Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue RBE

Qui | 07.07.11

O PNL é um plano para amar os livros, escrevia Maria José Nogueira Pinto


Um texto de Maria José Nogueira Pinto, publicado em 2009, com o título Um plano para amar os livros.


 

“Vou viajar com o imaginário dos outros”, assim definiu Bernard Babkine a sua ida para Deauville com uma mala cheia de livros. O que prova que, hoje em dia, é preciso ter férias para poder ler livros, o tempo normal devorado pelas novas formas e fórmulas de aquisição de conhecimentos, informação e convivência com as realidades e a imaginação.
Mas, apesar de todos os sons e imagens que cruzam o nosso olhar, perfuram o nosso cérebro e nos tornam uma espécie de conduta passiva por onde toda essa informação passa, acriticamente, efémera e breve, o gesto de pegar num livro, o toque do papel, o virar da página, a sujeição a um ritmo necessariamente lento, nesse encontro iniciático entre quem escreve e quem lê, esse cerimonial de apresentação aos personagens, esse esforço ansioso de configurar o espaço onde se movem, os sons de vozes que não ouvimos, os cheiros e cores que não sentimos nem vemos é, e será sempre, um exercício emocionante, singular e inaugural.
A leitura é uma realidade imensa, viagem que, uma vez iniciada, não tem fim, uma amarra de que ninguém pensa sequer libertar-se, uma porta para todos os outros mundos, um modo expedito para todos os encontros, todas as conversas. Como escutar às portas sem ser promíscuo. Como espreitar as vidas alheias sem ponta de “voyeurismo”. Uma maneira de esquecer e de lembrar. De estar aqui e acolá. De ser isto e mais aquilo. E não tem fim esta possibilidade de mil vidas em uma, única forma recomendável de mentir. Não mentir propriamente, mas imaginar, o que é diferente e sem sombra de pecado. Nélida Piñon chamou à escrita “o arfar da língua”, Veríssimo (Luís Fernando, filho de Erico) definiu-a desta forma admirável: “Sempre escrevemos para recordar a verdade. Quando inventamos é para recordá-la mais exactamente.” Pepetela confessou que escrevia para sonhar e fazer sonhar. Montesquieu afirmava que não havia desgosto que uma hora de leitura não dissipasse.
Nestes últimos tempos li abundante e anarquicamente. Entrei, sem critério ou determinação prévia, na vida e alma de personagens muito diversos e com os quais estabeleci forte intimidade, viajei por uma geografia ousada e inconsequente, fiz troça do tempo, no passado e no futuro de mim. Dando sentido ao enigmático verso de Guimarães Rosa: “Eu sou donde nasci. Sou de outros lugares.” A leitura de livros – ficção, romance, novela, poesia – é hoje, talvez, a mais enriquecedora forma de estar sozinho, sem estar só. Num tempo em que sobem os níveis de stress, se sofrem os efeitos do excesso de informação quase impossível de assimilar, aumenta vertiginosamente o número de pessoas que vivem sós, se formam ilhas e redutos onde antes se convivia, se perde a individualidade e a interioridade, os livros são um antídoto garantido. E também para aturar os inúmeros maçadores que nos rodeiam e ameaçam atrapalhar a nossa vida. Em Portugal, país que bate recordes no consumo de antidepressivos, este antídoto devia ser promovido oficialmente.
Para os mais novos, a questão é ainda mais premente. Filhos de uma cultura informativa e de imagem, com poucos hábitos de leitura, são os futuros homo videns. Correm o risco de ficar à margem da percepção de tudo aquilo que releva na própria essência da condição humana. Se pensarmos no conjunto de estímulos indispensáveis à formação de cada um enquanto pessoa, parte substancial vem, seguramente, da leitura, do poder de interpelação que as histórias, que apenas os livros podem narrar deste modo, têm na estimulação dos sentimentos e da compreensão de cada um. Num quadro de absoluta liberdade, esse exercício individual e silencioso é uma forte argamassa para uma interioridade coesa que abre os caminhos para crescer.
Felizmente que os responsáveis perceberam isso. Daí que, apesar da crença cega nas novas tecnologias de informação para igualar oportunidades, o Plano Nacional de Leitura vai fazendo o seu bom caminho. É que não basta ensinar a ler, é preciso ensinar a gostar de ler.


_____________________________________________________________________________________________________________________

Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Qui | 07.07.11

How to survive the age of distraction











Um artigo de Johann Hari sobre como sobreviver nesta era de dispersão e distração:


In the 20th century, all the nightmare-novels of the future imagined that books would be burnt. In the 21st century, our dystopias imagine a world where books are forgotten. To pluck just one, Gary Steynghart's novel Super Sad True Love Story describes a world where everybody is obsessed with their electronic Apparat – an even more omnivorous i-Phone with a flickering stream of shopping and reality shows and porn – and have somehow come to believe that the few remaining unread paper books let off a rank smell. The book on the book, it suggests, is closing.

I have been thinking about this because I recently moved flat, which for me meant boxing and heaving several Everests of books, accumulated obsessively since I was a kid. Ask me to throw away a book, and I begin shaking like Meryl Streep in Sophie's Choice and insist that I just couldn't bear to part company with it, no matter how unlikely it is I will ever read (say) a 1,000-page biography of little-known Portuguese dictator Antonio Salazar. As I stacked my books high, and watched my friends get buried in landslides of novels or avalanches of polemics, it struck me that this scene might be incomprehensible a generation from now. Yes, a few specialists still haul their vinyl collections from house to house, but the rest of us have migrated happily to MP3s, and regard such people as slightly odd. Does it matter? What was really lost?

Ler mais no The Independent, 24 Junho  >>






_____________________________________________________________________________________________________________________

Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0

Qui | 07.07.11

Bibliotecas públicas a encerrar quando estão "mais vivas" do que nunca?!
















La biblioteca pública Infanta Elena, situada en una zona verde catalogada de histórica, como los jardines de San Telmo (¿les suena de algo esto?), es un "oasis" en el corazón de la ciudad. Un oasis que este verano, sin embargo, cierra sus puertas por las tardes pese a la rebelión de sus más fieles seguidores a través de las redes sociales. La directora (46 años y natural de Albacete) no es ajena al malestar pero deja claro que no han sido ellos los que han tomado esta medida. Al margen de polémicas, esta experta en Clásicas y amante del flamenco (ella y su hija de 12 años están aprendiendo a bailar bulerías, ahí es nada) está convencida de que las bibliotecas están "más vivas" que nunca pese a la era de las nuevas tecnologías.

Pode ler a entrevista à directora da biblioteca, Ana Isabel Fernández (na foto) aqui >>

_____________________________________________________________________________________________________________________

Este trabalho está licenciado sob licença: CC BY-NC-SA 4.0