25 anos sem Natália Correia, a mulher da língua de fogo
Um quarto de século da morte da escritora, editora e deputada que animou tertúlias famosas no mítico Botequim. Lembramo-la com a ajuda de biógrafas, estudiosas da sua obra e quem a conheceu de perto.
“As causas, as pessoas do coração e do sonho, e da fé, tinham-na do seu lado; as causas, as pessoas da manipulação, do utilitarismo, da serventia, conheciam-lhe a cólera, o chiste, a indignação”. Assim lembra Fernando Dacosta Natália Correia, em O Botequim da Liberdade, livro cujo título recupera a afamada tertúlia do bar do Largo da Graça. Continua a sua evocação em termos extremos – porque era extremada a figura que pretendeu retratar: “Sabia indignar-se com grandeza – e indignar os outros à sua altura. Era uma mulher inigualável. Nos caprichos, nos excessos, nas iras, nas premonições, nos exibicionismos, na sedução, na coragem, na esperança. Cantava, dançava, declamava, improvisava, discursava, polemizava como poucos entre nós alguma vez o fizeram”.
Há 25 anos, a 16 de Março de 1993, morreu, com 69 anos, uma figura maior da vida intelectual portuguesa, com obra vasta e diversificada, e uma personalidade excessiva, ora generosa ora colérica, em terra associada ao comedimento e à brandura no espírito, na pose e no gesto. Usar a expressão “saiu de cena” não é descabido – porque Natália era uma performer, alguém que representava o que deveras era. E que assim se apresentava no bilhete de indentidade, referindo-se ao arquipélago onde nascera e que em si permanecera:
“Sou da ilha das línguas de fogo. Com elas aprendi a metrificar o espírito. O indizível”.
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