Dedicado ao tema «Valores e Cidadania no Séc. XXI», o VII Encontro Partilhar Leituras terá lugar no anfiteatro Teresa Júdice Gamito (edifício 1) do Campus de Gambelas. Este encontro pretende ser um espaço de reflexão e debate sobre a cultura da escola, nomeadamente a do futuro, assim como o papel e importância das bibliotecas na sociedade atual.
A iniciativa resulta de uma parceria entre Rede de Bibliotecas Escolares, a Biblioteca Municipal António Ramos Rosa de Faro e a Biblioteca da UAlg. O encontro é dirigido a bibliotecários, professores-bibliotecários, técnicos de biblioteca, professores, educadores e demais interessados na temática.
Os limites da escola deixaram de ser os seus limites físicos. A aprendizagem deixou de se circunscrever ao contexto formal da sala de aula. Para estarem aptos a responder aos desafios que lhes são colocados pela sociedade atual, marcada pela constante mudança, pela imprevisibilidade, pela tecnologia e pelo excesso de
informação, os alunos, futuros trabalhadores, não podem ser consumidores passivos e acríticos de um conjunto de conteúdos transmitidos no espaço restrito, formal, da sala de aula.
A almejada alteração de paradigma passa pela redefinição do papel / perfil do aluno (pela centralidade que o mesmo deve assumir no seu próprio processo de aprendizagem) e pelo desenvolvimento de um conjunto de competências-base, capacidades e valores / atitudes, alicerçadas no trabalho com projetos/ de projeto, realizado colaborativamente.
Num processo especular, também o papel do professor tem de ser reinterpretado e ajustado à nova realidade. Sendo necessárias, estas mudanças são, todavia, insuficientes. As práticas pedagógicas, o trabalho colaborativo entre pares, a avaliação das aprendizagens, a gestão de espaços e do tempo, o próprio equipamento das escolas, todos estes aspetos devem ser igualmente reequacionados no contexto da escola que se deseja.
É preciso reinventar a escola e preparar a mudança.
A discussão em curso, no país e no espaço da União Europeu, sobre o emagrecimento dos currículos, a partir da definição das Aprendizagens Essenciais das diferentes disciplinas, sobre o referencial de áreas de competência-base, estabelecido pelo Perfil dos alunos à saída do ensino obrigatório, e sobre a gestão e integração curricular no desenvolvimento das aprendizagens, propiciada pela pilotagem do Projeto de Autonomia e Flexibilidade, é reveladora desta lógica de mudança que se (nos) impõe.
Esta iniciativa formativa da Rede de Bibliotecas de Soure procura dar resposta a um dos maiores desafios das bibliotecas – a articulação curricular, o trabalho colaborativo e o ensino contextualizado de competências digitais, de informação e mediáticas.
Ao caminharem juntos, a biblioteca escolar e a sala de aula poderão mobilizar as capacidades de pensamento crítico e de resolução de problemas, essenciais ao pleno desenvolvimento e maturidade intelectual do indivíduo e ao exercício da sua cidadania.
Local: Biblioteca Municipal de Soure e Escola Martinho Árias
Começam hoje a ser transmitidos na Rádio Miúdos os tempos de antena dos livros candidadtos que ficarão depois disponíveis em podcast nos sites da Rádio Miúdos, da Visão Júnior e no Facebook da RBE.
As emissões ocorrem às 9h30m, com repetição às 14h.30m e às 20h00m.
Ricardo Rangel Gomes, militar do CEP, preso a 10 de abril de 1918, escreveu sobre a sua vida na Frente Ocidental. O Observador revela e publica pela primeira vez o seu “Dicionário de Campanha".
São quatro horas da tarde, mas parece noite. O nevoeiro e o fumo das armas formam uma cortina opaca que quase não lhe permite ver o chão que pisa. Ricardo está perdido, talvez nas linhas inimigas, não sabe. O gás venenoso que respirou há poucas horas começa agora a fazer-se sentir nos seus pulmões. Ricardo não consegue caminhar mais. Apesar da parca visibilidade, encontra um pequeno abrigo e é ali que quer morrer. No interior estão dois soldados alemães que, perante o estado de Ricardo e sem proferir qualquer palavra, o deixam recolher-se ali. “Eu não me importava que me fizessem mal pois naquela altura o meu gosto seria morrer”, escreverá menos de um ano mais tarde, em fevereiro de 1919, em Sintra.
Dentro do abrigo, com dores, com tosse, febril, Ricardo espera uma morte lenta. De lá de fora chega-lhe o som ininterrupto do troar do canhão, da metralha, das granadas e os gritos aflitivos dos homens. Dorme um sono vigilante, mas as dores parecem começar a desaparecer e sente-se um pouco mais aliviado. Ao romper da manhã percebe que é prisioneiro de guerra dos alemães. É 10 de abril de 1918.
Dois dias antes, Ricardo Rangel Gomes, 1º cabo de 22 anos, retornou à primeira linha de trincheiras no sector de Neuve-Chapelle, onde ele e os seus camaradas de Infantaria nº 1 tinham rendido, dia 6, o batalhão de Infantaria nº 12. Era noite cerrada, estava frio, viam-se apenas alguns minúsculos e tremeluzentes pontos de luz nas linhas da retaguarda, e lentamente começou a cair um espesso nevoeiro. Não sem alguma dificuldade, Ricardo chegou à primeira linha. Apenas 15 metros o separavam da trincheira inimiga. Tudo estava silencioso e Ricardo estranhou, pois nas noites anteriores ouvira grandes movimentações de homens nas linhas alemãs. O seu posto tinha seis foguetes luminosos (verylights), o que lhe pareceu pouco para a eventualidade de serem atacados numa noite quase sem visibilidade. Pediu então mais verylights ao comando. O pedido é-lhe negado. Que se remediassem como pudessem, responderam. Resignado, Ricardo manteve-se em vigia. Até que chegaram as quatro horas da madrugada do dia 9 de abril.
“Eram 4 horas fixas quando os inimigos rompem com um forte bombardeamento as nossas posições de artilharia com gases asfixiantes, começando também por bater as nossas linhas com uma terrível barragem de fogo. Ainda pedimos socorro à nossa artilharia, que ainda fez algum fogo mas pouco porque a maior parte das posições já estavam descobertas. Como a manhã estivesse muito enevoada quase que se não via nada. Os nossos aeroplanos não poderiam romper a atmosfera que estava nesse dia. Como já tinham passado 2 horas e com o mesmo bombardeamento ali continuámos na 1ª linha esperando ordens, mas como as comunicações estavam já todas cortadas e não havia ordenanças que fossem capaz de romper tanto fogo ali continuámos já sofrendo um grande ataque de gás debaixo de uma chapas de zinco para nos livrar simplesmente de alguma terra que caía. Quando dali a pouco vem um camarada meu pedimos auxílio porque o posto que estava à minha direita estavam todos enterrados. Imagine-se a nossa aflição. Como não podia abandonar o posto mandei 4 soldados para os auxiliar. Começaram por desenterrar os camaradas mas alguns já eram vítimas. Como um estivesse com os braços de fora, puxámos por ele mas só vieram os braços, foi sem dúvida a trincheira que tinha abatido e que lhos tinha cortado, outros gravemente feridos. Como o bombardeamento não cessasse um só minuto e os gases cada vez nos atacavam mais tivemos sem ordem de abandonar a 1ª linha que já estava quase em nível com o terreno. Ao sair do posto onde estava enterrei-me logo de lama até à cintura ficando a minha máscara inutilizada o que deu resultado de apanhar ainda alguns gases. Depois de sair daquela linha que deviam de ser umas nove e meia consegui meter-me na linha de comunicação o que também já estava muito destruída, lá fui indo de rastos até que cheguei à 2ª linha onde já havia ordem de retirar para as linhas de apoio o que imediatamente fiz para ver se conseguíamos repelir o inimigo ao entrar nas nossas linhas, mas ao chegar às linhas de apoio a barragem de fogo cada vez era mais, pois já se viam muitos dos nossos camaradas mortos e grande número de feridos o que constantemente pediam que lhes acudissem o que imediatamente se fazia.”
O caderno onde Ricardo escreveu o esboço das suas memórias, em 42 páginas @JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
As alterações na política doméstica, nomeadamente a chegada ao poder de Sidónio Pais e o acordo que firmou com Inglaterra, em janeiro de 1918, para que as duas divisões do Corpo Expedicionário Português (CEP) na Frente Ocidental fossem reduzidas a uma, sob a tutela do exército britânico, proibindo, em simultâneo, o envio de mais reforços nacionais para a guerra, não foram mencionadas explicitamente por Gomes da Costa no seu relatório sobre a batalha de La Lys. Mas foram-no veladamente: “A 2ª Divisão pagou e caro, culpas que não tinha, e lição de tal preço bom é que nos aproveite de futuro. A 2ª Divisão não pôde vencer, mas bateu-se, no geral com bravura deixando no campo de batalha perto de 50% do seu efectivo”, lê-se no documento escrito pelo comandante da 2ª Divisão a 3 de maio de 1918.
Nesta altura, apesar do caos e da destruição, já era possível ter um número aproximado de baixas. Segundo Gomes da Costa, dos 21.071 efectivos restaram 13.646 oficiais e praças, engrossando os números de mortos, feridos, desaparecidos e presos 7.425 homens. (...)
Referência: Oliveira, M. (2018). Diário de um português em La Lys: “Naquela altura o meu gosto seria morrer”. Observador. Retrieved 9 April 2018, from https://observador.pt/especiais/diario-de-um-portugues-em-la-lys-naquela-altura-o-meu-gosto-seria-morrer/
Coleção de materiais para descarregar e passíveis de serem modificados do #ProyectoEDIA que todos os docentes podem usar, para apoiar e guiar os seus alunos e alunas, em qualquer tipo de atividade ligada ao teatro, numa escola.
Estes documentos permitem-nos, entre outras coisas, oferecer aos estudantes referências claras e vinculadas ao currículo para levar a cabo apresentações teatrais e de palco dentro e fora da aula e dentro e fora da escola.
Todos estes recursos estão incluidos dentro do REA “Lo tuyo es puro teatro”, de Lengua y Literatura durante o qual os estudiantes se convertem em leitores, críticos, escritores e realizadores de obras teatrais para aprender sobre teatro.
Tradução livre a partir da língua espanhola, com pequenas adaptações.
Baz, M.
Referência: Baz, M. (2017). 12 documentos y guías de evaluación para teatro en el aula | Cedec. Cedec.educalab.es. Retrieved 7 April 2018, from http://cedec.educalab.es/12-documentos-y-guias-de-evaluacion-para-teatro-en-el-aula/
Como funciona o cérebro de um adolescente? David Bueno, biólogo e geneticista
David Bueno é um cientista cheio de perguntas: Como aprendemos? Como pensa um adolescente? Qual é a melhor idade para começar a aprender um segundo idioma? Porque é que a música, as artes visuais e a educação física são tão importantes? Ele não quer deixar nenhuma sem resposta porque como anuncia no seu último livro, a sua paixão é contar tudo o que sempre quisemos saber sobre o cérebro dos nossos filhos e nunca ninguém se atreveu a explicar-nos. Professor de genética na Universidade de Barcelona, David Bueno explica que a neurociência oferece chaves que modificarão a nossa forma de ensinar e aprender.
As crianças portuguesas de três-oito anos estão a crescer em lares apetrechados com dispositivos móveis, individualizados, de pequeno porte e ecrãs tácteis, com aplicações diversificadas.
Apesar desta ecologia digital, o primeiro inquérito nacional sobre como as crianças estão a crescer entre ecrãs (N= 656), realizado para a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), em 2016, contraria pressuposições de um boom tecnológico. Apenas 38% dos pais reportam que as crianças usam a internet e prevalece uma mediação centrada no controlo e na restrição.
Este texto apresenta e discute resultados desse inquérito e do estudo qualitativo em 20 famílias cujas crianças acedem a meios digitais, centrando-se nas competências digitais.
Estas incluem competências tradicionais (ler, escrever e contar), e outras relacionadas com acesso e uso das tecnologias digitais (Sefton-Green, Marsh, Erstad & Flewitt, 2016).