Decorrido cerca de metade do período de implementação dos 17 Objetivos da Agenda 2030, as Nações Unidas consideram que a educação é essencial para alcançar o desenvolvimento em todos os setores (17 ODS) e, nesta medida, deve ser priorizada.
Anteriormente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada a 10 de dezembro de 1948, consagrava a educação um direito universal (artigo 26.º), impondo aos países um ensino fundamental gratuito e obrigatório para todas as crianças e jovens e a Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989, estabelecia a importância do ensino superior acessível a todos.
Contudo, há países, como o Afeganistão, nos quais é negado, a todas as meninas e mulheres, o direito de aprender, estudar e ensinar - desde agosto de 2021 que o novo regime político de Cabul proíbe que crianças com mais de 12 anos e mulheres possam frequentar a escola.
Por este motivo, em 2023, o Dia Internacional da Educação [2], proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas a 3 de dezembro de 2018 (Resolução 73/25) e celebrado a 24 de janeiro, teve por tema, "Investir nas Pessoas, Priorizar a Educação" e foi dedicado a todas as meninas e mulheres afegãs.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, na mensagem para esta efeméride [1], sublinha a importância de criar ambientes de aprendizagem solidários e inclusivos, apelando aos países para acabar com todas as leis e práticas discriminatórias de acesso à educação.
Destaca que o tema do Dia Internacional da Educação 2023 nos lembra “para investir nas pessoas, priorizar a educação”.
Recorda que a Cimeira das Nações Unidas para Transformar a Educação (Transforming Education Summit - TES) impulsionou globalmente o ODS 4, pois “reuniu o mundo para reimaginar os sistemas educativos, para que cada aluno tenha acesso ao conhecimento e às competências necessárias para ter sucesso” e “mais de 130 países assumiram compromissos para garantir que a educação universal de qualidade se torne um pilar central de políticas e investimentos públicos”.
O Dia Internacional da Educação 2023 foi marcado pela publicação de dois importantes documentos:
♦️ O Scorecard 2023 SDG 4 lançado pelo Relatório Global de Monitorização da Educação (Global Education Monitoring Report - GEM) da UNESCO que mostra o progresso dos países em relação aos seus objetivos nacionais na educação - o seu conteúdo será analisado brevemente numa publicação neste blogue;
♦️ O Relatório sobre a Cimeira Transformar a Educação 2022 (Report on the 2022 Transforming Education Summit) do Comité Diretivo de Alto Nível/ High-Level Steering Committee [3]. Este Comité, do qual fazem parte jovens e elementos da sociedade civil, foi incumbido, por parte do Secretário-Geral das Nações Unidas, para acompanhar e monitorizar a Cimeira e induzir a integração dos seus resultados a nível global, regional e nacional. Segundo o Anexo 4 deste relatório, o Comité Diretivo de Alto Nível promove o intercâmbio de conhecimentos e práticas e a cooperação entre países e organizações, incentivando “políticas baseadas em evidências, monitoriza o progresso e melhora a disponibilidade e o uso de dados [sublinhado nosso]”, contribuindo para mobilizar financiamento no setor.
De acordo com a UNESCO, antes da pandemia Covid-19 o mundo estava longe de alcançar as metas da Educação 2030, “garantir uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (ODS 4). E durante a pandemia retrocedeu-se nos progressos alcançados, agravando-se as desigualdades no setor [4].
O Dia foi ainda marcado pelo lançamento da Iniciativa Global da Juventude [5], coordenada pela Rede Juvenil ODS4/ SDG4 Youth Network que visa pôr em prática as recomendações da Declaração da Juventude para Transformar a Educação e dar visibilidade ao compromisso dos jovens para mudar a escola e a educação. Nos próximos sete anos de ação para a agenda global cabe aos jovens um papel decisivo.
Dando continuidade à preparação do Dia da Internet Mais Segura, prosseguimos com a publicação de artigos subordinados ao tema deste ano: Metaverso vs Realidade.
Os anos da pandemia aceleraram a necessidade de uma revolução nas escolas, ao nível da formação de professores e de práticas, de equipamentos e plataformas, ao ponto de alguns estudiosos distinguirem um modelo educacional pré e pós-pandemia. Assim, no período pós-pandémico, o modelo educacional assenta em metodologias que procuram ser efetivamente ativas, com uso frequente de recursos digitais cada vez mais sofisticados, selecionados estrategicamente com vista a proporcionar um ensino envolvente, motivador e de qualidade, que contribua para formar jovens para o incerto mundo de amanhã.
Atualmente, dividimo-nos entre o mundo físico e o mundo virtual. Munidos de telemóveis, com software e apps cada vez mais versáteis e “inteligentes”, e de outros equipamentos ou gadgets, acedemos a assistentes virtuais (como a famosa Alexa, da Amazon), a mundos sociais por meio das inúmeras redes sociais à nossa disposição, a jogos que apostam no Metaverso, com Realidade Virtual ou Aumentada. A omnipresença crescente da tecnologia que aposta gradualmente no Metaverso tem suscitado o interesse de alguns investigadores do mundo académico, começando a surgir estudos que visam equacionar as suas potencialidades no meio educativo, tendo surgido, nos últimos anos, várias experiências pedagógicas no ensino básico e secundário que evidenciam o alcance dessa tecnologia em educação.
⭕ Investigadores do Virtual Human Interaction Lab, da Universidade de Stanford, desenvolveram uma experiência imersiva de realidade virtual, Becoming Homeless: A Human Experience, com vista a apurar o seu impacto na empatia dos envolvidos. Consistia em expor os participantes a uma situação de grande indigência, vivendo na “pele” de alguém que deixa de conseguir pagar a sua casa. Os resultados revelaram a eficácia das experiências de realidade virtual para alterar comportamentos de forma duradoura, afirmando-se uma ferramenta poderosa para ajudar as pessoas a colocar-se no lugar do outro, logo, para formar cidadãos democráticos, participativos e humanistas, numa época de diversidade social e cultural crescentes e dada a radicalismos violentos.
⭕ Douglas Kiang, mestre em Tecnologia, Inovação e Educação (Universidade de Harvard), e professor de Ciência da Computação numa escola em Honolulu, Hawai, fiel à metodologia da Aprendizagem Baseada em Desafios, envolveu os seus alunos num projeto com recurso ao metaverso - Minecraft 101: The Underwater Dome Project. Desafiou-os a criarem um espaço subaquático, respeitando alguns critérios previamente estabelecidos, o que originou um projeto colaborativo bastante enriquecedor que envolveu os alunos e que lhes permitiu desenvolver várias competências e capacidades: envolvimento, criatividade, comunicação, colaboração, confiança…
⭕ Hirsh-Pasek et al. (2022), na publicação A whole new world: Education meets the metaverse, exemplificam as potencialidades do uso do metaverso em educação, criando uma visão: uma sala de aula circular, com vários quadros brancos, onde alunos descobrem o mundo greco-latino, os seus deuses, o seu dia a dia, os seus espaços. Logo de seguida, o professor fá-los regressar ao presente, e as paredes recriam, então, as ruínas de templos, transformando-se os alunos, por meio dos seus avatares, em arqueólogos que têm de (re)descobrir o passado, colhendo fragmentos de cerâmica, moedas, estátuas… e partilhar essas descobertas com os restantes. Portanto, um cenário de aprendizagem verdadeiramente imersivo que oferece um contexto que favorece uma aprendizagem ativa, colaborativa e a cocriação.
De facto, o metaverso vai muito para além dos tradicionais meios digitais virtuais, em que o acesso à informação ocorre por intermediação de um browser, de um software que permite a navegação na internet, numa interface baseada em ambiente bidimensional de textos, de imagens estáticas ou em movimento. No metaverso, a navegação ocorre em ambientes tridimensionais que se modificam em tempo real, conforme os utilizadores vão interagindo com esses ambientes, convocando competências várias como a criatividade, a imaginação e uma variedade de formas de interação e comunicação. Isso implica uma mudança radical na forma de comunicar e no processo de ensino e de aprendizagem.
Prevê-se que, em 2026, 25% da população mundial passe, pelo menos, uma hora por dia no metaverso para realizar diversas tarefas quotidianas como fazer compras, trabalhar, conviver ou para desenvolver atividades educativas. Ainda que se trate de uma tecnologia emergente e pouco consensual, já se percebeu que terá repercussões, a médio ou a longo prazo, no processo de ensino e aprendizagem, pelo que há que considerar os seus eventuais aportes para o meio educativo. Por isso, o metaverso já está a ser estudado e usado em alguns países, incluindo Portugal, para melhorar cursos e programas de formação em linha no ensino superior, sendo expectável, num futuro próximo, a expansão do recurso a essa tecnologia emergente nos vários níveis de ensino da escolaridade obrigatória.
Lepez (2022) destaca as potencialidades do metaverso em educação, já que pode proporcionar experiências de aprendizagem mais imersivas, interativas e enriquecedoras, que permitam aprender, experimentar e praticar de forma mais significativa em ambientes controlados. A simulação de situações e cenários reais tem vantagens, pois, para além de implicar ativamente os alunos de forma lúdica e inovadora, evita riscos, sendo particularmente vantajosa em áreas relacionadas com a medicina, a engenharia e a arquitetura, uma vez que possibilita experiências sem efeitos colaterais no mundo real, mas que dão origem a aprendizagens efetivas e significativas.
Para uma aprendizagem mais interativa e imersiva, podem ser simuladas experiências laboratoriais ou outras, visitas a museus ou a monumentos históricos, viagens a países longínquos, ao fundo do mar, ao espaço ou ao passado! Assim, com esta tecnologia, passa a ser possível uma miríade de ambientes que proporcionam situações de aprendizagem dificilmente concretizáveis nas salas de aula do mundo real, pela sua inexequibilidade em termos logísticos e humanos. Além disso, pode possibilitar um ensino diferenciado e mais inclusivo, visto que, ao eliminar as barreiras entre o real e o virtual, esbate obstáculos físicos e comunicacionais e contribui para aprendizagens significativas que preparam os alunos, mesmo aqueles que apresentam algum tipo de limitação, para o mundo real, proporcionando-lhes experiências únicas.
Acresce, ainda, o facto de o uso do metaverso em educação facilitar a abordagem a conceitos mais complexos e abstratos, de forma mais prática e acessível, ao mesmo tempo que pode atenuar ou eliminar limitações intrinsecamente humanas, como a impossibilidade da ubiquidade, de viajar no tempo, entre outras, por permitir que os alunos participem em situações de aprendizagem a partir de qualquer ponto do mundo, no momento que lhes for mais favorável, não dependendo da disponibilidade nem da presença física do professor, muito embora este esteja sempre “presente”. É essa a posição de Hirsh-Pasek et al. (2022), quando referem que o metaverso é apenas um contexto – um contexto imersivo – que pode pôr ao serviço da educação o melhor das tecnologias digitais, porém implica considerar os aportes da ciência da educação e da psicologia educacional e encontrar formas de fundir os mundos virtual e real, preservando as relações sociais professor-aluno.
Face ao exposto, o uso do metaverso em educação implica apostar em políticas públicas inclusivas, que invistam no apetrechamento das escolas com os equipamentos e com a tecnologia necessária (por exemplo, óculos de Realidade Virtual e tecnologia de telecomunicações 5G), mas também melhorar a cobertura das redes de alta velocidade, favorecendo o acesso generalizado às mesmas. Para além disso, considerando que a tecnologia per se não garante inovação, há que apostar na formação de professores nesta área, de modo a que a rentabilização desta tecnologia com recurso ao mundo virtual se salde em aprendizagens significativas e reais nos discentes.
Em suma, a rápida evolução tecnológica fez emergir uma tecnologia capaz de criar realidades que, até recentemente, só existiam na literatura e nos filmes de ficção científica. Essa tecnologia transformou a forma como nos relacionamos, como comunicamos, como aprendemos e ensinamos, por isso, há que abrir a escola, a biblioteca e as salas de aula ao metaverso, para aproveitar as virtualidades pedagógicas que oferece, pondo-as ao serviço de uma educação holística e de qualidade.
Bibliografia
1. Backes, L. (2013). Hibridismo tecnológico digital: configurações dos espaços digitais virtuais de convivência. Colóquio Luso-Brasileiro de Educação a Distância e Elearning. Universidade Aberta. http://hdl.handle.net/10400.2/3050
5. Lepez C.O. (2022). Metaverso y educación: una revisión panorámica. Metaverse Basic and Applied Research Metaverse. 1:2. https://doi.org/10.56294/mr20222
7. Moreira, A. W.dos S. & Ribeiro, W. A. (2022). O uso do metaverso no processo de ensino e aprendizagem. [Trabalho de Conclusão de Curso]. Universidade Católica do Salvador. http://ri.ucsal.br:8080/jspui/handle/prefix/4832
por Paula Pio, professora bibliotecária do AE Gavião
Era apenas um dia de dezembro, como qualquer outro. As tarefas na biblioteca escolar assemelhavam-se às dos dias anteriores: livros para registar, Escola a Ler com o 1º Ciclo, tentar levar os colegas do 2º CEB a aderir a uma atividade que achei gira, ajudar os gaiatos que nos procuram a realizar tarefas.
Apenas nos faltava aquele brilho do inusitado, que nos dá cor aos dias e apesar da decoração de Natal já instalada, teimava em não aparecer.
Todos os dias fazemos o pino, malabarismo para convencer alunos e docentes de que a biblioteca escolar pode ser central na ação educativa, que estamos aqui prontos, disponíveis. Que não recomendamos apenas livros, mas introduzimos o sonho na vida de todos e cada um. Que despertamos a curiosidade ou apresentamos aprendizagens. Que não estamos, SOMOS!
Mas há dias, como este de dezembro, igual a tantos outros dias ou dezembros, que deixamos cair os braços, suspiramos de cansaço e apenas nos deixamos levar pela rotina. Estes são os dias das sombras, que me fazem questionar porque “estou nisto” há tantos anos. E não, não consigo encontrar uma resposta satisfatória.
Por volta do meio-dia irrompeu na biblioteca uma aluna do ensino secundário, daquelas que já quase desistimos de tentar seduzir.
− Professora, posso perguntar uma coisa?
Claro.
Quando é que volta à nossa sala com o monte dos livros para nos falar deles? Já sentimos a falta dessas aulas.
Naquele mesmo instante perdoei-lhe dizer que o Clube de Leitura era uma aula.
O dia deixou de ser igual a tantos dias. Dezembro deixou de ser um dezembro igual aos outros. Todas as dúvidas encontraram resposta.
Naquele minuto o brilho nos olhos substituiu as iluminações da época. Naquele minuto foi Natal para uma professora bibliotecária.
Paula Pio Professora Bibliotecária do AE Gavião 10/01/2023
1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.
A IFLA (Federação Internacional de Associações de Bibliotecas e Instituições), à semelhança do que tem feito desde 2013, apresenta o seu novo Relatório de Tendências 2022 [1], um relatório criado por especialistas de várias áreas, que explora e discute as tendências que estão a moldar o mundo e o seu impacto no trabalho das bibliotecas.
Este documento, além de deixar recomendações para a Federação, procura responder às questões emergentes identificadas no último relatório (cuja síntese pode ler no artigo Relatório de tendências da IFLA 2021), apontando caminhos para as bibliotecas e para os profissionais da informação.
São 11 as recomendações para as bibliotecas, estruturadas de acordo com os quatro pilares da missão da IFLA - Inspirar, Envolver, Capacitar e Conectar.
Inspirar
1. Devemos ver as bibliotecas como atores numa grande variedade de áreas políticas
As bibliotecas não se devem isolar no seu campo de trabalho tradicional, pelo contrário, devem assumir-se como stakeholders em discussões relativas a diferentes áreas, desde a saúde ao planeamento urbano, da agricultura à segurança. Isto é, o trabalho das bibliotecas não deve ser visto como um fim em si mesmo, mas sim como um meio para alcançar uma ampla variedade de outros objetivos políticos.
2. Devemos ser mais abertos sobre onde e como nos envolvemos em advocacia, tornando nossas uma maior variedade de questões.
Os profissionais das bibliotecas utilizam com frequência termos como "política da biblioteca" ou "defesa da biblioteca", o que pode limitar a sua ação. As bibliotecas devem assumir-se como atores sempre que o acesso à informação pode fazer a diferença, mas devem também trabalhar com os decisores políticos e outros stakeholders.
Internamente, isto implica que as bibliotecas devem ser criativas para que a sua atuação faça a diferença, mas também realistas, tendo em conta os recursos disponíveis. É necessário estabelecer ligações claras e fortes entre objetivos políticos mais amplos e a agenda das bibliotecas, pois só assim se promoverão mudanças positivas.
3.Devemos intensificar e melhorar a nossa própria advocacia.
Para que as bibliotecas tenham sucesso, devem colocar-se no centro de uma agenda mais ampla. Para isso, é necessário aperfeiçoar a sua comunicação, incluindo a capacidade de falar com os utilizadores e outros stakeholders, nomeadamente os decisores políticos, de forma convincente.
Para garantir que a biblioteca se advoga a si mesma e aos seus objetivos no futuro, é necessário trabalhar com líderes emergentes e encontrar formas de os inspirar.
Envolver
4. Devemos adotar uma definição mais ampla do nosso campo e assegurar que fazer parte dele seja sinónimo de ação.
É necessário criar um espírito de comunidade em torno das bibliotecas, isto é, mostrar o seu valor, o seu papel e a sua importância em múltiplas áreas, de que são exemplo o voluntariado ou o ativismo.
As bibliotecas devem favorecer o desenvolvimento pessoal e o aparecimento de líderes emergentes. É importante refletir sobre o que deve ser feito para envolver aqueles que são novos na profissão, identificando barreiras e criando oportunidades em que se possam envolver.
5.Devemos ver a divulgação como a chave para alcançar as nossas missões.
As bibliotecas têm de cumprir a sua missão, que é a de prestar um excelente serviço, mas devem olhar para fora delas e perceber como é que podem fazer a diferença na vida das pessoas, compreendendo a comunidade de forma ampla.
A forma como a biblioteca comunica, tanto na promoção dos seus serviços como no apoio aos seus utilizadores, é um fator chave para o sucesso.
Capacitar
6.Devemos sentir vontade de agir perante o futuro.
As bibliotecas devem ter confiança no seu trabalho e na importância que assumem nas suas comunidades. Devem, contudo, abarcar novas ideias e apostar numa estratégia que lhes permita crescer de forma sustentada.
7.Devemos abraçar e partilhar a inovação.
As bibliotecas devem focar-se no futuro e assumir-se como inovadoras, melhorando práticas e colaborando com outros.
As ferramentas digitais têm um papel crucial para a missão da biblioteca, devendo suportar a ideia de uma visão mais forte, construída em torno dos direitos e necessidades da comunidade que serve.
As bibliotecas devem apostar no acesso aberto, apoiando o seu desenvolvimento e encontrando respostas para os desafios que vão surgindo.
8.Devemos ver-nos como uma parte central da infraestrutura da educação.
As bibliotecas devem assumir-se como uma parte essencial da infraestrutura da educação, não só como parceiro na implementação de políticas, mas também propondo novas experiências e conhecimentos que respondam às necessidades dos utilizadores.
As bibliotecas devem apostar na formação não formal e informal, como complemento à aprendizagem mais formal, sobretudo para a população adulta.
9.Devemos apoiar os líderes emergentes como um elemento central da sustentabilidade, assumindo que nós temos potencial para nos desenvolver.
As bibliotecas assumem um papel importante na vida profissional das pessoas, potenciando o aparecimento de novos líderes e fomentando a aprendizagem ao longo da vida. Deve, por isso, investir no desenvolvimento profissional, não apenas na disponibilização de cursos, mas também na concessão de tempo livre para estudar ou participar em atividades relacionadas com o trabalho.
Conectar
10.Devemos fazer da ligação que estabelecemos com os outros na nossa área de atuação uma parte integrante da nossa prática.
As bibliotecas devem criar as condições para que as pessoas se possam relacionar com outros profissionais da área. A diversidade de tipos de trabalho, cultura, experiência e geografia deve ser vista como uma oportunidade para criar algo emocionante e não como uma barreira. É importante construir ligações permanentes entre instituições e associações, partilhando redes e ampliando ligações.
11.Devemos investir seriamente nas nossas ligações com parceiros.
As bibliotecas devem fazer parte de campos políticos mais amplos, trabalhando com outros atores e construindo ligações mais fortes em áreas como o desenvolvimento urbano e a saúde pública.
As bibliotecas devem assumir um papel multifuncional, focado nas necessidades dos indivíduos, pelo que, para além de qualquer área política, devem criar ligações fortes com os decisores políticos em geral.
Como podemos compreender através dos vários artigos que temos vindo a publicar sobre este assunto, embora ainda não completamente presente na forma como as empresas de tecnologia o preveem, já encontramos manifestações do metaverso em muitas situações. As tecnologias que o suportam (realidade aumentada e realidade virtual) são cada vez mais usadas e o seu potencial é enorme, podendo configurar uma revolução na internet com resultados tão grandiosos como o seu próprio aparecimento (web 1.0) ou a possibilidade de interação que a caracteriza atualmente (web 2.0) – Aguarda-se a designada web3.
Vimos já várias potencialidades que se desenham no horizonte e que, certamente, serão complementadas com outras que ainda não conseguimos antever. No entanto, como tudo o que caracteriza a invenção humana, o metaverso traz riscos associados que importa conhecer e encontrar formas de acautelar, uma vez que se trata de um gigantesco mundo virtual fundado nos princípios da descentralização e da ausência de controlo. Tal como a internet criou desafios para a segurança, a privacidade e a proteção, o metaverso escalará esses desafios e trará outros.
Os riscos ameaçam utilizadores de todas as idades, mas quando estão em causa crianças e jovens, ainda com a sua construção cognitiva e emocional em processo, a apreensão quanto ao futuro é maior. Por isso é imprescindível que formuladores de políticas, educadores e pais se mantenham atualizados sobre os desenvolvimentos tecnológicos recentes em relação ao metaverso, não só para potenciar os seus benefícios, mas também para conhecer, prevenir e contrariar os perigos.
Assim, riscos e perigos potenciais do metaverso podem incluir ou ser devidos a:
🔴Verificação de idade - A verificação da idade nas plataformas digitais continua a ser muito imprecisa e não confiável. É uma tarefa difícil para as empresas de tecnologia realizarem a nível universal sem violar dados pessoais. Portanto, embora o metaverso precise desesperadamente dessa verificação, em alguns fóruns, os esforços de verificação de idade foram interrompidos.
🔴Falta de pesquisa - Como o metaverso é relativamente novo, ainda não existem estudos de longo prazo sobre o seu impacto na saúde e no desenvolvimento das crianças.
🔴Lentidão da política - A tecnologia tende a evoluir mais depressa do que a legislação. Se os avanços tecnológicos no metaverso ultrapassarem o progresso das políticas, isso pode representar vários riscos para crianças (e adultos).
🔴Perigos fisiológicos - Os equipamentos de RV podem causar náuseas ou fadiga ocular nas crianças. Esses dispositivos imersivos também podem fazer com que elas se alheiem do seu ambiente físico real, podendo originar lesões.
🔴Riscos psicológicos - Alguns estudos emergentes indicam que pode existir uma relação direta entre as tecnologias de RV subjacentes ao metaverso e as implicações psicológicas, como vício, agressão e dissociação da realidade.
🔴Riscos de memória - Alguns pesquisadores acreditam que o metaverso pode levar à criação de falsas memórias em crianças.
🔴Violação de privacidade. - Grande parte do metaverso é personalizável – mas também é quase totalmente rastreável. Portanto, se uma criança cria um ambiente e um avatar, definindo a sua aparência e modo de agir, as empresas podem aceder a esses dados e usá-los para direcionar anúncios para crianças. Num mundo em que o real e o virtual se mesclam de forma quase impercetível, a própria publicidade será indetetável.
🔴Desinformação e manipulação - Uma tecnologia altamente popular no metaverso é a chamada deepfake, um tipo de tecnologia que permite substituir a aparência de alguém por um rosto diferente nos media ou no vídeo. Esta tecnologia pode ser usada para manipular ou persuadir pessoas (incluindo crianças). Grupos extremistas também se têm mostrado altamente eficazes no recrutamento em plataformas de media sociais através de campanhas de memes direcionadas e influenciadores que gradualmente começam a introduzir conteúdo extremista. (A esse propósito sugerimos a leitura de História ameaçada: negação e distorção do Holocausto nas redes sociais). Infelizmente, o metaverso pode representar um risco elevado para difusão de discursos de ódio e o recrutamento de jovens por grupos extremistas.
🔴Exposição a material impróprio para a idade, incluindo conteúdo sexual - No metaverso, as crianças podem deparar-se com clubes de striptease virtuais ou simulações de atos íntimos. Podem também encontrar outros jogadores que desejam prepará-los para abusos ou ameaças de agressão sexual.
🔴Cyberbullying e perseguição – Crianças e jovens podem sofrer cyberbullying de outros que conhecem na vida real. Trata-se de riscos que se apresentam já na web 2.0, mas que poderão assumir novos contornos quando a diferença entre o real e o virtual se tornar difícil de distinguir.
🔴Perigos financeiros - Os hackers vagueiam pelo metaverso e procuram ativamente formas de sequestrar as informações pessoais dos utilizadores. As crianças podem estar menos cientes dos riscos de partilhar informações pessoais ou financeiras online. Havendo a ideia de integrar o uso da criptomoeda nas experiências do metaverso, há que ter consciência de que ela também tem os seus riscos, incluindo a alta volatilidade e a fraca regulamentação governamental.
Como prevenir?
Empresas, legisladores, educadores e pais têm de conhecer bem o metaverso e desenvolver ações que permitam evitar estes riscos:
As empresas precisam de projetar dispositivos de realidade virtual e sistemas de metaverso vocacionados para as crianças. Isso significa auscultadores adequados, mecanismos de segurança eficazes e práticas de recolha mínima de dados do utilizador.
Os legisladores precisam de investir em pesquisa sobre realidade virtual e metaverso, impedir que as plataformas manipulem as crianças online e aplicar requisitos básicos de privacidade. A legislação em vigor, por exemplo, deve alargar-se ao metaverso.
Os educadores e os pais devem tornar-se consumidores informados de metaverso. Eles não precisam de saber tudo sobre o metaverso, mas devem tentar entender a forma como crianças e jovens se podem envolver com ele. Tal como para a web 2.0, educadores e pais devem informar-se, formar-se e formar continuamente para o uso dos media (de que o metaverso faz parte).
O metaverso anda já por aí e a desenvolver-se rapidamente. Continuará, todos os dias, a trazer crianças e jovens para territórios digitais desconhecidos. Apoiado pelas tecnologias de realidade virtual e aumentada, aproximará os mundos online e offline, numa fusão que será muito produtiva em alguns aspetos, mas intimidadora, confusa e potencialmente prejudicial noutros. Mais do que nunca, saber usar os media é imprescindível!