para fazer mais, para fazer melhor, ir mais além na minha vontade de escrever LIVRO, LEITURA e LITERACIA, sempre assim, em letras maiúsculas… Mas, passados tantos anos e a breves passos de fechar “este livro” e de começar a “escrever” um novo, o da minha aposentação, olho para trás e, apesar desses instantes de cansaço e de algum desânimo, da convocação exigente e sempre urgente de formulários a preencher, de prazos a cumprir, dos mil afazeres a desenvolver, muitas vezes em simultâneo, o que recordo essencialmente são esses momentos harmoniosos vividos e que vão permanecer vivos na minha memória!
Madalena Trindade, Professora bibliotecária Escola Básica e Secundária Quinta das Flores, Coimbra
*Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
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