Pensar, ler e escrever, com espírito crítico e emoção, pode ser transgressor e mudar, para sempre, a comunidade, o país e o mundo.
Tendo consciência do perigo que podem representar as ideias e as palavras, a Ditadura Militar de 1926 instituiu a censura, mas é “a partir de 1934, que os Serviços de Censura, com a colaboração da polícia política, que apreendia exemplares nas livrarias, editoras e em rusgas domiciliárias, iniciaram uma terrível campanha de silenciamento da palavra impressa, mas também das artes, cinema, teatro e de todas as áreas da informação, incluindo os jornais, a rádio e, mais tarde, a televisão”, ampliando o “controlo, vigilância e repressão dos escritores, editores, distribuidores e livreiros” [1].
Foram censuradas obras consideradas “imorais, pornográficas, comunistas, irreligiosas, subversivas, más, antissociais, deseducativas, dissolventes, anarquistas e revolucionárias” [2], que desafiavam a ordem estabelecida nacionalista, imperialista e colonialista, católica, patriarcal e heteronormativa, que defendiam direitos fundamentais e a possibilidade de cada um ser quem quiser, que denunciavam problemas sociais estruturais - como a pobreza, o analfabetismo e a exploração dos trabalhadores - de um país adiado, que vivia da aparência e status quo. “Não vivíamos num país real, mas numa Disneyland qualquer, sem escândalos, sem suicídios, nem verdadeiros problemas” [3], diz Eduardo Lourenço, visando este período.
Porque a Rede de Bibliotecas Escolares advoga a inteira liberdade/ independência de criação e circulação de ideias e o direito universal à educação e à cultura, tendo em vista uma vida boa para todos, apoia o lançamento da Biblioteca da Censura, da iniciativa do jornal Público e da editora A Bela e o Monstro [4].
Através desta Coleção as pessoas têm acesso, pela primeira vez à reimpressão fidedigna/ fac-símile das obras originais conforme foram modificadas pela censura, através de carimbos, cortes, rasuras, relatórios. Para assinalar meio século de liberdade cada livro proibido pelo Estado Novo (1933 -1974) é libertado no dia 25 de cada mês.
Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril. (2022). 50 anos 25 de Abril. Portugal: Comissão comemorativa. https://www.50anos25abril.pt/comissao
Esta é uma iniciativa realizada no contexto das comemorações dos 50 anos do 25 de abril de 1974, que se celebram de 23 de março de 2022 a dezembro de 2026 [5] e que conta com o apoio, para além da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, do Arquivo da RTP, da rádio Antena 1 - realiza uma entrevista sobre o livro publicado em cada mês - e da Ephemera (Arquivo da Censura) e Torre do Tombo.
A ideia da Coleção decorre da exposição “Obras proibidas e censuradas no Estado Novo” [6], comissariada por Álvaro Seiça, Luís Sá e Manuela Rêgo e em exibição na Biblioteca Nacional de Portugal, entre 3 de maio e 16 de setembro 2022.
Esta coleção de livros, destinados a não serem lidos, encerrados na Biblioteca dos Serviços de Censura em Lisboa, secreta e privada, constituía uma “antibiblioteca”, nas palavras de Seiça [1].
Guardiã da memória - neste caso, traumática e intencionalmente marcada e amputada - e responsável por criar as condições para que, no futuro, a História não se repita, a Rede de Bibliotecas Escolares incentiva as bibliotecas escolares a associarem-se à iniciativa, desafiando crianças e jovens e suas comunidades a conhecer o contexto em que estes livros foram escritos e publicados, a ler excertos e a dar-lhes visibilidade, recriando-os com inteira liberdade.
Esta experiência, pessoal e subjetiva, de cada leitor pode gerar um movimento global anticensura, de libertação e aprofundamento da imaginação e do pensamento destinado a celebrar a liberdade de opinião/ expressão e o fim de todas as censuras.
À data da Revolução do 25 de Abril, os jovens tiveram um papel muito ativo na contestação da ditadura e da repressão, como é o caso do estudante universitário Ribeiro Santos assassinado pela PIDE [7].
Ao longo da História, foram diversos os objetos de censura. Por exemplo, na Idade Média o riso chegou a ser proibido, conforme experiencia frei William Baskerville, no romance de Umberto Eco, O nome da rosa. Em tom humorístico, concluímos o desafio anticensura lembrando Guerra Junqueiro que no poema proibido “Pedro Soriano” declara, ‘Tamanho membro merece um poema” [8].
8. Segundo o Guia da Exposição Biblioteca da Censura, a Biblioteca Nacional de Portugal antes do Estado Novo tinha obras classificadas como Obras Proibidas, com a cota O.P., que incluíam livros que não faziam parte do catálogo geral de acesso ao público, nem podiam ser levadas para a Sala de Leitura. Algumas dessas obras não faziam parte do inventário dos Serviços da Censura, como é caso do poema “Pedro Soriano”:
“Pedro Soriano foi o herói de um casamento simulado que houve em Lisboa. Tinha o membro viril desenvolvidíssimo. Uns amigos de Junqueiro encarregaram-se de lhe apresentar o Soriano porque, tendo contado a Junqueiro a do membro, ele dissera que exageravam. Junqueiro viu e exclamou: ‘Tamanho membro merece um poema’”.
Em dezembro de 1996 abria ao público a Biblioteca Municipal de Arganil. Por feliz coincidência tinha início nesse mesmo ano a Rede de Bibliotecas Escolares. Neste caso a Biblioteca Pública e a Biblioteca Escolar nasceram e cresceram lado a lado.
Um longo caminho percorrido, não livre de obstáculos, onde o futuro, orientado por objetivos bem definidos, se continua a construir diariamente.
As onze Bibliotecas que servem os Munícipes do Concelho de Arganil são consequência do trabalho desenvolvido, que começou com a assinatura dos Protocolos de Parceria que conduziram à construção dos Grupos de Trabalho, a criação da Rede Informática, o Catálogo Concelhio, o Portal Concelhio, o Cartão Único para a Rede Concelhia com uma Base única de Leitores; etapas extraordinárias na otimização dos recursos disponíveis e um persistente e constante esforço de organização no sentido de chegar a todos, sem exceção.
Ao longo dos anos a Biblioteca Municipal de Arganil e a Biblioteca Alberto Martins de Carvalho têm-se empenhado em, mais de que apenas facilitar o acesso aos suportes de leitura, assumir um papel ativo e interventor no sentido de criar competências de acesso à informação, promover a inclusão social e contribuir para o desenvolvimento das diversas formas de literacia. Diversos são os programas de leitura continuados que temos desenvolvido e cuja continuidade almejamos. Programas que vão muito além do espaço físico da Biblioteca e que nos levam a percorrer todo a área do concelho de Arganil. São exemplos o Serviço de Apoio às Bibliotecas Escolares (SABE), o projeto “Leitura das Memórias”, a iniciativa “Nascer a Ler” e as sessões de Literacia Digital.
Embora Bibliotecas Municipais e Bibliotecas Escolares sejam de diferentes tipologias, o trabalho que as mesmas desenvolvem, no nosso entender, deve andar de mãos dadas, daí a importância das parcerias e do consequente trabalho conjunto. Por um lado, porque nos permite ir mais longe e por outro, porque queremos utilizadores que façam das bibliotecas algo que os acompanhe ao longo de toda a sua vida.
Consciente do poder das sinergias, as Bibliotecas Públicas de Arganil têm desenvolvido um trabalho de proximidade com as Bibliotecas Escolares desde a sua génese, através do SABE. Este serviço foi formalizado em janeiro de 2006 e tem como objetivo acompanhar e apoiar as Bibliotecas Escolares do Concelho de forma a contribuir para o seu desenvolvimento e rentabilização em várias áreas. Para além do apoio técnico a nível do tratamento documental e organização das bibliotecas, dos concursos de leitura e da formação de utilizadores, estão em funcionamento dois serviços de leitura: “Pais e filhos: livros e ternura” e “Ler e partilhar, viver e aprender” . O primeiro destinado às crianças que frequentam o Pré-escolar e o 1º ano e, o segundo destinado às crianças que frequentam o 2º, 3º e 4º ano de escolaridade.
As crianças recebem as técnicas com entusiasmo e alegria no rosto. Vivendo e explorando com estas todos os tesouros que os livros e demais suportes de leitura contêm, partilhando experiências leitoras e levando consigo livros para casa, para em família explorar.
Um trabalho exigente, mas gratificante! É com satisfação que recebemos as visitas destas “crianças”, agora adolescentes e adultos na Biblioteca Pública quando transitam para outros ciclos de escolaridade. Vêm à Biblioteca “matar” saudades, conversar, partilhar! Uma transição que nos permite continuar a fomentar e a contribuir para o desenvolvimento dos seus hábitos de leitura e demais competências que permitam a estes cidadãos exercer os seus direitos democráticos e ter um papel ativo na sociedade, indo assim ao encontro do que preconiza o Manifesto da IFLA/ UNESCO sobre as Bibliotecas Públicas.
Os laços que se criam através destes programas não se quebram e são alento para continuarmos a desenvolver o nosso trabalho em prol das crianças, desde a mais tenra idade e da população em geral. Porque as Bibliotecas são casas para toda a vida, onde cabe toda a gente!
por Maria da Graça Moura, Diretora do AE André Soares, Braga
As paredes de uma escola servem para dar conforto, segurança e proteção do frio e do calor, da chuva e do sol, possibilitar a organização de grupos, as condições para o desenvolvimento de atividades, …, garantir o trabalho do dia a dia de milhares de crianças e jovens em constante crescimento.
Mas uma escola é muito mais do que as suas paredes, muito mais do que os seus espaços. É um sem fim de conexões, de partilhas, de interações, um infinito mundo de ideias, de socialização diária, de crescimento em cidadania ativa. Um lugar fantástico de aprendizagens, de criatividade e inovação, um grande projeto de formação!
No centro deste projeto está cada criança, cada aluno. À sua volta, gira uma família que anseia o melhor para cada um. À sua volta, giram programas e projetos dinamizados por professores que dedicam parte da sua vida a uma missão, esta de formar pessoas, de as fazer crescer harmoniosamente, de as incentivar, de as ensinar, de promover efetivas aprendizagens, de as integrar, incluir, capacitar. À sua volta, gira um sem fim de relações sociais, grupos de amigos, grupos desportivos, colegas de turma, … À sua volta, gira o mundo, a um clique, de acesso livre e fácil.
É este o centro do debate, no qual queremos envolver os pais/ encarregados de educação:
Estaremos todos a projetar um caminho, garantindo a cada aluno, a cada criança, um percurso sólido, que desenvolva, em cada um, as capacidades e as competências necessárias para fazer escolhas na vida? Que tenham iniciativa, que saibam dizer «não» quando assim tem de ser? Que tornem a sua vida num processo de constante aprendizagem?
No âmbito da Autonomia e Flexibilidade Curricular, desenvolvemos diversas sessões dando Voz aos Alunos.
Aproveitando ainda o facto de, no 75.º aniversário das Nações Unidas, o Secretário-Geral António Guterres ter convocado uma Cimeira da Educação Transformadora (Transforming Education Summit – TES), de imediato aderimos à iniciativa, da Rede de Bibliotecas Escolares, Transformar a Educação: Dá a voz às tuas ideias, com a atividade Reimaginar a Escola.
Desde os mais pequeninos aos finalistas, ajustada a cada faixa etária, a participação de todos tem surtido efeitos. Efeitos individuais, levando ao desenvolvimento de competências de cidadania e participação, percebendo que há espaços próprios para defender cada causa; efeitos coletivos, de abertura ao debate, percebendo diferentes olhares, pontos de vista, defendendo-os com convincente argumentação. Foi já ensaiada a Voz aos Professores, aos Assistentes Operacionais, atividade a repetir, a consolidar.
Precisamos agora da Voz dos Pais/Encarregados de Educação, com esta intencionalidade, esta vontade de cruzar diferentes olhares, diferentes formas de encarar a escola e contribuir para bem construir (desconstruindo por vezes) este lugar cada vez mais heterogéneo, cada vez mais rico na diferença.
Assim, estão convidados todos os Representantes dos Pais/ Encarregados de Educação das Turmas/ Grupos do Agrupamento de escolas André Soares para as sessões a realizar no auditório Braga Simões, esta semana. No dia sete para os representantes dos alunos dos segundo e terceiro ciclos e no dia nove para os do primeiro ciclo e pré-escolar.
Se todos queremos o melhor para os nossos filhos, para os nossos alunos, não há razão nenhuma, absolutamente nenhuma, para adiarmos este debate de boas ideias.
Ideias para bem construir uma escola! Para construir uma boa escola!
Maria da Graça Moura Diretora do AE André Soares, Braga
Nota: Este artigo foi publicado originalmente no Correio do Minho, 07.11.2022 e republicado com a devida autorização da autora.
A Freedom House é uma organização norte-americana, sem fins lucrativos e não partidária, que pretende informar sobre ameaças à liberdade, mobilizar para a ação global e apoiar os defensores da democracia.
Esta organização produz pesquisas e relatórios sobre uma série de questões temáticas centrais relacionadas com a democracia, os direitos políticos e as liberdades civis, sendo a principal publicação desta organização Freedom in the World, que faz a avaliação comparativa de definição de padrões de direitos políticos globais e liberdades civis.
No entanto, também produz vários relatórios anuais, incluindo Freedom on the Net, um estudo anual que analisa a liberdade na Internet em todo o mundo. Este relatório apresenta uma avaliação classificada, país por país, da liberdade em linha, uma visão global dos últimos desenvolvimentos, bem como relatórios aprofundados por país.
No dia 18 de outubro de 2022, foi publicado o relatório Freedom on the Net 2022 [1], que constata que as condições se deterioraram em 28 países, enquanto 26 países experimentaram progressos.
As conclusões gerais do relatório mostram que a liberdade global na Internet diminuiu pelo 12º ano consecutivo, à medida que mais governos levantaram barreiras digitais concebidas para censurar a dissidência e monitorizar os utilizadores. O estudo conclui que mais de três quartos dos utilizadores mundiais da Internet vivem agora em países onde as autoridades punem as pessoas por exercerem o seu direito à liberdade de expressão em linha.
As principais conclusões deste relatório são as seguintes:
- A liberdade global na internet caiu pelo 12º ano consecutivo. As quedas mais acentuadas foram documentadas na Rússia, Mianmar, Sudão e Líbia. Após a invasão da Ucrânia pelos militares russos, o Kremlin intensificou os seus esforços contínuos para suprimir a dissidência doméstica e acelerou o encerramento ou o exílio dos meios de comunicação independentes do país. Em pelo menos 53 países, os utilizadores enfrentaram repercussões legais por se expressarem online, muitas vezes levando a penas de prisão dramáticas.
- Os governos estão a dividir a internet global para criar espaços online mais controláveis. Um número recorde de governos nacionais bloqueou sítios com conteúdo político, social ou religioso não violento, minando os direitos de liberdade de expressão e acesso à informação. A maioria desses bloqueios visava fontes localizadas fora do país. Novas leis nacionais representaram uma ameaça adicional à livre circulação de informações, centralizando a infraestrutura técnica e aplicando uma regulamentação deficiente às plataformas de redes sociais e à gestão dos dados dos utilizadores.
- A China foi o pior ambiente do mundo para a liberdade na internet pelo oitavo ano consecutivo. A censura intensificou-se durante as Olimpíadas de Pequim 2022 e desde que o tenista Peng Shuai acusou um alto funcionário do Partido Comunista Chinês (PCC) de agressão sexual. O governo continuou a reforçar seu controle sobre o crescente setor de tecnologia do país, inclusivamente através de novas regras que exigem que as plataformas usem seus sistemas algorítmicos para promover a ideologia do PCC.
- Um recorde de 26 países experimentou melhorias na liberdade na Internet. Apesar do declínio global geral, as organizações da sociedade civil em muitos países têm conduzido esforços colaborativos para melhorar a legislação, desenvolver a resiliência dos media e garantir a responsabilidade entre as empresas de tecnologia. Ações coletivas bem-sucedidas contra o desligamento da Internet ofereceram um modelo para mais progresso em outros problemas, como spyware comercial.
- A liberdade na Internet nos Estados Unidos melhorou ligeiramente pela primeira vez em seis anos. Houve menos casos relatados de vigilância direcionada e assédio em linha durante protestos, em comparação com o ano anterior, e o país agora ocupa o nono lugar globalmente, empatado com Austrália e França. Os Estados Unidos ainda carecem de uma lei federal de privacidade abrangente, e os formuladores de políticas fizeram pouco progresso na aprovação de legislação relacionada com a liberdade na internet. Antes das eleições de meio de mandato de novembro de 2022, o ambiente online estava repleto de desinformação política, teorias da conspiração e assédio online direcionado a a trabalhadores e responsáveis eleitorais.
- Os direitos humanos estão em risco, face à competição pelo controlo da web. Estados autoritários estão a lutar para propagarem o seu modelo de controlo digital pelo mundo. Em resposta, uma coligação de governos democráticos aumentou a promoção dos direitos humanos em linha em fóruns multilaterais, delineando uma visão positiva para a Internet. No entanto, o seu progresso continua a ser dificultado por práticas problemáticas de liberdade na Internet nos seus próprios países.
A biblioteca da Escola Básica de Grândola nunca teve apoio de nenhuma assistente que pudesse assegurar o período de almoço, o que obrigava ao seu encerramento não só nesta altura, mas também quando a professora bibliotecária precisava de se deslocar aos jardins de infância.
Em conversa com a Biblioteca Municipal de Grândola e porque a sua responsável conhecia o dilema com que nos debatíamos, foi proposto à Câmara Municipal, a mobilidade de uma assistente técnica do quadro da Câmara Municipal, com perfil adequado, que pudesse não só assegurar os intervalos e as horas de almoço, mas também fazer a catalogação dos documentos que davam entrada na biblioteca, permitindo assim que esta se mantivesse sempre em funcionamento, mesmo quando a professora bibliotecária estivesse em serviço externo.
A assistente, por seu lado, já tinha informado os serviços que estaria disponível para trabalhar com a biblioteca escolar do AE de Grândola, em mobilidade interna.
Deste modo, desde Abril de 2020, contamos com este valioso apoio.
Assim, para procurar resolver a falta de assistente de biblioteca, nada melhor do que contactar com as autarquias e tentar saber se existem pessoas que gostassem de trabalhar nas bibliotecas escolares.
Maria José Lousa Professora Bibliotecária AE de Grândola
De 6 a 18 de novembro, Chefes de Estado, ministros e negociadores, juntamente com ativistas do clima, presidentes de câmara, representantes da sociedade civil e CEO, reúnem-se na cidade costeira egípcia de Sharm el-Sheikh para o maior encontro anual sobre ação climática, a conferência COP27.
Desde 1994, quando entrou em vigor a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas [1], todos os anos a ONU tem reunido quase todos os países do planeta para conferências climáticas globais ou “COP”, que significa “Conference of Parts” (Conferência das partes).
A conferência de 2021
A COP26, em 2021, marcou cinco anos desde a assinatura do Acordo de Paris [2] e culminou no Pacto do Clima de Glasgow, que manteve a meta de conter o aquecimento global a 1,5 º C. Nesta conferência, foram feitos avanços para tornar o Acordo de Paris totalmente operacional, apresentando-se os detalhes para sua implementação prática, num documento também conhecido como Livro de Regras de Paris.
Também durante a COP26, os países concordaram em entregar compromissos mais fortes em 2022, incluindo planos nacionais atualizados com metas mais ambiciosas. No entanto, apenas 23 dos 193 países apresentaram, até agora, os seus planos à ONU.
Em Glasgow também houve muitas promessas, feitas dentro e fora das salas de negociação, em relação a compromissos para reduzir emissões, proteger florestas e financiar as questões climáticas, entre muitas outras questões.
A COP27
Esta 27ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas - COP27 - basear-se-á nos resultados da COP26 para levar a cabo ações sobre uma série de questões críticas para enfrentar a emergência climática - desde a redução urgente das emissões de gases com efeito de estufa, à construção de resiliência e à adaptação aos impactos inevitáveis das alterações climáticas, até ao cumprimento dos compromissos de financiamento da ação climática nos países em desenvolvimento.
Confrontando-nos com uma crise energética crescente, concentrações recorde de gases com efeito de estufa e o aumento de fenómenos climáticos extremos, a COP27 procura renovar a solidariedade entre países, para cumprir o Acordo de Paris.
O mundo deve empenhar-se e proteger as pessoas e as comunidades dos riscos imediatos e sempre crescentes da emergência climática. Não temos tempo a perder. ANTÓNIO GUTERRES, Secretário-Geral das Nações Unidas, 3 de novembro de 2022.
O que esperar da COP27?
Na sua mensagem de boas-vindas, o Presidente da República Árabe do Egito, Abdel Fattah El Sisi, diz acreditar profundamente que a COP27 é uma oportunidade de mostrar a unidade contra uma ameaça existencial que só podemos superar por meio de ação concertada e implementação efetiva. Acrescenta, que, enquanto presidente da COP27, o Egito não poupará esforços para garantir que esta se torne o momento em que o mundo passou da negociação à implementação e em que as palavras foram traduzidas em ações, e em que nós, coletivamente, enveredámos por um caminho rumo à sustentabilidade, uma transição justa e, eventualmente, um futuro mais verde para as gerações vindouras.
O vice-presidente da Fundação das Nações Unidas para Clima e Meio Ambiente, Pete Ogden, partilha sua opinião sobre as principais questões a serem trabalhadas durante esta a conferência:
Estamos à procura de sinais de vontade política credível mesmo numa conjuntura de tanta turbulência geopolítica. Os países têm de permanecer focados no objetivo e compreender que a transição para a energia limpa é o seu caminho para o outro lado.
Há um enorme ponto de interrogação em relação ao que a China está preparada para fazer e à forma como demonstrará o seu empenho em tomar as medidas necessárias para alcançar o objetivo de 1,5°C.
Prestar-se-á grande atenção à cimeira do G20 (a decorrer em simultâneo na Indonésia) para ver se os seus líderes conseguem demonstrar que compreendem, e estão preparados para enfrentar, a emergência climática que está a alimentar tantas das crises globais imediatas com que se irão debater no G20.
Queremos saber como é que as economias desenvolvidas vão cumprir os seus compromissos financeiros já assumidos, assim como o que ainda têm de fazer.
Debater-se-á se e como é que as economias desenvolvidas irão abordar os custos que estão a ser enfrentados pelas economias em desenvolvimento, relacionados, por exemplo, com a necessidade de reconstruir a partir de catástrofes naturais alimentadas pelo clima ou de se deslocalizar devido à subida do nível do mar.
Terá grande atenção a necessidade de financiar e aumentar o investimento em medidas de adaptação em países de todo o mundo.
Cada ano é uma corrida entre os esforços globais sem precedentes para descarbonizar e reduzir as nossas emissões de gases com efeito de estufa, e a acumulação incessante de emissões que estão a causar cada vez mais sofrimento às pessoas em todo o mundo. Pete Ogden Vice-presidente para o clima e o ambiente, Fundação das Nações Unidas
Por Ana Paula Oliveira, professora bibliotecária AE João da Silva Correia, São João da Madeira
Para quem não me conhece eu sou a Guidinha uma “filha” do escritor Luís de Sttau Monteiro e gosto de escrever redações embora muitos me critiquem e digam que eu devia parar de escrever porque não sei usar a pontuação e escrevo tudo de rajada e isso é um mau exemplo mas isso não importa nada o que importa são as ideias que me atacam a cabeça e eu tenho de despachá-las de lá para fora e mais a mais o senhor José Saramago também não sabia pontuar e ganhou um Prémio Nobel olarila! e isso é o que importa e o que também importa é o que me fez escrever esta crónica pois o livro onde vivo está em casa de uma professora bibliotecária com a mania dos livros e tem o meu sempre em cima da secretária onde trabalha e eu não quero ser má-língua mas essa secretária está cheia de tralha que segundo ela é o seu material de trabalho pois tem de trabalhar muito em casa uma vez que nas escolas por onde passa é lidar lidar lidar de BE em BE e tem de planear tudo em casa para depois pôr em prática nas escolas então ele é papéis, ele é PC com email Teams redes sociais e não sei quantas plataformas e ferramentas digitais que ela domina, ele é telemóvel, ele é agenda, ele é livros, ele é bonecos e materiais que ela constrói para aquilo que ela chama a hora do conto e é uma canseira para mim ver aquilo tudo e eu lá no meio a observar tanta azáfama parece que a mulher não sabe fazer mais nada na vida, sempre a inventar, sempre a mandar emails e a conversar ao telemóvel ou no Teams ora com colegas ora com alunos que ela não dá descanso a ninguém é vê-la com a desculpa que precisa de conquistar leitores e de envolver os parceiros e de construir o PAA incluindo atividades do PEM e de dar resposta aos desafios da RBE do PNL da DGE e ainda tem de ir às reuniões dos departamentos e do CP e do PADDE e depois passa a vida a fazer projetos e a incentivar toda a gente para participar nos concursos ela diz que é um orgulho ganhar e isso dá pilim ah pois o pilim é muito importante para que as bibliotecas se mantenham ativas sem pilim não se faz nada mas sem empenho também não e ela tem tanto empenho que já teve um incêndio na cozinha quando decidiu fritar batatas e fazer um relatório ao mesmo tempo e foi por isso que comprou um robô daqueles que fazem tudo para ela ir à vida dela e nunca mais fritou batatas que é uma coisa muito perigosa para a educação e apesar disto tudo é um gosto vê-la trabalhar com tanto gosto e só não gosto quando ela bufa que nem um gato assanhado quando tem o MABE à frente dela e quando tem de preencher BD e de fazer PM seja lá o que isso for mas mesmo assim ela já vai nos 60+ e vê a aposentação a chegar e já está a antever um voluntariado numa biblioteca perto de si
PS da PB vítima da má-língua da Guidinha: não assumo qualquer responsabilidade pelas palavras da Guidinha, uma desbocada incontrolável!
Ana Paula Dias de Pinho Oliveira (professora bibliotecária) Agrupamento de Escolas João da Silva Correia Escola Secundária João da Silva Correia
BE – Biblioteca Escolar PAA – Plano Anual de Atividades PEM – Plano Educativo Municipal RBE – Rede de Bibliotecas Escolares PNL – Plano Nacional de Leitura DGE – Direção-Geral de Educação CP – Conselho Pedagógico PADDE – Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital da Escola MABE – Modelo de Avaliação da Biblioteca Escolar BD – Base de Dados PM – Plano de Melhoria
1. *Qualquer semelhança entre o título desta rubrica e a obra Retalhos da vida de um médico, não é pura coincidência; é uma vénia a Fernando Namora.
2. Esta rubrica visa apresentar apontamentos breves do quotidiano dos professores bibliotecários, sem qualquer preocupação cronológica, científica ou outra. Trata-se simplesmente da partilha informal de vivências.
3. Se é professor bibliotecário e gostaria de partilhar um “retalho”, poderá fazê-lo, submetendo este formulário.
O Dia Mundial da Preservação Digital (DMPD) celebra-se na primeira quinta-feira de cada novembro, pelo que este ano a celebração ocorre hoje, 3 de novembro de 2022.
Organizado pela Digital Preservation Coalition (DPC) (https://www.dpconline.org/events/world-digital-preservation-day) e apoiado por redes de preservação digital em todo o mundo, o Dia Mundial da Preservação Digital pretende criar uma maior consciência da importância da preservação digital, que se traduzirá numa compreensão mais ampla que beneficiará todas as vertentes da sociedade – formulação de políticas, boas práticas pessoais, negócios, etc.
Podemos definir preservação digital como a gestão ativa do conteúdo digital tendo em vista garantir o acesso e a autenticidade dos documentos digitais ao longo do tempo, independentemente da evolução dos suportes documentais e das mudanças tecnológicas.
A fragilidade estrutural da informação digital constitui hoje um dos maiores desafios a para os profissionais da informação e de tantas outras áreas. A preservação digital está profundamente ancorada nas tecnologias atuais que permitem o acesso e o consumo digital de conteúdos a longo prazo, mas também no trabalho de conservação tradicionalmente realizado em bibliotecas, arquivos, museus e noutras instituições culturais.
A preservação é desde há muito um valor central da biblioteconomia, sendo que as bibliotecas têm uma vasta experiência em gestão de preservação no mundo analógico. Por exemplo, em 1991, a Associação Americana de Bibliotecas (ALA) adotou uma política de preservação, abrangendo tanto a preservação física como a digital, que afirma que "a preservação dos recursos de informação é crucial para as bibliotecas e para a biblioteconomia"[1]. Contudo, à medida que os conteúdos se deslocaram para o domínio digital, esta preocupação nem sempre esteve presente, dando-se maior atenção às questões de acesso do que à preservação propriamente dita. Isto mesmo é confirmado por um relatório conjunto de 2002 do Online Computer Library Center (OCLC) e do Research Libraries Group (RLG) sobre preservação digital que afirma que "muitas vezes, aqueles que criam materiais digitais ou concebem os sistemas de gestão de conteúdos digitais não se interessam muito pela sua preservação longo prazo "[2].
Vinte anos depois, embora a maioria dos profissionais da informação reconheça hoje a importância da preservação digital, muitas bibliotecas e outras organizações culturais estão ainda longe fazer disso uma prioridade.
Em Portugal, o panorama não é melhor, e apesar de algumas recomendações já publicadas (Recomendações para a produção de planos de preservação digital, DGLAB, 2019; Regulamento Nacional de Interoperabilidade Digital, Resolução do Conselho de Ministros n.º 2/2018), são raras as instituições que possuem um plano de preservação digital ou que estejam sequer conscientes da sua importância.
A Rede de Bibliotecas Escolares promove este ano um curso de formação sobre preservação digital, que se inicia precisamente hoje, Dia Mundial da Preservação Digital, que será primeiramente frequentado por coordenadores interconcelhios e posteriormente replicado por estes junto dos professores bibliotecários.
Esta ação de formação tem como objetivos promover a reflexão sobre a importância da preservação digital e dotar os profissionais da informação que trabalham nas bibliotecas escolares de instrumentos e estratégias que garantam o acesso e a autenticidade dos documentos digitais da sua coleção ao longo do tempo, independentemente da evolução dos suportes documentais e das mudanças tecnológicas.
SANTOS, H. M., & FLORES, D. (2017b). Os impactos da obsolescência tecnológica frente à preservação de documentos digitais. Brazilian Journal of Information Science: Research Trends, 11(2), pp. 28-37. Disponível em: http://200.145.171.5/revistas/index.php/bjis/article/view/5550
SARAMAGO, M. L. (2004). Metadados para preservação digital e aplicação do modelo OAIS. In Nas encruzilhadas da Informação e da Cultura: Actas do 8.º Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas, Estoril, 12-14 mai. Disponível em: http://www.bad.pt/publicacoes/index.php/congressosbad/article/view/640
A leitura da imprensa ajuda-nos a ampliar conhecimento, a acompanhar o que está a acontecer no mundo, a formar a nossa própria opinião sobre os assuntos e, consequentemente, a contribuir para a construção de um espaço público.
Ler jornais nas escolas permite que se traga o mundo para dentro destas instituições, onde milhares de crianças e jovens crescem, aprendem e se educam. Facultar-lhes o contacto regular com a leitura do texto jornalístico, na biblioteca ou na sala de aula, tem, portanto, várias vantagens.
Em primeiro lugar, na miríade de informações que circulam nas redes sociais, mais ou menos de forma caótica, as notícias dos jornais representam uma busca pela informação, interpretação e transmissão verdadeira dos acontecimentos, sempre contextualizados. Os jornalistas, profissionais da informação, regem-se por princípios universais de rigor e de independência e os seus textos são, por isso, credíveis e uma fonte fiável de informação, que vale a pena explorar.
Em segundo lugar, porque são diversos, os jornais representam pontos de vista e abordagens sobre o mundo diferentes, permitindo o debate e o confronto de ideias, o que contribui para a análise, avaliação e tomada de posição perante os assuntos. Através dos diferentes tipos de texto, os jornais ajudam a mediar a informação que chega aos cidadãos, contribuindo para a manutenção da democracia na sociedade e para uma cidadania ativa. Nas escolas, podem ser potenciados para dar voz aos alunos.
Por fim, os jornais podem ser rentabilizados em praticamente todas as disciplinas, uma vez que os assuntos se cruzam com diferentes conteúdos programáticos. O envolvimento dos alunos em atividades de leitura e de escrita relacionadas com os jornais permite, além do contacto com assuntos diversificados, o desenvolvimento de competências de compreensão escrita e de expressão escrita e oral.
Eis cinco formas de envolver os alunos na leitura de jornais:
1. Isto também é comigo! – Dê voz aos alunos
Isto também é comigo! é uma iniciativa da Rede de Bibliotecas Escolares e do jornal PÚBLICO, dirigida aos alunos do ensino secundário, que tem como objetivo promover a leitura de textos jornalísticos do agrado dos alunos e a escrita de um texto de opinião, com 350 palavras, sobre o texto selecionado.
- Os alunos podem concorrer todos os meses, submetendo os textos até à última sexta-feira de cada mês.
- O texto de opinião vencedor é publicado na última sexta-feira do mês seguinte no portal da Rede de Bibliotecas Escolares e no site do Público na escola.
2. O que é que aconteceu hoje no mundo?
Esta atividade pode ser desenvolvida de várias formas e com alunos de diferentes níveis de ensino. Experimente esta:
- Distribua um jornal por cada grupo de 2/3 alunos.
- Estabeleça um limite de tempo e peça aos alunos para fazerem uma leitura rápida de um determinado número de notícias do jornal.
- Quando o tempo tiver terminado, peça a cada grupo de alunos para se juntar a outro. Os alunos de cada grupo reportam aos outros todas as notícias de que se lembram, sem olharem para o jornal.
3. Promova um debate
Os debates são uma ótima estratégia para aprofundar o pensamento crítico e desenvolver as competências de comunicação. Ao selecionar um texto de um jornal como ponto de partida para um debate, tenha em conta o nível dos alunos e verifique se o assunto lhes diz respeito. Prepare o debate:
- Faça perguntas abertas como «O que é que acham de…?» ou «Como é que acham que as pessoas se sentem …?»
- Confronte os alunos com textos que veiculam pontos de vista diferentes, levando-os a encontrar evidências diversas que sustentem e alarguem os seus pontos de vista e os «façam sair da sua bolha». Uma estratégia pode ser a de lhes pedir para indicarem aspetos positivos e negativos sobre o tópico em discussão.
- Encontre uma forma colaborativa de chegarem a uma solução depois da discussão, incorporando o maior número possível de ideias.
4. Organize um concurso
Para organizar este concurso na biblioteca ou na sala de aula, precisa de vários exemplares do mesmo jornal.
- Distribua um exemplar do jornal e várias folhas de papel por cada grupo de 4/5 alunos.
- Cada grupo fica responsável pela leitura de uma determinada secção/ texto e pela elaboração de um questionário com seis perguntas sobre o texto lido. Sugira algumas perguntas: Há quanto tempo…? Onde fica…? Quantas pessoas…? Quem…? Quem ganhou…? Quanto pagou/custou…?
- Depois de terminada esta tarefa, cada grupo passa as perguntas a outro grupo. Para lhes responder, o grupo que recebe as perguntas precisa de ler a secção/ o texto indicado pelo grupo que fez as perguntas.
- Cada grupo deve responder às perguntas feitas, pelo menos, por dois grupos. As respostas são dadas em folhas de papel diferentes. Estabeleça um tempo limite para os grupos responderem ao questionário.
- O grupo que elaborou o questionário corrige as respostas dos outros.
- Ganha o grupo que acertar mais perguntas.
5. Jornais nas aulas de Matemática? Porque não?
Os jornais também podem ser utilizados nas aulas de Matemática. Com certeza, já pensou em várias atividades que pode fazer. Experimente mais esta sugestão. Utilize as páginas dos anúncios de um jornal para:
- Calcular o preço médio de um determinado produto;
- Descobrir que fração do jornal é composta por anúncios;
- Calcular o custo de um anúncio de 30 palavras durante uma semana;
- Estimar o número total de anúncios classificados (com base em anúncios por coluna e colunas por página);
- Descobrir que percentagem de vagas de emprego começam com a letra X. No seguimento desta atividade, pode pedir a cada aluno que crie um anúncio classificado e o troque com um colega de turma. Os alunos devem verificar se incluíram todas as informações necessárias.